EFEMÉRIDES – Dia 17 de Junho
Kerry Greenwood (1954)
Nasce em Footscray, Victoria, Austrália. É solicitadora em Melbourne e autora de mais de meia centena de livros, a maioria policiários, embora também escreva ficção científica e livros para crianças. Ao longo da sua carreira literária, Kerry Greenwood tem sido distinguida várias vezes com melhores os prémios australianos para a literatura policiária. Na sua obra destacam-se os romances centrados em Miss Phryne Fisher, uma detective que resolve todo o tipo de crimes. A diferença é que Miss Phryne é uma aristocrata rica que vive em St Kilda, nos arredores de Melbourne, na Austrália de 1928; e é uma mulher muito à frente do seu tempo: conduz o seu próprio carro e sabe pilotar aviões. A série Phryne Fisher surge em 1989 com Cocaine Blues e conta já com 18 títulos publicados.
TEMA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (33)
Volume 33 — The Day Of The Triffids (1951) de John Wyndham
O inglês John Wyndham (1903-1969) cujo nome completo é John Wyndham Parkes Lucas Beynon Harris, iniciou a carreira literária em 1925,sendo considerado no seu país (com Brian Aldiss) o mais famoso autor de Inglaterra. Além das obras a incluir na Biblioteca Essencial de Ficção Científica e Fantasia relevam: The Secret People (1934) e Planet Plane (1936) publicadas sob o pseudónimo John Beynon; e ainda de The Seed of Times (1956) e Trouble With Lichen.
The Day Of The Triffids, a obra destacada em primeiro lugar é a construção de um apocalipse resultante da passagem de um cometa. Umas plantas cultivadas para a extracção de óleo movem-se e tornam-se senhoras do mundo. Bill, um dos poucos sobreviventes da tragédia com visão, os outros ficaram cegos, luta desesperadamente contra esses vegetais nefastos, as trífides, particularmente carnívoras, venenosas, providas de inteligência.
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Ficha Técnica
O Dia das Trífides
Autor: John Wyndham
Tradução: José Manuel Calafate
Ano da Edição: 1962
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº71
Páginas: 249
TEMA — CONTO — MORTE DE QUE NÃO TIVE PROVEITO
De Joaquim Paulo
É certo que retiro sempre proveitos desta ou daquela morte! Mas hoje não os tive, nem fui eu quem a causou. Juro que não fui.
Nunca vejo necessidade nem está no meu costume, repisar, juras sobre isto ou aquilo! Mas, hoje, sou capaz de jurar, a-pés-juntos que não fui eu quem lhe tirou a vida! Quem matou!
É verdade que alguém pode opinar e julgar que sou um mau carácter, um canalha, e tudo o mais que quiserem, mas assassino, isso não sou! Essa história de morte violenta, brutal, não é comigo! É acto malvado que sempre me repugnou.
Por isso tenho à vontade para garantir que não fui eu. Ainda que, pela simples razão de ter encontrado o corpo, isso possa transmitir ideias erradas. Mas o que se passou, é simples e claro. Vi-o e parei, porque, lógica e naturalmente, aquela morte me despertou a curiosidade e o interesse. Depois deu-me pena e desesperei por causa do estado em que estava. Quando olhei apercebi-me logo que já se encontrava morto e bem morto. A cabeça não era mais que uma massa informe, completamente esmagada. Claro que fiquei angustiado, numa confusa procura de entendimento lógico para o meu azar. Mas, digo e repito, não fui eu quem praticou tão reprovável acto. Contudo, quando de manhã cedo e por casualidade, deparei com aquele admirável cadáver, meio encoberto entre arbustos e mato, é verdade que fiquei deveras perturbado porque, abstraindo de tê-lo encontrado já cadáver, devo confessar, era realmente um corpo muito belo! Mesmo apresentando a cabeça numa massa informe que se adivinhava ter sido causada por objecto duro e contundente, o resto do corpo, praticamente intacto, era admiravelmente perfeito e belo. Por isso ali fiquei, num lamento calado, num choque, não desviando os olhos desesperados daquele corpo lindo, tão difícil ou até impossível, de encontrar outro igual! E só então, percebendo qualquer ruído, a minha atenção se prendeu aos movimentos presentes que indiciavam, perfeitamente, que não fora eu o primeiro a chegar ao local e a topar com o cadáver.
A pouco e pouco, pelos arredores, implantara-se já um burburinho atordoante. Aliás, comum em acontecimentos idênticos. O emaranhado de arbustos e inato e a minha completa atenção centrada sobre o belo corpo, ter-me-ia por momentos levado deste mundo. Com certeza já haviam observado, planificado estudos e suficientes combinações, achando a melhor maneira de retirar o cadáver daquela pequena selva de matos, em cujo terreno de piso difícil, predominavam irregularidades e desníveis, próprios das charnecas e locais algo longe das casas e dos caminhos frequentados com mais assiduidade. Fiquei, pois, observando, curioso e interessado, aquela azáfama de esforços e cuidados em que só agora, com minúcia e rigor, reparava. Então intimamente senti o desgosto, e lamentei, ter encontrado naquele estado o lindo e raro exemplar de escaravelho, azaradamente de cabeça desfeita, carregado por milhares de formigas, lestamente atarefadas e esforçadas como só elas!
Essas, sim, em breve teriam o mérito de conseguir um aumento na quantidade e na qualidade dos mantimentos a utilizar no inverno que não tardaria. Quanto a mim, não tendo qualquer proveito com aquela morte, restava-me somente a tristeza de manter em aberto um lugar na minha colecção de estudioso coca-bichinhos, continuando a calcorrear campos e matos, numa procura constante de outro escaravelho tão belo como aquele, mas intacto!
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