30 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 182

EFEMÉRIDES – Dia 30 de Junho
Winston Graham (1908 – 2003)
Winston Mawdsley Graham nasce em Victoria Park, Manchester, Inglaterra. É considerado um dos escritores mais prolíficos e de maior sucesso do séc. XX. Autor de 50 romances de vários géneros literários, é mais conhecido pela série Poldark, um conjunto de 12 novelas de ficção histórica, publicado entre 1945 e 2002, adaptada à televisão e exibida em 22 países. Winston Graham escreve também outros livros, peças de teatro, argumentos para cinema e short stories. Os primeiros thrillers publicados nos anos 30 não são muito do agrado do escritor, que muitas vezes os descreve como estando “merecidamente fora do catálogo”. A partir dos anos 50 os romances elevam o grau de suspense.Os livros mais famosos são The Little Walls (1955) galardoado com o primeiro Gold Dagger atribuído pela The Crime Writers Association e Marnie (1961), adaptado a filme sob direcção de Alfred Hitchcock. Em Portugal estão editados:
1 – O Expresso De Basileia (1949), Nº451 Colecção Mistério e Acção, Editorial Século.
2 – O Benefício Da Dúvida (1967), Nº171 Colecção Xis, Editorial Minerva.
3 - Poldark (1979), Livros do Brasil. Inclui os quatro primeiros livros da série: Ross Poldark (1945), Demelza (1945), Jeremy (1950) e Warleggan (1953).



TEMA — HISTÓRIAS DO DIABO — PACTO DIABÓLICO
De F.M. Cardaillaguet
O triste e desgraçado homenzinho ajustou as lentes ao nariz e, após algumas dúvidas, resolveu realizar o rito mágico; queria abandonar a sua cinzenta existência de empregado de escritório, tinha que fazê-lo, não importava o preço.
Com giz desenhou no solo o pentágono satânico, a mística figura em forma de estrela de cinco pontas. Tinha de ser feita de um só traço e com extraordinário cuidado, pois qualquer erro na linha de continuidade faria perder a efectividade do acto e, inclusivamente, punha a sua vida em perigo. Depois desenhou um círculo, de uns metros de diâmetro envolvendo o desenho e escreveu os nomes dos principais demónios do inferno. Por último derramou umas gotas do seu próprio sangue e, abrindo as páginas do Grande Livro Negro, começou a recitar com voz guinchante os salmos de encantamento.
Um calor sufocante inundou o quarto; mal havia acabado de pronunciar a última silaba quando, entre nuvens de vapores sulfurosos, surgiu uma pequena figura de ridículo aspecto, que o observava inquietamente.
— Mas és na verdade o Diabo? — perguntou o assombrado homenzito.
— Gaita! Tendes sempre que dizer as mesmas coisas! — contestou o ser diabólico. Não sei que ideia tendes vós, humanos de nós, nem o que entendem por Diabo. Sou Minus, um dos diabos menores do Inferno!
— Um dos pequenos diabos, quereis dizer… — homenzito mirou pensativamente o escasso metro da estatura da infernal figura.
Um relâmpago de ódio brilhou um instante nos olhos de Minus.
— Escuta boneco, aqui em baixo temos trabalho de sobra, se acreditas que tenho tempo a perder com alma tão miserável como a tua… Afinal que queres?
O homenzito estava aturdido, pois nunca havia esperado tal resultado do encantamento; na realidade era o primeiro que fazia. Pensara milhares de vezes no que pediria se se apresentasse a ocasião: poder, imortalidade, mulheres formosas, riquezas, viagens… e agora que chegara a hora não conseguia concretizar os seus desejos.
— Poiiis… estooou… quero… hum… já sei! Já sei! Todo o dinheiro que possas trazer-me — decidiu por fim, para alívio de Minus.
O Diabo pensou um instante coçando um corno e respondeu;
— Está bem! Vou buscá-lo! Antes limpa um traço do círculo para que possa sair; sobretudo assina no Livro das Almas, já que eu sei o que se passa e não quero brincadeiras depois.
O homenzinho fez o que lhe mandava e depois de cumprir todos os requisitos, observou com estranheza que o pequeno demónio abria a porta e desaparecia pela escada saltando dois a dois os degraus com as patas de bode.
O tempo passava com lentidão exasperante. Após horas de impaciente espera, a demora de Minus começou a preocupá-lo. A suspeita de que não cumprisse a palavra começou a formar-se-lhe na mente, quando a campainha da porta suou. Riiimg!
Foi ver o que era e encontrou o diabito arrastando uns pesados fardos com ar satisfeito.
— Moço, o trabalho foi difícil, mas consegui cumprir o teu desejo. Vou voltar ao pentágono.
De repente vários polícias irromperam pelo quarto apontando as suas armas.
— Nada disso, amiguito; Ficas detido pelo roubo do Banco.
Actualmente, Minus e o homenzito deixam apodrecer os ossos no cárcere.

Claro, também entre os diabos há desgraçados sem sorte!


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