EFEMÉRIDES – Dia 4 de Julho
Gavin Black (1913 – 1998)
Oswald Morris Wynd nasce em Tóquio, Japão; filho de pais missionários escoceses que regressam à Escócia em 1932. Durante a 2ª guerra mundial faz parte do Intelligence Corps sediado na Malásia onde é capturado e feito prisioneiro durante 3 anos. No fim da guerra dedica-se à escrita, sob o pseudónimo literário Gavin Black principalmente romances de suspense passados na Ásia. Cria a série Paul Harris, em 1961, iniciada com Suddenly, At Singapore e com um total de 14 livros publicados. Escreve ainda mais ceca de 20 romances e algumas peças para radio e televisão.
Sébastien Japrisot (1931 – 2003)
Jean-Baptiste Rossi nasce em Marselha, França. Utiliza o pseudónimo literário Sébastien Japrisot, que corresponde a um anagrama do seu verdadeiro nome. Tradutor, realizador, argumentista, letrista e escritor de romances policiários, tem as suas obras adaptadas ao cinema. É distinguido ao longo da sua carreira com vários prémios literários de prestígio, incluindo o Grand Prix de Littérature Policière e o Gold Dagger Award. Em Portugal estão editados alguns livros do escritor:
1 – A Morte Viaja De Comboio (1965), Nº16 Colecção Cor de Bolso, Estúdios. Título Original: Compartiment Tueurs (1962). Reeditado em 1989 pelas Publicações Europa América, Nº13 Colecção Crime Perfeito, com o título Carruagem 4, Compartimento Assassino. Adaptado ao cinema por Costas Gravas.
2 – Armadilha Para Gata Borralheira (1965), Nº9 Colecção Policial, Editorial Notícias. Título Original: Piège Pour Cendrillon (1963). Reeditado em 1988 pelas Publicações Europa América, Nº10 Colecção Crime Perfeito, com o título Armadilha Para Cinderela. Adaptado ao cinema por André Cayatte. Premiado com Grand Prix de Littérature Policière de 1963.
3 – Uma Senhora Num Automóvel Com Óculos E Uma Espingarda (1967), Nº26 Colecção Cor de Bolso, Estúdios. Título Original: La Dame Dans L'auto Avec Des Lunnettes Et Un Fusil (1966). Reeditado em 1984 pela Gradiva, com Nº9 Colecção Não Incomode, e o título Senhora Em Automóvel Com Óculos E Caçadeira. Adaptado ao cinema por Anatole Litvak. Recebe o Gold Dagger Award para Best Crime Novel.
4 – A Paixão Das Mulheres (1988), Nº19 Colecção Não Incomode, Gradiva. Título Original: La Passion Des Femmes (1986). Reeditado no mesmo ano pelo Círculo de Leitores
5 – O Verão Assassino (1988), Nº7 Colecção Crime Perfeito, Publicações Europa América. Título Original: L'Été Meurtrier (1978). Adaptado ao cinema por Jean Becker. Recebe o prémio Deux Magots
6 – Um Longo Domingo De Noivado (1900), Colecção Romance, Gradiva. Título Original: Un Long Dimanche De Fiançailles (1991). Adaptado ao cinema por Jean-Pierre Jeunet.
TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA NARRATIVA POLICIÁRIA CLÁSSICA (Parte II- b)
por M. Constantino
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS (b)
Criminoso
3. O CRIMINOSO é mais um elemento fundamental.
No sentido de explicar as várias atitudes humanas, as mais diversas de indivíduo para indivíduo, são inúmeros os estudos de criminologia que pretendem ver no criminoso um anormal.
Das características físicas, inadaptação social, educação inadequada, falta de calor afectivo na idade juvenil; possíveis traumatismos mentais, tudo serve para justificar o estudo do criminoso.
É difícil estabelecer qualquer tipologia. Cada crime representa uma manifestação de carácter especial do seu autor; sem desmentir ou apoiar tão laboriosos trabalhos e estudos, bem se poderá dizer que, a anormalidade não está no autor mas sim no acto.
Há ambientes, factos, situações propícias ao crime, outros há porque, em dado momento, em certo indivíduo, o impulso egoísta se sobrepõe ao impulso altruísta. É mais fácil o impacto do ódio, da avidez, da violência ou fraqueza moral serem seguros recrutadores de criminosos, que o estímulo da piedade, solidariedade ou força moral. Entre a; causas delituosas e o seu autor, não há que interpor nenhuma outra relação que não seja a causa e efeito: a causa agindo sobre o indivíduo e o efeito produzido pelo mesmo
Certo que os psicopatas são responsáveis, na actualidade, por um vasto número de delitos. Existem, de facto, uma extensa série de variadas causas que contribuem para criar a personalidade criminosa, fonte riquíssima do dia-a-dia são claros.
É regra de ouro da narrativa clássica de detective que o criminoso não seja, em princípio, um desequilibrado mental, cuias motivações, são puramente psíquicas, mais própria da narrativa criminal ou psicológica. Simenon, ultrapassando a regra, apresenta-nos em “Maigret et le Tueur”, um desses raros exemplos:
(título em português “Maigret e o Punhal Assassino”.
… à noite saí de casa e comecei a caminhar debaixo da tempestade… Após alguns minutos estava completamente encharcado e, propositadamente, levantava a cabeça para receber a carga de água na cara.
Não olhava para onde ia… Caminhava… Seguia em frente. Não me apercebi do “sinal”. Se dei por ele, não me lembro… Devia ter voltado para casa, em vez de obstinar-me em continuar… continuava a andar e, subitamente, senti a minha mão fechar-se sobre a navalha.
Vi as luzes de um pequeno bar, numa rua bastante erma. Ao longe ouvia passos, isso não me inquietou.
Um rapaz, em blusão claro, saiu da espelunca… tinha os cabelos compridos colados nuca… nem sequer me olhara para o rosto.
Anavalhei-o várias vezes, mas apercebi-me de que o alívio não viera. Tive de voltar atrás para ataca-lo outra vez e ver-lhe a cara.
Literariamente — sempre referindo-nos ao tipo de análise ou narrativa — o criminoso louco é bastante raro, por pouco significativo; o criminoso por hábito é mais próprio da descrição do bas fonds da sociedade; o criminoso torpe, bruto, carece de condições para se converter em segundo protagonista deste género, já que as suas características não se prestam a rodear o seu cometimento do véu de mistério e da necessidade de ocultar os detalhes que são a razão vital de apoio à narrativa.
Quando a razão do crime obedece a instintos de natureza vital, sejam eles a defesa própria ou amor, por exemplo, falta o interesse para o desenvolvimento narrativo, porque o criminoso realizou o acto com arrebatamento, sem propósito de ocultar o crime ou invadir-se da responsabilidade.
O criminoso ocasional, por sua normal condição, pode constituir um enigma, manter a possibilidade de uma persecução narrativa — mais enigmática se não tiver qualquer relação vinculatória com a vítima — mas é inegável que, por isso mesmo, a ausência de mutilações, prejudica e narração — pelo menos do ponto de vista do leitor que pretenda rivalizar com o investigador.
Por interferência de grande mistério a revelar, o culpado é o mais secreto protagonista do jogo narrativo. Aquele que está acima de todas as suspeitas, mantém, em princípio, um alibi indestrutível; aquele que todos vêem, mas como uma maldição não é mais do que uma sombra dissimulada aos olhos de todos, aquele que, não obstante a inteligência com que disfarçou o seu delito, por razões éticas — o triunfo da justiça sobre o delito — acabará castigado.
(continua)
TEMA — MISTÉRIO INSOLÚVEL — O MONGE DESAPARECIDO
De M. Constantino
O Rio de Janeiro continua, hoje como ontem, a ser uma cidade de crimes misteriosos, de enigmas indevassáveis, tragédias envolvidas em segredos e interrogações que se perpetuam. Mistério como o Monge de Cister, Crisóstomo Panfoedes, que resistiu a todas as tentativas de explicação.
Numa tarde de Janeiro de 1948, saiu para um pequeno passeio de que não regressou. A vida desse religioso já trazia em si um drama. As contingências da guerra trouxeram-no de um convento cisterciense na Alemanha, para abadia beneditina do Rio de Janeiro. Era u homem culto, professor de Teologia e, apesar dos seus 63 anos, dedicou-se ainda e apaixonadamente ao seu desposto predilecto: o alpinismo. Mas naquela tarde saíra simplesmente para passear pela estrada que conduz ao parque da Tijuca. Viram-no, pela última vez, os vendedores das redondezas. Levava o breviário e , assim, associava a prece ao suave espairecimento. Ia feliz, no seu passo firme… Já era hora do crepúsculo, e a noite encontrou-o em plena mata.
O mistério do seu desaparecimento começou dentro das trevas. Até hoje, nunca mais ninguém soube dele, apesar de bem procurado.
Todas as hipóteses foram admitidas e estudadas: doença súbita, colapso no meio da floresta, queda fatal junto a um precipício, o crime — talvez um rastro dele — e até a fuga imprevista e também inexplicável da vida monástica. Todas as hipóteses, todas as pesquisas foram inúteis. Revolveram-se as matas, desceu-se ao fundo das covas e abismos e nada.
Que teria acontecido com o D. Crisóstomo? Morto? Vivo?
Quem poderá responder, quando as perguntas de seis décadas não obtiveram respostas?
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