EFEMÉRIDES – Dia 12 de Junho
James Powell (1932)
Nasce em Toronto, Canadá. É autor de mais de 130 short stories de mistério e humor desde 1967, a maioria publicada pela primeira vez na Ellery Queen’s Mystery Magazine e posteriormente editadas em colectanêas: A Murder Coming (1990) e Stories Of One Ganelon Or Other (2009). O escritor cria vários heróis: o Sargento Maynard Bullock da Royal Canadian Mounted Police; 4 gerações de detectives privados, os Ambrose Ganelon Detectives, que vivem numa pequena localidade, imaginária, na Riviera Francesa; um casal de detectives amadores, ele um professor reformado e ela uma escritora de policiários para jovens. James Powell é um autor galardoado com vários prémios e recentemente foi editado no Japão.
Tess Gerritsen (1953)
Terry Gerritsen nasce em San Diego, Califórnia, EUA. Filha de emigrantes chineses, conclui os estudos em Medicina em 1979 3 começa a sua carreira médica em Honolulu, no Havai. Ganha um concurso de short stories do Honulu Magazine. Publica o primeiro livro em 1987, Call After Midnight, mas o sucesso literário surgiu com o thriller médico Harvest, publicado em 1996. Em 2001 com The Surgeon, a autora apresenta a detective Jane Rizzoli e a médica legista Maura Isles, que protagonizam 10 livros e uma série televisiva. Tess Gerritsen, que actualmente se dedica apenas à escrita, tem os seus livros traduzidos em mais de 30 línguas e vendas que ultrapassam os 20 milhões de exemplares. Em Portugal estão editados:
1 – Colheita Macabra (1998), 24º volume, Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: Harvest (1996)
2 – O Cirurgião (2006), Círculo de Leitores. Título Original: The Surgeon (2002). Reeditado pela Bertrand em 2007, e na Colecção 11x17, Nº2 Colecção Biblioteca Tess Gerritsen, em 2011. É 1º livro da série Jane Rizzoli e Maura Isles
3 – O Aprendiz (2006), Círculo de Leitores. Título Original: The Apprentice (2002). Reeditado em 2009 pela Editora 11x17, Nº3 Colecção Biblioteca Tess Gerritsen; e em 2011 pela Bertrand na Colecção Grandes Romances. É 2º livro da série Jane Rizzoli e Maura Isles
4 – A Pecadora (2006), Círculo de Leitores. Título Original: The Sinner (2002). Reeditado em 2011 pela Editora 11x17, Nº1 Colecção Biblioteca Tess Gerritsen. É 3º livro da série Jane Rizzoli e Maura Isles
5 – Duplo Crime (2007), Círculo de Leitores. Título Original: Body Duble (2004). Reeditado em 2012 pela Editora 11x17, Nº4 Colecção Biblioteca Tess Gerritsen. É 4º livro da série Jane Rizzoli e Maura Isles
6 – Desaparecidas (2007), Círculo de Leitores. Título Original: Vanish (2005). É 5º livro da série Jane Rizzoli e Maura Isles
7 – O Clube Mefisto (2008), Nº30 Colecção Vício da Leitura, Ulisseia. Título Original: Mephisto Club (2006). Reeditado em 2009 pela Círculo de Leitores. É 6º livro da série Jane Rizzoli e Maura Isles.
TEMA — CONTO — O CÓDIGO
De Orlando Guerra
Havia no ar um certo ruído, mistura de vozes com som metálico O recluso empurrava o carro de mão cheio de marmitas com comida, que ia distribuindo através dos postigos das celas numa cadência monótona, quase ritual; atrás, um guarda seguia pachorrentamente batendo de vez em quando com o jornal dobrado na mão livre.
— Qual é a merda que trazes agora p’ra gente comer?
— Se é merda, não comas, ninguém te obriga
— Sempre a mesma coisa. Esses gajos lá na cozinha não sabem fazer mais nada?
— Devem ter comprado um comboio de feijão…
— Tu devias era estar agradecido por te darem feijão…
— Achas que sim? Também me saíste cá um cabrão…
— Claro, ó estúpido sempre vais dando uns peidos… alivias a pança e ajuda a passar o tempo… — riu-se.
— Grande cabrão!
— Caluda! Vamos lá calar antes qu’eu me chateie! — ameaçou o guarda.
— Que mais me rala é que você se chateie…
— Ai a gaita! Querem ver que vocês… Ainda os lixo!
— Eu cá por mim, ‘tou calado.
A distribuição ia continuando; para trás ficaram os comentários, os queixumes.
— Toma lá, pá! Não tens fome?
— Eu quero que a comida se dane! Quando é que eu vou ao médico?
— Não tenho nada com isso. Eu até nem sou doutor…
— Há uma semana que estou a pedir. Qu’é que estão à espera?
— Isso não é comigo. Fala aqui com o sôr guarda.
— P’ra qu’é qu’eres o médico? ’Tás doentinho, 65?
— Se não precisasse dele, para qu’é qu’eu queria?
— E eu é que sei? 'Tá descansado… quando ele puder, trata de ti.
— E s’ele não puder nunca? Eu que me lixe, é?
— Vê mas é se te calas, hein? A conversa já vai longa… Bico calado!
— Eu também tenho direitos, não?
— Ora, mete os teus direitos no cú! E acabou, hein? Nem mais uma palavra, senão…. — Isto é qu’é uma vida! Estes gajos, já viu sôr guarda? Julgam qu’a gente somos patrões deles. Só sabem é reclamar, os sacanas!
— Anda mas é p’rá frente… Olha que contigo posso eu bem!
— Porra! Os outros é qu’ú chateiam e eu é que tenho de aguentar.
— Ai a merda! Toca a andar, já disse!
— Ok, Ok… Cá por Mim não há problema!
Na cerca, os detidos entretinham-se jogando a bola, apanhando sol, conversando.
— 65! 65! Anda cá, pá!
— Qu’é qu'eres? Deixa-me em paz!
— Ai sim? Atão já não queres ir ao doutor, é?
— Ao doutor?
— Ai já não ‘tás doentinho? Ainda bem!
— É p’ra ir ao médico? Porqu’é que não disseste logo? Merda!
— Ainda por cima, hein? Anda logo, que tenho mais que fazer!
— P’ra onde é? Sabes que 'tou cá há pouco tempo… É a primeira vez que…
— Eu sei! Eu sei… Por minha vontade… quem tem boca vai a Roma… É aqui, não te perdias, não! Vá, anda daí meu sacana! Não faças esperar o doutor!
— Desculpa lá. Sabes como é… um gajo…
— Eu sei, pá! Eu sei: 'tá descansado.
— Dá licença, senhor doutor? — entreabriu a porta. ‘Tá aqui o 65... Pode entrar?
— Sim, sim, entra! — foi a resposta.
— Vá… entra, 65!
— Dá licença? Entra, já disse.
— Do qu'é que te queixas?
— É qu’eu, senhor doutor… eu mas… qu’é que… han… ai…, ai…, ai…, ai…
— Agarrem bem esse cabrão! Vinte e dois! O adesivo… depressa… a boca! Isso mesmo… isso mesmo…
— ‘Tá quieto, sacana! Deixa de espernear, cabrão!
— Dá-lhe um pontapé nas canelas!
— Boa malha! G’anda qu’enco!
— Quanto mais te mexes, mais apanhas! Está mas é quieto…
— É muito melhor p’ra ti… Isso… quietinho. Lindo menino, hein? Agora escuta: olha bem p’rá gente todos. Seis. Somos seis… Mas é como se ‘tivéssemos aqui todos… a Penitenciária inteira… percebes?
— ‘Tá quieto, filho da puta!
— Sabes o qu’é qu’isto quer dizer? És novato, ainda não sabes nada. Mas vou-te dizer… assim, sempre ficas a saber. Depois… isso é lá contigo…
— Este cabrão já me está a fartar!
— Toma lá uma lambada, a ver se gostas!
— Menina do caraças! Ficou logo a deitar sangue da fuça!
— Acabem com isso, porra! Não podemos ficar aqui O tempo todo!
— Ora, como eu ia dizendo, isto quer dizer… que se quando a gente sair aquela porta para fora tu te lembrares das nossas caras… se pensares… só pensares… em bufar… Não sei se me entendes… zuta! Podes acordar morto…
— Mas vamos ao que interessa, que o tempo, mesmo aqui, é dinheiro. Olha bem p'ra mim… Levanta-me essas trombas, cabrão! Assim… assim mesmo. E agora escuta, mas com atenção, hein? Vamos-te ensinar uma lição que nunca mais vais esquecer — Fez uma pausa e continuou:
— Sabes quantos somos aqui na Penitenciária, sabes? Muitos. Somos muitos. Os suficientes para haver de tudo: ladrões, vigaristas, assassinos, carteiristas… e umas quantas coisas mais! A gente suporta tudo, tudo, entendes? Admitimos tudo, tudo, menos estupores como tu, tarados sexuais que abusam de crianças! — Uma mão desceu rapidamente numa bofetada sonora. Depois, prosseguiu:
— É que nós, sabes? Nós aqui temos um código… as nossas próprias leis, entendes? Por isso, quando p’ra’qui viestes, ao entrares, já estavas condenado… E uma vez mais, o código vai ser cumprido… o nosso código! — Outra bofetada soou e logo a sua voz se fez de novo ouvir:
— Vamos, malta! Tirem as calças a esse nojento!
— ‘Tá quieto, pá! Não tenhas medo…
— Agora é que vais saber como é, cabrão!
— Abusar de crianças, hein?
— Ficas sem tesão num instante! ~
— E p’rá próxima nem penses! A’tão é qu’a gente te cortava os tomates rentes!
— Põe o gajo a jeito, pá. Aí, contra a marquesa! A cabeça… as trombas contra a marquesa!
— Vamos, trinta e três: despacha-te. Enraba lá o sacana!
— Chega-lhe, qu’é p’ra aprender…
— Ora toma! Vê lá se gostas, filho da puta!
— Pára, pá! Pára!
— Parar? Porquê? Essa agora!
— É qu’o gajo desmaiou, pá…
— Ora! Não é o primeiro, pois não?
— Pronto pá. Vamos embora.
— Deixa cair esse cabrão.
— Agora é qu’ele vai mesmo precisar do doutor…
— É melhor marcares-lhe uma consulta — ironizou um.
— Já esta marcada, pá. Podes ter a certeza…
— Tenho é dúvidas qu’ele queira ir ao médico mais alguma vez na vida
Aguentando o riso, saíram da sala.
TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — 16
(continuação de CALEIDOSCÓPIO 157)
Vamos entrar no ano de 1800. Estamos assim a cerca de quatro décadas do nascimento oficial da narrativa policial moderna. As raízes multiplicam-se, desenvolvem-se, em ritmo crescente.
Nos primeiros anos de 1800 as Causes Célèbres, de Gayot, foram revistas e corrigidas, atingindo vinte e dois volumes.
Arrastado pelo êxito daqueles, um eminente jurista alemão, A. Von Feuerbach, em 1818, uma nova colecção no estilo com prólogo de Schiller que viria a alcançar assinalável procura, enquanto em Inglaterra o Newgate Calendar de G.T. Wilkinson, continua desde 1814, a difundir os processos dos tribunais de Londres.
Outras publicações paralelas da época, as famosas broadsheets, folhas soltas, são um aperitivo para outra obra de interesse popular, as Chronicles of Tyburn, lugar das execuções e nome tenebroso entre os ingleses, como em França, à. semelhança das já referidas Causes Célebres, escrevem-se biografias de criminosos de fama, nos conhecidos Lives Of The More Remarkables Criminals.
Ainda em 1808, Heinrich Von Kleist escreve uma peça teatral ao jeito de Rei Édipo, Der Zerbrochene Krug, menos um drama, mais uma comédia, mas de qualquer modo, tem um enigma, falsas pistas para impedir a descoberta da verdade, tal como convém a uma narrativa tida como pré-policial. Kleist, adepto tenebroso da tragédia criminal, demonstra posteriormente, em 1811, com Der Findling e Berliner Abendblätter, em estilo académico, duas novelas puramente criminais.
Pretendendo reviver através do filho, o mito Cartouche, Ducray-Maubaillarcq, escreveu em 1809, Charles La Houssaye - Ex-Flibustier Fils de Cartouche.
Como o Newgate Calendar, surge em fascículos, o Malefactor's Register, mais uma serie de relatos inspirados no julgamento dos tribunais londrinos. E matéria que jamais deixou de ser publicada periodicamente, sob formas diversificadas. Tyburn Calendar , ou Malefactor's Bloody Register, são da mesma época.
O emocional e o macabro despertam o interesse geral, chegando-se ao pormenor explorar as cerimónias fúnebres dos personagens, com especial evidência para as suas últimas palavras, registadas pelo célebre reverendo Paul Lorraine.
A melhor e maior contribuição para o tema é representada por E. T. A Hoffmann (Ernst Theodor Amadeus Hoffmann), compositor, pintor e proeminente literato alemão (1766-1822); com Ignaz Denner (1917) uma narrativa de autêntico suspense, em que só no último minuto se descobre o álibi que impede a execução do acusado. Em Das Majorat (1817), Hoffmann tenta o gótico sem deixar de considerar a sua predilecção criminal: há um assassinato numa torre em ruínas, de modo tal que só um servidor chamado Daniel, sujeito a ataques de sonambulismo, pode ser o criminoso — mas será que o foi?
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