25 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 330

Efemérides 25 de Novembro
Charles Francis Coe (1890 – 1956)
Nasce em Buffalo, Erie County, EUA. Autor prolífico de short stories e romances frequentemente em ambientes de gangsters e bandidos (Ver TEMA). A primeira história de Coe, Me — Gangster é publicada entre Agosto e Setembro de 1927 em 7 episódios no Saturday Evening Post, sendo posteriormente editada em livro e adaptada a um filme que marcou a diferença. Tem editado uma centena de livros.

W. R. Burnett (1899 – 1982)
William Riley Burnett nasce em Springfield, Ohio, EUA. Argumentista e escritor de Black Mask — Crook Story (ver TEMA) é famoso pelo seu livro Little Caesar cuja adaptação ao cinema é considerado o primeiro clássico dos filmes americanos de gangsters. Escreve 18 romances do referido género, mais 19 romances policiários, 35 argumentos (sozinho ou como co-autor) e uma centena de short stories. Em Portugal estão editados:
1 – Terra Maldita (1968), Editora Panorama. Título Original: Bitter Ground (1958).
2 – O Império Do Crime (1969), Nº129 Colecção Enigma, Editora Dêagá. Título Original: Conant (1961).
3 – A Vida Por Um Fio (1969), Nº104 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: The Cool Man (1968).
4 – O Meu Amigo Sargento (1984), Nº16 Colecção Livros de Bolso, Western, Publicações Europa-América. Título Original: The Goldseekers (1962).
5 – O Pequeno César (1985), Nº54 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa-América. Título Original: Litlle Caesar (1929).
6 – A Febre Do Ouro (1987), Nº47 Colecção Livros de Bolso, Western, Publicações Europa-América. Título Original: The Goldseekers (1962).
7 – A Selva Do Asfalto (1991), Nº32 Colecção Álibi, Os Clássicos do Policial, Edições 70. Título Original: The Asphalt Jungle (1949).

Francis Durbridge (1912 – 1998)
Francis Henry Durbridge nasce em Hull, Yorkshire, Inglaterra. Em 1938, cria a série Paul Temple, um escritor de crime e detective; por vezes os livros desta série são escritos em parceria com John Thewes, ou Charles Hatten, ou com Douglas Rutherford sob o pseudónimo literário Paul Temple, confundindo o personagem com o seu autor e tornando o escritor ficcionado “real”. Cria também o personagem Tim Frazer. Francis Durbridge escreve ainda dezenas de argumentos para peças de teatro, radio, televisão e ainda adapta para filme alguns dos seus livros. Em Portugal estão editados:
1 – O Caso Salinger (1967), Colecção Xis, Editora Minerva. Título Original: Tim Frazer Again (1964). É o 2º livro da série Tim Frazer.
2 – A Leste De Argel (1968), Nº176 Colecção Xis, Editora Minerva. Título Original: East Of Algiers (1959). Um livro da série Paul Temple.
3 – O Grande Assalto (1972), Nº198 Colecção Xis, Editora Minerva. Título Original: Paul Temple And The Harkdale Robbery (1970). Um livro da série Paul Temple escrito sob o pseudónimo Paul Temple.
4 – Diário Desaparecido (1972), Nº200 Colecção Xis, Editora Minerva. Título Original: Paul Temple And The Kelby Affair (1970). Um livro da série Paul Temple.
(25 Nov 1912-) British (Yorkshire) author,

Clive Egleton (1927 - 2006) British
Clive Frederick William Egleton nasce em Middlesex, Inglaterra. Considerado como um dos principais escritores de thrillers do Reino Unido marca nos seus livros os anos de experiência prifissonal no campo da Intelligence e Counter-Intelligence. Escritor de romances de espionagem, alguns considerados tecnicamente como de ficção científica, pelo cenário futurista da ocupação da Inglaterra pelos russos. Cria a série David Garnett, com 3 títulos publicados; a série Peter Ashton, com 12 livros; e ainda mais 18 romances. Publica 4 livros sob o pseudónimo John Tarrant e 2 sob o pseudónimo Patrick Blake. O escritor está traduzido em 15 línguas. O seu romance
Seven Days To A Killing (1973) está adaptado ao cinema — The Black Windmill, em Portugal, Por Um Punhado De Diamantes com direcção de Don Siegel e Michael Caine no protagonista.

William McIlvanney (1936)
Nasce em Kilmarnock, Ayrshire, Escócia. Poeta, romancista premiado é também autor de policiários. Cria o personagem Jack Laidlaw, um polícia de Glasgow, forte mas sensível que protagoniza: Laidlaw (1977) — vencedor do Silver Dagger da British Crime Writers Association — The Papers Of Tony Veitch ) (1983) — Silver Dagger e nomead para o Edgar Award Best Novel —  e Strange Loyalties (1991). Em Portugal esta publicado:
1 – O Homem De Glasgow (1986), Nº38 Colecção Caminho de Bolso Polícial, Editorial Caminho. Título Original: Laidlaw (1977).



TEMA — CROOK STORY
Integrado no género policiário Black Mask (novela negra ou máscara negra) o sub género Crook Story surge em 1927, com “Me Gangster” de Charles Francis Coe (1890 – 1956), para se implantar com obras como “Little Caesar” (1929) e “The Asphalt Jungle” (1949) de William Riley Burnett (1899 – 1982), e “Louis Beretti” de Donald Henderson Clarke (1887 – 1958) e “Scarface” (1930) de Armitage Trail (1902 – 1930), pseudónimo de Maurice Coons.
Esta corrente policiária despreza o protagonismo clássico do detective como figura principal, para fazer sobressair o delinquente principal. Seja tido co realismo crítico ou potencialmente realidade testemunhal, ou pala sátira social, a crook story contribuiu definitivamente para desviar o percurso da novela negra, para uma outra possível trajectória — a da violência física para violência moral — que exclui a supremacia do detective-privado-força, opondo-lhe a outra face da moeda de um mundo sujeito à inevitabilidade do fenómeno crime.
Com as versões cinematográficas de Howard Hawks, em 1932 de “Scarface” e Brian de Palma em 1983 com o “A Força do Poder”, estava confirmada a narrativa da crook story.
Citando autores que lhe dedicaram os seus escritos, permanente ou esporadicamente, lembramos Pete Rabe (1921 – 1990) com “Dig My Grave Deep” (1956), protagonizado por um marginal, Daniel Port, a meio caminho entre aparecimento de criações literárias como Tom Ripley, personagem de Patricia Highsmith (CLICAR) em 1957, repetido em 1970 e 1980.
Na mesma linha os personagens Earl Drake de Dan J. Marlowe (1914 – 1987), Bernie Rhodenbarr de Lawrence Block (1938) (CLICAR), Parker de Richard Strak (1933 – 2008) — pseudónimo de Donald E. Westlake, etc.


TEMA — ENIGMA CRIMINAL COM 111 ANOS — MASSACRE DE CHARTRES
Na noite de domingo, 21, para segunda-feira, 22 de Abril de 1901, descobriu-se em Corancez lugarejo de algumas centenas de habitantes, a dez quilómetros de Chartres, um crime que superava em horror as piores tragédias registadas nos anais judiciários.
A alguns passos da sua modesta fazenda, fora socorrido pelos vizinhos, um lavrador de cerca de quarenta anos. Édouard Brierre, ferido com várias facadas. Dentro da casa jaziam mortos os seus cinco filhos. Flora, a mais velha, tinha quinze anos. O menor era um garotinho de três anos apenas. Todos haviam sido feridos da mesma maneira: uma ponta do mesmo instrumento perfurante parecia ter-lhes afundado a caixa craniana. Além disso, Flora fora apunhalada provavelmente com a mesma faca que ferira o pai.
Este não fora atingido senão muito superficialmente. Isso contribuiu para que os investigadores logo desconfiassem dele e, desde o dia seguinte, aquele camponês viúvo, conhecido por seus medos estranhos e por seu aspecto pesadão, foi autuado, acusado do homicídio de seus filhos.
Depois de oito meses de inquérito, Brierre tomava lugar no banco dos réus do tribunal do júri de Chartres. Os debates tempestuosos duraram uma semana. A 23 de dezembro de 1901, era condenado à morte. Entretanto; não cessara jamais de protestar inocência, como, de resto, continuaria a fazê-lo, durante todo a vida.

Que provas havia de sua culpabilidade? Nenhuma! Apenas indícios veementes Haviam-se encontrado as armas do crime. As cinco infelizes crianças tinham sido mortas a golpes de relha de arado. Esse ferro sangrento, descoberto, era o mesmo com o qual Brierre trabalhava no campo. A sua roupa de trabalho estava também manchada de sangue, assim como a faca que havia apunhalado Flora, uma faca de bolso que Brierre costumava amolar na pedra.
O acusado alegava que agressores desconhecidos o haviam roubado, levando, depois de o agredirem, uma caixa de folha onde se encontravam as suas economias. Mas os gendarmes encontraram essa caixa entre os restos de um brinquedo de criança, escondida num canto da parede. Continha uma nota de cinquenta francos, quarenta francos em moedas de oure e alguns trocos.
— Deve ter sido Flora quem a guardou lá — sustentava Brierre. — Era ela a dona da casa desde a morte da mãe e eu lhe confiava todo o dinheiro das despesas…
Mas esse argumento não valeu. Cada novo detalhe apresentado pela acusação confundia um pouco mais o acusado. Brierre já não podia explicar-se. Renunciou a isso, afinal, contentando-se com negar, negar, negar sempre.
Depois vieram os depoimentos dos aldeões, ferozes, odientos, esmagadores. Quando deixara Corancez, algemado, Brierre havia sido apupado, ameaçado, apedrejado. Os seus conterrâneos, convencidos de que estavam em presença de um monstro, queriam vê-lo severamente punido.
“Durante todo o inverno que precedeu o drama, ele passava dias inteiros sem trabalhar, perdido em estranhas divagações” — vieram afirmar as testemunhas. — “Não se cansava de devorar histórias de crimes e exclamava sempre no fim: “Só sendo muito tolo esse assassino, para se deixar apanhar!”
Não foi preciso mais para estabelecer a premeditação.
Não se dissera, além disso, que Brierre nutria o sinistro desígnio de ir eliminar a sua sexta filha, Germaine, de dezanove anos, que estava em Paris? Entretanto, durante os anos que se seguiram, essa quase vítima fazia tudo para inocentá-lo.
E o móbil do crime? Brierre pretendia — disse a acusação — casar-se com a filha de um vizinho rico, o lavrador Lubin. Para isso, era necessário que fosse livre. Para isso, desembaraçou-se dos seus filhos pequenos. Ora, apurou-se depois que esse Lubin longe de ser rico, era um miserável rendeiro, crivado de dívidas.
Não obstante, apesar de tais dúvidas, Brierre foi condenado à morte.
Se ele fosse absolvido, jamais poderia voltar ao departamento de Eure et Loire, a tal ponto todos o consideravam um ignóbil filicida. Mas o veredicto que o condenou à pena capital suscitou, em toda a França uma onda profunda de indignação.
“Brierre foi condenado sem provas” — escreveu Urbain Gohier. Fizeram-se campanhas de imprensa em favor dele. Ia-se guilhotinar um homem depois de tal processo? Afirmava-se que ele fora mal defendido pelo seu advogado M. Comby, porque este, alguns minutos antes de tomar a palavra no tribunal, fora informado do seu afastamento do Conselho da Ordem.
O presidente do -tribunal do júri, Belat, foi, por sua vez, descrito como um magistrado “pavorosamente parcial”. Enfim, a “Liga para a Defesa da Liberdade” interveio no caso e exigiu, por meio de boletins inflamados e de febris reuniões, o perdão do condenado. Diante dessa onda de opinião, o Presidente da República julgou aconselhável comutar a pena de Brierre pela de trabalhos forçados por toda a vida.
O forçado, trajando o clássico uniforme listrado, não tardou a ser embarcado para Saint Martin de Rá e depois para a Guiana. Os jornais da época descreveram com lirismo essa partida, narrando em estilo vibrante os últimos esforços de sua filha Germaine, em prantos, tentando beijar, pela última vez o pai e depois escrevendo cartas de súplica a todos os organismos públicas e privados.
Poder-se-ia pensar que o caso estivesse encerrado naquela primavera de 1902. Assim não foi, porém.
Logo depois da partida, foram publicadas comoventes reportagens dos enviados especiais da grande imprensa, a bordo do transporte “La Loire”, a caminho de Caiena. Brierre proclamava sempre encarniçadamente a sua inocência e não cessava de exigir a revisão do seu processo. Alguns meses depois, o esquecimento começou a envolver o caso quando um coletor de impostos inconscientemente ironico, lembrou-se de ameaçar o degredado com um processo judicial por falta de pagamento de impostos! Essa falha de um funcionário ignorante provocou uma gritara geral, tanto mais quanto a fazenda e os bens móveis de Brierre acabavam de ser vendidos em haste pública pela soma de 2.400 francos.
Germaine Brierre, que acabara de casar-se, aproveitou-se do incidente para desfechar nova ofensiva que deveria prosseguir anos a fio. Em dado momento, ela pretendeu mesmo ter arruinado um dos principais chefes da acusação. Mas o melhor argumento da inocência do forçado partiu de um jornalista que, em 1909, se lembrou de ir entrevistar o professor Bertillon, especialista em impressões digitais e pai da antropometria judiciária, conhecida pelo nome de “bertillonagem”.
“Somente em 1902 o meu método foi aplicado em Paris”, declarou o famoso criminalista. “Na época, aliás, meus trabalhos não eram tomados muito a sério…” Nasceu uma grande esperança para os partidários da inocência de Brierre.
Mas era demasiado tarde. Em oito anos, as impressões deixadas sobre as provas materiais do crime guardadas nos arquivos do Palácio da Justiça em Chartres, não permaneceram suficientemente frescas para permitir um exame decisivo. Se Bertillon se tivesse feito em 1901…
No fim do ano de 1910, Brierre falecia em Caiena, depois de ter, mais uma vez, afirmado que era vítima de um erro atroz, em carta dirigida à filha fiel. O falecimento do pai não iria impedir esta última de perseverar, tentando reabilitar a memória do pai.
Dois meses depois houve um golpe de teatro!
Um trapaceiro chamado Bourreau acabara de entregar-se à prisão aos gendarmes de Tours, afirmando que era o verdadeiro autor do massacre de Corancez”.
Este homem, aliás bem conhecido na região, fez uma descrição muito detalhada do crime.
Seria quase impossível descrever a emoção que dominou a opinião pública naquele momento. Alcide Delmont, que jamais cessara de batalhar ao lado de Germaine Brierre, anunciou a eminência de um sensacional processo de reabilitação. Entretanto, em Corancez, os aldeões persistiam em acreditar inflexivelmente na culpabilidade de Brierre.
Mas as confissões completas de Bourreau não se mantiveram por mais de quatro dias. Apesar de bem montada, a sua história comportava lacunas e contradições. Ele foi rapidamente obrigado a confessar que não era o assassino. Aborrecido da vida, aquele ser bizarro julgara ter encontrado um meio original de terminá-la. Queria morrer de maneira espectacular no cadafalso!
Também ele lia muitos policiais!
O caso Brierre, que mantivera a França em suspenso por mais de nove anos , foi arquivado definitivamente.

FONTE:guillotine.cultureforum.net


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