4 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 309

Efemérides 4 de Novembro
Eden Phillpotts (1862 – 1960)
Nasce em Mount Abu, Índia. Autor britânico, editor, dramaturgo e poeta, com uma obra extensa — duas centenas de títulos publicados. Amigo e admirador de Agatha Christie, escreve também 38 romances policiários, com os personagens Avis Bryden e John Ringrose e 11 colectâneas de contos de mistério / detective. O escritor usa também o pseudónimo Harrington Hext na escrita policiária.


TEMA — MISTÉRIO E CRIME NA HISTÓRIA — RECOMPENSA DE SALOMÉ
Na noite da festa o Machaerus era um mar ruidoso e espumante de gente.
Dezenas e dezenas de pessoas entravam incessantemente. Todos os principais da Galileia e Perea estavam aqui: oficiais, governadores, presidentes etc.
Milhares de velas iluminavam as mesas. Candelabros de ouro maciço brilhavam nas cornijas.
Judeus, romanos, gregos e fenícios reclinavam-se em divãs à maneira romana. As mulheres não tinham sido admitidas na festa.
Isso, naturalmente, desilude os que esperavam que lá se desenrolassem brincadeiras galantes. Marcos deixa, porém, bem claro: não haveria mulheres na festa.
O Evangelho diz-nos que Herodíade teve que ser procurada fora da sala do banquete quando Salomé foi consultá-las. Se fosse uma festa para ambos os sexos a esposa do anfitrião não teria, forçosamente, de estar presente?
É que aquela era uma festa de boas-vindas, além de uma festa de aniversário — a primeira festa que Herodes Antipas dava depois de seu casamento e desde a viragem favorável dos seus negócios, que Herodíade lhe trouxera como dote inspirador. Ele era um homem feliz, muito mais do que o fora, durante longos anos.
Aqui, nesta poderosa fortaleza da cumeeira do mundo, que as velas flamejassem e que as colunas de fumaça se erguessem e que as exclamações reboassem! Era uma festa de júbilo!
Na primeira -parte do banquete, sem dúvida, houve um impressionante desaparecimento de vitualhas — peixe, caça, carne e frutas. Em seguida, a bebida começou a rodar.
Os vinhos da Palestina não estavam entre os mais suaves nem os de Chipre ou de Cós estavam isentos de resina mas, entre aquela espécie de gente, correram caudalosamente, Na sucessão de acontecimentos da festa pode-se afirmar que o anfitrião ficou bêbedo — um bêbedo algo jactancioso.
Flautas e harpas forneceram a música e foi no meio dessa música que surgiu, a certa altura da festa, a figura de Salomé.
A sua identidade não era conhecida de muitos mas, quando ela se preparou para dançar, a notícia surpreendente de que era de facto a Princesa Salomé, filha de Herodíade, correu de boca em boca.
“A filha da mesma Herodíade” como diz Marcos, tinha agora 17 ou 18 anos de idade.
Na imaginação de poetas, dramaturgos e produtores de filmes, o momento histórico que garantiu a notoriedade de Salomé foi pintado de muitas maneiras.
Muitos a descreveram como uma criança recoberta de véus e fazendo o seu papel na festa de Antipas — fazendo dela o joguete inocente da sua intenção criminosa.
Outros fazem dela, a criatura desejada de um padrasto silencioso — que Antigas estava inflamado de incontrolável desejo por Salomé.
Isso talvez resulte em bom teatro — mas é péssima história.
Na verdade, não são sempre as interpretações mais simples as melhores e mais convincentes? Antipas, então com cinquenta anos, não tinha nenhum filho do seu sangue. Que coisa mais natural do que revelar simpatia pela menina vivaz que tinha ficado sob sua proteção quando se casou com a mãe dela?
Aquela não era uma aventureira desavergonhada, mas uma princesa, linda e orgulhosa. Que tributo vinha ela pagar ao seu padrasto! Podia algo ser mais encantador, tocante, amável?
Uma ovação deve ter-se levantado entre os convivas quando reconheceram quem ela era e o que ali tinha vindo fazer.
E assim Salomé dançou no pátio de Machaerus tensamente admirada por uma audiência semi-ébria e pelo seu padrasto em êxtase. Flautas e tamborins iluminados pelas velas acesas prepararam-se para executar a sua parte.
É difícil conceber uma jovem da sua posição rebaixar-se a uma exibição de seu corpo, especialmente para uma assistência masculina. Salomé estava ali para encantar os convivas, não para se humilhar.
Esta princesa judia não era uma praticante de strip-tease e aqueles que imaginaram ter ela dançado a Dança dos Sete Véus podem ser considerados perdidos num mundo de absurdo imaginativo
 Ela dançou provavelmente uma jiga hebraica. O. então uma dança clássica da Grécia. Qualquer que tenha sido a audiência ficou encantada com a sua exibição, enquanto Antipas bêbedo, ergueu a voz para proclamar toda a sua admiração.
Em recompensa ela teria qualquer coisa que ela escolhesse.
Os convivas urraram de satisfação e o Tetrarca continuou a gritar que daria tudo, tudo o que ela quisesse — como prova de sua gratidão.
— Diga! Até a metade do meu reino, se essa for a escolha. Juro-o!
Prometeu tudo o que ela desejasse. Salomé dirigiu-se então aos aposentos da sua mãe, contou-lhe a promessa do Tetrarca e perguntou-lhe: “Que devo pedir?”
Como num relâmpago, Herodíade viu que o marido se entregava nas suas mãos. Uma oportunidade como aquela jamais voltaria. Salomé teve imediatamente a resposta:
— Pede a cabeça de João Batista!
Herodíade agarrou aquela oportunidade. Ela sabia que com o prosseguimento da festa e quando a bebida começasse a correr mais abundante as palavras há pouco proferidas e os juramentos recém-pronunciados não mais seriam lembrados.
Em outro momento nem Antipas nem seus convidados se lembrariam bem do que ocorrera. A oportunidade para destruir o seu inimigo seria agora ou nunca.
Os ruidosos comensais devem ter notado o choque com que Antipas ouviu o pedido de Salomé. Com horror o Tetrarca percebeu então o problema em que se metera.
A voz era a voz de Salomé mas as palavras eram as palavras de Herodíade.
O Evangelho diz que ele “entristeceu-se”. Provavelmente a frase não traduz bem em palavras de hoje e o que ele deve, de facto, ter sentido. Antipas deve ter-se sentido esmagado moralmente pelo pedido, que nunca esperaria.
Naturalmente, tentou dissuadir Salomé quanto aquele terrível pedido. Pode-se quase sentir a palpabilidade do silêncio que deve ter caído na sala repleta; aquele no qual ele viu olhos acusadores fixos nele.
Mas, tinha empenhado a palavra real. Iria repudiar o seu juramento para beneficiar o pregador rebelde?
E assim, “para não transgredir o juramento feito diante de seus convidados, cumpriu a promessa”.
Alguns minutos depois tudo estava acabado. Quando a porta se abriu João,Batista, o último dos profetas, percebeu que a sua hora tinha soado e ergueu-se para morrer consoante a sua glória. Cortaram-lhe a cabeça e ela foi carregada pela obediente Salomé para ser colocada aos pés da mãe.
A morte de João passou sem maior demonstração de fúria popular; somente um suspiro de angústia se ouviu, ao longo do Jordão e morreu na quietude da dor. Politicamente, Herodíade triunfara novamente; não havia luta com os discípulos de João Batista.
As notícias do que se passara em Machaerus correram com botas de sete léguas até à Galileia. Adeptos de João foram chamados à fortaleza, na manhã seguinte ao dia em que foi cortada a cabeça de João. Levaram os seus despojos e, em alguma caverna nas colinas da região, enterraram o último profeta, não longe de onde Moisés olhou, com olhar moribundo, a terra da promissão.
Então, em seu desespero e solidão, decidiram voltar-se para a direção daquele “maior do que eu” que estava a pregar no norte.
Quando chegaram ao lago encontraram toda a região agitada. Havia um único assunto para todas —a maravilha do Mistério de Jesus.
Homens e mulheres, que tinham contemplado as suas ações e a sua pessoa, repetiam as suas palavras: faziam uns aos outros as extraordinárias perguntas, mas estavam por demais assustados para respondê-las. Era Ele o Todo Poderoso?
Esse foi o ponto culminante da missão de Cristo na Galileia. População de todas as cidades abandonava os lares para segui-lo. Quando o seu barco era visto velejando na direção do leste, começavam a remar para a praia e seguiam-no em outras embarcações. Procuravam-no por toda a parte e juntavam-se a ele.
Ele lamentava que “fossem ovelhas sem pastor”, fazia-os sentarem-se na relva verde e apascentava-os.
A fama de suas ações e a enorme influência que exercia sobre o povo estavam em todos os lábios. Até os próprios capitães e conselheiros de Antipas podiam ser vistos sentados aos pés do pregador.
Em Tibérias, Herodes e sua esposa tiveram notícias do que fazia Jesus e, dobra por dobra, a túnica confortável com a qual Herodíade tinha recoberto sua consciência, caiu-lhe aos pés.
Quando ele falou, a culpa e terror alteraram-lhe o tom da voz:
— É João que eu mandei decapitar! Ele ergueu-se de entre os mortos!
— Não, não — protestaram, reanimando-o. Este Jesus é um outro e muito diferente profeta.
— É João Batista que se ergueu de entre os mortos. Os milagres revelam-no por inteiro.
Não era difícil convencê-lo de que seu terror fantástico não repousava sobre base alguma, pois Jesus de Nazaré já pregava há muitos meses e João só fora, morto há uma ou duas semanas.
Mas, mesmo que João estivesse morto, parecia a Herodes que ele continuava neste outro profeta do próprio túmulo.

Salomé com a cabeça de João Baptista - Caravaggio



TEMA — FICÇAO CIENTÍFICA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (56-57)

Volume 56 — The Drowned World (1962) de J. G. Ballard


James Graham "J. G." Ballard (1930–2009), nasceu em Xangai em 1950, filho de pais ingleses, passou dois anos num campo de concentração japonês durante a última grande guerra, do qual nos dá conta num livro notável — não de Ficção Científica — “Império do Sol”. Estudou medicina e dedicou-se-posteriormente à ficção científica. Com justiça um crítico francês apelidou-o de “cirurgião do apocalipse”, em vista da predileção temática sobre a destruição do mundo. Desta fazem parte, The Wind From Nowhere (1961) The Drowned World (1962), The Drought (1965) e The Crystal World (1966). Integram o ciclo do quotidiano, as novelas Crash (1973), Concret Island (1974) e High Rise (1975).

Em The Drowned World estamos no Terceiro Milénio, o Sol aproximou-se da terra e os oceanos cobriram quase todos os continentes. As cidades não submersas estão dominadas, por uma espessa floresta cheias de répteis gigantes e animais anfíbios. O estudo psicológico dos seres humanos colocados nestas condições insólitas é um dos objetivos do autor. Como aceitarão os que sempre viveram nestas condições, voltar a realidade anterior?


Fonte:http://coleccaoargonauta.blogspot.pt/



Ficha Técnica
Cataclismo Solar
Autor: J. G. Ballard
Tradução: Mário Braga e Mª Isabel Braga
Ano da Edição: 1966
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº109



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Volume 57 — The Man In The High Castle (1962) de Philip K. Dick


Philip K. Dick (1928–1982), norte-americano, foi um dos escritores mais notáveis de toda a Ficção Científica, a ponto de se ter convertido uma lenda viva nos últimos anos da sua vida.
Iniciou-se em 1952 e em trinta e dois anos de carreira, que a inesperada e precoce morte interrompeu, publicou trinta e quatro livros e mais de uma centena de contos, podendo dizer-se que são poucos os que não merecem atenção especial.


The Man In The High Castel recebe o prémio Hugo em 1963. Começa num Universo paralelo em que os aliados perderam a 2ª guerra mundial. Nos Estados Unidos, parcialmente ocupados pelo Japão, desenvolve-se uma nova civilização onde as distintas classes de relações humanas são submetidas ao método I-Ching ou Livro das Mutações. Neste cenário há um homem que vive isolado num castelo e ousa escrever um livro onde se revela que a guerra foi efectivamente ganha pelos aliados, e mais, o oráculo confirma esta versão, o mundo em que vivem não passa de pura ilusão.

Ficha Técnica
Cataclismo Solar
Autor: J. G. Ballard
Tradução: António Porto
Ano da Edição: 1993
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº427 e Nº428





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