17 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 169

EFEMÉRIDES – Dia 17 de Junho
Kerry Greenwood (1954)
Nasce em Footscray, Victoria, Austrália. É solicitadora em Melbourne e autora de mais de meia centena de livros, a maioria policiários, embora também escreva ficção científica e livros para crianças. Ao longo da sua carreira literária, Kerry Greenwood tem sido distinguida várias vezes com melhores os prémios australianos para a literatura policiária. Na sua obra destacam-se os romances centrados em Miss Phryne Fisher, uma detective que resolve todo o tipo de crimes. A diferença é que Miss Phryne é uma aristocrata rica que vive em St Kilda, nos arredores de Melbourne, na Austrália de 1928; e é uma mulher muito à frente do seu tempo: conduz o seu próprio carro e sabe pilotar aviões. A série Phryne Fisher surge em 1989 com Cocaine Blues e conta já com 18 títulos publicados.




TEMA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (33)
Volume 33 — The Day Of The Triffids (1951) de John Wyndham

O inglês John Wyndham (1903-1969) cujo nome completo é John Wyndham Parkes Lucas Beynon Harris, iniciou a carreira literária em 1925,sendo considerado no seu país (com Brian Aldiss) o mais famoso autor de Inglaterra. Além das obras a incluir na Biblioteca Essencial de Ficção Científica e Fantasia relevam: The Secret People (1934) e Planet Plane (1936) publicadas sob o pseudónimo John Beynon; e ainda de The Seed of Times (1956) e Trouble With Lichen.

The Day Of The Triffids, a obra destacada em primeiro lugar é a construção de um apocalipse resultante da passagem de um cometa. Umas plantas cultivadas para a extracção de óleo movem-se e tornam-se senhoras do mundo. Bill, um dos poucos sobreviventes da tragédia com visão, os outros ficaram cegos, luta desesperadamente contra esses vegetais nefastos, as trífides, particularmente carnívoras, venenosas, providas de inteligência.




Ficha Técnica
O Dia das Trífides
Autor: John Wyndham
Tradução: José Manuel Calafate
Ano da Edição: 1962
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº71
Páginas: 249







TEMA — CONTO  — MORTE DE QUE NÃO TIVE PROVEITO
De Joaquim Paulo
É certo que retiro sempre proveitos desta ou daquela morte! Mas hoje não os tive, nem fui eu quem a causou. Juro que não fui.
Nunca vejo necessidade nem está no meu costume, repisar, juras sobre isto ou aquilo! Mas, hoje, sou capaz de jurar, a-pés-juntos que não fui eu quem lhe tirou a vida! Quem matou!
É verdade que alguém pode opinar e julgar que sou um mau carácter, um canalha, e tudo o mais que quiserem, mas assassino, isso não sou! Essa história de morte violenta, brutal, não é comigo! É acto malvado que sempre me repugnou.
Por isso tenho à vontade para garantir que não fui eu. Ainda que, pela simples razão de ter encontrado o corpo, isso possa transmitir ideias erradas. Mas o que se passou, é simples e claro. Vi-o e parei, porque, lógica e naturalmente, aquela morte me despertou a curiosidade e o interesse. Depois deu-me pena e desesperei por causa do estado em que estava. Quando olhei apercebi-me logo que já se encontrava morto e bem morto. A cabeça não era mais que uma massa informe, completamente esmagada. Claro que fiquei angustiado, numa confusa procura de entendimento lógico para o meu azar. Mas, digo e repito, não fui eu quem praticou tão reprovável acto. Contudo, quando de manhã cedo e por casualidade, deparei com aquele admirável cadáver, meio encoberto entre arbustos e mato, é verdade que fiquei deveras perturbado porque, abstraindo de tê-lo encontrado já cadáver, devo confessar, era realmente um corpo muito belo! Mesmo apresentando a cabeça numa massa informe que se adivinhava ter sido causada por objecto duro e contundente, o resto do corpo, praticamente intacto, era admiravelmente perfeito e belo. Por isso ali fiquei, num lamento calado, num choque, não desviando os olhos desesperados daquele corpo lindo, tão difícil ou até impossível, de encontrar outro igual! E só então, percebendo qualquer ruído, a minha atenção se prendeu aos movimentos presentes que indiciavam, perfeitamente, que não fora eu o primeiro a chegar ao local e a topar com o cadáver.
A pouco e pouco, pelos arredores, implantara-se já um burburinho atordoante. Aliás, comum em acontecimentos idênticos. O emaranhado de arbustos e inato e a minha completa atenção centrada sobre o belo corpo, ter-me-ia por momentos levado deste mundo. Com certeza já haviam observado, planificado estudos e suficientes combinações, achando a melhor maneira de retirar o cadáver daquela pequena selva de matos, em cujo terreno de piso difícil, predominavam irregularidades e desníveis, próprios das charnecas e locais algo longe das casas e dos caminhos frequentados com mais assiduidade. Fiquei, pois, observando, curioso e interessado, aquela azáfama de esforços e cuidados em que só agora, com minúcia e rigor, reparava. Então intimamente senti o desgosto, e lamentei, ter encontrado naquele estado o lindo e raro exemplar de escaravelho, azaradamente de cabeça desfeita, carregado por milhares de formigas, lestamente atarefadas e esforçadas como só elas!
Essas, sim, em breve teriam o mérito de conseguir um aumento na quantidade e na qualidade dos mantimentos a utilizar no inverno que não tardaria. Quanto a mim, não tendo qualquer proveito com aquela morte, restava-me somente a tristeza de manter em aberto um lugar na minha colecção de estudioso coca-bichinhos, continuando a calcorrear campos e matos, numa procura constante de outro escaravelho tão belo como aquele, mas intacto!



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