8 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 313

Efemérides 8 de Novembro
Bram Stoker (1847 – 1912)
Abraham Stoker nasce em Clontarf, Dublin, Irlanda. Escritor de romances e contos é reconhecido pelo seu maior sucesso, o livro Dracula (1897). Entre 1875 e 1911 publica 13 romances e algumas colectâneas de contos Este autor foi já referido no CALEIDOSCÓPIO 65 (Clicar) e CALEIDOSCÓPIO 106 (Clicar). Horror Writers Association criou os prémios com o nome do escritor — Bram Stoker Awards — com que distingue anualmente obras de terror e autores deste género em 16 categorias diferentes. Em Portugal muitas editoras publicaram Drácula e outras obras de Stoker. O Policiário de Bolso refere as edições mais recentes:
1 – A Jóia Das Sete Estrelas (1997), Nº601 Livros de Bolso, Publicações Europa América. Título Original: The Jewel Of The Seven Stars (1903)
2 – Contos De Terror E Arrepios (2007), Editora Coisas de Ler.
3 – O Enterro Das Ratazanas E Outros Contos (2010), Colecção Misteriosos, Editora K4. Título Original: The Burial Of The Rats (o conto foi escrito em 1914)
4 – Drácula (2010), Colecção Grandes Obras, Livros de Bolso, Publicações Europa América. Título Original: Dracula (1897)

Simon Ganett (1939)
António Carlos Pereira da Silva nasce no Porto. Ver TEMA por M. Constantino
Bibliografia:
1 – Sangue Sobre O Mar (1964), Nº10 Colecção Criminalidade, Coimbra Editora.
2 – O Mais Forte E O Mais Fraco (1966), Nº13 Colecção Criminalidade, Coimbra Editora.
3 – Armadilha Para Um Homem Mau (1966), Nº10 Colecção Policial, Luís Campos.
1 – Os Olhos Malvados Do Tio Jonathan (1966), Nº16 Colecção Policial, Luís Campos.
4 – Operação Vil Metal (1967), Nº1 Colecção Premeditação, A. Pereira da Silva
5 – Rubro, Quente E Pegajoso (1967), Nº3 Colecção Premeditação, Agência. Internacional de Livros e Publicações. Sob o pseudónimo Barney Kilbane
6 – Os Crimes Do Noivo Fantasma (1967), Nº3 Colecção Premeditação, Agência. Internacional de Livros e Publicações.
7 – Operação Utopia (1967), Nº9 Colecção Um Livro Confidencial, Agência. Internacional de Livros e Publicações.




TEMA — SIMON GANETT, POLICIARISTA E ESCRITOR
Por M. Constantino
Simon Ganett, de verdadeiro nome António Carlos Pereira da Silva, cedo mostrou vocação para as letras e mistérios. Colaborou em vários jornais, mais assiduamente no Jornal de Notícias onde publicou algumas dezenas de problemas ou enigmas policiários sob o pseudónimo de Marvel. Aliás, neste campo foi Campeão Nacional nas modalidades de produção e decifração.
Como escritor policiário estreou-se em 1964 com “Sangue Sobre o Mar”, com o pseudónimo Simon Ganett; utilizou ainda outro pseudónimo, Barney Kilbane.
Experimentou diversas profissões, das quais retirou úteis conhecimentos humanos e acabou por se fixar no comércio.
Modesto, porventura algo tímido, bom Amigo do seu Amigo, eis um retrato de Simon Ganett.




TEMA — ENIGMÍSTICA POLICIÁRIA PRÁTICA — O CLUBE DOS ANÕES E DOS GIGANTES
Por Márvel
Foi nas proximidades do termo daquela sexta-feira, que ao salão nobre do Clube dos Anões e dos Gigantes foi outorgado o beneplácito de aptidão para comportar os festejos comemorativos do 5º aniversário da colectividade, a realizar no domingo seguinte, por parte da unanimidade dos seus decoradores e membros da agremiação.
As consequências da abalizada conjugação de esforços entre os 14 jovens de ambos os sexos eram visivelmente notáveis. Assim o declarou Silvino, o presidente do Clube, sem reflectir na apologia com que galardoava a própria pessoa, concluindo por dirimir, como acto de inultrapassável e merecida justiça, a imediata inauguração do pequeno bar.
Somente três pessoas não se sentiram seduzidas pela perspectiva enunciada. Encostado ao parapeito de uma janela aberta, onde sacudia de quando em vez a cinza do seu pseudo Havano, um sujeito de rosto cadavérico não parecia disposto a desviar a vista da outra janela que o aposento possuía, sita na parede que ficava à sua esquerda, ou mais precisamente do parzinho que nela se debruçava, trocando deliciosas impressões a respeito doa inumeráveis astros que povoam o Universo, com referência especial à Ursa Menor e à derradeira estrela da sua cauda, que semelhava um caprichoso pingo de prata a coroar os píncaros da colina fronteira.
Todavia, esta situação não durou muito. Em breve a turba protestava contra o isolamento do trio e obrigava-o a compenetrar-se em assuntos menos sisudos. Alberto, o moço enamorado, foi o que mais renitente se mostrou em abandonar a bucólica estadia à janela; e por isso se viu na pele de “vítima” da alegria dos animados companheiros.
O convite para se sentar num certo banco individual não foi recusado pelo já resignado rapaz; teve, porém, o cuidado de ocupar apenas uma das extremidades laterais, suficientemente afastado do centro côncavo previamente lubrificado com uma tinta condizente com a cor do banco.
As provas formais da louvável persistência dos improvisados “carrascos” não se fizeram demorar. Um comprido tabuleiro repleto de taças vazias foi colocado sobre os joelhos da “vítima”; e, uma por uma, foram sendo cheias por mãos diligentes, e com tal magistral exactidão que uma gota mais em qualquer delas a faria transbordar por todos os lados. Ao mesmo tempo o “gigante” Silvino dizia:
— Faz lá um favorzinho, amigo. Segura neste tabuleiro para nós fazermos o último brinde. Sabes, não queremos usar a mesa para não sujar a toalha. Mas…ó seus idiotas, então vocês puseram um dos panos que teremos de usar na festa, a forrar o tabuleiro? Não vêem que se lhe cai uma gota que seja, o pobre Alberto será obrigado a lavá-lo? Ora, que imbecis!
Com os pés firmemente assentes no soalho, Alberto evitara até então o menor derrame de líquido. Felizmente para ele, o seu sistema nervoso era a toda prova, permitindo-lhe imobilizar absolutamente as pernas, evitando-lhe, ao mesmo tempo, o contágio da alegria que pairava ao seu redor.
— Vá, então, bebam e vão para o diabo — aconselhou a “vítima”, diligenciando não perturbar a estabilidade dos membros inferiores.
— Que é lá isso? Calma! — recomendou o presidente. Já bebemos bastante. Deixa-nos primeiro digerir devidamente o que temos dentro.
Mas Alberto controlava com melhor êxito os nervos das suas pernas do que os seus “martirizadores” a própria paciência. Esgotada esta, Monteiro, um dos mais entusiasmados, resolveu apressar o acontecimento iminente e aguardado.
— Ó pá! Foge dal! — gritou ele, pleno de intenções maquiavélicas.
Olha que o banco está cheio de tinta!
Como, evidentemente, o aviso não surtisse o efeito desejado, disfarçou-se com o coroável intuito de salvar a indumentária do amigo e lançou a mão a um dos pés do banco, puxando-o para si. O resultado obtido elevou ao paroxismo o regozijo que já então imperava.
— Oh! Coitado! — lamentou Silvino, entre duas gargalhadas. Sempre é mais difícil limpar um soalho do que lavar um pano…
 Alberto, o “Pequeno”, apelido que derivava do facto de ser o “gigante” menos alto do Clube — possuía, precisamente, o mínimo de estatura exigido: 1,80 metros — pretendeu explicar ao anão “Monteiro” — o mais alto da sua categoria: 1,48 metros — quanto lhe desagradara a brincadeira, do que foi fácilmente dissuadido pelos outros. Mas o apaziguamento total só adveio com a permissão do presidente para que adiasse até ao dia seguinte a restauração que se impunha no soalho danificado.
O homem do rosto cadavérico ouvia e planeava…

Um… dois… três… quatro tiros brotaram da mão entrapada do homem de rosto cadavérico. Eficazmente perfurado, Alberto, o “pequeno”, largou o pano molhado que usara para limpar o chão, e caiu para trás, morto.
O homem fitou criticamente o corpo estirado, à sua frente. Por vezes, os lábios entreabriam-se-lhe para formularem uma casquinada inexpressiva. À sua retaguarda encontrava-se o famigerado banco que conhecemos, agora com a tinta já seca. E o assassino acomodou-se nele o melhor possível, continuando a dedicar a sua atenção ao corpo a que roubara a vida.
Não manteve por mais tempo a contemplação a que se entregara. Desceu do banco e aproximou -se de uma das janelas do aposento, que estava aberta, tal como a do prédio fronteiro havendo a separá-las uma distância de um metro, pouco mais ou menos. Meteu o pano e a arma no bolso, dirigiu um último olhar ao cadáver e mudou-se para o edifício vizinho, soltando uma gargalhada estridente… uma gargalhada de louco.

Depoimento do porteiro:
— Eu estava com um amigo, que é da Policia, sentado do lado de dentro de uma porta que dá para o estreito e extenso pátio que estende em recta entre este edifício e o vizinho. De súbito, estando a olhar distraidamente-para o solo do pátio, vi projectar-se nele uma sombra como se alguém tivesse passado do outro prédio para este. Quando quis certificar-me do que havia, já nada vi. Estavam algumas janelas abertas nos cinco andares de cada edifício, mas apenas no terceiro piso se viam janelas abertas que se defrontassem. Falei no caso ao meu amigo, tendo ele opinado tratar-se de impressão minha. Mas, pouco depois, nova sombra se recortava no pátio e, então, teve de modificar o seu parecer, pois desta vez também viu. Resolvemos ir saber o que se passava lá em cima e foi então que encontramos o corpo.

Depoimento de Vieira:
— Devido a ter-me deitado já de madrugada, por causa dos últimos preparativos para festa do aniversário do Clube, levantei-me bastante tarde. Seriam, talvez, 11.30. Pensei ir até ao ginásio que eu, o Silvino e o Salvaterra — ambos, também, sócios
do Clube — armámos num apartamento, cuja janela defronta uma das do salão nobre do Clube, mas desisti por me encontrar algo maçado. Fui a um café onde fiquei até às 12. Depois, passeei por São Lázaro cerca de 20 minutos. Gastei 10 minutos a ouvir um propagandista, findo o que regressei a casa, onde cheguei ás 13.15. Como vivo só e havia dado folga ao meu criado, preparei eu próprio uma pequena refeição à base de conservas. Às 14.10 saí e fui ver um jogo de futebol de reservas, onde encontrei um amigo. No final, passei por um café, dei umas voltas, sempre acompanhado pelo meu conhecido, e regressei a casa.

Depoimento de Silvino:
— Estive ausente do Porto desde manhã cedo até á noite, praticando campismo nos arredores. Não me afastei daquelas imediações. Naturalmente que a morte de Alberto me surpreende. No entanto, atribuo-a a ciúmes, pois, se as suspeitas se restringem a certos membros do Clube, devo dizer que, até lá, todos nos sentíamos mais eu menos apaixonados pela noive dele.

Depoimento de Salvaterra:
Quer por me sentir cansado, quer por não trabalhar ao sábado, não me levantei tão cedo como habitualmente. Cerca das 11 horas, entrei num café para tomar o “galão” do “regulamento”. Qual não foi a minha surpresa e satisfação ao ver numa mesa um casal que não via há vários anos e a quem me liga uma amizade indestrutível. Eles, igualmente satisfeitos, não me larguem senão depois das 15, após ter almoçado com eles. Telefonei à minha noiva para a convidar a sair, no que não fui feliz. Então, resolvi ir ao cinema para de seguida gastar as horas que me separavam do jantar num jogo de bilhares.
O polícia, amigo do porteiro, o amigo de Vieira e o casal das relações de Salvaterra, pessoas de probidade a toda prova confirmaram as declarações que lhes diziam respeito.
Pergunta-se:
Interpretando perfeitamente a lógica, o raciocínio e a dedução, quem acha o leitor que é o “homem de rosto cadavérico” e porquê?

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