EFEMÉRIDES – Dia 16 de Julho
Alexandra Marinina (1957)
Marina Anatolyevna Alekseyeva nasce em Lviv, Ucrânia. Formada em direito, trabalha na área da criminologia, tendo publicado diversos estudos ligados à análise e prevenção do crime. Em 1991 inicia-se na escrita policiária, com cerca de 30 romances editados e é actualmente uma das escritoras russas de maior sucesso, com vários prémios recebidos e com mais de 17 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Em Portugal os livros da escritora têm sido publicados pela Editorial Presença:
1 – O Dono Da Cidade (1999), Nº16 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Igra na čužom pole (1993)
2 – No Segredo Dos Mortos (2001), Nº28 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Ubijca Ponevole (1995)
3 – Sonho Roubado (2002), Nº39 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Ukradënnyj Son (1994)
4 – Matar Por Matar (2003), Nº58 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Smert' radi Mserti (1997)
5 – Os Últimos Morrem Primeiro (2004), Nº68 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Šesterki Umirajut Pervymi (1995)
TEMA — PEQUENOS GRANDES CONTOS DA LITERATURA UNIVERSAL — A MÃO QUE RODOU O TRINCO
De Mary Cholmondeley
A mulher, de pé junto à janela, aplicou o ouvido. Estava sozinha n cabana, e olhava distraidamente para a planície deserta, por sobre a qual caíram as primeiras neves daquele Inverno.
Mas foi somente ao ouvir o ruído inesperado, que se sentiu realmente amedrontada. O marido tinha-a deixado assim, sozinha, mais uma vez, e durante dias a fio. Agora, porém, quando ela tinha a certeza de que estava para ter uma criança, o caso era diferente. Porque não lho dissera, antes que ele partisse?
É que, vira-o tão preocupado… E se ele soubesse que ela estava grávida, não teria ido. E ele já tinha tanto em que pensar. Lembrou-se então, de o ver em pé, ao lado da janela, com as mãos apoiadas sobre os seus ombros, e a falar-lhe da questão que o preocupava. Era colector de impostos daquele condado, junto à fronteira. Trouxera para casa uma sacola cheia de dinheiro, e escondera-a, numa lata de biscoitos, sob uma tábua da cozinha.
Mas porquê?
É que as coisas iam mal. As suas próprias pequenas economias, num lugarejo distante, como aquele, encontravam-se seriamente ameaçadas pela falência do seu banco. Ele precisava de ir até lá, para ver se ainda as salvava. Não ousava, porém., viajar carregando consigo o dinheiro do condado, motivo porque resolvera ocultá-lo ali. Uma vez salvo o seu próprio pecúlio, iria até à cidade mais próxima onde estava o Banco do Estado, e lá depositaria o dinheiro do povo.
— Promete que, durante a minha ausência, não só não sairás daqui, como não deixarás entrar ninguém em casa, seja sob que pretexto for.
— Prometo — respondeu a mulher.
Ele já tinha partido havia várias horas. A noite vinha caindo, e a neve e a escuridão cercavam aos poucos a cabana solitária. Foi então que ouviu o ruído. Não era o vento — ela conhecia bem o som do vento, que às vezes se assemelhava ao movimento de uma furtiva mão tentando abrir as portas e as janelas. Não. O que ouvira desta vez, fora mesmo uma série de pancadas apressadas na porta da entrada. Encostando um lado do rosto à vidraça fria, no canto da janela, pôde ver o vulto de um homem que se encontrava à porta.
Recuou apressadamente e, indo até à pedra da lareira, dali retirou a pistola do marido. Ele levara a outra. Para cúmulo da sua pouca sorte, a que estava armada. A que ficara e tinha agora nas mãos, de nada lhe valeria. Contudo, empunhando-a, caminhou para a porta trancada.
— Quem está aí? — perguntou.
— Um soldado ferido— responderam-lhe.— Perdi-me no caminho e não posso andar mais. Por favor, abra a porta.
— Prometi a meu marido que não deixava entrar aqui ninguém durante a sua ausência — respondeu ingenuamente.
— Pois então eu vou morrer à sua porta — replicou-lhe o desconhecido.
E depois de uma pequena pausa, insistiu:
— Abra a porta, olhe bem para mim e verificará que não lhe posso fazer mal algum. — Meu marido nunca me há-de perdoar— disse ela finalmente, em soluços abrindo a porta.
Tratava-se de um rapaz que mal se podia suster de pé, tão exausto estava. Alto, com andar vacilante, tinha a cabeça coberta de neve, o rosto pálido e sombrio, e um dos braços imobilizado e envolvido por ligaduras.
Ela fê-lo sentar-se na cadeira do marido, junto à lareira; mudou-lhe as ligaduras e serviu-lhe o jantar que tinha preparado para si própria. Depois, arranjou-lhe uma cama com dois tapetes e um cobertor, na divisão dos fundos. Ele deitou-se, e pareceu adormecer imediatamente.
Estaria, porém, e realmente a dormir? Não teria ela caído numa cilada? Talvez o suposto ferido apenas estivesse espera que ela pegasse no sono…
Inquieta, pôs-se a andar de um lado para o outro, aguardando o pior. O silêncio reinava na cabana… ouvia-se apenas, de quando em vez, o crepitar da lenha na chaminé, lançando na parede figuras fantasmagóricas. De repente, um ruído surdo, cuidadosamente abafado feriu-lhe os ouvidos… Dir-se-ia um rato a roer… De onde viria? Com certeza era o homem no quarto dos fundos...
Pegando na lanterna, avançou pé ante pé, pelo corredor, procurando apurar o ouvido. Pareceu-lhe que o seu hóspede estava respirando forte de mais — devia estar a fingir, por certo. Abriu a porta do quarto, lentamente e entrou devagarinho, sem ruído, quase sem respirar. Curvou-se sobre o rapaz. Não! Ele estava, de facto, a dormir.
Saiu do quarto, e ouviu de novo o mesmo ruído. E desta vez, já não teve dúvidas: alguém tentava forçar o trinco da porta. Abriu a caixa onde o marido guardava as ferramentas, tirou dela uma enorme e afiada faca de mato e, nas pontas dos pés, lentamente, voltou para o quarto do soldado. Sacudiu-lhe o ombro, e ele abriu os olhos, soltando um gemido.
— Ouça... — murmurou-lhe. — Alguém está a tentar entrar em casa. Ajude-me!
— O que é que um ladrão quer daqui? — perguntou o ferido, atónito com tal disparate.— Não há aqui nada para roubar!
— Há, sim! — respondeu-lhe ela.— Há uma sacola com dinheiro, escondida no sobrado da cozinha.
Arrependeu-se imediatamente de tê-lo dito, mas, já era tarde.
— Pegue no meu revólver — disse então o soldado.— Apenas sei atirar com a mão direita, precisamente a doente. Passe-me a faca!
Ela hesitou um segundo mas, como ouvisse novamente o ruído no trinco, fez rapidamente a troca.
— Encarregue-se do primeiro que entrar — recomendou o hóspede.— Fique perto da porta, e no momento em que esta se abrir, atire! Aqui estão seis balas. Continue a atirar até que ele caia, e fique no chão. Eu estarei logo atrás com a faca, pronto para tomar conta do segundo. Ao chegarmos ao fim do corredor, apague a lanterna.
A escuridão era completa. O misterioso ruído cessara… mas ouviu-se, em sua substituição, o som dos gonzos, deslizando devagar. O ferrolho já cedera. De súbito, a porta abriu-se e um homem entrou...
Ela viu, num relance, a silhueta recortada sobre a alvura da neve, e abriu fogo. O homem caiu, mas levantou-se de novo, e ela atirou outra vez.
O vulto, no chão, tentou erguer-se sobre os joelhos, mas foi atingido em cheio por um novo tiro. Deixou-se então escorregar, lentamente, com o rosto de encontro aos troncos da parede, e ali ficou, imóvel.
O soldado exclamou, surpreendido:
— Então, era apenas só um? — e acrescentou: — Olhe que a senhora tem uma boa pontaria! Livra!
Puxou o corpo da vítima de maneira, a deitá-lo de costas. Viram, então que o homem trazia uma máscara.
A mulher aproximou-se, e tinha os olhos fixos no morto, quando o soldado, tirando-lhe a máscara, perguntou:
— Sabe quem é?
Ela sacudiu a cabeça.
— Para mim, é um estranho — respondeu. E, sem um tremor sequer, contemplava imóvel o rosto do homem que viera roubar-se a si mesmo — o seu marido.
TEMA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (36)
Volume 36 — The Space Merchants (1952) de Frederik Pohl e Cyril M. Kornbluth
Frederik Pohl (1919) e Cyril M. Kornbluth (1923-1958) escreveram em colaboração diversas obras de Ficção Científica, sendo de salientar The Wonder Effect, Before The Universe e em especial The Space Merchants.
The Space Merchants ultrapassou o próprio mérito intrínseco ao converter-se como símbolo de antecipação sociológica. Pela primeira vez o filão ecológico, posteriormente tão aproveitado, ganha forças mercê da qualidade narração, qualificando a obra como um clássico no género. Uma sociedade capitalista onde o conjunto de desejos e comportamentos estão submetidos à publicidade.
Ficha Técnica
Os Mercadores do Espaço
Autores: Frederik Pohl/Cyril M. Kornbluth
Tradução: Eurico da Fonseca
Ano da Edição: 1973
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº188
Páginas: 254
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