3 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 308

Efemérides 3 de Novembro
Harry Stephen Keeler (1890 – 1967)
Nasce em Chicago, Illinois EUA. Escritor de policiário e de alguma ficção científica, apesar da sua vasta obra, é muitas vezes descrito como um autor injustamente esquecido. Considerado como um dos criadores de alguns dos mistérios mais originais, improváveis e estranhos da sua época, é especialista em webwork plot, um estilo narrativo exageradamente complicado. Em Portugal a Editorial Século edita, entre 1942 e 1960 20 títulos de Harry Stephen Keeler, na Colecção As Grandes Obras de Mistério e Acção.

John Bingham (1908 – 1988)
John Michael Ward Bingham nasce em Haywards Heath, Sussex, Inglaterra. Durante a 2ª guerra mundial trabalha para o MI5 o que certamente o inspira para os romances de espionagem. Publica o primeiro livro em 1952, My Name is Michael Sibley, que segundo H. R. F. Keating é uma inovação na Grã Bretanha, porque é a primeira vez que um romance de crime não descreve a polícia britânica como agindo de uma forma impecável. John Bingham escreve no total 17 livros policiários e 1 de crime real. Em Portugal está editado:
1 – Casamentos E Infidelidades (2009), nº112 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Five Roundabouts To Heaven (1953). Editado também com o título The Tender Poisoner. (Clicar)


Martin Cruz Smith (1942)
Martin William Smith nasce em Reading, Pennsylvania, EUA. Jornalista, romancista e argumentista começa por publicar, sob o pseudónimo Martin Cruz Smith a série Roman Grey, segue-se a sua série mais conhecida Arkady Renko, o investigador russo que protagoniza Gorky Park (1981) — um bestseller vencedor do Gold Dagger Award — e outros êxitos editoriais como Polar Star, Red Square e Rose. O escritor, que usa os pseudónimos Nick Carter, Jake Logan, Martin Quinn e Simon Quinn tem visto a sua obra ser distinguida com diversos prémios literários e tem vários livros adaptado ao cinema. Em Portugal estão editados:
1 – Parque Gorky (1982), Colecção Ficção, Moraes Editores. Título Original: Gorky Park (1981). Reeditado em 1984 pela Círculo de Leitores e pela Editora Asa em 2005. É o 1º livro da série Arkady Renko.
2 – A Contagem Final (1988), Círculo de Leitores. Título Original: Stallion Gate (1986).
3 – O Estrela Polar (1990), Círculo de Leitores. Título Original: Polar Star (1989). È o 2º livro da série Arkady Renko.
4 – A Baia De Havana (2000), Círculo de Leitores. Título Original: Havana Bay (1999). É o 4º livro da série Arkady Renko.
5 – O Homem Com Dois Corações (2004), Colecção Noites Brancas, Editora Asa. Título Original: December 6 (2001). Editado também com o título Tokyo Station.
6 – O Fantasma De Estaline (2010), Editora Casa das Letras. Título Original: Stalin’s Gosth (2006). É o 6º livro da série Arkady Renko.



TEMA — CONTO POLICIÁRIO DE V. E. THIESSEN — ÁLIBI INATACÁVEL
Hugh Blount começou a achar que o promotor estava exacto demais no seu papel de adivinho. Blount havia tentado para fazer a sua defesa, e estava a passar um mau bocado com as perguntas do advogado.
O promotor disse vagarosamente.
— Agora vou-lhe dizer, Sr. Blount, o que realmente aconteceu: O senhor voltou de uma viagem de negócios na noite de vinte e nove de março. Encontrou o bilhete da sua esposa dizendo que o tinha deixado por outro homem. Então, enraivecido, o senhor tornou-se violento, mas ficou sem saber o que devia fazer até que achou um isqueiro no apartamento. Um isqueiro caro no qual estava gravado o nome Michael. O senhor lembra-se do isqueiro, Sr. Blount?
Blount pensou rapidamente. Teria deixado impressões digitais no isqueiro? Não tinha certeza e disse:
— Talvez o tenha visto, mas não tenho certeza. Eu estava confuso.
— O senhor pensou que o isqueiro pertencesse ao homem que lhe roubara a esposa.
— Não! Não me recordo de ter pensado tal coisa.
— O senhor sabia que sua esposa não o esperava naquele dia e pensou que o homem voltaria para ir buscar o isqueiro quando desse por falta dele. O senhor preparou a arma e esperou. O senhor tinha um revolver no seu apartamento, não é verdade, Sr. Blount?
— Sim, tinha um revólver.
Embora tivesse estudado o que ia dizer. Blount não conseguia manter a calma.
O promotor falou sarcasticamente:
— E quando o homem entrou no apartamento, às duas horas da manhã, o senhor disparou contra ele. O senhor o matou sem saber que ele não estava envolvido no caso, pois a sua esposa tinha-lhe alugado o apartamento.
O advogado de defesa levantou-se e protestou.
O juiz repreendeu o promotor.
Mas Blount percebeu que o júri seria influenciado por esta ideia. O promotor lançou outra directa, dizendo.
— A sua esposa era proprietária do apartamento. Podia alugá-lo sem o seu consentimento?
— Sim.
— Aliás sua esposa é quem tem dinheiro, e sustentava-o desde o ano passado, enquanto o senhor a tratava cruelmente.
— Não era exactamente assim.
— Mas o senhor recebia dela grandes quantias.
(O promotor não tinha pena).
— Sim.
— Aquele homem vinha acabar com isto, não é? E mesmo assim o senhor espera que acreditemos que, na ocasião do homicídio, o senhor estava a discutir a abandono de sua esposa com um amigo que nem o seu próprio advogado pediu para identificar.
— Sim.
Blount sentiu-se nervoso e tenso. O promotor era mesmo muito esperto.
— E quem é este amigo que o senhor tem tanto escrúpulo em revelar a identidade? Blount olhou para o juiz.
O juiz avisou prisioneiro.
— A sua vida está em perigo, Sr. Blount. Aconselho-o a responder a esta pergunta.
Blount respondeu gentilmente.
— Esse amigo é John Harriman. — Dizendo isto sentou-se na cadeira, para descansar
Houve um murmúrio de surpresa entre os presentes, e o promotor falou novamente:
— Não tenho mais perguntas a fazer.
Blount sorria quando desceu as escadas.

Tinha sido uma ideia genial a de envolver Harriman, pensou Blount. Conhecia Harriman desde o tempo de universidade, e se não eram amigos, ao menos eram conhecidos e Harriman era seu banqueiro. Harriman era conhecido peia sua integridade. Se Harriman dissesse que Blount estivera no seu apartamento da uma às três da manhã, então o júri não teria dúvidas.
Tinha sido uma boa ideia também deixar o promotor descobrir o álibi. Fechou os olhos e lembrou-se de Harriman, o tolo e honesto Harriman, que nunca fechava a porta do seu apartamento e que dormia como uma pedra. Foi fácil entrar no apartamento de Harriman, atrasar todos os relógios para a uma hora, e então acordar Harriman e contar-lhe a sua desgraça.
Harriman tinha sido um grande confortador. Falara durante umas duas horas tentando dissuadir Blount das loucuras que tencionava fazer, e até o fizera deitar na sala para dormir.
Foi simples também pôr os relógios novamente na hora certa, depois de Harriman ter ido dormir.
O advogado de Blount levantou-se sorrindo confiantemente e disse:
— A defesa convoca a sua última testemunha, John J. Harriman.
O tribunal ficou em profundo silêncio enquanto Harriman fazia o juramento. Era um homem alto e muito bem vestido, mas simples. A voz era grossa e indicava cultura. Sorriu com simpatia para todos, em geral.
O advogado de defesa perguntou:
— O senhor recorda-se da visita do Sr. Blount à sua casa na noite de vinte e nove de março? Ele acordou-o nesta noite?
— Sim. Lembro-me que ele me sacudiu para me acordar. Tenho um sono pesado e estava a precisar de dormir bem.
— Ele sacudiu-o? Como foi que ele entrou no apartamento?
Harriman sorriu.
— Creio que deve ter tocado a campainha e como eu não atendi, entrou. Raramente fecho a porta, e durmo pesadamente. Blount sabia disto desde a época da universidade.
— O senhor olhou para o relógio quando acordou?
— Sim.
— Que hora marcava?
— Uma hora da manhã.
— Porque queria Blount vê-lo àquela hora?
— Ele estava muito abatido. A sua esposa tinha-o abandonado e estava emocionalmente perturbado. Nem estava a raciocinar muito bem.
— O senhor crê que esta emoção era verdadeira?
— Creio que sim. Estava mesmo transtornado e tinha razões para isso.
— Quanto tempo conversaram?
— Umas duas horas.
— Como presume o senhor que foram duas horas? Olhou para o relógio novamente?
— Sim.
— E depois o que aconteceu?
— Pus Blount a dormir na sala.
— Seu relógio trabalha bem Sr. Harriman?
— Sim, acerto-o todas as manhãs pelo rádio.
— O senhor verificou-o na manhã seguinte, como de costume!
— Sim. Estava com um atraso de um minuto.
O advogado de defesa sorriu:
— Obrigado, Sr. Harriman. Dou a palavra ao promotor. — E sentou-se.
A assistência estava muda e espantada. Blount devia estar salvo. O assassinato tinha ocorrido às duas horas da manhã, hora em que ouviram o tiro e pouco depois foi encontrado o corpo.

Blount viu o promotor agitar-se e perguntar sem esperanças:
— O senhor tem certeza de que Blount esteve no seu apartamento da uma às três da manhã?
Harriman respondeu.
— Não senhor!
Blount olhou fixamente e sussurrou para o seu advogado.
— Que é que ele está a tentar fazer?
— Não compreendo — disse lentamente o promotor. — O senhor disse e garantiu que olhou Para o relógio…
— Sim, olhei. Alguém tinha-o atrasado. Depois, quando adormeci, alguém o acertou novamente.
O pânico começou a crescer em Blount. Fez uma carranca para Harriman, mas ao ver uma pessoa da assistência olhando para ele, forçou um sorriso.
O promotor estava atento e pronto para outra pergunta.
— Como é que o senhor soube que seu relógio tinha sido atrasado?
Harriman respondeu:
— Eu saí com uma amiga naquela noite, e só voltei às duas horas da manhã.
Com estas palavras Blount compreendeu que estava perdido. Mesmo assim, ainda tentou um artifício, e levantando-se gritou:
— Seu mentiroso! Seu grande mentiroso!
O seu próprio advogado estava abalado. Todavia, mesmo um homem como Harriman podia mentir e quando chegou sua vez, perguntou à testemunha:
— Há alguém que possa confirmar a sua história? Alguém que possa dizer que o senhor esteve na rua até depois da uma hora?
A audiência ficou em suspenso. Todos acreditavam em Harriman, mas… e se mentisse? Que escândalo não seria!
— Sim, disse Harriman. Minha amante poderá garantir.
— Quem é a sua amante?
O homem que testemunhava era John J. Harriman., a própria Verdade. Não havia dúvida em nenhum dos presentes.
— Eu tinha saído com a Sra. Blount. Eu sou o outro homem — disse Harriman pausadamente.


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