11 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 163

EFEMÉRIDES – Dia 11 de Junho
George Baxt (1923 – 2003)
George Leonard Baxt nasce em Brooklyn, New York, EUA. Começa a sua carreira na rádio e como agente de actores em Hollywood. No final da década de 50 vai para Inglaterra onde trabalha como argumentista, para televisão e cinema, geralmente filmes de terror de sucesso. Em 1966 publica o seu primeiro romance, A Queer Kind Of Dead em que apresenta o detective Pharoah Love, o primeiro no género: negro e assumidamente homossexual. O livro é muito bem recebido e nos dois anos seguintes o autor escreve mais dois romances desta série Swing Low Sweet Harriet (1967) e Topsy and Evil (1968), que só seria retomada em 1994, com a publicação de ainda mais dois títulos: A Queer Kind Of Love (1994) e A Queer Kind Of Umbrella (1995). Em 1984 George Baxt inicia uma nova série, protagonizada pelo detective Jacob Singer. Aqui o autor usa os conhecimentos que tem sobre as celebridades e a vida em de Hollywood; ao primeiro livro desta série The Dorothy Parker Murder Case seguem-se mais 12 títulos, todos com nomes de personalidades ligadas ao cinema, Hitchcock, Greta Garbo, Mae West, Marlene Dietrich, etc., o último livro publicado é : The Clark Gable and Carole Lombard Murder Case (1997) Além destas series George Baxt escreve ainda mais 10 romances policiários.


TEMA — O CASO DO DIA — TESTEMUNHA PROFISSIONAL
Um dos factos mais temidos pelo juiz durante o julgamento, é depararem com prova unicamente testemunhal, já que pela sua complexidade subjectiva — atenção, emoção, interesse, etc. — contribui para dar uma visão diferente e influenciar a recordação perfeita do que é preciso identificar em relação a diferentes testemunhas, ainda que as referências a este ou aquele pormenor sejam a expressão da sinceridade e da boa fé sentidas na abordagem ao lugar e suspeitos do delito. Há por outro lado a prevenção contra as testemunhas profissionais ou de depoimento falso. Era o caso de Alcides Pimenta. Dir-se-ia que Alcides tinha o poder de ubiquidade, capaz de estar simultaneamente, afirmava, em todos os acontecimento onde fosse necessária uma testemunha de vista, do desastre ao furto, da burla ao assalto, ao assassínio… estava sempre preparado para testemunhar. Vezes sem conta batiam-lhe à porta para solicitar os seus préstimos. Mas, nestas coisas de eficiência, quando a fartura é muita, o pobres desconfia, ou tantas vezes o cântaro vai à fonte… e foi assim que um juiz de bons olhos e melhor memória, ao ouvir anunciar o seu nome, sentiu um arrepio estranho que o levou a olhar por cima dos óculos, para o rosto impávido de Alcides e comentar: “A sua cara não me é estranha, (passe a propaganda televisiva) “vejo-o sempre como testemunha…”
Alcides não se atrapalha, rapidamente responde: “Também a sua, senhor doutor, vejo-o sempre como juiz!”
O arrepio do juiz gelou: “Senhor guarda, leve este homem para o calabouço… nada registe, até que eu decida sobre o desrespeito para o tribunal…”
… E o Alcides aguentou quinze longos dias e noites, sem conversas, sem clientes, sem visitas de família, sem visitas de advogado… inclusive sem encontrar “testemunha de vista” a seu a seu favor!



TEMA — ANATOMIA DO CRIME — O CRIME DO ESSEX
O caso passou-se em 1933, em Essex. O carpinteiro Samuel Furnace, que atravessava uma situação crítica, chamou ao seu escritório, onde tratava de assuntos da sua profissão, o seu amigo Walter Spatschett, e, depois de o ter morto a tiro, roubou-lhe a quantia de trinta e cinco libras, produto da cobrança que tinha feito naquele dia. Em seguida deitou fogo ao compartimento e fugiu. Pretendia fazer crer que era ele o morto encontrado pelos bombeiros nos escombros.
No dia seguinte, porém, as autoridades verificavam que o cadáver encontrado, meio carbonizado, tinha dois tiros. O caso deixou de ser desastre para ser crime — como realmente, foi. Procurado, Samuel Furnace, foi encontrado. E talvez como nunca, em Inglaterra, se deu caça a um criminoso. A fotografia publicada nos jornais, deu esse resultado; em toda a parte se julgava ver o autor do crime. Foram presos, ao mesmo tempo, supostos criminosos em Liverpool, Portsmouth, Reading, Bury, St. Edmund. Golders Green, Highgate, Northampton, Dagenham, Upwey, Hornchurch, Grays, e Romford. E nenhum deles era o autêntico matador do cobradar.
Uma semana depois, o criminoso, caía nas mãos da polícia. Vamos ver o que ele fez durante aqueles dias e como foi descoberto. Samuel Furnace ao praticar o crime abandonou a residência e dirigiu-se a uma pensão de Southend. Pagou uma semana de estadia à dona do quarto e expediu um telegrama, com o nome de Raymond Rogers. No dia seguinte, saiu e não voltou mais à pensão. Dirigiu-se a Hartington Road e hospedou-se numa casa de hóspedes, pagando também, adiantada, uma semana de quarto. Foi nesse dia pela tarde que os jornais publicaram o seu retrato. Passou uma noite horrível e, no dia seguinte, saiu de casa, sem saber qual o destino a tormar. A todo o momento esperava ser detido. Entrou numa farmácia e adquiriu um frasco de veneno. Voltou a Southend e hospedou-se noutra pensão. Ficou tranquilo ao verificar que a dona da casa não o reconhecera. Momentos depois, porém, saiu dali, explicando que assuntos de família o levavam a retirar-se. A dona da pensão estranhou que o hospede só soubesse que tinha assuntos de família a resolver depois de ter estado em sua casa uns momentos, Quando, à tarde, a mulherzinha leu os jornais, viu, pela fotografia, que o seu hóspede misterioso, era, nem mais nem menos de que o autor do crime de Essex, como se dizia. Correu, então, a contar o caso às autoridades. Principiou, assim a pista para a descoberta de Samuel Furnace.
Ao sétimo dia, os jornais da tarde davam, enfim, a noticia sensacional. Tinha sido preso o Carpinteiro.
Na sede da polícia disse que a arma se tinha disparado involuntariamente e atingido mortalmente o amigo. Foi depois do desastre que pensou deitar fogo ao cadáver para fugir a responsabilidades, pois se se apresentasse, às autoridades corria o risco de não ser acreditado.
Era noite quando, com este álibi, terminou o interrogatório do preso. Este recolheu ao calabouço e ficou vigiado por um guarda, mercê da sua categoria. Horas depois, o carpinteiro pedia ao guarda, que lhe fornecesse o seu sobretudo, pois estava frio. E era verdade. A temperatura descera bastante. O guarda entregou o sobretudo ao preso; nisso não havia inconveniência nenhuma. Passaram poucos minutos. O vigilante de tão responsável detido foi despertado por gritos horrorosos do criminoso. Abriu-se a porta do calaboço e Samuel Furnace debatia-se com a morte. Tinha-se envenenado com o frasco de tóxico que havia adquirido dias antes, numa farmácia. No dia seguinte, descobriu-se que o preso conseguira ocultar o frasco no forro do sobretudo, junto à bainha inferior.
Não confessou o crime. A polícia não teve provas jurídicas de que fora ele o autor da morte do cobrador, embora não pudesse ser outra a conclusão. Deste modo a viúva do suicida podia receber mil libras de seguro de vida que, catorze meses antes, tinha feito á mulher. A companhia seguradora podia, no entanto, intentar uma acção, no sentido de se esquivar ao pagamento, por se tratar do autor de um crime de morte que se não se suicida, seria condenado à pena última. Para evitar despesas e complicações a companhia pagou duzentas libras à viúva e o caso ficou arrumado.
Mas ainda hoje a polícia inglesa não esqueceu este crime. Teria o carpinteiro comprado o frasco de veneno para fugir à pena de morte? Teria resolvido por termo à existência antes de Indiciado por homicídio, para que a família recebesse o seguro de vida?
Esse segredo guardou-o o criminoso, que juridicamente, não praticou qualquer crime. Como, em Inglaterra, ninguém é culpado de um crime sem que o júri popular e oficial assim o decrete, Samuel Furnace morreu inocente.
A vida tem destes paradoxos...
M. Constantino






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