27 de julho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 209

Efemérides 27 de Julho
Jack Higgins (1929)
Henry Patterson nasce em Newcastle Upon Tyne, Inglaterra, mas é criado em Belfast, Irlanda. Mais tarde vive em Leeds no norte de Inglaterra, abandona a escola sem concluir o curso e começa a trabalhar em diferentes profissões, tendo inclusivamente feito parte na fronteira na Alemanha de Leste durante a Guerra Fria. Estuda Sociologia enquanto trabalha como condutor numa companhia de circo e conclui o curso em 1962. Dedica-se então ao ensino e à escrita de contos de aventura até se tornar num escritor a tempo inteiro após o sucesso alcançado por The Eagle Has Landed (1975), publicado sob o pseudónimo Jack Higgins, um dos vários utilizados pelo autor. Torna-se num autor de bestsellers, traduzido em 55 línguas com mais de 250 milhões de cópias dos seus livros vendidas em todo o mundo. Fazem parte da bibliografia do escritor:
39 romances policiários, incluindo vários bestsellers thrillers The Eagle Has Landed e Storm Warning (1976);
18 romances policiários como Harry Patterson (mas nos EUA como Jack Higgins) com o personagem Nick Miller;
6 romances policiários, como Martin Fallon, com o personagem Paul Chavasse;
3 romances policiários como Hugh Marlowe;
4 romances policiários como James Graham.
Em Portugal estão editados:
1 – O Solista (1982), Círculo de Leitores. Título Original: Solo (1999), também editado com o título The Cretan Lover. Reeditado em 1983 pela Moraes, Colecção Ficção com o título Solo.
2 – Exocet : Missão Impossível (1987), Nº 47 Colecção Livros de Bolso, Série Guerra e Espionagem, Publicações Europa-América. Título Original: Exocet (1983). Reeditado em 1983 pela Moraes, Colecção Ficção com o título Solo.
3 – Atentado Na Catedral (1987), Círculo de Leitores. Título Original: Confessional (1985). Reeditado em 1992 com Nº 12 Colecção Campos de Batalha, Publicações Europa-América com o título Confessional. É o 3º livro da série Liam Devlin.
4 – Os Guerrilheiros Da Sombra (1988), Círculo de Leitores. Título Original: A Prayer For The Dying (1973).
5 – A Noite Da Raposa (1988), 3º Volume Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: Night Of The Fox (1986). É o 1º livro da série Dougal Munro & Jack Carter.
6 – Vingança No Inferno (1990), Círculo de Leitores. Título Original: A Season In Hell (1988).
7 – A Águia Aterrou (1993), Círculo de Leitores. Título Original: The Eagle Has Landed (1975). É o 1º livro da série Liam Devlin.
8 – A Águia Levantou Voo (1993), Círculo de Leitores. Título Original: The Eagle Has Flown (1990). É o 4º livro da série Liam Devlin.
9 – Centro da Tempestade (1994), Círculo de Leitores. Título Original: Eye Of The Storm (1992), editado também com o título Midnight Man. É o 1º livro da série Sean Dillon.
10 – O Voo Das Águias (1999), 27º Volume Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: Flyght Of Eagles (1998). É o 3º livro da série Dougal Munro & Jack Carter.
11 – O Traição Na Casa Branca (2000), 34º Volume Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: The White House Connection (1998). É o 7º livro da série Sean Dillon.
12 – O Porto Secreto (????), Círculo de Leitores. Título Original: Cold Harbour (1989), editado também com o título Midnight Man. É o 2º livro da série Dougal Munro & Jack Carter.

Harry Patterson
1 – Raptar Um Rei (1999), 7º Volume Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: To Catch A King (1997).



Mildred B. Davis (1930)
Escritora americana com 12 romances de suspense publicados entre 1948 e 1977. O seu primeiro livro The Room Upstairs ganha o Edgar Allan Poe Award de 1949 na categoria de Best First Novel. A autora volta a publicar em 2006, depois de quase 30 anos de silêncio editorial, uma colaboração com a filha Katherine Roome: The Avenging of Nevah (2007), The Fly Man Murders (2007) e The Butterfly Effect que constituem a série Murder In Maine.



TEMA — MISTÉRIOS E CRIMES DA HISTÓRIA — O TRÁGICO DESTINO DE MARIA STUART
Quando Maria Stuart tendo perdido o trono da Escócia caiu em mãos de Isabel da Inglaterra, foi tratada como uma irmã muito querida. Esse tratamento teve a duração de anos e anos. Era como um gato brincando com o rato. Isabel, fria e calculista, vingava-se assim de todas as conspirações que a bela Stuart, movida pelos seus barões, armara contra ela. Isabel, não devemos esquecer, era filha de rei sem grandes ternuras, o casadíssimo Henrique VIII, o das muitas esposas. Dele herdou a dureza de coração. Era rainha de aventureiros e conquistadores de mundos. Não era uma flor. Era um cardo. Nas mãos de uma criatura assim, a romântica Maria Stuart deveria sofrer a pior das torturas, aquela que duraria anos. É bem verdade que esse cativeiro foi sempre, ou quase sempre, dourado pela malícia de Isabel, que tratava a prima com dedos leves. Por isso, nos primeiros tempos, deu a Rainha de Inglaterra à Maria o seu anel régio, símbolo da amizade eterna. O tratamento era de irmã para irmã. A aranha começava a tecer a sua teia em torno da mosca.
Tudo começou quando Maria Stuart chegou à Inglaterra. Se The Times circulasse nesses velhos tempos, recolheria da rainha em fuga estas declarações:
— Sofri injúrias, calúnias, cativeiro, fome, frio e calor, atravessando a Escócia numa extensão de noventa e duas milhas sem saber onde parar, sem me deter uma só vez para descansar. Então, atirei-me ao chão, tendo só leite azedo para beber. Passei três noites na companhia das corujas. Felizmente, piso agora o solo da Inglaterra, onde governa minha boa prima Isabel.
Era o começo de um plano de Maio. Corria o ano de 1568. A rainha inglesa recebeu sua prima não como prisioneira, mas como hóspede. Para não a não ver, apresentou um motivo delicado
 — Mas não faltará ocasião para um encontro entre nós.
E adoçou a recusa com os seus costumeiros protestos de grande estima e distinta consideração:
— Palavra de rainha. — escrevia ela — Prometo que nenhum conselho jamais me levará a expô-la a qualquer perigo para a sua pessoa ou para a sua honra.
Era o começo de um plano que teria cenário longo. Ou melhor dizendo, teria uma existência de quase vinte anos. Durante todo esse largo tempo, Isabel conservou a prima Maria em honrosa custódia, enviando a prisioneira de um castelo para outro, permitindo que ela governasse os seus guardas, pondo-lhe à disposição os melhores médicos quando estava doente. O certo é que esses guardas não passavam de cães de fila de Isabel. E os anos iam, um a um, monótonos e iguais, escorrendo lá fora. Tudo se modificava na Inglaterra. Surgiram novas cidades, novos homens. A vida mudou. Só no coração de Isabel uma coisa não mudava: o seu plano de vingança contra a prima da Escócia. Na sombra, como uma laboriosa aranha, a Rainha ia coleccionando provas, tecendo a cadeira definitiva com que envolveria Maria Stuart.
E o laço definitivo veio 19 anos depois daquela manhã de Maio de 1568 em que Maria pisou, pela primeira vez, o solo inglês. O motivo foi banal. A Condessa de Shrewsbury, mexeriqueira esposa do carcereiro-mor de Maria Stuart, informara que a rainha prisioneira mantinha relações amorosas com o próprio Conde, seu marido. Maria Stuart, ao ter conhecimento disso, protestou indignada. E indignada escreveu uma longa carta à sua prima de Londres. Mas não teve serenidade bastante para acusar apenas a Condessa. Envolveu em sua ira a própria rainha da Inglaterra. A cena final ia começar
Foi então que Isabel concebeu, como bem acentuou um dos seus biógrafos, um plano digno de Maquiavel. Forjou uma conspiração contra si própria e urgiu um enredo junto de Maria Stuart, de modo a torná-la a cabeça dessa conjura. Fizeram crer à ingénua prisioneira que ela, se quisesse, poderia afastar a prima Isabel e subir ao trono da Inglaterra. Maria aceitou o papel. Era o que Isabel mais desejava. Um inteligente ardil, pensava a atormentada Stuart, fora descoberto para que os conspiradores entrassem em contacto com ela. Uma vez por semana um barril de cerveja era introduzido no castelo pelos serviçais. E os partidários de Maria Stuart, na realidade espiões de Isabel, haviam substituído o tampão do barril por uma rolha de cortiça na qual podia facilmente ser escondida uma carta. Dessa maneira — vejam como era diabólica a filha de Henrique VIII — Maria mantinha uma correspondência perigosa, feita de ódio e pólvora, com a própria Rainha. Maquiavel não faria trabalho mais limpo.
Ingenuamente, Maria esboçava o plano contra Isabel. Logo que saísse da prisão, regressaria à Escócia, apelaria para os seus barões e à frente de um grande exército invadiria a Inglaterra. Chamaria também para auxiliá-la o Rei da Espanha que, em troca desse apoio, ficaria com o trono escocês. E mais: com direitos à sucessão da coroa inglesa, por morte dela, Maria Stuart, é claro. Plano mais ingénuo não poderia haver. Mas a rainha prisioneira estava encantada com os progressos da conspiração. Em seu palácio, Isabel lambia os beiços, afiava as unhas. As provas contra a prima avolumavam em suas bem trancadas gavetas. Era a lenha com que queimaria o sonho ambicioso da outra. Mas para arrematar o plano diabólico só faltava uma declaração, por escrito, como Maria aprovava o assassínio de Isabel. E esse documento não demorou a surgir. Com letra firme, ela redigiu a ordem de execução de Isabel. O processo estava completo. O drama havia chegado ao fim. O machado do carrasco descaiu sobre o lindo pescoço da mais famosa Rainha da Escócia. E foi assim que entrou para a História.

Maria Stuart recebe a setença de morte 


TEMA — ALGO DE SOBRENATURAL (PARTE 2)
CONTO — ERA UMA NOVA HISTÓRIA
De Matos Maia
No relógio da igreja soaram badaladas, enquanto um vento agreste varria as ruas e a chuva fustigava com violência.
De súbito, a porta da varanda abriu-se com um golpe de vento e pelo gabinete espalharam-se papéis. E o vento trouxe consigo um visitante. Um homem estranhamente alto, cara quadrangular, olhos enormes e boca repelente. Imenso e medonho, avançou uns passos. Os sons saíram-lhe roucos da garganta.
— Tenho fome! Quero comer! Tenho fome!
O escritor, defronte da máquina de escrever, levantou-se apavorado. Recuou uns passos e, de súbito, caiu inanimado no chão.
O monstro olhou com indiferença o corpo caído. De cima da secretária tirou um prato com sanduíches e um termo de café. Tão estranhamente como entrara, galgou a varanda e desapareceu na noite escura e chuvosa.
O inspector estava intrigado e confuso. Aquele caso não tinha ponta por onde se pegar. Inquiriu do agente:
— Conseguiu averiguar alguma coisa?
— Pouco inspector — respondeu ele. A vítima era muito popular como escritor de histórias policiais e de terror. Segundo dois ou três amigos, pouco convivia e raramente recebia visitas.
— Falou com a governanta?
 — Claro. Fazia-lhe a limpeza do apartamento, mas as refeições mandava-as vir do snack da esquina. Todas as noites, antes de sair, deixava-lhe um prato com algumas sanduíches e um termo com café.
O inspector esboçou um sorriso contrafeito. Nada o ajudava… O relatório do médico legista era sucinto, mas peremptório: morte natural por súbito ataque cardíaco. No entanto, a vítima gozava de excelente saúde e nunca tivera doenças graves, segundo todos os depoimentos.
— Isto é tudo muito confuso! — exclamou irritado o inspector — Alguma coisa ou alguém entrou aqui, não acha?
O agente concordou.
— Tem razão! Basta ver estas pegadas no chão, e a porta da varanda está aberta. Com a noite que esteve ontem… é pouco natural.
— Se a governanta fala verdade, onde raio se meterem o prato das sanduíches e o termos do café? — o inspector interrogava-se, falando alto.
— Não há dúvida de que as provas estão aqui, a quererem dizer alguma coisa. Mas o quê? — e, inconscientemente, o agente imitava o seu chefe, pensando alto também.
A confusão do inspector e do agente era compreensível. Eles sentiam, melhor do que sabiam, que uma tragédia ocorrera naquele gabinete. Tragédia de que resultara uma morte em condições estranhas. Alguém ou alguma coisa, estivera naquela sala. A tremenda dificuldade era adivinhar o que tinha acontecido e reconstituir o drama de umas horas passadas.
O inspector desabafou, irritado:
— Já li isto várias vezes e nada me diz. Oiça lá o que o homem estava a escrever, quando morreu… ou o mataram.
Aclarando a voz, debruçou-se sobre a máquina de escrever e leu a folha de papel: “No relógio da igreja soaram badaladas, enquanto um vento agreste varria as ruas e a chuva fustigava com violência. De súbito, a porta da varanda abriu-se com um golpe de vento e pelo gabinete espalharam-se papéis. E o vento trouxe consigo um visitante. Um homem estranhamente alto, cara quadrangular, olhos enormes e boca repelente. Imenso e medonho, avançou uns passos. Os sons saíram-lhe roucos da garganta.”
— Você percebe isto? — interrogou o inspector.
— Deve ser o princípio de alguma nova história que ele estava a escrever sugeriu o agente.
— Deve ser isso, deve. Deve ser isso… — resmungou o inspector.
E ambos saíram do gabinete, batendo com a porta.

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