EFEMÉRIDES – Dia 15 de Junho
Pierre Siniac (1928 – 2002)
Nasce em Paris. Manifesta desde cedo o gosto pela escrita, mas só publica o primeiro romance em 1958 Illégitime Défense, seguido de Bonjour Cauchemar (1959) e de Monsieur Cauchemar (1960), todos sob o pseudónimo Pierre Signac. Só volta a publicar em 1968 desta vez sob o seu próprio nome; em 1971 cria a série Luj Inferman' & La Cloducque, dois personagens fora do comum. A obra pouco conformista do autor vai tornar-se ainda mais insólita e extravagante. A consagração de Pierre Siniac chega em 1981 quando lhe é atribuído Grand Prix De Littérature Policière por 3 obras em simultâneo: L’Unijambiste De La Côte 284, Reflets Changeants Sur Mare De Sang e Aime Le Maudit. O escritor, que é também argumentista e tem várias obras adaptadas à Banda Desenhada e ao cinema tem mais de uma centena de trabalhos publicados. Em Portugal está editado o que é considerado um dos seus romances mais bem conseguidos.
1 - Balada Da Cidade Triste (1983), Nº6 Colecção Ficções & Companhia, Editora Dom Quixote. Título Original: Femmes Blafardes (1981). Reeditado pelo Círculo de Leitores em 1986.
Verena Wyss (1945)
Nasce em Zurique, Suiça. Estuda História e História do Direito e depois de trabalhar na área social com crianças deficientes e mulheres decide dedicar-se à escrita. Publica o primeiro livro em 1982 Langsame Flucht (Voo Lento, em tradução literal), o caso de um homem que mata a mulher, mas no tribunal aparece como vítima. A escritora tem 7 livros publicados e tem sido distinguida com vários prémios. O seu próximo livro Föhnfieber está agendado para Julho
TEMA — PSICOLOGIA CRIMINAL — CONFISSÃO SOBRE COACÇÃO E ERRO
O erro judiciário não é tão raro quanto muita gente acredita. A justiça falha muita vez sem a intenção de falhar, mais por engano que por dolo. As provas circunstanciais conduzem aqui e ali a erros lastimáveis.
Ainda não vão muitos anos um condenado da penitenciária de Niterói confessava, in articulo mortis, ter sido o assassino de alguém por cuja morte outro estava a cumprir pena, havia quinze anos!
A justiça torna conhecimento do caso. O homem é posto em liberdade. E retorna ao interior do Estado, à procura de sua terra e de seus entes queridos. Tudo devia estar disperso. Talvez por isso a Providência divina põe um ponto final na alegria do liberado antes que um sofrimento maior o atormente. Tremenda tempestade desaba quando vai transpor as portas da sua localidade. E um raio fulmina-o.
Carlo Devinelli consagra a um desses erros, um dos contos de Bonecos Que Sangram. Verifica-se um homicídio em plena rua do Ouvidor. Romualdo Buarque é -preso com a arma na mão, petrificado, perto do cadáver. Debalde exclama e jura:
— Não fui eu quem matou.
— Foi, sim. — Replica-lhe a justiça. Pois se até a arma tinta de sangue conserva na mão ao ser detido e seguido pela turba que vocifera:— Mata, mata o assassino!
Pena, trinta anos de prisão! Romualdo confessara o crime… Confessara-o após longos dias e noites de interrogatórios continuados, confessara a troca de um pouco de água e de sono!
Assim, réu confesso, ei-lo condenado. Ouvindo a sentença, quer ainda gritar que está inocente. Não pode. Cai. Levantam-no. De Romualdo resta apenas o cadáver…
Aqui, a nota inesperada. “Ainda não havia fugido pelas janelas abertas a última impressão, quando, vindo da rua, um popular, mal-encarado, metido num fato de brim surrado como um tapete velho, arredando em grande excitação a massa de gente que lhe dificultava a passagem, subiu as escadas, e, já às portas da sala, gritou com os pulmões saltando pela garganta:
— Suspendam, suspendam tudo! Não condenem um - inocente. Fui eu… quem matou o velho Jardim! Ganhei quinhentos mil réis para fazer o trabalho. Ele estava a prejudicar a indústria do outro… Esperei-o na esquina da Rua do Ouvidor e ninguém me viu dar a punhalada.
Depois, rápido, meti a arma na mão de um sujeito que esbarrou comigo… E fugi.
Mas a justiça, frisando um punhado de cabelos sobre a orelha humedeceu com a ponta da língua os lábios rubros e cruzou os braços diante do verdadeiro criminoso. Engraçado! Por falta de provas!”
TEMA — HISTÓRIAS DO DIABO — PÍCARO
De Fredric Brown
O presente conto é uma excepção à regra que nos propomos, pois Fredric Brown (1906-1972) foi um consagrado autor das áreas do policial e ficção científica todavia, este pequeno conto teve tal impacto sobre nós, que não resistimos à tradução e publicação.
Walter Beauregard foi um libertino entusiasta e dedicado pelo espaço de quase cinquenta anos. Agora, aos sessenta e cinco, estava em perigo de perder as suas qualificações como membro da união dos libertinos. Em perigo de perder? Sejamos honestos: havia perdido. Durante os últimos três anos consultou médico atrás de médico, charlatão atras de charlatão, tomou beberagem, atrás de beberagem, com resultados totalmente negativos.
Finalmente lembrou-se dos seus livros de magia e nigromancia. Eram livros que se comprazia em coleccionar e ler como parte da sua extensa biblioteca, e que nunca tornara verdadeiramente a sério até agora. Mas nada perdia em tentar.
Num grosso volume encontrou o que buscava.
Tal como rezava as instruções, desenhou o pentágono, copiou os signos cabalísticos, acendeu as velas e, em voz alta, leu o encantamento.
Houve um relâmpago de luz e uma coluna de fumo. Apareceu o demónio. Admitiu que não era a seu gosto.
— Qual é seu nome? — perguntou Beauregard. Tratou de manter a voz firme, porém tremia um pouco.
O demónio lançou um som entre um berro e um guincho. Disse:
— Não poderias pronunciá-lo. Na tua pobre linguagem pode traduzir-se como Pícaro. Chama-me assim: Pícaro. Imagino que desejas o habitual.
— Que é o habitual? Quis saber Beauregard.
— Um desejo, suponho. Muito bem, poderás tê-lo. Não três desejos, isso é superstição, apenas um.
— Só desejo um. E não posso imaginar que não me dê prazer.
— Já sabes. Sei qual é o teu desejo. E esta é a resposta. Obscenamente estendeu a mão com um par de calções de banho de cor prateada. — Usa-os.
— Que é isto?
— O que parece. Um par de calções de banho. São especiais. O material vem do futuro, de uns milénios mais adiante. São indestrutíveis, nunca se rompem. Porém, o encantamento é bastante antigo. Coloca-os e verás.
O demónio desapareceu.
Walter Beauregard desnudou-se e vestiu os vistosos calções de banho. De imediato se sentiu maravilhosamente bem. A virilidade estendeu-se pelo corpo. Sentia-se como um jovem que iniciara a sua carreira de libertino.
Rapidamente vestiu uma bata de seda e calçou sandálias. (Mencionei que era um homem rico? E que a sua casa era um apartamento de luxo no alto do hotel mais exclusivo de Atlantic City?). Desceu no seu ascensor privativo e foi até á luxuosa piscina do hotel, a qual, como de costume, estava rodeada de belezas usando biquíni, mostrando os encantos sob o pretexto de se bronzearem ao sol, enquanto esperavam as propostas de homens ricos como Beauregard.
Só tomou o tempo indispensável para fazer a escolha. Mas não muito. Duas horas mais tarde, ainda vestido com os calções mágicos, sentou--se na borda da cama e olhou, suspirando, a formosa loura que jazia a seu lado no leito, sem biquíni e profundamente adormecida.
Pícaro tinha razão. O seu nome estava justificado. Os milagrosos calções, indestrutíveis, operavam na perfeição… mas não quando se tiravam ou moviam ligeiramente do seu sítio.
SOLUÇÃO TESTE DE RACIOCÍNIO — O DIAMANTE VERDE
CALEIDOSCÓPIO 162 (clicar)
Quando o homem entrou na cabine telefónica encontrou um pombo-correio numa gaiola, com uma mensagem e instrução para por o diamante numa bolsa pendurada ao pescoço do pombo e soltá-lo. A polícia não impediu o pombo de levar o resgate.
Sem comentários:
Enviar um comentário