EFEMÉRIDES – Dia 7 de Abril
Stephano Vignaroli (1959)
Nasce em Jesi, Itália. Veterinário de profissão é um apaixonado por animais, jazz, pela montanha e, nos últimos anos, pela escrita. Publica o primeiro livro Delitti Esoterici (2011) seguido de Misteri di Villa Brandi (Janeiro 2012). A protagonista dos dois romances é a Commissario Caterina Ruggeri, responsável pelo Destacamento Cinotécnico do Aeroporto de Ancona. O autor considera o género dos seus livros sui generis: policiário/thriller negro com muita divagações de fantasia e de ficção científica.
Stephano Vignaroli (1959)
Nasce em Jesi, Itália. Veterinário de profissão é um apaixonado por animais, jazz, pela montanha e, nos últimos anos, pela escrita. Publica o primeiro livro Delitti Esoterici (2011) seguido de Misteri di Villa Brandi (Janeiro 2012). A protagonista dos dois romances é a Commissario Caterina Ruggeri, responsável pelo Destacamento Cinotécnico do Aeroporto de Ancona. O autor considera o género dos seus livros sui generis: policiário/thriller negro com muita divagações de fantasia e de ficção científica.
TEMA — TERROR SOBRENATURAL — FANTASMAS
Na literatura de terror o efeito arrepio é, em regra, proporcionado pelo sobrenatural, protagonizado por uma horrível dança macabra de arquétipos estranhos que, apesar do realismo científico e cultural, ainda faz parte do subconsciente humano, depositário eterno da herança do primitivismo, quando o homem se encontra com o aterrador e com o desconhecido potencialmente hostil, com o insólito e o mistério.
Da longa e horrível galeria, apresentam-se os Fantasmas, os quais desde sempre têm a primazia. Há-os das mais diversas classes e procedências, infinitas raças e famílias, porém o modelo é o fantasma invisível, que se limita a manifestar a sua presença, gemendo, abrindo e fechando portas, mudando a posição de móveis e objectos ou, ruidosamente arrastando correntes a que estão aguiolhados. Deste tipo são os veneráveis habitantes dos castelos da Escócia e da Inglaterra vitoriana, dir-se-ia mesmo que o fantasma faz parte da valorização do local. Ainda há poucos dias o The Sun noticiava que a Mansão que a cantora Adele adquirira no Essex era povoado por um incomodativo fantasma, a rivalizar com a ultra famosa Dama de Branco que ainda assombra o quotidiano londrino e se internacionaliza. Armaduras ocas que se movimentam, jovem de longos cabelos loucos que levanta o véu e revela a caveira terrificante, ou esqueleto sem cabeça, ancião morto há mais de cem anos que teima em ocupar uma janela e nunca se encontra, luminosidade perseguidora etc. No entanto também existem fantasmas de bom coração e que aparecem somente à família para lamentar a saída prematura para outra vida.
Para tornar o assunto mais tenebroso, a ciência, como é regra, em dúvida vê-se forçada a expor o domínio do invisível. Os materialistas mantêm que a matéria é tudo, que tudo começa e acaba com ela. A parte contrária responde com a razoabilidade de se reconhecer que a matéria e espírito são dois estados diferentes da mesma substância. A matéria vai-se com a morte do corpo, o espírito faz parte do outro mundo, cuja existência, mesmo na simples hipótese, a nossa subconsciência regista num plano de possíveis realidades.
Na literatura de terror o efeito arrepio é, em regra, proporcionado pelo sobrenatural, protagonizado por uma horrível dança macabra de arquétipos estranhos que, apesar do realismo científico e cultural, ainda faz parte do subconsciente humano, depositário eterno da herança do primitivismo, quando o homem se encontra com o aterrador e com o desconhecido potencialmente hostil, com o insólito e o mistério.
Da longa e horrível galeria, apresentam-se os Fantasmas, os quais desde sempre têm a primazia. Há-os das mais diversas classes e procedências, infinitas raças e famílias, porém o modelo é o fantasma invisível, que se limita a manifestar a sua presença, gemendo, abrindo e fechando portas, mudando a posição de móveis e objectos ou, ruidosamente arrastando correntes a que estão aguiolhados. Deste tipo são os veneráveis habitantes dos castelos da Escócia e da Inglaterra vitoriana, dir-se-ia mesmo que o fantasma faz parte da valorização do local. Ainda há poucos dias o The Sun noticiava que a Mansão que a cantora Adele adquirira no Essex era povoado por um incomodativo fantasma, a rivalizar com a ultra famosa Dama de Branco que ainda assombra o quotidiano londrino e se internacionaliza. Armaduras ocas que se movimentam, jovem de longos cabelos loucos que levanta o véu e revela a caveira terrificante, ou esqueleto sem cabeça, ancião morto há mais de cem anos que teima em ocupar uma janela e nunca se encontra, luminosidade perseguidora etc. No entanto também existem fantasmas de bom coração e que aparecem somente à família para lamentar a saída prematura para outra vida.
Para tornar o assunto mais tenebroso, a ciência, como é regra, em dúvida vê-se forçada a expor o domínio do invisível. Os materialistas mantêm que a matéria é tudo, que tudo começa e acaba com ela. A parte contrária responde com a razoabilidade de se reconhecer que a matéria e espírito são dois estados diferentes da mesma substância. A matéria vai-se com a morte do corpo, o espírito faz parte do outro mundo, cuja existência, mesmo na simples hipótese, a nossa subconsciência regista num plano de possíveis realidades.
TEMA — LITERATURA — A VALSA
Numa noite de gélido e distante Inverno, em volta da parreira, ouvíamos as histórias da Ti’Ana. Antecipadamente cientes do terror das narrativas, como força estranha e irresistível, um frémito esquivo, que não é febre nem frio, apodera-se-nos do corpo. Em perfeita lucidez, entretanto, vozes fantasmagóricas, ininteligíveis, introduziam-se no chiar do vento provindo da alta chaminé. A candeia de azeite mal cheiroso fumegava sombras mostrengas desenhadas nas paredes deficientemente caiadas.
Mal ousávamos respirar.
A velha, delgada sombria, puxou o xaile negro para os ombros descaídos. O gato preto de olhos cor de fogo, saltou com um miado de posse, e foi anichar-se-lhe no colo! A mão esquelética de dedos incrivelmente compridos acariciou o felino.
Ti'Ana começou:
— Vocês conhecem muito bem aquela casa abandonada da Rua do Açude. O que talvez desconheçam é que aquela moradia teve uma história… uma história terrível e inacreditável.
Fui moça e bela há muito. Pois já nesse tempo os vizinhos contavam que ouviam, por vezes, estranhas e indecifráveis vozes que pareciam originadas num complicado idioma estrangeiro. Isso acontecia, invariavelmente, a altas horas da noite, ia-se ver, não era ninguém… apenas o ranger da madeira velha, guinchos dos ratos que infestavam as ruínas…
Outrora aquela casa, fora entretanto, um berço de amor! Um casal de artistas austríacos, com um filhinho louro e belo, levados por uma predestinação cruel, sabemo-lo agora, mandaram construir o edifício e nele se instalaram felizes.
A senhora, esposa e mãe amantíssima, adoeceu, um dia, subitamente. Tuberculose.
Vários médicos foram consultados. Muitos lugares aconselhados foram percorridos na esperança de se recuperar a saúde perdida. Não melhorando e reconhecendo que as poucas economias desapareciam, pediu ela para voltar para casa. Apresentou então melhoras incríveis e, embora cansada, pediu para tocar piano. O marido tentou dissuadi-la, em vão. Sentou-se e iniciou a melódica execução da sua música predilecta — a Valsa da Meia-noite — mas, quando estava prestes a terminar, teve uma hemoptise, falecendo pouco depois.
O corpo foi a enterrar coberto de violetas, última homenagem do inconsolável esposo.
Precisamente um mês depois o artista acordou ao som da Valsa da Meia-noite. Correu para a sala e viu nitidamente o vulto da esposa tocando: um esqueleto cujos cones fétidos começavam a soltar-se. Um horrível cheiro de podridão e violetas pairava no ar.
— Venho buscar o meu filho, disse o espectro, e desapareceu.
Terríveis gritos vieram então do quarto do garoto, para o qual o artista correu apavorado. O menino, de braços erguidos, numa contracção muscular anormal e inexplicável, como se procurasse o corpo da mãe, estava morto.
No ar, mais uma vez, o odor de podridão e violetas.
Um mês depois, sentado ao lado do piano, como se apreciasse a execução da doce melodia, o homem foi encontrado morto.
Encurtando caminho, passei pela vivenda. Tomara-se-me a vontade um anseio de não acreditar ante o reflexo supersticioso de ser obrigado a reconhecer.
Nada vi até chegar à desconjuntada porta. Depois… a luz de uma vela desceu do primeiro andar ao rés-do-chão e das ruínas… Saiu o som da Valsa da Meia-Noite…
M. Constantino
Numa noite de gélido e distante Inverno, em volta da parreira, ouvíamos as histórias da Ti’Ana. Antecipadamente cientes do terror das narrativas, como força estranha e irresistível, um frémito esquivo, que não é febre nem frio, apodera-se-nos do corpo. Em perfeita lucidez, entretanto, vozes fantasmagóricas, ininteligíveis, introduziam-se no chiar do vento provindo da alta chaminé. A candeia de azeite mal cheiroso fumegava sombras mostrengas desenhadas nas paredes deficientemente caiadas.
Mal ousávamos respirar.
A velha, delgada sombria, puxou o xaile negro para os ombros descaídos. O gato preto de olhos cor de fogo, saltou com um miado de posse, e foi anichar-se-lhe no colo! A mão esquelética de dedos incrivelmente compridos acariciou o felino.
Ti'Ana começou:
— Vocês conhecem muito bem aquela casa abandonada da Rua do Açude. O que talvez desconheçam é que aquela moradia teve uma história… uma história terrível e inacreditável.
Fui moça e bela há muito. Pois já nesse tempo os vizinhos contavam que ouviam, por vezes, estranhas e indecifráveis vozes que pareciam originadas num complicado idioma estrangeiro. Isso acontecia, invariavelmente, a altas horas da noite, ia-se ver, não era ninguém… apenas o ranger da madeira velha, guinchos dos ratos que infestavam as ruínas…
Outrora aquela casa, fora entretanto, um berço de amor! Um casal de artistas austríacos, com um filhinho louro e belo, levados por uma predestinação cruel, sabemo-lo agora, mandaram construir o edifício e nele se instalaram felizes.
A senhora, esposa e mãe amantíssima, adoeceu, um dia, subitamente. Tuberculose.
Vários médicos foram consultados. Muitos lugares aconselhados foram percorridos na esperança de se recuperar a saúde perdida. Não melhorando e reconhecendo que as poucas economias desapareciam, pediu ela para voltar para casa. Apresentou então melhoras incríveis e, embora cansada, pediu para tocar piano. O marido tentou dissuadi-la, em vão. Sentou-se e iniciou a melódica execução da sua música predilecta — a Valsa da Meia-noite — mas, quando estava prestes a terminar, teve uma hemoptise, falecendo pouco depois.
O corpo foi a enterrar coberto de violetas, última homenagem do inconsolável esposo.
Precisamente um mês depois o artista acordou ao som da Valsa da Meia-noite. Correu para a sala e viu nitidamente o vulto da esposa tocando: um esqueleto cujos cones fétidos começavam a soltar-se. Um horrível cheiro de podridão e violetas pairava no ar.
— Venho buscar o meu filho, disse o espectro, e desapareceu.
Terríveis gritos vieram então do quarto do garoto, para o qual o artista correu apavorado. O menino, de braços erguidos, numa contracção muscular anormal e inexplicável, como se procurasse o corpo da mãe, estava morto.
No ar, mais uma vez, o odor de podridão e violetas.
Um mês depois, sentado ao lado do piano, como se apreciasse a execução da doce melodia, o homem foi encontrado morto.
Encurtando caminho, passei pela vivenda. Tomara-se-me a vontade um anseio de não acreditar ante o reflexo supersticioso de ser obrigado a reconhecer.
Nada vi até chegar à desconjuntada porta. Depois… a luz de uma vela desceu do primeiro andar ao rés-do-chão e das ruínas… Saiu o som da Valsa da Meia-Noite…
M. Constantino
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