EFEMÉRIDES – Dia 8 de Junho
Sara Paretsky (1947)
Nasce em Ames, Iowa, EUA. Actualmente escritora a tempo inteiro. É a criadora de V. I. Warshawski, uma ex advogada de origem polaca e filha de um polícia, que desencantada com a profissão se torna investigadora privada em Chicago; tem como particularidade não encaixar no modelo convencional das detectives da narrativa policiária. A série V. I. Warshawski tem 16 títulos publicados entre 1982 e 2012. A autora publica também os livros Ghost Country (1998) e Bleeding Kansas (2007) e as coletâneas de contos A Taste Of Life And Others Stories (1990), Windy City Blues (1995) e V Ix3 Photo Finish, Publicity Stunts, And Marquette Park (2002). Sara Paretsky edita Women On The Case (1997), 26 contos originais e Sisters On The Case (2007), uma antologia de 25 contos, ambos escritos pelas melhores autoras de policiário da actualidade. A autora tem sido distinguida com diversas nomeações e vários prémios da literatura policiária, incluindo Anthony Award 1922 para Short Story com A Woman’s Eye; Gold Dagger 2004 para Blacklist e o Anthony Award de carreira 2011,
E Em Portugal estão editados:
1 – Laços de Sangue (1991), Nº32 Colecção Não Incomode, Editora Gradiva. Título Original: Blood Shot (1988); também editado com o título Toxic Shot; 5º livro da série V. I. Warshawski, nomeado em 1989 para o Anthony Award – Best Novel: vencedor da Silver Dagger (1988)
2 – Verão Quente Em Chicago (1992), Nº33 Colecção Não Incomode, Editora Gradiva. Título Original: Indemnity Only (1982); 1º livro da série V. I. Warshawski
3 – Marcas de Fogo (1993), Nº36 Colecção Não Incomode, Editora Gradiva. Título Original: Burn Marks (1990); 6º livro da série V. I. Warshawski
4 – O Anjo Da Guarda (1994), Nº39 Colecção Não Incomode, Editora Gradiva. Título Original: Guardian Angel (1992); 7º livro da série V. I. Warshawski
4 – Mergulho No Passado (2004), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: Total Recall (2001); 10º livro da série V. I. Warshawski
TEMA — DETECTIVES FAMOSOS — CHARLES CHENEVIER, vulgo “Comissário Maigret”
De M. Constantino
Na noite de 8 de Junho de 1942, faz hoje precisamente 70 anos, num restaurante da Av. Bosquet, em Paris, três indivíduos, Émile Buisson — o inimigo público nº1 de França — Orsini, um corso e Desiré Polledri, que faziam parte de um bando do primeiro, jantavam tranquilamente. Quem os visse, conversando, comendo e bebendo, di-los-ia íntimos amigos, todavia, Buisson convidara os outros com a intenção deliberada de eliminar Polledri, porque jamais perdoara a morte de outro companheiro do bando, atribuída a Polledri. Após o jantar, Buisson pagou a conta e sugeriu um passeio a pé para ajudar a digestão. Percorridos alguns metros, precisamente às 22 horas, surgiu um automóvel… rapidamente Buisson puxou de um pistola e abateu Polledri; antes de subir para o veículo que se imobilizara, enfiou o cano da arma na boca da vítima e disparou mais uma vez. Orsini desaparecera. Este terrível assassinato foi um dos muitos de Émile, que fazia gala em ser considerado o Al Capone francês. Era um especialista na área da fuga e do esconderijo e perito no disfarce. Apesar de procurado activamente pela polícia, pelos muitos crimes acumulados, assaltos, roubos e assassínios, percorria livremente as ruas de Paris e todo o território francês, já que podia disfarçar-se — só não podia disfarçar os cruéis olhos azuis, parados, impossíveis de esquecer — num vulgar trabalhador de vários tipos, como transformar-se rapidamente num executivo parisiense impecável, dada a sua aptidão real para a caracterização. A 2ª guerra mundial não interrompeu a sua carreira criminal. Em 1943 um tribunal alemão condenou-o a um ano de prisão por posse de arma ilícita, no mesmo ano um tribunal francês condenou-o por roubo e venda de armas. Em 1947 estava num cárcere de Santé e foi transferido, a conselho médico, para um manicómio de onde fugiu para continuar a saga dos seus crimes e a burlar a polícia.
O Caso Buisson foi então entregue ao Comissário Principal Charles Chenevier da Sureté Nacionale, considerado um dos mais distintos polícias de França, conhecido vulgarmente por “Comissário Maigret” da vida real. Lacónico, interessado, o comissário de cabelo negro sentiu-se honrado pelo encargo e achou que seria um verdadeiro duelo pessoal aprisionar Buisson, já que o fizera muitas vezes e vira outras tantas o outro recuperar a liberdade com estratagemas vários. Seria a última, apostou consigo próprio.
Prudentemente começou por criar um vazio em volta do seu opositor, prendendo pouco a pouco todos os seus cúmplices e os proprietários das casas de acolhimento, deixando-o inexoravelmente tão isolado que dormia no bosque de Bolonha por falta de sítio seguro para se esconder.
A segunda fase foi enviar-lhe uma velha conhecida, proprietária de um hotel, que servia como “cavalo de Troia” preparado cuidadosamente com o pessoal da polícia, que o iria receber. A velha conhecida acabou por arrastar o bandido para o conforto do hotel e dar-lhe toda a liberdade pata se sentir seguro, ainda que vigiado 24 horas por dia.
Por fim Chenevier julgou todos os seus trunfos — o encontro pessoal com Buisson. Um dia com dois inspectores, entrou de rompante no quarto do bandido, sem lhe dar tempo para segurar a arma, efectuou a prisão. Buisson exclamou atónito: — Você, outra vez? Ao que o Comissário respondeu irónico — Com dois minutos de atraso, nada mau! Depois acrescentou: — Senta-te Émile, tens tempo para tomar café com conhaque, se te apetecer!
E foi um conhaque a última coisa que Buisson pediu, na madrugada de 28 de Fevereiro de 1956, antes de a guilhotina lhe cair sobre o pescoço, no pátio do cárcere da Santé.
TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA — NOVO MUNDO
De O. Baucke (Brasil)
— Pai, pai, hoje é dia de Exposição no Parque!
— Cala a boca, e não me maces. Vai brincar com tua irmã!
— Querido, não fales assim com as crianças; como é que elas...
— Eu sei, eu sei. Mas não está em mim. Não aguento. Só em ouvir falar em Parque…
— Mas não adianta nada, sabes bem. Todos os meses temos de comparecer. Todos têm de comparecer. Senão eles…
— Senão eles nos recondicionam, não é? É o maldito dia de aniversário. Novo Mundo! Para mim é o fim do mundo, do meu mundo, do nosso mundo!
— Calma, querido, calma. Um dia as coisas vão mudar.
— Não acredito. Tu sempre dizes isto, e sempre discutimos. Uma discussão que nunca resolve nada.
— Tu não queres é aceitar a realidade. Mas tens de aceitar. Se não é por ti, pelo menos aceita pelas crianças. Elas é que poderão um dia mudar as coisas. Enquanto existirem crianças há esperança.
— Bonita frase, mas é um fraco consolo. Enquanto isto a gente tem de se submeter, não é?
— Não é bem se submeter. O homem pode manter a dignidade e o amor próprio em qualquer situação. Submetem o teu corpo, e não o teu espírito.
— Bobagem. Não adianta, vou é dar parte de doente.
— Se te examinam e vêem que não tens nada, e te tiram a ocupação! Tiram até os livros ou…
— Olha mãe! Olha aquele robô! É o maior que já vi! Cada vez tem mais robôs diferentes, não é? Por que é que têm tantos robôs na Exposição?
— Porque… bem, porque…
— Pára, mulher! Cala a boca, que é o melhor que fazes. E vocês guardem as conversas para depois. Eu não quero… Filho! Vem cá! Vem cá, já disse!
— Mas, pai, é um robô tão pequenino! Eu nunca vi, parece uma criança. Olha…
— Tira a mão daí! Sai da cerca, não toques aí.
— Ora pai, pai, por que…
— Cuidado! Maldito robô! Filho, não faças força, ele é muito mais forte do que tu.
— Pai pai, dói-me! Ele está apertando minha mão!
— Filhinho! Larga, desgraçado…
O homem lutava, inutilmente, sabia. Nem sua força, ou os gritos do filho, ou o choro da mulher resolveriam a situação. E não viriam ajudá-los; ninguém viria. A ordem era a de não se aproximarem das grades, em nenhuma hipótese. Os robôs eram máquinas, e respondiam simplesmente a estímulos, como o estender da mão do garoto.
Além disto, não sabiam, e não podiam saber, o que era dor, choro ou angústia. Não este robô, ou qualquer outro da Exposição. Afinal, eram robôs diferentes.
Por isso mesmo, a cena, longe de atrair auxílio, ou despertar a compaixão em alguém, simplesmente provocou logo a presença de um guarda. Este calmamente ordenou ao pequeno robô que largasse a mão da criança, o que ele fez prontamente. Após, ainda com muita calma, ligou o seu aparelho transmissor para relatar o fato:
— Guarda NC-388, em trânsito na área da 2ª Avenida, Sector 14. Para completar o informe inclinou a cabeça metálica para trás e dirigiu as células foto oculares em direcção à placa que encimava o lado principal daquele quadrado de grade que cercava um pedaço de terreno relvado com uma pequena casa no centro:
— Jaula 19-N, 4 ocupantes, culpado macho não adulto, infracção Código H, item 3.
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