Efemérides 11 de Novembro
Fiódor Dostoiévski (1821 – 1881)
Fiódor Mikhailovich Dostoiévski nasce em Moscovo. Considerado por muitos como o maior escritor de todos os tempos, está incluído nas efemérides do Policiário de Bolso pelos seus romances Crime E Castigo (1866) e Os Irmãos Karamázov (1881). Em Portugal a obra do escritor a Editorial Presença tem vindo a reeditar a obra de Dostoiévski.
Thomas Aldrich (1836 – 1907)
Thomas Bailey Aldrich nasce Portsmouth, New Hampshire em EUA. Editor, crítico de literatura juvenil, poeta, romancista e contista. É na escrita de short stories que o autor marca a diferença, pela utilização de finais surpreendentes e inesperados, sendo importante a sua influência no desenvolvimento do conto. Em Portugal apenas está editado um livro do autor, que é baseado nas suas experiências de infância e que segundo a crítica “ é romance contém a primeira representação realista da infância na ficção americana e preparou o terreno para As Aventuras de Tom Sawyer”, um clássico da literatura juvenil de aventura.
1 - História De Um Rapaz Mau (2008) Editora Tinta da China. Título Original: The Story Of A Bad Boy (1870). O livro já tinha sido editado em 1965 pela Editora Civilização com o título Tom Bailey: História De Um Rapaz Mau.
Anna Katharine Green (1846 – 1935)
Nasce em Brooklyn New York, EUA. Poeta e autora de policiários, escreve 33 romances e 6 colectâneas de contos entre 1883 e 1923. Anna Katharine Green autora introduz e/ou populariza na literatura
Em Portugal está editado:
1 – Um Estranho Desaparecimento (2010) Editora Tinta da China. Título Original: A Strange Disappearence (1880). É o 2º livro da série Ebenezer Gryce.
Berkeley Gray (1889 - 1965)
Edwy Searles Brooks nasce em Hackney, Londres. Autor com uma vasta obra no género policiário e de aventura, publicada entre 1916 e 1966 (Ver TEMA). São conhecidos os seguintes pseudónimos: Reginald Browne, R W Comrade, Victor Gunn, Rex Madison, Carlton Ross, Edward Thornton.
E. V. Cunningham (1914 - 2003
Howard Melvin Fast nasce na cidade de Nova Iorque, EUA. Autor de ficção histórica e argumentos para televisão, usa o pseudónimo E. V. Cunningham para a escrita de romances policiários (mais raramente também sob Walter Ericson); os seus personagens principais são Masao Masuto (ver TEMA), John Comaday, Larry Cohen e Harvey Krim;
Maurice Leblanc (1864 – 1941)
Marie Émile Maurice Leblanc nasce em Rouen, Normandie, França. Jornalista e Autor de romances de aventuras e de policiários quase dispensa qualquer apresentação por causa do seu famoso personagem: Arsène Lupin. O primeiro registo da edição, em Portugal, dos livros de Maurice Leblanc data de 1911, pela Empreza Luzitania que divulga as aventuras de um tal Arsénio Lupin. Desde então diferentes editoras — em particular a Editorial Notícias — divulgaram a obra do autor.
Dick Haskins (1929)
António Andrade Albuquerque nasce em Lisboa, Portugal. Ver TEMA.
Dick Haskins na Internet
SITE OFICIAL DO AUTOR
ENTREVISTA JUNHO 2111
LIVROS EDIÇÕES ASA
TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — UM DIA DE NASCIMENTOS ILUSTRES
Por M. Constantino
É, de facto e de justiça, um dia assinalado pelo nascimento de ilustres autores, de quem se impunha falar mais largamente dada a reputação no campo da literatura policiária. Todavia, porque o espaço não o permite, dado que o coração nos puxa para o ultimo nome, Dick Haskins, português de gema — deixaremos breves notas sobre os outros autores.
No que respeita a Dostoiévski há que citar “Crime e Castigo” (1865), não propriamente por ser um romance de cariz policiário, mas por se tratar um importante estudo sobre o crime os seus efeitos (visto pelo lado do criminoso) sobre o estado psicológico dos personagens envolvidos. Se é certo que foi um novelista aplicado ao género criminal, também é verdade que, com a referida obra de arte deu o primeiro passo gigantesco para a percepção do ramo policiário conhecido como psicológico.
De Aldrich, pouco divulgado em Portugal, apenas conhecemos um conto-enigma, ainda que de qualidade.
Já Anna Katharine Green reflecte a dupla virtude de ser a primeira autora policiária do sexo feminino e ter criado igualmente uma das primeiras personagens detectives femininas: Violet Strange (1915), depois de ter criado o detective da polícia de Nova Iorque Ebenezer Gryce, ao qual juntou posteriormente um outro Caleb Sweetwater.
Berkeley Gray publica meia centena de romances protagonizados por Norman Conquest. Sob o seu nome, Edwy Searles Brooks, escreve mais uma vintena com os personagens Sexton Black e inspector chefe William Beecke e cerca de dúzia e meia de livros para a juventude. Ainda com o pseudónimo Victor Gunn, tendo como personagem Bill “Ironsides” Cromwell, escreve quatro dezenas de romances.
E. V. Cunningham publicou uma vasta e apreciada série com o personagem de origem japonesa, o sargento detective Masao Masuto, da Brigada de Homicídios de Beverly Hills, praticante de Karaté, cultor do budismo zen e casado com Katy.
Por último temos o francês Maurice Leblanc e o seu famosíssimo personagem Arsène Lupin, um cavalheiro ladrão (ladrão de casaca ou luva branca) criado para competir com o britânico Sherlock Holmes. Lupin, que se tornou num personagem de culto — tal como Holmes tem clubes de fãs — tornou-se uma lenda de vários nomes, um génio no disfarce e habilidade para quem o roubo e a burla é uma arte, chegou mesmo a ter uma carreira de detective.
TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — DICK HASKINS, AUTOR E PERSONAGEM
Por M. Constantino
Fonte: Diário de Notícias 2/Mar/2009 |
Nascido em Lisboa em 1929, de nome António Andrade Albuquerque, estudou no liceu Passos Manuel, onde demonstrou a sua inclinação para a produção literária. Frequentou o curso de Medicina, que abandonou pela profusão de escritor. Entre contos e argumentos de aventuras, escreveu o romance “Sono de Morte” aprovado em 1955 pela editora Diário de Notícias. O passo decisivo para a consolidação profissional só se verifica em 1958, ano da publicação daquele livro e de “A Sétima Sombra”, cujo personagem principal é exactamente Dick Haskins — o pseudónimo do autor — um anglo português, descendente de um inglês e de uma portuguesa. Tem 1,80 metros de altura, cabelos pretos e olhos castanhos. Advogado e repórter chefe da secção de criminologia do jornal Times, é habitualmente de trato fácil mas mordaz e irónico, corajoso e de extrema bondade. Detective amador, tem muitos amigos na Scotland Yard — dos quais o principal é o inspector Robert Wells — uma eterna noiva em Kathy Oughton e uma secretária fiel em Patricia Arden.
Haskins, ou antes Albuquerque, passou a escrever dois ou três romances policiários anualmente. Sucessivamente “Porta para o Inferno”, “ O Isqueiro de Ouro”. A minha Missão é Matar”, “Espaço Vazio”, em 1959, o “Fio da Navalha” e “Premeditação” em 1960”, “Hora Negra” e “O Fim de Semana com a Morte” em 1961, “Obsessão” em 1962. “Quando a Manhã Chegar” e “O Último Degrau” em 1963, “ O Minuto 180” e “A Noite Antes do Fim” em 1964, “Suspense” em 1965, “O Jantar é às Oito”, “Clímax”, Psíquico”, “Labirinto” e “A Embaixadora” respectivamente em 1968, 1969, 1970, 1971 e 2000. Estes livros foram, e ainda o são, traduzidos e editados em cerca de 30 países.
O autor criou uma editora, tendo mantido durante dez anos cinco colecções mensais: policial, espionagem, ficção científica, romance e história. Editou igualmente uma antologia de contos policiais em dezoito volumes, nos quais publica não só diversos contos próprios como estrangeiros.
Produziu para a RTP um programa “Noite de Teatro” com a adaptação do seu livro “O Fim de Semana com a Morte”, cuja novela foi levada à tela numa produção internacional — Portugal, Espanha, Alemanha — protagonizada por António Vilar, dobrada posteriormente em diversos idiomas.
Para a RTP, com produção externa, produziu uma série de 12 filmes baseados na sua obra. Em nome próprio publicou dois romances “O Papa que Nunca Existiu” e “O Expresso de Berlim, ambos publicados em 2007.
Em Maio de 2008 foi-lhe atribuída a Medalha da Sociedade Portuguesa de Autores.
Albuquerque, meu Ilustre Amigo, aguardamos para prazer literário, a volta de Dick Haskins — o personagem e o autor.
M. C.
TEMA — UM CONTO DE DICK HASKINS — O PRECIPÍCIO
Por M. Constantino
O precipício.
Lá ao fundo, o vale imenso.
A paisagem e monótona e fria: um manto de neve espessa contrastando com o azul pálido do céu. O silêncio, o pesado silêncio que os rodeia, é cortado de momento a momento por um vento que se assemelha a uma voz humana, crescendo e decrescendo, principiando num gemido para se tornar, depois, num grito agudo e aflitivo e apagar-se noutro gemido; o vendo sibilando ao longo do vale, veloz, como se esquiasse aos ziguezagues pelas montanhas nevadas e se afundasse, em seguida, no precipício, inconsciente na sua abstracção, indiferente e aventureiro como uma criança alheia ao perigo.
O precipício.
Ruth Mames sentia-se embriagada com a paisagem, apesar de reconhecer a sua monotonia. O vento soprando contra o seu rosto enregelado parecia uma lâmina de gume afiado. A pousada, situada lá em baixo, em pleno vale, assemelha-se a uma casa de bonecas. Um automóvel escuro tinha parado junto a entrada principal e dele acabava de sair um verdadeiro gigante. Por momentos, Ruth não compreendeu como teria sido possível um carro, tão pequeno transportar um homem tão grande, anormalmente grande. Foi então que reparou que o homem tinha destruído totalmente o tejadilho para conseguir abandonar o pequeno Fiat! Mas como teria ele conseguido entrar?!
Ruth voltou para trás, para discutir o estranho facto com o marido, para lhe denunciar o seu espanto e perguntar-lhe se ainda não tinha notado toda aquela anormalidade. Nesse instante preciso, notou que Mike se encontrava demasiadamente junto de si e teve apenas tempo de reparar no seu falso sorriso, no brilho excessivo dos seus olhos e na elevação lenta do seu braço direito. Depois, em poucos segundos, a mão de Mike cresceu na sua frente, os dedos afastados e curvados em forma de garra, como se Ruth a estivesse a focar através duma teleobjectiva.
Pressentindo o perigo, Ruth envolveu o pulso do marido, mas ele sacudiu-a tão bruscamente que ela perdeu o equilíbrio, escorregou e abeirou-se do precipício. Já Mike avançava o pé, quando Ruth conseguiu, segurar-lho. Mas o que acontecera anteriormente repetiu-se então. Desta vez, porém, Mike atingiu-a no rosto e ela gritou; o seu grito perdeu-se no vale, misturado com o silvo crescente do vento.
Ruth fincou as unhas no solo e procurou erguer-se, mas os pés do marido sobrepunham-se-lhe às mãos enterradas na neve.
— Porquê? — foi a única palavra que ela conseguiu murmurar antes de ver Mike curvar-se e empurrá-la.
Rolou na neve por uma dezena de metros somente, até se perder no espaço para sempre.
O precipício.
Diz-se que um moribundo se recorda do passado nos últimos momentos de vida, em imagens fugazes mas nítidas. Ruth Haymes recordou-se apenas do casamento que celebrara com Mike Matson dois dias antes de ele a matar e da viagem de núpcias que ambos, tinham realizado a Suíça. Foi tudo do que se recordou, enquanto rolava na neve ã caminho do precipício e da morte.
Ruth Haymes acordou sobressaltada sentando-se subitamente na cama. Como se fossem lentes de uma teleobjectiva, os seus olhos, ainda ensonados, focaram o rosto de Mike, que se aproximava do seu.
Horrorizada, Ruth empurrou-o num gesto violento, com todas as suas forças.
Em posição de desequilíbrio, Mike caiu de lado batendo com a têmpora esquerda na mesa de cabeceira. A sua mão, com os dedos afastados e curvados em forma de garra deslizou lentamente ao longo do lençol, até se juntar ao corpo.
— Que fiz eu, meu Deus? — murmurou Ruth, já completamente acordada.
Saltou da cama e debruçou-se sobre Mike. O coração pulsava-lhe desordenadamente.
Voltou a cabeça de Mike para si e, tomada de pavor, abafou um grito na garganta.
— Matei-o, meu Deus! … Mas, porque o fiz?!
Recordou-se então do pesadelo; tinha sido o pesadelo a causa do seu acto, do seu acto desesperado e fatal.
— Porquê? … Porque motivo fui infeliz ao ponto de o matar? Terei endoidecido?! Talvez ele não esteja…
Mas Mike estava morto
Mike tinha morrido, com um falso sorriso estampado no rosto, um sorriso semelhante ãquele que Ruth lhe notara em sonhos. Mas agora Ruth Hymes enfrentava a realidade, um pesadelo real, não um sonho.
Cambaleante, apoiando-se aos móveis, Ruth dirigiu-se ao telefone e levantou o auscultador.
— Recepção — anunciou-lhe uma voz que lhe pareceu imensamente distante.
Manteve-se em silêncio, os olhos postos no cadáver de Mike e no pedaço de papel parcialmente visível no bolso do roupão que ele tinha vestido.
— Recepção — repetiu a voz.
— Fala do quarto 103 — disse finalmente para o bocal. — Ligue para a polícia, por favor.
— Um momento — pediu o recepcionista.
Ruth pousou o auscultador sobre a mesa e aproximou-se do corpo de Mike. Indecisa, a medo, curvou-se e retirou-lhe o papel do bolso.
Era uma carta que Mike tinha escrito nessa mesma manhã, dirigida a alguém que ela desconhecia:
Querida Anne:
O cenário dos Alpes é deslumbrante e propício a que tudo corra pelo melhor. Será demasiado fácil até: um simples empurrão resolverá o nosso problema. Ela está encantada com a paisagem e com os precipícios… e encantada com ambos ficará por aqui (acidentalmente, é claro!). Prometo-te que serei o seu único herdeiro e que em b revê estaremos juntos, juntos para sempre…
Ruth Haymes não leu o resto da carta; olhou apenas de relance para assinatura de Mike. Depois, dirigiu-se de novo à mesa onde se encontrava o telefone e pegou no auscultador.
— Está — perguntava uma voz do outro lado da linha, num tom de quem o fazia pela terceira ou quarta vez.
Antes de responder, Ruth olhou para a paisagem dos Alpes, através da janela do quarto que ocupava na pousada: era bela, apesar de monótona.
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