ENIGMÍSTICA POLICIÁRIA PRÁTICA — O CLUBE DOS ANÕES E DOS GIGANTES
de Márvel
Publicado no CALEIDOSCÓPIO 313 (Clicar)
Por certo concordarão em que retiremos o porteiro, pura e simplesmente, da lista dos suspeitos, tão óbvios são os motivos que o ilibam que seria perda de tempo e trabalho descrevê-los.
Adiante, pois.
O extenso pátio interior que separava os dois edifícios era bastante estreito — media um metro de largura, pouco mais ou menos-a-e os prédios normalmente altos — cinco andares cada. Assim, para o Sol projectar qualquer sombra no piso do pátio, era imprescindível que estivesse precisamente sobre a viela, ou seja no zénite.
Evidentemente, que havia muitas probabilidades de que a dita se verificasse antes do Sol atingir o zénite e quando baqueava para o acaso, desde que as extremidades do pátio estivessem a Nascente e Poente. Todavia, essa circunstância não ocorre. O salão rectangular do “Clube dos Anões e dos Gigantes contava com duas únicas janelas. Uma, tinha na parede à sua esquerda aquela que defrontava certa colina — e assim a primeira dá para o pátio — colina essa que se via coroada pela derradeira estrela da cauda da Ursa Menor — a Estrela Polar — que, como se sabe, nos indica o Norte. Logo, a conclusão é bem clara: os extremos do pátio, desenhado em recta, dão para Norte e Sul.
E o que está provado que só estando o Sol no zénite as sombras se produziriam, vejamos: a que horas tem lugar o zénite do Sol? Para que todas as dúvidas sejam afastadas, indiquemos que ocorre no período, sobejamente amplo, que vai das 11 ás 15 horas.
Quem tem um álibi seguro para esse espaço de tempo? Somente Salvaterra, que o passara na companhia do casal amigo.
Recordemos agora o martírio de que Alberto foi vítima, anteriormente ao seu assassínio. Ele sentou-se numa beira lateral do banco e suportou sobre os joelhos o peso de um tabuleiro repleto de taças cheias de vinho até ao limite máximo, tendo os pés firmemente assentes no solo. Daqui se infere que o banco condizia perfeitamente com a estatura da vítima, uma vez que, sentado e de pés assentes no solo, as suas coxas possuíam a horizontalidade requerida para sobre elas descansar um tabuleiro com taças de tal modo cheias que uma gota mais em qualquer delas as faria transbordar para todos os lados.
Ora, o culpado, depois de assassinar Alberto, acomodou-se supracitado banco; quando resolveu ir embora, desceu dele! Claríssimo: se desceu é porque estava empoleirado nele, no banco que servia perfeitamente ao mais pequeno dos gigantes do Clube!
Resultado: o criminoso pertence à categoria de anões do Clube!
Ora em determinado ponto do problema, pode ver-se que Silvino pertence à classe dos gigantes, e assim fica também ilibado.
Só nos resta, portanto, Vieira!
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