3 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 155

EFEMÉRIDES – Dia 3 de Junho
Jo Barnais (1891 – 1970)
Georges Auguste Charles Guibourg Mantes-la-Ville, Yvelines, França. Cantor e comediante, tem uma carreira de sucesso no teatro musical e é um dos cantores mais populares na França dos anos 20, com o nome artístico Giorgius. Mas é também no campo da escrita que se destaca, como argumentista para cinema e como autor de romances policiários publicados pela Editora Gallimard na famosa Colecção Série Noire, que assina com o pseudónimo Jo Barnais: Mort Aux Ténors (1956), Tornade Chez Les Flambeurs (1956), Crochet Pour Ces Dames (1958), Arrêtez Le Massacre! (1959), À Toi De Donner (1959), Flics-Flacs (1960) e Du Bromure Pour Les Gayes (1962).


Don Brown (1960)
Nasce em Plymouth, North Carolina, EUA. Oficial da US Navy no JAG (Judge Advocate General's Corps - o ramo legal da lei e justiça militar) durante 5 anos, começa a sua carreira como escritor com Treason (2005), que inicia a série Navy Justice, ou série Zack Brewer. O livro é um bestseller. Segue-se Hostage (2005), Defiance (2006), Black Sea Affair( 2008) e Malacca Conspiracy ( 2010). O autor cria ainda a série Pacif Rim, que tem 2 títulos publicados Thunder In The Morning Calm (2011) e Fire Of The Raging Dragon (2011).



TEMA — PEQUENOS GRANDES CONTOS DA LITERATURA UNIVERSAL — O ASSASSINO De Guy de Maupassant (1850 – 1893)
O culpado era defendido por um jovem advogado, um estreante, que falou assim:
— Os factos são irrefutáveis, senhores jurados. O meu cliente, um empregado irrepreensível, delicado e tímido, assassinou o seu patrão, num momento de cólera que surge como incompreensível. Quereis deixar-me fazer a análise psicológica deste crime, se assim se pode falar, sem nada atenuar e sem nada desculpar? Vós, a seguir, julgareis.
Jean-Nicolas Lougère é filho de gente honesta, que fez dele um homem simples e respeitador.
Aí está o seu crime: o respeito! É um sentimento que nós hoje já não conhecemos, cujo nome parece ainda existir, mas cujo poder desapareceu já de todo. É preciso penetrar na intimidade de certas famílias modestas e de hábitos antigos, para aí encontrar essa tradição severa, essa religião das coisas ou do homem, do sentimento ou da crença revestidos dum carácter sagrado, essa fé que não suporta nem a dúvida nem o sorriso, nem sequer o aflorar duma suspeita
Não se pode ser um homem honesto, um verdadeiro homem honesto, em toda a extensão e força deste termo, sem se ser respeitador. O homem que respeita tem os olhos fechados. Ele crê. Nós, cujos olhos estão largamente abertos sobre o mundo, que vivemos aqui, neste Palácio da Justiça que é o esgoto da sociedade, aonde vêm desaguar todas as infâmias; nós, que somos os devotados confidentes de todas as misérias humanas, os sustentáculos, para não dizer os gozadores de todas as tristezas e de todas as patifarias, desde as dos príncipes até às dos varredores da rua; nós outros que acolhemos com indulgência, com benevolência, com uma complacência sorridente todos os culpados, para os defender diante de vós; nós que, se amamos realmente a nossa profissão, medimos a nossa simpatia de advogado pela grandeza do crime; — nós não podemos ter a alma respeitadora. Nós vemos demasiado este rio de corrupção que vai desde os chefes do Poder até ao último dos tratantes. Nós sabemos bem como se passa tudo, como tudo se dá, como tudo se vende: lugares, funções, honras; brutalmente, em troca dum punhado de oiro, directamente substituídos por títulos ou comparticipações em empresas industriais, ou mais simplesmente obtidos por um beijo de mulher. O nosso dever e a nossa profissão forçam-nos a nada ignorar, a suspeitar de toda a gente, porque toda a gente é suspeita; e ficamos surpreendidos quando nos encontramos em face dum homem que tem, como o assassino sentado diante de vós, a religião do respeito tão poderosa que por ela se torna mártir.
Nós, senhores, temos a honra como temos cuidados de limpeza, por antipatia pela podridão, por um sentimento de dignidade pessoal e de orgulho; mas não trazemos no fundo do nosso coração a fé inata e brutal deste homem.
Deixai que vos conte a sua vida.
Ele foi educado, como educavam antigamente as crianças, a separar em duas partes opostas todos os actos humanos: o bem e o mal. Mostraram-lhe o bem com uma autoridade irresistível, que fez com que o distinguisse do mal como se distingue o dia da noite. O pai não pertencia à raça de espíritos elevados que, olhando de muito alto, vêem as fontes das crenças e reconhecem as necessidades sociais donde nascem essas distinções.
Ele cresceu, pois, religioso e confiante, mas com uma visão acanhada das coisas.
Aos vinte anos casou. Fizeram com que desposasse uma prima, educada como ele, simples como ele, pura como ele. Teve a inestimável sorte de possuir por companheira uma mulher honesta, de coração recto, quer dizer, de possuir aquilo que há de mais raro e de mais respeitável na terra. Tinha por sua mãe a veneração que envolve as mães nas famílias patriarcais, esse culto profundo que se reserva às divindades. E ele levou para sua mulher um pouco dessa religião, atenuada de leve pelas familiaridades conjugais. E assim viveu numa ignorância absoluta da mentira, num estado de rectidão obstinado e de felicidade tranquila, que fizeram dele um ser à parte. Não enganando ninguém, nem suspeitava sequer que o pudessem enganar. Algum tempo antes do seu casamento entrara como “caixa” para M. Langlais, que foi assassinado por ele.
Nós sabemos, senhores jurados, pelos testemunhos da Senhora de Langlais, do seu irmão M. Perthuis, sócio de seu marido, de toda a família e de todos os empregados superiores desse banco, que Lougère foi um empregado modelo, em probidade, em submissão, delicadeza, deferência e zelo.
Tratavam-no, de resto, com a consideração merecida pela conduta exemplar. E ele habituara-se a essa homenagem e à espécie de veneração testemunhada à Senhora de Lougère, cujo elogio andava em todas as bocas.
Após dez anos de vida em comum, porém, a sua mulher morreu com uma febre tifóide.
Ele sentiu intensamente uma dor profunda e calma, de coração metódico. Somente na palidez e na alteração da fisionomia se viu até que ponto tinha sido ferido.
Então, senhores, passou-se uma coisa bem natural.
Este homem estava casado há dez anos. Após dez anos estava habituado a sentir sempre junto dele uma mulher. Estava acostumado aos seus cuidados, à voz familiar quando entrava em casa, ao adeus da saída, ao bom dia matinal, a esse doce ruído de vestidos femininos, a essas carícias amorosas e maternais que tornam leve a existência, a essa presença amada que faz menos lentas as horas. Estava talvez habituado também aos cuidados materiais da mesa, a todas as atenções que se não sentem e que se tornam a pouco e pouco indispensáveis. Já não podia viver só. Então, para passar os intermináveis serões, criou o hábito de se ir sentar num botequim vizinho ao banco. Bebia uma cerveja e lá ficava a olhar distraidamente as bolas de bilhar, uma atrás das outras, no meio de fumo dos cachimbos, escutando sem dar atenção às disputas dos jogadores, às discussões dos seus vizinhos a respeito da política, ou às gargalhadas que, por vezes, do lado oposto da sala, uma anedota levantava. E frequentemente acabava por adormecer, cheio de lassidão e aborrecimento. Mas ele tinha no fundo do seu coração e no íntimo da sua carne a necessidade irresistível dum coração e duma carne de mulher; e, sem reparar nisso, cada dia se aproximava mais do balcão onde se sentava a caixeira, uma pequena loira, atraído por ela, irresistivelmente, porque era uma mulher.
Em breve conversaram e ele habituou-se ao doce costume de passar todas as noites a seu lado. Ela era graciosa e provocante, como convém a esse namoro de sorrisos, e divertia-se a renovar o consumo dele o mais frequentemente possível, o que fazia o negócio andar para a frente. Porém, Lougère cada dia se prendia mais a essa mulher, que ele não conhecia, cuja existência desconhecia completamente e que amava unicamente porque não descobria outra.
A pequena, que era atilada, depressa se apercebeu de que poderia tirar partido desse ingénuo e procurou a maneira pela qual melhor o pudesse explorar. A mais refinada era, seguramente, a de se fazer desposar.
E conseguiu-o sem custo.
Tenho necessidade de dizer-vos, senhores jurados, que a conduta dessa rapariga era das mais irregulares e que o casamento, longe de pôr um freio às suas liberdades, parecia, pelo contrário, torná-las mais saborosas.
Por um jogo natural da astúcia feminina, ela parecia ter prazer em enganar este homem honesto com todos os empregados do seu escritório. Eu o digo : com todos. Nós temos cartas, senhores! E o caso foi em breve um escândalo público que só o marido, como sempre, ignorava.
Finalmente, essa mulher, num interesse fácil de conceber, seduziu o próprio filho do patrão, um rapaz de dezanove anos, sobre o qual depressa exerceu uma influência deplorável. M. Langlais, que tinha até ali fechado os olhos, por bondade, por amizade pelo seu empregado, sentiu, vendo o seu filho entre as mãos — eu deveria dizer entre os braços dessa perigosa criatura — uma cólera legítima.
Teve a desgraça de chamar imediatamente Lougère e de lhe falar dominado pela sua indignação paternal.
Não me resta mais, senhores, do que ler-vos o relato do crime, feito pelos próprios lábios do moribundo, e recolhido pela instrução.
Eu acabara de saber que meu filho dera, na véspera, a essa mulher, a soma de dez mil francos, e a minha cólera foi mais forte que a minha razão. Eu nunca suspeitei da honorabilidade de Lougère, mas certas heranças são mais perigosas do que faltas.
Chamei-o ao meu gabinete e disse-lhe que me via obrigado a privar-me dos seus serviços.
Ficou diante de mim, estupefacto, sem compreender.
Acabou por pedir-me explicações, com certa vivacidade.
Eu recusei-lhas, afirmando que as minhas razões eram de ordem absolutamente íntima. Julgou então que eu suspeitava dele, e, muito pálido, suplicou-me que me explicasse. Partindo daquela ideia, foi-se pouco a pouco tornando altivo e permitia-se o direito de me falar alto.
Como eu me calasse sempre, insultou-me, injuriou-me, chegando a um tal grau de exasperação que eu temi chegasse a vias de facto.
Ora, de repente, debaixo do impulso provocado por uma palavra que me atingira em pleno coração, lancei--lhe à face toda a verdade.
Ficou de pé alguns segundos, olhando-me com os olhos esgazeados; depois vi-o pegar, da minha mesa, as grandes tesouras de que me sirvo para marginar alguns documentos, vi-o cair sobre mim de braço erguido, e senti entrar qualquer coisa na garganta, mesmo ao cimo do peito, sem que sentisse qualquer dor.
Eis, senhores jurados, o simples relato desta morte. Que dizer mais em defesa do acusado? Ele respeitou a sua segunda mulher com devoção, porque tinha respeitado a primeira com razão.

Depois de uma deliberação curta, o acusado foi absolvido.



DICIONÁRIO DE AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA NARRATIVA DE ESPIONAGEM (5)

7 – ARNAUD (GEORGES J.)
1928

George J. Arnaud


Georges-Jean Arnaud é um escritor francês com uma obra vastíssima. Usa demasiados pseudónimos literários, o que dificulta a análise da sua bibliografia. Calcula-se que tenha escrito cerca de 400 romances de ficção científica, fantástico, eróticos, terror, policiários e de espionagem.
A contribuição de Georges J. Arnaud para narrativa de espionagem começa em 1958 com a Série Luc Ferran, com 21 títulos até 1969, publicados sob o pseudónimo Gil Darcy na colecção Espionnage da Editora L’Árabesque.
Em 1961 lança um novo personagem, Commander, que surge pela primeira vez em Forces Contaminées, editado na colecção Espionnage, mas da Editora Fleuve Noir, e sob o pseudónimo Georges J. Arnaud. Tem 75 livros editados.
O escritor, nos romances de espionagem é considerado um autor contra-corrente. Commander, Serge Kovask, é americano mas não pertence à CIA, mas à ONI (Office of Nava Intelligence); o personagem evolui a medida que novos títulos vão sendo publicados e com o decorrer do tempo a sua oposição à CIA vai-se tornando cada vez mais marcada.
Georges J. Arnaud transporta para o seu personagem principal, a opinião que tem sobre aquela agência governamental. Diz autor: “Nunca acreditei nos romances de espionagem pela espionagem, com roubo de dossiers, com um anti-comunismo um pouco primário e um anti-sovietismo absoluto. 99% dos romances de espionagem são assim… evolui lentamente contra o nuclear e contra a CIA.”
Mais tarde, após o golpe militar do Chile e a morte de Allende o escritor radicaliza a sua posição: “Tudo começou com o a documentação que reuni e me provou que a CIA é uma empresa de assassinos, de assassinatos e de destabilização de todas as formas de democracia… o que me interessa é mostrar o papel nefasto da CIA no mundo.”
Os analistas da obra de Georges J. Arnaud consideram-no um mestre da espionagem que diz mais sobre a história contemporânea do que os autores britânicos oriundos dos serviços secretos.

O destaque, na sua vasta obra de espionagem, vai para Les Égarés premiado com a Palme d'Or Du Roman D'Espionnage em 1966.
Não foi possível encontrar livros da série Commander, que podem estar (ou não) editados em Portugal. Pelo contrário os livros da série Luc Ferran foram quase todos editados.
A obra do autor editada em França pode ser consultada AQUI

1 – Luc Ferran Parte Em Missão
Agência Portuguesa de Revista (1963)
Colecção: Negra: Nº50
Tradução de Raúl Correia

2 – Luc Ferran Não Perde A Cabeça
Agência Portuguesa de Revista (1963)
Colecção: Espionagem: Nº12
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

3 – Luc Ferran Transpõe A Ponte
Agência Portuguesa de Revista (1963)
Colecção: Espionagem: Nº16
Tradução de Raúl Correia

4 – Golpe Baixo Para Luc Ferran
Agência Portuguesa de Revista (1963)
Colecção: Espionagem: Nº17
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

5 – Luc Ferran Joga E Ganha
Agência Portuguesa de Revista (1963)
Colecção: Espionagem: Nº18
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

6 – Luc Ferran Persegue A Morte
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº20
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

7 – Luc Ferran E A Viúva
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº21
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues
Título Original: Luc Ferran Et La Veuve (1959)


8 – Luc Ferran Conduz O Baile
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº26
Tradução de Fernando Brito de Sá

9 – Luc Ferran Não Tem Problemas
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº28
Tradução de Fernando Brito de Sá

10 – Um Raio Para Luc Ferran
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Colecção: Espionagem: Nº29
Tradução de Fernando de Sá

11 – Luc Ferran Diverte-se
Agência Portuguesa de Revista (1964)
Tradução de Fernando de Sá

12 – Luc Ferran Espião A Soldo
Agência Portuguesa de Revista (1965)
Colecção: Espionagem
Tradução de Fernando de Sá

13 – Luc Ferran Desforra-se
Agência Portuguesa de Revista (1965)
Colecção: Espionagem
Tradução de Raúl Correia

14 – Luc Ferran Perde Um Assalto
Agência Portuguesa de Revista (1965)
Colecção: Espionagem
Tradução de Raúl Correia

15 – Luc Ferran Desempata
Agência Portuguesa de Revista (1965)
Colecção: Espionagem
Tradução de Raúl Correia
Título Original: La Belle De Luc Ferran

16 – Luc Ferran Faz Faíscas
Agência Portuguesa de Revista (1965)
Colecção: Negra
Tradução de Fernando de Sá

17 – Luc Ferran Passa Um Mau Bocado
Agência Portuguesa de Revista (1966)
Colecção: Negra
Tradução de Raúl Correia

18 – Luc Ferran Salva O Seu Ídolo
Agência Portuguesa de Revista (1966)
Colecção: Negra
Tradução de Raúl Correia

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