3 de julho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 185

EFEMÉRIDES – Dia 3 de Julho
Mário Domingues


Mário Domingues (1899 – 1977)
Mário José Domingues nasce na roça Infante D. Henrique, na Ilha do Príncipe, São Tomé e Príncipe. Jornalista, ensaísta, romancista e tradutor publica mais de 200 obras, com destaque para temas de História ou biográficos, mas também livros de aventuras e policiários. Hoje é um escritor quase desconhecido e injustamente ignorado. No final desta mensagem TEMA com destaque para a vida e obra do escrito.
Está disponível, gratuitamente, na Internet um livro da autoria de Luís Dantas: Mário Domingues CLICAR AQUI

Evelyn Anthony (1928)
Evelyn Bridget Patricia Ward-Thomas nasce em Londres e escreve sob o pseudónimo literário Evelyn Anthony. Desde 1953 publica um total de 41 livros, os mais recentes são No Resistence (2004) e Mind Games (2005).
O Policiário de Bolso já fez referência à escritora no Dicionário de Autores Contemporâneos da Narrativa de Espionagem, no CALEIDOSCÓPIO 152 (Clicar)



William Bankier (1929)
William John Bankier nasce em Belleville, Ontario, Canadá. È redactor de publicidade, romancista e prolífico autor de short stories policiárias. Apreciado pela sua escrita inventiva, bem-humorada e com enredos sinuosos, tem publicado cerca de 100 contos no Ellery Queen’s Mystery Magazine e Alfred Hitchcock’s Mystery Magazine.


TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA NARRATIVA POLICIÁRIA CLÁSSICA (Parte II- a)
por M. Constantino

ELEMENTOS FUNDAMENTAIS (a)
Crime
Vítima

1. Mais ou menos aceitáveis, muitas têm sido as regras propostas para a estrutura da narrativa policiária clássica. Definitivamente, como já adiantamos anteriormente, esta apresenta-se como um relato de uma investigação, de um determinado CRIME ou DELITO — o primeiro elemento fundamental.
Toda a violação das leis penais é delito ou crime, mas é uma noção difícil de estabelecer e seria sempre imprecisa, já que é variável no espaço ou no tempo. O outrora era consentido, hoje é proibido, a muitos dos factos antes considerados criminosos são hoje lícitos. Em vários Estados do Universo legal existem crimes que a nossa lei não prevê; o contrário é igualmente possível.
O homem não pode avalizar-se apenas pelo seu conceito de justiça, se a lei é justa ou não, se está de harmonia com as condições sociais, se protege os interesses da maioria ou da minoria, se ofende os direitos daqueles a que devia proteger e dá protecção aos que não a merecem; releva, tão só, a corelação entre a lei e o caso concreto.
Cada país tem a sua criminalidade típica. A. Varatojo, com a autoridade que lhe é reconhecida, tipifica essas tendências: o crime violento, de arma na mão, organizado e desenvolvido nos sindicatos do crime, saudosamente herdado dos tempos do western americano; sóbrio mas sofisticado, ponderado, na Inglaterra; emotivo, mistificante em França; organizado e vingativo na Itália; uma amálgama de todos eles, com prevalência para a vigarice, em Portugal.
Note-se que no domínio da narrativa o crime não basta. É necessário que, sob o ponto de vista dos observadores, se mostre indecifrável quanto ao motivador ou motivadores, que seja um mistério ou enigma a resolver, Mas, sendo o crime enigma, ou crime enigmático, o eixo da narração, o autor não deve sujeitá-lo a um simples jogo. Todo o género literário tem a sua natureza artística, e reduzi-la a um puro problema lógico, desprovido de toda a sensibilidade criativa, seria da arte literária para converter o problema numa ciência exacta. Isto significa que a narração deverá reunir valor artístico -literário bastante para se impor como realidade no campo literário geral.
Tudo pode começar por um crime simples, como no “Caso de Erro Fatal” de Fran Grubber;

Johnny olhou para o homem morto. A sua morte, logicamente tinha sido causada por uma arma de fogo, pois o tiro atravessara-lhe a testa. Ora Oliver Darcy, o tio de Ethel, o homem que a ia processar: era aquele homem que ela viera visitar trazendo uma arma na bolsa.

Ou mais complicado, um mistério de quarto fechado, como em “O Nome na Vidraça”, de Edmund Crispin:

… encontrava-se caído no chão… um punhal, que mais tarde descobriu ter sido roubado da casa, estava enterrado logo abaixo da sua omoplata esquerda. Nele não foi encontrado o mais leve sinal de impressões digitais… as janelas fechadas a prego, nenhuma porta secreta, chaminé por demais estreita para permitir a passagem do bebé e, na poeira do corredor, apenas uma série de pegadas feitas indubitavelmente pelo próprio morto… uma caixa vazia…

Não obstante a referência genérica ao crime, a prática reduz-se a algumas, poucas, espécies delituosas, nas quais o assassinato é o mais visado.

2. Um outro elemento fundamental é a VÍTIMA. Porventura o personagem menos destacado, mas nem assim dispensável: poderá observar-se, com reservas, que aparece como que cumprindo uma obrigação — morrer — para preencher o drama e honrar o enigma subjacente narração.
A sociedade moderna está positivamente intoxicada pelo materialismo e pelo egoísmo que endurece o coração dos homens e a vítima revela-se na história e é prontamente esquecida.
Na época romântica os escritores propunham-se atrair sobre ela sentimentos de antipatia, atribuir-lhe defeitos, distinguindo-lhe a avareza, a crueldade, vícios tais de ordem a criarem a ideia de que merecia na realidade, um fim delituoso.
É exemplo o conto de Conan Doyle, “ O Estrela de Prata”, no qual a vítima é descoberta:
… na charneca, uma depressão em forma de bacia e lá no fundo o cadáver do infeliz treinador. Tinha a cabeça esmagada por um golpe dado com alguma arma pesada. A coxa estava ferida com um golpe longo e simétrico ocasionado, evidentemente, por um instrumento muito afiado…

Mas referindo-se-lhe, logo acrescenta:

John Straker que, pela calada da noite descera aos estábulos e tirara de lá o Estrela de Prata. Mas com que fim? Evidentemente com um fim desonesto… Straker levava uma vida dupla e mantinha uma segunda casa…

Numa outra alternativa, se o criminoso contém os defeitos enunciados relativamente à vítima, é um depravado ou mentalmente anormal, então, por contraste, a vítima seria uma pessoa repleto de bondade e inocência, compreensiva, por puro jogo de equilíbrio.
Em um terceiro aspecto, onde brilha a perícia da polícia científica, não obstante as manifestações de ordem moral concernentes aos personagens, para compreensão e brilho da narrativa, a vítima decide, só, por si, a sorte do inquérito.
O exame do corpo e a sua posição, o vestuário, extensão dos ferimentos e localização, manchas de sangue, etc., são indícios precisos, tais como sinais externos, pegadas, e vestígios de vária ordem. A autópsia da vítima e análise laboratorial impõe-se sempre que uma pessoa morre em consequência de ferimentos, e quando não há testemunhas oculares seguras da ocorrência. Frequentemente as respostas correctas são difíceis, pois é muitíssimo natural que um assassino, que tenta escapar, coloque a sua vítima em circunstâncias tais que, pelo aspecto, aparente acidente ou suicídio.
Da investigação minuciosa e atenta do orifício de um projéctil, o percurso deste no corpo, conclui-se a distância, a trajectória e ângulo do tiro; a observação das lesões leva a determinar não só se foram produzidas antes ou depois da morte, como a natureza da instrumento ou arma utilizada; pela análise química dos órgãos verifica-se a causa da morte, a presença de produtos tóxicos, etc., etc.
Não há dúvida, porém, que quer na realidade quer na ficção, nas mãos da medicina legal, a vítima é “actor indiscutível”, e as conclusões insuspeitadas, amiudamente surpreendentes.
De quando em quando não existe vítima, melhor, o corpo desaparece, as dificuldades são, evidentemente maiores, é o exemplo de “Wolf to the Slaughter” de Ruth Rendell (“O Jogo da Navalha” na tradução portuguesa).
Mais difícil, não impossível, a vítima pode transformar-se em criminoso — “O Vingador” de Brian Garfield — mas não adiantemos.
(continua)


TEMA — APRESENTANDO UM AUTOR — MÁRIO DOMINGUES
De Raul Ribeiro
Mário José Domingues, ou simplesmente MÁRIO DOMINGUES, escritor de raça negra nascido na Ilha do Príncipe em 3 de Junho de 1899 e falecido, em Lisboa, no dia 24 de Março de1977, é um dos maiores testemunhos em como são enormidades e parvoíces racistas as teses que defendem ser a raça negra uma raça de pessoas cujo grau de inteligência é inferior ao da raça branca.
Mário Domingues foi um multifacetado homem de letras, tendo manifestado o seu talento em diversos sectores da vida cultural em Portugal.
Efectivamente, foi um dos melhores jornalistas portugueses, tendo levado a cabo reportagens memoráveis em que o repórter se metia por dentro dos assuntos, vivendo-os directamente, para depois escrever sobre eles. Foi assim que surgiram reportagens como “Um Jornalista na Mitra”, “No Limoeiro”, etc.
A maior parte destas reportagens foi publicada no semanário “Detective” de que foi um dos fundadores em 1932 e director. Trabalhou também como jornalista no semanário “Repórter X”, do seu amigo Reinaldo Ferreira, igualmente como ele, jornalista e escritor policial.
Como historiador, a sua obra é notável. Escreveu biografias das figuras mais importantes da nossa História, bem como de outros grandes vultos da História Mundial, e, não raras vezes, introduziu elementos novos, fruto não só da sua laboriosa consulta nas obras que lhe serviam de suporte, mas também da sua extraordinária capacidade de raciocínio lógico e analítico, sempre presentes nos seus livros de temática policiária.
Como escritor de ficção, escreveu vários romances, de que se destaca “O Preto do Charleston” (1930). No que diz respeito à literatura juvenil, escreveu sob pelo menos pseudónimos da dupla Henry Dalton/ Philip Gray vários romances.
Aquando das suas famosas reportagens enquanto director do semanário “Detective”, familiarizou-se com os assuntos de carácter policial, e, a experiência então adquirida, ajudou-o a escrever dezenas e dezenas de romances policiais sob vários pseudónimos.
A sua primeira novela policial, “O Homem Sem Boca”, apareceu na colecção “Novela Policial”, de Reinaldo Ferreira, e por condicionalismos de espaço terá ficado incompleta. Anos depois, no “ABC Policial” nº 1, do Dr. Artur Varatojo, Mário Domingues dá o final lógico a essa novela.
Sob o seu nome escreveu unicamente um romance policial: “O Crime de Sintra”, que foi incluído na colecção “Detective”, onde ainda esteve anunciado outro romance que não chegou a aparecer. No entanto, sob pseudónimos vários, Mário Domingues, escreveu dezenas de romances policiários. Alguns desses pseudónimos são conhecidos já, mas há ainda imensos que continuam ainda no desconhecimento do público.
Para bem da literatura policial e até da cultura portuguesa, seria bom que fosse dado público conhecimento de todos os outros pseudónimos de Mário Domingues.

Os que são conhecidos são os seguintes:
— Fred Criswell
— Henry Jackson
— James Black
— Joe Waterman
— Marcel Durand
— Max Felton
— Nelson MacKay
— Peter O'Brion
— Thomas Birch
— W. Joelson

Estes são os conhecidos. Alguém sabe dizer os outros?


OBRAS POLICIAIS DO AUTOR

Sob o seu nome
? — O Homem Sem Boca
1926 — Uma Tragédia Mesquinha
1938 — O Crime de Sintra

Sob o pseudónimo de Fred Criswell
1937 — O Salteador de Mulheres
? — O Acusador Invisível ?
—A Vingança do Legionário

Sob o pseudónimo de Henry Jackson
1937 — O Polícia Demónio
1937 — Quem paga o Cheque?
1940— O Último Gangster
? — Os Brilhantes Falsos
?— O Engenhoso Alibi

Sob o pseudónimo de James Black
1937 — O Suicídio É Inevitável
1937 — O Homem Réptil
1938 — O Segredo do Índio
1941 —A Tragédia do Palhaço
? — No Gang entra uma Mulher
? — A Marca do Degredo

Sob o pseudónimo de Joe Waterman
1937 — O Contrabando de Mulheres
1942 — A Seita Tenebrosa
? — Rivais Frente a Frente

Sob o pseudónimo de Marcel Durand
1938— O Degredado da Guiana
1943 — Um Homem Aniquilado

Sob o pseudónimo de Max Felton
1942 — A Esfera Misteriosa
1945— Meia Noite e Doze

Sob o pseudónimo de Nelson McKay
1937 — O Colar da Felicidade
1937 — O Crime da Louca
1941 — O Cão Polícia
? — A Casa Blindada
? — A Reportagem Fatal

Sob o pseudónimo de Peter Olrion
1944 — Pegadas no Caminho

Sob o pseudónimo de Thomas Birch
1937 — O Brinquedo Trágico
1938 — Na Cadeira Eléctrica
1942 — O Punhal Envenenado
? — Eis a Provai

Sob o pseudónimo de W. Joelson
— O Rapto de Miss Damby
— Os Forçados da Ilha Sem Nome
— Um Crime nas Ruas de Nova Iorque
— O Tenebroso Mistério do Bairro Chinês
— A Mulher Jogada aos Dado
— A História Sem Nome dum Homem Sem Pernas
O Clube dos Gangsters
— Um Grito no 65º Andar
— A Dança do Sabre
— O Mercador de Crime
— O Navio Sem Pátria
— O Penitenciário 1022
— Chang Contra Savil
— Uma Batalha no Pacifico
— Gregor Mão de Ferro
— O Bruxo do Oriente~
— Savil Contra Savil
— A Vingança de Chang
— Um Golpe à Traição
— A Última Proeza de Savil

Retrato de Mário Domingues

 Autor: António Domingues, filho do escritor

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