25 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 177

EFEMÉRIDES – Dia 25 de Junho
Erskine Childers (1870 – 1922)
Robert Erskine Childers nasce em Mayfair, Londres. Político ligado ao Sein Féin irlandês é executado em 1922 no início da Guerra Civil Irlandesa acusado de terrorismo. Escreve o popular The Riddle of the Sands (1903) que é considerado um dos primeiros romances de espionagem. Relata a acção de dois velejadores britânicos contra um plano de invasão da Grã-Bretanha por parte da Alemanha em 1901.


Barry Perowne (1908 – 1985)
Philip Atkey nasce em Redlynch, Wiltshire, Inglaterra. Secretário e sobrinho do célebre escritor policial Bertram Atkey, dedica-se também à escrita policiária sob o pseudónimo Barry Perowne. É mais conhecido por ter dado continuidade à série A. J. Raffles de E. W. Hornung, com o consentimento de os seus herdeiros. Considerado um autor excecionalmente versátil e prolífico escreve vários contos sobre Dick Turpin, o conhecido salteador e sobre Red Jim o primeiro detective “do ar”. Publica ainda 3 romances com o seu próprio nome: Blue Water Murder (1935), Heirs of Merlin (1945) e Juniper Rock (1953); usa também o pseudónimo Pat Merriman. Na sua obra destaca-se ainda o conto The Blind Spot, publicado pela primeira vez em 1945 na Ellery Queen´s Mystery Magazine, que é classificado como um dos melhores trabalhos de mistério impossível. Em Portugal só foi possível encontrar editado, na década de 40, O Prisioneiro de Gibraltar, na Colecção As Grandes Obras de Mistério e Acção da Editorial Século, Gibraltar Prisoner (1942) no título original, e editado nos EUA com o título All Exits Blocked.

Dorothy Gilman (1923 – 2012)
Dorothy Edith Gilman nasce em New Brunswick, New Jersey, EUA. Autora de romances de mistério e espionagem. É conhecida pela série Mrs. Pollifax, uma avó viúva que decide juntar-se à CIA durante os anos 60 e que protagoniza 20 livros — com humor e suspense — publicados entre 1966 e 2000. Publica ainda 2 livros na série e mais 18 romances. Dorothy Gilman apresenta muitas vezes nos seus livros heroínas improváveis que viajam para lugares exóticos. Em Portugal estão editados:
1 – A Inesperada Mrs. Pollifax (1979), Selecções do Reader’s Digest Título Original: The Unexpected Mrs. Pollifax (1966). É o1º livro da série Mrs. Pollifax.
2 – Na Corda Bamba (1981), Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: ??  
3 – O Safari De Mrs. Pollifax (1982), Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: Mrs. Pollifax On Safari (1976). É o 5º livro da série Mrs. Pollifax.
4 – A Comenda De Mrs. Pollifax (1991), Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: A Palm For Mrs. Pollifax (1973). É o4º livro da série Mrs. Pollifax.
5 – Mrs. Pollifax E O Segundo Ladrão (1995), Colecção Livros Condensados Selecções do Reader’s Digest. Título Original: The Unexpected Mrs. Pollifax (1993). É o10º livro da série Mrs. Pollifax.


TEMA — CONTO  FICÇÃO CIENTÍFICA — CONFLITO
De Ilya Varshavsky (1909 – 1973)
Notável escritor com algumas obras de ficção científica traduzidas em várias línguas
Tradução de M. Constantino

Hum!. Parece que choraste, porquê? Que se passa?
Marta apertou a mão do esposo e deixou decair a cabeça, respondendo:
— Nada. Simplesmente sentia-me deprimida. Tem a ver com Eric?
— Oh, não. É um menino ideal. Um digno produto de uma criança mecânica. Com uma boa ama, Eric jamais dará problemas aos pais.
— Dorme?
— Ela conta-lhe o habitual conto antes de dormir. Entrei faz dez minutos. Estava sentado na cama, com o rosto iluminado, lançando olhares adoradores a sua amada Cibele. Ao princípio nem sequer me viu, porém, quando me acerquei para dar-lhe um beijo fez um gesto com ambas as mãos para me afastar, como se quisesse dizer que esperasse para acabar a história. Naturalmente uma mãe não é uma máquina electrónica…
— Que disse Cibele?
A encantadora, astuta e sensata Cibele esteve bem como sempre. “Eric — disse — dá à tua mãe, com quem tens laços de sangue, um beijo de despedida. Que te disse eu acerca da divisão pró-mosomática?”
— Porque odeias tanto Cibele?
Os olhos de Marta encheram-se de lágrimas.
— Não posso suportá-la, Luff! Compreende! Noto a superioridade dessa máquina pensante, em cada momento! Não se passa um dia sem que me faça notar a sua superioridade. Por favor, faz alguma coisa. Porque têm que ser tão horrivelmente inteligentes essas máquinas? Não poderiam levar a cabo as suas tarefas doutro modo? Quem necessita que sejam assim?
— É algo que lhes está inerente. As responsabilidades são as leis da auto organização. Nada temos que ver com os seus impulsos individuais, muito menos com o seu génio. Queres que peça a outro robot para substituir Cibele?
Isso é impossível. Eric está enamorado dela. Será melhor fazer qualquer coisa para que fosse um pouco mais estúpida.
— Isso seria um crime! Não sabes que a lei fez os robots pensantes iguais ao homem? — Então, fala com ela! Hoje disse-me uma coisa terrível que não sei como responder-lhe, não posso suportar essa humilhação!
— Silêncio, ela vem aí. Controla-te.
— Olá, chefe!
— Que é isso, Cibele? Já sabes que uma máquina A-1, não tem que usar essa palavra. — Bem, pensei que Marta gostaria. Devo destacar as diferenças entre amo e máquina. Marta levou um lenço aos olhos, e saiu correndo do quarto.
— Precisa de mais alguma coisa?
— Não, podes ir.
Uns dez minutos mais tarde, Luff entrou na cozinha.
— Que estás a fazer, Cibele?
Com um movimento lento, Cibele tirou um rolo de microfilme do receptáculo do peito.
— Estudava pintura flamenga. Amanhã tenho o dia livre e gostaria de ir ver o meu descendente. Os seus mestres dizem que tem verdadeiro génio para o desenho. Temo, porém, que não receba um treino artístico suficiente nessa escola.
— Que sucedeu entre ti e Marta?
— Nada de especial. Limpava a mesa de manhã, quando, por pura casualidade, dei uma olhada às páginas da sua tese, e me fixei em dois erros essenciais na fórmula do ácido nucleico. Seria estúpido não referi-los a Marta; iria ajudá-la.
— E que sucedeu? Começou a chorar e disse que era um ser humano vivo e não um robô, e que uma máquina estar-lhe constantemente a dar conselhos era tão repugnante como beijar uma geleira
— E tu, naturalmente respondeste.
— Sim. Disse-lhe que se pudera satisfazer o seu instinto progenitor com a ajuda de uma geleira, provavelmente não seria repreensível beijá-la.
— Claro. Porém não foi muito educado mencionar esse instinto.
— Não queria fazer-lhe mal. Simplesmente desejava mostrar-lhe que tudo é relativo. — Por favor, tem mais cuidado com Marta, está muito nervosa.
— Sim chefe.
Luff encolheu os ombros e dirigiu-se ao quarto.
Marta dormia, com o nariz apertado contra a almofada e gemia de vez em quando. Para não despertá-la dirigiu-se na ponta dos pés para o sofá.
Sentia-se terrivelmente mal.
Cibele, na cozinha, pensava que os seus constantes contactos com os seres humanos se tornavam insuportáveis; ninguém podia pedir às máquinas, que agora eram muito mais inteligentes que o homem, que expressassem uma gratidão eterna aos seus criadores; e que se não fosse o afecto materno pelo seu pequeno ciber-menino, sem mais nada no mundo, de boa vontade se atiraria pela janela daquele vigésimo piso.

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