Efemérides 31 de Julho
Brett Halliday (1904 – 1977)
Davis Dresser nasce em Chicago, Illinois, EUA. Escritor de vários géneros e diferentes pseudónimos — Anderson Wayne, Anthony Scott, Asa Baker, Don Davis, Hal Debrett, Kathryn Culver, Matthew Blood e Peter Field, assina a sua criação mais popular — Michael Shayne — como Brett Halliday. Shayne é um detective privado da linha dura ou hard-boiled, cuja série tem quase 70 títulos escritos pelo autor que atinge uma fama merecida. Mais tarde outros escritores deram continuidade a este personagem que tem tido diversas adaptações à rádio, televisão e cinema. Em Portugal é possível encontrar o registo dos seguintes livros do autor:
1 - Mike Shayne: Antologia Policial (1969), Distribuidora de Publicações. Título Original: Mike Shane Mystery Magazine (1900).
2 – Beleza Para Matar (1973), Nº318 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Bodies Are Where You Find Them (1959). É o 5º livro da série Michael Shayne.
3 – Seis Segundos Para Matar (1973), Nº323 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: Six seconds To Kill (1970). É o 60º livro da série Michael Shayne.
4 – Chamada Imperiosa (1975), Nº172 Colecção Enigma, Editora Dêagá. Título Original: Caught Dead (1972). É o 64º livro da série Michael Shayne.
5 – O Crime É A Minha Profissão (1993), Nº139 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa-América. Título Original: Murder Is My Business (1945). É o 11º livro da série Michael Shayne.
6 – Atirar A Matar (1996), Nº159 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa-América. Título Original: Shoot To Kill (1964). É o 49º livro da série Michael Shayne.
TEMA — PERSONAGEM — MIKE SHAYNE
Um homem ruivo de pouco mais de 30 anos, de pernas longas e fortes, investigador privado em Miami, com farta clientela entre os ociosos milionários e financeiros cujas filhas e esposas contribuem para o núcleo fundamental do seu trabalho.
De facto o sexo feminino é a sua maior preocupação. Tem um matrimónio feliz até a altura em que a própria mulher é assassinada. A partir dessa altura, o cinismo e a violência estão sempre à flor da pele e Shayne, para esquecer, muda de residência e escritório para Nova Orleães e contrata Lucy Hamilton para secretária. O prestígio da sua acção constitui um êxito e, ainda que ao apaixonar-se por Lucy pareça mais humano, os seus procedimentos são típicos do período americano duro; notório o seu dinamismo ainda que brutal para capturar assassinos e corruptos.
TEMA — PEQUENOS GRANDES CONTOS DA LITERATURA UNIVERSAL — A CASA DE SONHO
De Brett Halliday (1885 – 1967)
Há cinco anos, quando estive bem doente, — disse ela — notei que sonhava a mesma coisa todas as noites. Eu passeava no campo e, ao longe, via uma casa branca, baixa e grande, no meio de um bosque de tílias. A esquerda da casa, um prado criado de álamos quebrava agradavelmente a simetria do cenário e os cimos dessas árvores, que se podiam ver de longe, oscilavam acima das tílias.
No sonho, eu era atraída pela casa e para ela me dirigia. Na entrada, havia um portão pintado de branco. Em seguida, tomava por um caminho de curvas graciosas, marginado de árvores, sob as quais havia flores primaveris, prímulas, pervincas e anêmonas, que murchavam no instante em que eu as colhia. O caminho terminou e vi-me a poucos passos da casa.
Em frente, havia um grande tabuleiro de relva, aparado como um relvado inglês, quase despido, mas com um extenso canteiro de fibras roxas, vermelhas e brancas, que produziam um efeito admirável naquele fundo verde. A casa, de pedra branca, tinha um grande telhado de ardósia azul. A porta, de carvalho claro com almofadas lavradas, ficava no alto de uma pequena escadaria. Eu tinha vontade de entrar na casa, mas ninguém me atendia. Extremamente desapontada, batia, gritava e, afinal, acordava.
Foi este sonho que se repetiu meses a fio, com tal precisão e fidelidade que cheguei a pensar que, com certeza, na infância, eu vira aquele parque e aquele castelo, Entretanto, quando acordada, não podia identificá-lo e a necessidade de o conseguir tornou-se numa obsessão tão forte que, durante um verão, tendo aprendido a guiar um pequeno carro, resolvi passar as férias nas estradas da França, a procura da casa do sonho.
Não falarei com minúcias das minhas viagens. Percorri a Normandia, a Touraine, o Poitou, mas nada encontrei. Em Outubro voltei a Paris e, durante todo o Inverno, continuei a sonhar com a casa branca.
Na primavera passada, continuei as minhas viagens pela região vizinha de Paris. Um dia, numa ladeira perto de Orleans, senti de repente um choque agradável, essa curiosa emoção que se experimenta quando se reconhecem, depois de uma longa ausência, pessoas ou lugares que se amavam. Embora nunca tivesse estado naquela região, reconheci perfeitamente o cenário que ficava à direita. Os cimos dos álamos coroavam um bosque de tílias. Através, da folhagem, ainda rala adivinhava-se uma casa.
Percebi, então, que encontrara o castelo dos meus sonhos. Naturalmente, sabia que, cem metros adiante, num caminho estreito, cortaria a estrada. Segui-o. Cheguei a um portão branco e vi o caminho que tantas vezes havia percorrido. Sob as árvores, admirei o macio tapete colorido formado pelas pervincas, as primulas e as anêmonas. Quando sai da sombra das tílias arqueadas, vi o relvado verde e a pequena escada, no alto da qual estava a porta de carvalho claro. Saltei do carro, subi rapidamente os degraus e toquei a campainha. Estava com receio de que não me atendessem, mas quase imediatamente um criado apareceu. Era um homem de fisionomia melancólica e muito velho, que vestia um casaco preto. Ao ver-me, mostrou surpresa e olhou atentamente, sem dizer coisa alguma.
— Desculpe, — disse eu — mas vou fazer um pedido um pouco estranho. Não conheço os proprietários desta casa, mas ficaria muito grata se me dessem permissão para percorrê-la.
— O castelo está para arrendar, Madame, — disse ele — e eu estou aqui para mostrá-lo.
— Para arrendar? Que sorte! Como é que os proprietários não moram nesta, propriedade encantadora?
— Os proprietários moravam aqui, Madame. Só se mudaram quando a casa ficou mal-assombrada.
— Mal-assombrada? Isso pouco me importa. Não sabia que aqui, no interior da França, ainda acreditavam em almas do outro mundo.
— Eu também não acreditaria, Madame, — disse ele, muito sério — se não tivesse várias vezes encontrado no parque, à noite, o fantasma que afugentou meus patrões.
— Que história! — exclamei, tentando sorrir, mas estranhamente inquieta.
— A Madame é que não devia rir desta história, — disse o homem, com um ar de censura — porque o fantasma era a senhora.