EFEMÉRIDES – Dia 21 de Julho
Michael Z. Lewin (1942)
Michael Zinn Lewin nasce em Springfield, Massachusetts, EUA. Vive em Somerset, Inglaterra desde 1971, altura em que publica o seu primeiro livro, Ask The Right Question, com que inicia a série do detective privado Albert Samson — que conta já com 8 títulos publicados. O autor cria ainda as séries Leroy Powder e Lunghi Family e escreve dezenas de short stories.
Michael Connelly (1956)
Em Actualização
TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — OS PERSONAGENS DO OUTRO LADO DA BARREIRA: OS MARGINAIS (PARTE IV)
De M. Constantino
Conclui-se hoje este tema.
John Mannering, rico joalheiro e proprietário da Quinns, especialista em antiguidades, consultor da Scotland Yard, não é mais que o famoso ladrão de jóias conhecido por “O Barão”; criado em 1937 por Anthony Morton, pseudónimo de John Creaay.
“O Sombra” gentleman-cambrioleur britânico cujo nome oficial é Terence Lane. Aparentemente a sua vida é um mistério: actua de noite e as suas vítimas são, na generalidade, jovens, ricas e bonitas. Criação de Alain Page em 1957.
Aristo, também gentleman-cambrioleur da linha de Lupin, um pouco caricatural; criacão de André Hélène, em 1953.
Parker, um novo lobo solitário, um lobo violento, cruel, não rouba, “recupera” criação de Richard Stark
Françoise Dilmont, jovem acrobata de circo e dedicada ladra, criada por Albert Saint-Aube em 1967.
Karmezin, um ladrão magnânimo e compreensivo, fica apenas com 20% para despesas, nada cobra pelo trabalho; criação de Gerald Kersh em 1945.
Evan Michael Tanner, “o ladrão que não pode dormir” é na vida oficial Bernie Rhodenbarr, um livreiro honrado. Dedicado ladrão profissional da criação de Lawrence Block.
Reiner, o misterioso ladrão de bancos, supermercados, etc., no fundo um justiceiro modernizado, repleto de cinismo e brutalidade; criação de Claude Klotz.
Jimmie Dale, o “selo cinzento”, um moço bonito e rico, graduado em Oxford, ladrão por ócio; criação de Frank Lucius Packard, em 1917.
Máximo Roldan não só é um detective com habilidade, mas um ladrão audacioso, filho espiritual de Lupin, a cujas actividades associa invulgar lucro. Criado por Antonio Helú em 1916.
Simon Carne, um riquíssimo cavalheiro que, por vezes é ladrão, e outras o prestigioso detective privado Klimo; criação de Guy Boothby em 1897.
“O Sombra” |
TEMA — PEQUENOS GRANDES CONTOS DA LITERATURA UNIVERSAL — O PUNHAL MALAIO
De Tristan Bernard
Está com muita pressa senhor Gambard? Sente-se mais um pouco.
— É que são quase dez horas, senhor Moutier.
— Ora! O mercado só fecha ao meio dia. Tem muito tempo ainda para lá chegar.
— Sim, senhor Moutier; mas marquei encontro com a minha mulher diante do vendedor de estofos e retalhos.
— Oh! Então, se ela está a apreçar fazendas, não ficará impaciente. Eu queria que o senhor não saísse daqui sem ver o meu filho.
— É verdade! Voltou, de Paris o seu rapaz. Está contente, o senhor? Acabou bem os seus estudos, o seu filho?
— Acabou. Já é doutor em direito. A mãe está satisfeitíssima. Comigo a coisa é outra. Acho-o parisiense de mais. Ele ficou por lá a estudar Direito com artistas. As conversas que tem agora não me agradam. Leva o tempo a fazer prelecções sopre a a honestidade, sobre a propriedade, sobre a justiça… Ontem, à mesa, se não fosse o meu rapaz que estivesse a falar, ter-me-ia retirado. E tive de conter-me para não lhe dar um par de bofetadas. E depois, não sei se deixou alguma ligação em Paris, mas gasta-me muito dinheiro. Dou-lho constantemente, e ele anda sempre junto da mãe a procurar mais… Deita-se muito tarde e é uma canseira de manhã, para fazê-lo levantar-se. Ah! Não, não! Isso não são maneiras. Se quiser fazer sucesso na advocacia, terá de enveredar por outro caminho.
— Eu pensava que o senhor quisesse fazer dele magistrado.
— Disse que por enquanto não. Esperamos que lhe venha esse desejo. Sabe que o Mégnin voltou como juiz de instrução?
— Sei, é um colega do meu filho. Parece-me um rapaz muito sério.
— O Mégnin? Faria condenar o próprio pai. Não seria com ele que se abafaria um escândalo, como o do colégio, no ano passado… Oh! Diabo! Senhor Moutier, dez horas e um quarto! Preciso retirar-me… Olá! Que bela panóplia tem o senhor!
— Não é má; a que tenho lá em baixo, na sala de espera, é bem mais interessante. Vamos descer que quero mostrar-lha. E mostrar-lhe-ei o meu punhal malaio, que possuo há dois dias apenas. Imagine que passou por aqui, anteontem, um marinheiro não sei de que país, que tinha toda a espécie de curiosidades dos países exóticos. Comprei-lhe uma arma a que ele chamava punhal malaio. Será um verdadeiro punhal malaio? Não sei. Em todo o caso é um instrumento curiosíssimo. Já o havia visto num livro; mas não sabia que existia realmente. Quando o punhal está na ferida, faz pressão numa mola. Então a lâmina divide-se em várias partes. E quando se retira a arma, esta faz uma ferida horrível, em forma de cruz… Desçamos… Vou mostrar-lho. Cuidado com os últimos degraus, porque a sala de espera é muito escura. Mas a panóplia está perto da janela… Que quer dizer isto?
— E que foi?
— Esta é boa!
— Mas que foi?
— O punhal malaio já lá não está! Quem poderia tê-lo tirado? Oh! É preciso esclarecer este facto.
— Veja se não está no chão, senhor Moutier. Talvez tenham caído os pregos que o sustentavam…
— Não. Os pregos estavam firmes, e nada há no chão. Oh, vou esclarecer o caso!— Eu retiro-me, senhor Moutier.
— Até logo, senhor Gambard… — Justina! Justina! Então? E você, Clemência? Onde está a Justina?
— A Justina não está aí, senhor. Está no fundo do jardim com a senhora. Eu acabo de chegar do mercado!
— Mas que é que tem, Clemência? Parece-me tão perturbada! E com razão, senhor! Aconteceu uma desgraça horrível. A velha senhora do castelo que o senhor conhece...
— E então?
— Foi assassinada no parque, ontem à noite, por volta das nove horas. O jardineiro ouviu um grito. E, quando se aproximou, encontrou-a morta… Não se sabe quem a matou, mas deve ter sido um terrível bandido... Imagine, senhor, que ela tinha no peito um ferimento em forma de cruz… Mas que é que o senhor tem?
— Nada! Foi a morte dessa senhora… Recebi um choque… A minha mulher sabe do facto?
— Ainda não, senhor.
— Não lhe diga nada. Ficaria muito comovida.
— E depois a senhora já está incomodada. Não sei se faço bem em dizer ao senhor. O senhor Luciano…
— Hem?
— Não veio dormir em casa esta noite… Mas que é que o senhor tem?
— Não sei… Estômago…
— O senhor faria bem em recolher-se ao quarto.
— Sim, vou.
— Eu ajudo-o a subir.
— Não! Não é preciso.
— Porque não? O senhor não se pode ter em pé… Olhe… olhe… Sente-se na poltrona… Está melhor?
— Estou bem, sim
— Aposto que o aborrecimento que o senhor tem prende-se com o facto de ter o senhor Luciano dormido fora de casa.
— Não é, não! É um absurdo… Sinto-me mal desde ontem.
— Vou avisar a senhora.
— Não, não, deixe-a!
— Ei-la que chega, justamente, agora… É o patrão que não está passando bem, minha senhora!
— Mas eu não tenho nada! Que é que ela lhe está a dizer? Retire-se… Vá para a cozinha.
— Minha senhora, eu disse ao patrão que o senhor Luciano…
— Quem foi que a mandou dizer isso? Vá-se embora… E meta-se no que lhe diz respeito… Vá-se embora! É insuportável! Então ela disse-te que o Luciano…?
— Disse… E isso aborreceu-me um pouco. Eu já estava a sentir-me mal.
— Quanto a mim, não é porque ele tenha pernoitado fora que estou aborrecida… Um rapaz da sua idade… Mas confesso-te que tem maneiras misteriosas que me inquietam… Se eu te disser que há dois minutos entrou com toda a precaução… Eu estava na sala de espera, a arrumar umas coisas no recanto da escada. Vi-o aproximar-se da panóplia e dependurar algo do prego… Mas que é que tens ainda, Eduardo?
— Não é nada, não é nada… É o meu incómodo de há pouco… voltou outra vez… Deixa-me só, prefiro que me deixes só…
— Oh afliges-me, Eduardo! Mas que é que quer ainda, Clemência?
— Estão a perguntar pelo patrão.
— Diga que o patrão não se sente bem.
— É o senhor Mégnin, o juiz…
— Diga-lhe que o senhor está doente! Vou ver o que ele te quer.
— Não, não! Faça-o subir… Ouviu, Clemência? E tu deixa-nos!
— Como tu me falas!
— Perdoa… Peço-te, deixa-nos. Ele talvez tenha alguma informação confidencial a pedir-me… Poderia ficar constrangido.
— Oh! Não sei o que tens, Eduardo… Metes-me medo… Entre, senhor Mégnin. Deixo-o com o meu marido. Até já…
— Senhor Mégnin — disse, — não é melhor que ela não estivesse aqui?
— Já viu o seu filho, senhor Moutier?
— Ainda não.
— Mas está a par do assassínio do castelo?
— Sim!
— Toda a cidade já o sabe. É extraordinário como tudo se divulga… Então, o seu filho não lhe disse?
— Nada.
— Prestou-me um grande serviço no caso. Havíamos jantado juntos e estávamos no teatro quando foram procurar-me… Mas que é que tem? Não se está a sentir bem?
— Peço-lhe perdão… Não sei se ouvi bem… Estou aturdido… As palavras parecem dançar no meu cérebro… Disse-me que passou toda a noite de ontem com o meu filho?
— Sim, senhor. Quando foram procurar-me, acompanhou-me ao castelo. Vendo o ferimento, exclamou: Aí está um ferimento feito com um punhal malaio. Meu pai tem uma arma dessas na panóplia… Então veio buscar esta arma aqui com muitas precauções. Não queria que o senhor despertasse. E, acima de tudo, receava emocioná-lo, narrando-lhe bruscamente essa sinistra história. Deu-me os sinais do marinheiro que lhe vendeu este esquisito punhal, e que devia ter consigo outros semelhantes. Esse homem foi preso, agora, a três léguas daqui. Fez uma confissão completa; mas eu tinha necessidade do seu depoimento… Olhe! Aí está o seu filho… Moutier, o seu pai já é sabedor de tudo… Mas está um pouco doente!
— Não, não é nada… É cansaço… Peço-lhe perdão por estar a chorar assim, é do cansaço.
— Mas que é que tens, papá?
— Nada, nada… Abraça-me, meu filho.
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