EFEMÉRIDES – Dia 26 de Junho
Octavus Ray Cohen (1891 – 1959)
Nasce em Charleston, South Carolina, EUA. Recebe educação militar, serve as forças armadas, trabalha como engenheiro civil e jornalista antes de se tornar advogado. Em 1915 dedica-se à escrita a tempo inteiro. Publica 38 romances, o primeiro The Other Woman (1917) e o último Love Can Be Dangerous (1955), protagonizados por personagens como Florian Slappey, David Carroll, Max Gold e Marty Walsh. Como contista, especialidade que melhor define o seu talento, cria o detective Jim Hanvey, um dos primeiros detectives privados da literatura policiária.
John Blackburn (1923 – 1993)
John Fenwick Blackburn nasce em Corbridge, Northumberland, Inglaterra. Escritor de cerca de 30 romances policiários, de diferentes géneros: mistério, espionagem thriller, publica o primeiro livro em 1958, The Sour Apple Tree. Os seus livros têm a particularidade de misturar conceitos actuais, como a guerra biológica e a conspiração internacional com maldições e tradições antigas obtendo resultados inesperados. Tem obras adaptadas ao cinema e televisão. Em Portugal estão editados:
1 – Um Anel De Rosas (1967), Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: A Ring Of Roses (1966)
2 – O Homem Que Veio De Lima (1969), Nº36 Colecção Espionagem, Editora Dêagá. Título Original: The Young Man From Lima (1968)
3 – Os Traidores (1974), Nº181 Colecção Enigma, Editora Dêagá. Título Original: The Houshold Traitors (1971)
4 – A Mulher Magra (1975), Nº189 Colecção Enigma, Editora Dêagá. Título Original: The Gount Woman (1967)
5 – O Terror De Railstone (1983), Nº14 Colecção Bolso de Noite, Europress.
TEMA — LIÇÃO DE BALÍSTICA
Depoimento de Sir Sidney Smith professor de Medicina Legal da Universidade de Edimburgo.
Cada bala tem a sua história. As armas de fogo modernas são desenhadas para provocarem a saída da bala com maior alcance e certeza devido ao movimento rotativo que lhe imprimem as estrias do interior do cano. São estas uma série de sulcos em espiral gravados no sentido da direita ou da esquerda. A superfície interna do cano, cujo diâmetro constitui o calibre (medido em polegadas ou centímetros, conforme a fábrica de origem), chama-se “alma”. Os sulcos espiraliformes gravados na “alma” de um cano chamam-se “estrias” e as superfícies inter-estrias chamam-se “campos”.
Por conseguinte, esses riscos correspondem às características dos “campos” do cano e, portanto, também a qualquer irregularidade que estes apresentem
Os sulcos do cano variam com a marca e o tipo de arma, em número, sentido de torção, largura e profundidade dos “campos”.
Assim, o revólver do Webley Service tem sete sulcos inclinados para a direita, a Colt, seis inclinados para a esquerda; o Smith e Wesson, cinco inclinados para a direita, etc. Daí resulta que cada bala disparada recebe marcas que são características da marca e do tipo da arma de fogo que a disparou. Mas isto não é tudo. Ao estudarmos, ao microscópio, balas disparadas, verificamos que, além dos habituais sinais do tipo, havia diferenças individuais em um ou mais dos “campos” ou dos sulcos e que eram específicas de uma determinada arma. Geralmente havia também marcas causadas por leves defeitos ou marcas de ferrugem do cano ou por incrustações metálicas.
Para descobrir se uma bala fora disparada por uma arma suspeita seguíamos uma técnica rotineira. Em primeiro lugar, utilizávamos a mesma arma para disparar um determinado número de balas num rolo de algodão em rama ou num saco de trapos. Em seguida comparávamos ao microscópio de comparação cada uma das “balas-teste” com a bala do crime. Quando começámos a trabalhar, não dispúnhamos de tal instrumento, mas improvisámos um. Mais tarde aproveitámos o desenho de Charles E. Waite, outro pioneiro americano da balística forense. Servindo-nos do microscópio, examinávamos as balas, risco por risco. Encontrávamos não só semelhanças gerais, como também marcas de ferramenta, raspaduras, leves erosões e outros defeitos quase imperceptíveis do cano. Evidentemente que nem todas as marcas de cada bala estavam reproduzidas nas outras, porque os riscos causados por partículas de incrustações metálicas variam de tiro para tiro. Só quando várias “balas-teste” apresentavam a mesma marca, esta característica era considerada. A comparação tornava-se mais difícil quando a bala do crime ficara achatada ou distorcida pelo impacto, mas, em geral, conseguíamos determinar se a arma que nos era apresentada era ou não aquela que disparara uma determinada bala.
A identificação tornava-se muito mais fácil se nos entregavam também o cartucho detonado. De novo, procedíamos a comparações com os “cartuchos detonados-teste” depois de disparar uma série de balas em algodão em rama. Cada cápsula detonada apresentava marcas produzidas pelo percutor sobre o fulminante detonador — marcas que variavam de posição, de forma e de profundidade — e pelas paredes da culatra contra a qual a cápsula era retro-projectada quando a bala era expelida. Quaisquer riscos ou irregularidades existentes na culatra eram reproduzidas na base da cápsula. Sobre a superfície cilíndrica desta podia haver marcas causadas por irregularidades ou riscos da culatra ou da câmara onde o cartucho era introduzido. Quando se tratava de uma pistola automática, havia também marcas produzidas pelos dentes do extractor e pelo ejectar, sobre o rebordo posterior da cápsula.
Segundo o nosso ponto de vista, o facto mais importante quanto a pistolas automáticas era ser o cartucho ejectado automaticamente depois do tiro desferido e por conseguinte ficar geralmente abandonado no chão da cena do crime.
Podia ser tão incriminativo como se o assassino tivesse deixado o seu cartão-de-visita.
TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA — A TERRA CHAMA MARTE
De Donald H. Menzel
Nota Policiário de Bolso: Um texto escrito por um cientista em meados do século XX, na época um estudo inovador e polémico. Hoje ao ser lido deixa, no mínimo um sorriso perante a legítima reflexão de Menzel sobre o sistema de contagem e equivalências e o número de dedos de um marciano.
Pode existir vida fora da Terra?
Os quatros grandes planetas — Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno — são locais pouco hospitaleiros. As suas respectivas atmosferas não contêm oxigénio como a nossa. Além disso, as temperaturas das capas exteriores das suas atmosferas são extremamente baixas, variando desde os 115°C abaixo de zero, em Júpiter, até aos 150°C abaixo de zero em Neptuno. Vénus tem uma atmosfera de igual densidade à da Terra mas sem oxigénio respirável.
Marte é o planeta que mais se parece com o nosso quanto às possibilidades de vida É diferente de Vénus, pois a atmosfera de Marte é transparente. Os telescópios deixam ver linhas finas, como teias de aranha, na superfície do planeta: são os discutidos. “canais” que mereceram ampla publicidade quando Percival Lowell sustentou que eram aquedutos artificiais. Lowell expressou a teoria de que eram obras realizadas por seres inteligentes' para transportar água desde os pólos marcianos até às regiões mais férteis situadas de ambos os lados do equador desse planeta.
Dois pontos brancos que se podem distinguir nos pólos de Marte, mudam de tamanho conforme as estações. Trata-se, muito provavelmente, de camadas de gelo ou neve. À medida que avança a Primavera num dos hemisférios de Marte vai-se estendendo uma onda de cor desde o equador até ao respectivo pólo, transformando o tom cinzento em verde, contrastando com a cor avermelhada do resto do planeta. Os canais escurecem e destacam-se com maior nitidez. Tanto através de fotografias como por observações visuais, têm-se comprovado autênticas mudanças na estrutura e tonalidade das áreas escuras de um ano para o outro A explicação plausível para este fenómeno, é que existe vegetação.
Exactas medidas de cor indicam como provável a não existência de plantas com um desenvolvimento tão completo como as da Terra, pois não se enxergam rastos de clorofila. A flora de Marte parece ter uma certa semelhança com os nossos líquenes.
Se existissem seres inteligentes em Marte é possível que tivessem inventado aparelhos semelhantes àqueles que são usados na Terra — como, por exemplo, a radiotelefonia. Durante muitos anos os cientistas discutiram a possibilidade de comunicarmos com Marte pela rádio Estamos agora em condições de podermos falar com habitantes de outros mundos; se os houver. Podem emitir-se ondas curtas que atravessam não só a nossa atmosfera, como a de Marte.
O problema estaria, no caso de se receberem mensagens extraterrestres, em poder decifrá-las e responder-lhes; no entanto, a solução, ainda que difícil não é um impossível. Suponhamos que recebíamos uma mensagem de Marte, constituída por pontos e traços. Gravaríamos a mensagem e transmitiríamos uma resposta. Poderiam compreendê-la? Já demos conta que podem ouvir-nos, mas como proceder para comunicarmos com seres que não têm nada de comum com os habitantes da Terra?
Nada em comum? Esta afirmação é evidentemente falsa. Se temos entrado em comunicação, Isso quer dizer, muito simplesmente, que ambos possuímos rádio. E se assim é, significa compartilharmos do conhecimento de vários princípios matemáticos. Vejamos, então, se os marcianos podem contar. Enviaremos a nossa primeira mensagem, que consiste em um ponto, dois pontos, três pontos, até chegar a dez. Ora bem… Até um menino de seis anos se aperceberia de que esses símbolos representam vários números. No primeiro ensaio escreveríamos a letra “n” ( _ . em código de ponto e traço, o conhecido Alfabeto Morse) para representar “mais” o “y” e a letra “r” (. _ .) para representar igual, é o som. Depois enviaríamos esta mensagem:
1 + 1 = 2
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e assim sucessivamente. Se os Marcianos entendessem responderiam da mesma forma com os seus próprios problemas. Note-se que junto com os números, agregámos as ideias abstractas de mais e igual.
Se procedêssemos com quantidades de mil ou mais, assinalar os pontos resultaria um trabalho fastidioso, ainda que não impossível. Para escapar a semelhante trabalho utilizámos os números árabes, o zero e o conceito do lugar e dos números. Assim, o número 1 tem diferente valor nos números 12 e 120. Em 12, 1 significa uma dezena; em 120, dez dezenas, pois valemo-nos deste sistema decimal. Os marcianos, que muito possivelmente têm diferente número de dedos — que foram os contadores primitivos — talvez empreguem um sistema baseado em 8 ou 16 ou outro número; mas qualquer matemático pode reconhecer imediatamente se se trata de um sistema diferente e calcular as equivalências entre um e outro. Por este método poderíamos explicar-lhes a nossa aritmética e aprender a deles.
Certos números, como o Π , ou seja, a relação de uma circunferência com o seu diâmetro — 3,14159 — deve ter o mesmo valor em Marte que na Terra. Pesos e distâncias, por outro lado, como, por exemplo, a distância dos planetas ao Sol, podem carecer de significado, pois os quilómetros e as milhas que empregamos na Terra são medidas convencionais. Mas as relações proporcionais de distância são sempre iguais, qualquer que seja a unidade de medida empregada. Um astrónomo que veja as séries 4, 7, 10, 16, 52, 100, reconhecê-las-á imediatamente como as distâncias relativas entre o Sol e Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. O astrónomo marciano forçosamente terá que compreender o seu significado. Podemos imaginar os marcianos a repetir “16” para assinalar o seu próprio planeta… Responderíamos repetindo repetidamente o número “10”… Vamos progredindo… Já identificámos os planetas por números. Agora podemos marcar alguns símbolos que não sejam números. Transmitiremos assim: Mercúrio, O; Vénus, O; Terra, 1; Marte, 2; Júpiter, 11; Saturno, 10”. Um astrónomo pode compreender imediatamente que os números se referem ao número de satélites de cada planeta, ainda que, daqui da Terra, não se possam observar todos. Os marcianos talvez protestem repetindo a série com uma correcção: “Saturno, 11”. A primeira comunicação científica de valor! Suponhamos então que os marcianos podem ver onze satélites devido à sua atmosfera ser muito mais clara e por estar mais próximo de Saturno Continuaríamos a comparar outros dados planetários: diâmetros, massas, tempos de rotação e assim sucessivamente. Dando aos marcianos os diâmetros em milhas ou quilómetros poderíamos ensinar-lhes os sistemas de medidas usados por nós.
Não há, pois, qualquer limite para as informações que possam ser trocadas entre os dois planetas. O mais exasperante seria o resultado da demora entre o envio da mensagem e a sua resposta. Um sinal de rádio circunda a Terra sete vezes num segundo: precisa de 3 a 20 minutos para chegar a Marte, conforme a posição do planeta na sua órbita. Estou convencido que, se se pudesse intercambiar com qualquer planeta, seria possível estabelecer comunicações inteligentes, que nos conduziriam a descobrimentos de valor Incalculável para a ciência.
Tratemos, pois, de captar as transmissões radiofónicas interplanetárias. Muito antes de poder fazer uma viagem completa ao espaço ou receber a visita de habitantes de outros planetas, estaremos em comunicação com os tripulantes das suas naves ou discos voadores…
E se isso nos parece impossível, recordemos que há um século os habitantes da Terra nem sequer imaginavam as vastas possibilidades da radiofonia.
DONALD H. MENZEL (1901-1976), professor de Astrofísica e Director Associado de Investigações, solares da Universidade de Harvard. No seu livro Flying Saucers (Discos Voadores), publicado pelos serviços de imprensa daquela Universidade, explica os diversos fenómenos que podem dar origem à aparência de discos voadores. Menzel destrói o mito de que se trate de naves do espaço, se bem que admita a possibilidade — como se pode inferir no capítulo da sua obra aqui sintetizado — que as comunicações interplanetárias sejam um facto num futuro não muito distante.
Planeta Marte |
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