8 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 99

EFEMÉRIDES – Dia 8 de Abril
Baynard Kendrick
(1894 – 1977)
Baynard Hardwick Kendrick nasce em Filadelfia, EUA. Advogado, a partir de 1931 escreve contos para revistas; em 1932 dedica-se em exclusivo à escrita e publica o primeiro romance Blood On Lake Louisa em 1934. O autor é conhecido pela série Duncan Maclain, um detective privado cego que conta com a família e dois cães pastores alemães para investigar crimes de homicídio; a série tem 14 livros editados entre 1937 e 1961 e é a base para o argumento de 2 filmes. Baynard Kendrick escreve também a série Miles Standish Rice, com 3 títulos e ainda mais 7 livros policiários do sub género Quem matou? . Sob o pseudónimo Richard Hayward publica 2 livros:Trapped (1952) e The Soft Arms of Death (1955). Baynard Kendrick é um dos fundadores do Mystery Writers of America e em 1967 é galardoado com The Grand Master Award, a maior distinção atribuída a um escritor policiário por esta organização.


Héléna André (1919 – 1972)
Nasce em Narbone, Aude, França. Autor maldito, esquecido pelos seus contemporâneos e durante muito tempo subestimado. No entanto é um dos escritores mais prolíficos com uma extensa produção na área do romance negro. Durante a sua carreira de 30 anos publica mais de 200 livros. Traduzido nos EUA e Alemanha é considerado nestes países como um dos criadores do romance Polar — o equivalente em língua francesa do policiário negro americano. Héléna André desmultiplica-se em pseudónimos: Andy Helen para a série Ennie Murolas; Buddy Wesson, Patricia Wellwood e Terry Crane para a série La Môme Murielle; Mauren Sullivan e Kathy Woodfield para as histórias de La Môme Patricia e Miss Cyclone; Robert Tachet para a série Le Gars Blankie; e Noël Vexin na série do advogado Valentin Roussel. Usa ainda os seguintes pseudónimos: Alex Cadourcy, Andy Ellen, C. Cailleaux, Clark Corrados, Herbert Smally, Jean Zerbibe, Joseph Benoist, Lemmy West, Peter Colombo, Sznolock Lazslo e Trehall. Com o seu nome publica um conjunto de romance negro sob o título genérico Les Compangnons du Destin e cria o seu personagem mais famoso L’Aristo (ver TEMA) com 16 livros publicados. Em Portugal estão editados alguns títulos com assinatura André Héléna (4 e 5) e todos os restantes sob o pseudónimo Noël Vexin.
1 - Os Amigos da Família (1960), Nº2 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Ces Messieurs De La Famille (1956)
2 – O Jogador (1961), Nº10 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Le Flambeur (1958)
3 - O Segredo de Ursula (1961), Nº12 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: (?)
4 - Proibição de Permanência (1961), Nº15 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Interdit de Séjour (1956)
5 – Em Fuga (1962), Nº24 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: (?)
6 - Os Vagabundos de Nossa Senhora de Paris (1962), Nº26 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Les Cloches de Notre-Dame (1956)
7 - O Mistério do Ouro Desaparecido (1962), Nº27 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Une Affaire En Or (1958)
8 - A Taberna do Cais (1962), Nº38 Colecção Mocho, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Le Bar de l'Ecluse (1957)





Ursula Curtiss (1923 – 1984)
Ursula Reilly Curtiss nasce em Yonkers, New York, EUA numa família de escritores policiários. A mãe Helen Reilly (1821-1962), o tio James Kieran e a irmã Mary McMullen dedicam-se à escrita deste género literário. A autora escreve 22 trillers, muitas vezes com elementos góticos e finais surpreendentes. Os seus contos estão reunidos em The House on Plymouth Street (1985). O romance policiário mais conhecido da escritora é The Forbidden Garden (1962), que também foi editado com o título Whatever Happened to Aunt Alice?




TEMA — CONTO DO VIGÁRIO — HOTEL AVIZ
De Fernando Saldanha
Seriam cerca das 21 horas quando um imponente Buick negro se deteve junto à estrada do Hotel Aviz. O porteiro apressou-se a abrir a porta de trás dando saída a um cavalheiro de 45 a 50 anos, alto e bem parecido, de aspecto distinto.
— Muito boa noite, senhor.
— Boa noite — disse o recém-chegado em tom de polida delicadeza. E depois acrescentou dirigindo-se ao motorista:
— António, venha buscar-me às 10!
Quando o magnífico automóvel se afastou, o cavalheiro estendeu uma nota de cinquenta escudos ao porteiro, que se curvou deferentemente:
— Muito obrigado, senhor…
— Proprietário V…
— Muito obrigado, senhor Proprietário V…!
O novo cliente atribuiu generosamente igual gratificação ao recepcionista, paquete, ascensorista e criado de quarto. E durante dois dias seguidos, pontualmente, sem uma excepção, Proprietário V… continuou a distribuir a mesma gratificação a todos os empregados que o serviam. Tanto bastou para o tornar popularíssimo entre o pessoal.
Na manhã do terceiro dia, Proprietário V… dirigiu-se pessoalmente à recepção.
— Estou à espera de três visitantes. Dois senhores que devem chegar esta manhã e outro que deve vir de tarde. Quando se apresentarem gostaria que os fizesse conduzir imediatamente aos meus aposentos.
— Sim, senhor Proprietário V… Não haverá demora alguma!
O hóspede rapou da habitual nota de cinquenta e depô-la nas mãos do funcionário.
— Ah! Já me esquecia! Deve vir também o meu médico particular. Se este ainda se encontrar nos meus aposentos quando o último visitante chegar, fará o favor de comunicar comigo pelo telefone a fim de lhe dizer quando deverá mandar subir.
— Sim, senhor.
— Mais um pedido.
— Faz favor, senhor Proprietário V… Faz favor!
— Se houver necessidade de me telefonar, faça favor de falar em inglês, pois que o último cavalheiro que espero é dessa nacionalidade e seria indelicado…
— Oh! Mas com certeza, senhor Proprietário V… Com toda a certeza! Pode ficar inteiramente descansado.
O primeiro visitante era um homem de estatura mediana, elegantemente vestido e de porte distinto.
— Desejava falar com o senhor Proprietário V… — disse ele.~
O recepcionista pediu para aguardar um momento, chamou um paquete e mandou acompanhar o visitante, sendo gratificado com uma nota de vinte escudos.
A segunda visita, homem dos seus quarenta anos, de aspecto respeitável, apresentou-se pouco depois.
— Faz favor: pretendia falar com o Proprietário.
— Como? Ah! Ao senhor Proprietário V…?
— Sim, sim…
— Certamente, senhor. É só um momento… — disse o recepcionista enquanto chamava de novo o paquete.
Desta vez a gratificação foi apenas de dez escudos.
Proprietário V… mandou servir almoço para três nos seus aposentos, dando ao criado a infalível gorjeta.
Cerca das 15 horas chegou um cavalheiro
A cena repetiu-se, mas desta vez não houve gorjeta.
O quarto visitante apresentou-se uma hora depois com uma pequena mala de viagem. Muito magro, alto e louro, com óculos de grossas lentes, o recém-vindo não deixava dúvidas quanto à sua nacionalidade.
— Boa tarde — disse em inglês correctíssimo. E acrescentou com aquela singela economia de vocabulário que caracteriza todo o bom súbdito de sua graciosa Majestade Isabel I:
— Desejo falar com Proprietário.
— Muito boa tarde, senhor — respondeu o recepcionista também em inglês — Um momento, faz obséquio. O senhor Proprietário V… está com o seu médico particular. Vou anunciá-lo imediatamente.
— Sim, sim…
Depois de ligar para os aposentos de Proprietário V…, o recepcionista mandou subir o ilustre visitante. As excelentes instalações do hotel e as atenções que o pessoal dispensou ao recém-chegado pareciam encantá-lo e ele entrou radiante nos aposentos de V…, cruzando-se com um homem de maleta na mão que vinha a sair.
— Que lamentável! — disse o visitante para o aprumado funcionário que o recebeu.
— Esta arreliadora doença! Esperava que a transacção pudesse realizar-se ainda hoje, pois necessito deslocar-me sem demora ao Líbano a fim de adquirir uma cadeia de hotéis… Que pena! Provavelmente perderei o avião...
— Não haverá certamente impedimento — disse o jovem funcionário polidamente. — O senhor V… espera que não se importe de ser recebido no quarto.
— Claro! De maneira alguma! — e irrompeu resolutamente pelo quarto onde se encontrava Proprietário V…, muito enfiado entre almofadas e cobertores, assistido por um criado de fardamento impecável.
— Boas tardes. Que contratempo! — ia dizendo o visitante em tom contrito. — Espero que não seja nada de cuidado.
— Muito prazer, senhor Butler — disse Proprietário V… em voz sumida e dolorosa, apertando a mão que o outro estendia. Esta maldita gripe! E logo no dia da sua chegada! As minhas desculpas.
— Não tem importância. O contrato está pronto?
— Só precisa ser assinado — respondeu V… Seguidamente, voltando-se de modo achacado para o jovem funcionário, ordenou: — Traga-me a pasta de couro que está no gabinete da administração.
— Excelente. Óptimo! — comentava o inglês enquanto consultava um volumoso maço de documentos que o funcionário retirara da pasta que fora buscar. — Como vamos nós arranjar para ir ao notário? O avião parte às 20 horas
— Imediatamente — disse V… — Queira ter a bondade de aguardar um momento na sala.
Cinco dias depois, quando Proprietário V… há muito abandonara o Hotel, o pessoal ficou surpreendido com o insólito procedimento de um tal senhor Butler, súbdito inglês recentemente chegado do Líbano, que declarara ruidosa e categoricamente ser o novo administrador do hotel e pretendia que este tinha sido por ele comprado -- e pago em genuínas libras— em nome da London National Company, Inc., directamente ao proprietário V…
Só nessa altura o pessoal deu conta da singular coincidência do cliente que distribuía notas de cinquenta escudos se chamar V… — como o verdadeiro proprietário do hotel. Mas o mais trágico era que o senhor Bulter, com tocante simplicidade e a maior compostura, afirmava ainda que V… lhe conseguira obter, a peso de boas e sonantes libras do Banco de Inglaterra, um contrato de aluguer do Arco da Rua Augusta para lá montar um grande anúncio luminoso do hotel.
— Que tremenda patifaria! — comentou indignado o Chefe Sequeira, da Polícia Judiciária, quando foi encarregado do caso.— Ora esta, esta! Instalar um cartaz publicitário no Arco da Rua Augusta!



TEMA — UM CRIMINOSO INCOMUM — L’ARISTO, O ÉMULO DE LUPIN
Aristo é um ladrão cavalheiro na linha de Arsène Lupin, mas um Arsène Lupin um pouco degradado, mais parecendo uma versão caricatural por causa do calão e da linguagem vulgar utilizada deliberadamente por André Héléna.
A Série Aristo foi publicada pela Editions de la Flamme d'Or de 1953 a 1955.
Mas deixemos ao próprio autor o trabalho de nos apresentar o seu personagem num texto da contra capa dos seus livros:
Aristo apresenta-vos os melhores cumprimentos e tem o prazer de anunciar que tomou a decisão de contar as suas façanhas mais marcantes ao velho amigo André Héléna, que as irá pôr preto no branco, com uma bela capa a cores da autoria de Jef de Wulf.
O leitor verá Aristo aumentar a sua colecção de pinturas de grandes mestres e de livros raros. Verá Aristo aplacar a miséria — de preferência com o dinheiro dos outros. Verá Aristo chegar mesmo a tempo para arrebanhar de passagem os bens mal adquiridos e dar-lhe um uso nobre e aristocrático, o que não o impede de ser um barra em golpes duros — dar e receber — dar e levar pela medida grande.
Mas também verá surgir sempre no momento crucial, para lhe dar uma mão, Suplice, um matulão de coração sensível.
Há apenas um ser humano no mundo, que nem a um nem a outro poderá levar a melhor, é a sedutora, a terna, a apaixonada e ferozmente ciumenta Martine, a amiga de Aristo
Cada volume da série tem uma das aventuras de Aristo, Suplice e Martine, mas é uma história completa.


A biografia de André Héléna assinala que o escritor aos 17 anos foi assistente de Diamant-Berger no filme Arsène Lupin Détective.

De Arsène Lupin a Aristo, uma boa persistência.


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