29 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 181

EFEMÉRIDES – Dia 29 de Junho
Frédéric Dard (1921 – 2000)
Frédéric Charles Antoine Dard nasce em Jallieu, Isère, França. Escritor de romance negro, de peças de teatro e de argumentos para cinema é um dos escritores franceses mais produtivos do género policiário. Estão-lhe atribuídos uma centena da pseudónimos (!), sendo difícil quantificar com rigor a sua obra literária. Oficialmente publica 288 romances, vinte peças de teatro e 16 adaptações para cinema. O destaque na sua vasta obra vai para a série San-Antonio, 175 livros, publicados entre 1949 e 2001, sob o pseudónimo literário San-Antonio; narrados na primeira pessoa os livros relatam as aventuras do comissário Antoine San-Antonio. Com um estilo muito característico, com textos carregados de humor e uma linguagem própria onde os neologismos, os jogos de palavras e as figuras de estilo marcam uma presença constante, os romances de San-Antonio são um sucesso em França e estão adaptados à rádio cinema e Banda Desenhada. Em Portugal alguns livros de BD são editados pela Distri em 1984 e é possível encontrar o registo das seguintes edições, sob o nome Frédéric Dard.
1 – O Coveiro Chora (1958), Nº13 Colecção Policial Corvo, António Lopes Ferreira. Título Original: Le Bourreau Pleure (1956). Premiado com o Grand Prix de Littérature Policière
2 – Crime Passional (1959), Nº20 Colecção Policial Corvo, António Lopes Ferreira. Título Original: Une Gueule Comme La Mienne (1958).
3 – És Tu O Veneno (1960), Nº4 Colecção Criminalidade, António Lopes Ferreira. Título Original: C’est Toi Le Venin (1957).
4 – O Acidente (1960), Nº2 Colecção Círculo Vermelho, Editora Íbis. Título Original: L’ Accident (1961).
4 – A Morte Do Coveiro (1985), Nº451 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: Le Pain Des Fossoyeurs (1957).
5 – Um Cadáver no Parque (1986), Nº474 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: La Pélouse (1962).
6 – Espionagem No Deserto (2009), Editora O Quinto Selo Título Original: ??
7 – A Fotografia Do Morto (2009), Editora O Quinto Selo Título Original: ??

Marc Villard (1947)
Nasce em Versailles, França, Poeta, romancista e argumentista, em 1980 começa a dedicar-se à literatura policiária, em especial ao romance negro. Entre Légitime Démence, publicado em 1980 e Avoir Les Boules À Istanbul de 2012 tem dezenas de trabalhos publicados: romances, novelas, argumentos para Banda Desenhada e filmes. È considerado pela crítica como um especialista nos textos curtos — conto e novela.


TEMA — CONTO DE CRIME — A MANSÃO À BEIRA LAGO
De Fernando Saldanha
A faustosa mansão dos Lawton, à beira de um grande lago, deixava escoar para o exterior uma aparente vivência calma e tranquila, nada deixando prever a irremediável tragédia que se iria abater sobre os proprietários.
Os Lawton só ocupavam aquela residência na Primavera e no Verão. Naquele dia de fins de Agosto, de sol temperado e clima ameno, quando uma corte de empregados punha uma nota activa em toda a mansão, Jane Lawton dirigiu-se à grande biblioteca onde o marido se encontrava repousadamente lendo os jornais diários.
— Bom dia, Gustavo. — dísse, pousando os lábios na face trigueira dele — Hoje está um dia bonito. Não há vento no lago.
Os dois não andavam longe dos trinta anos e há muito que viviam maritalmente separados, dormindo cada um em seu quarto e só se visitando espaçadamente. Possuíam ambos fortunas pessoais invejáveis e tinham feito um casamento de conveniência, por imposição das famílias, que desejavam em comunhão de bens, um império financeiro.
— Sim, está um bonito dia. — repetiu ele, apenas distraído.
Se ela era uma beleza castiça, com atractivos pessoais que fariam a felicidade de qualquer homem, Gustavo estava em pleno vigor másculo, denotando forte personalidade, com feições correctas e um pequeno e insinuante bigode que encantava as mulheres do seu círculo de relações.
Qualquer dele praticava, sem cerimónia do outro, o adultério ambos o sabiam.
— Vou dar um passeio até ao largo. Queres vir? — convidou ela.
Um rápido clarão de alegria, que Jane não viu, cruzou os olhos de Gustavo.
— De acordo, de acordo. — aquiesceu ele — Podes mandar preparar o barco.
Depois de dar as ordens ao encarregado, Jane subiu ao seu quarto, e escreveu ao seu amante mais recente.
Gustavo, por sua vez, retirou papel de uma gaveta e escreveu:
“Minha boa amiga Chegou o dia esperado. Eu e Jane vamos dar um passeio no lago. Ela não suspeita de nada. Basta apenas um pequeno empurrão, e ficaremos livres dela para sempre.
Espera-me em breve.
Sempre teu Gustavo”.
Dobrou a folha do papel, que colocou num envelope, previamente endereçado.
Chamou o motorista e mandou-o levar a carta com urgência, ao correio à povoação mais próxima, que distava cerca de seis ou sete quilómetros.
Quando Jane desceu, com a sua carta na mão, o mordomo informou-a de que o motorista saíra, a pedido do patrão. Entregou a missiva ao mordomo dizendo-lhe para a mandar por no correio, logo que o motorista regressasse.
No cais privativo, o barco de recreio, a motor, aguardava-os.
Rumaram para o largo.
A cerca de cinco milhas da margem Gustavo entendeu que estavam criadas as condições ideais para por em prática o seu acto.
— Jane — pediu ele — Vai ver a amurada de bombordo. Alguma coisa deve ter batido perto da quilha.
Ela obedeceu, debruçando-se um pouco, e o braço de Gustavo ergueu-se, balanceando.
Nesse preciso instante, ela soltou uma exclamação abafada:
— Olha! Que vem a ser aquela nuvem negra?
O braço dele desceu suavemente e a mão pousou com displicência no ombro de Jane, preparada ainda para a empurrar.
— Hein? O quê?
Ergueu a cabeça e viu. Não ar uma nuvem, mas várias. Repentinamente, o céu ficara todo negro.
Uma rajada ciclónica abateu-se nobre a frágil embarcação, volteando-a no ar e fazendo desaparecer os seus ocupantes nas águas subitamente revoltas pela inesperada tempestade.
A tragédia consumara-se.


O motorista pegou na carta de Jane que o mordomo lhe estendia, levando-a na mão, para não a amarrotar.
Ao abrir a porta do carro a carta caiu no chão e o envelope, mal fechado, descolou-se.
Pousou a carta no assento, a seu lado.
— Que raio! — resmungou — Logo duas cartas para o correio, no mesmo dia, e tão urgente a que não puderam esperar uma pela outra.
Adiante, espicaçado pela curiosidade, parou o automóvel, acabou de abrir o envelope, e leu:
“Querido Anton
Finalmente vai acontecer. Eu e Gustavo vamos dar um passeio de barco no lago. Quando estivermos ao largo vai ser fácil. O pobre nada mal, nem uma milha aguentará. Basta apenas um ligeiro empurrão, e serei tua para sempre. Breve estaremos juntos.
Tua, Jane”.




Sem comentários:

Enviar um comentário