Reginald Hill (1936 – 2012)
Reginald Charles Hill nasce em West Hartlepool, Country Durham, Inglaterra. Escritor policiário criador dos detectives Andrew Dalziel, Peter Pascoe e Edgar Wield, publica o primeiro livro em 1970, A Clubbable Woman, que inicia a série Dalziel e Pascoe, um conjunto de 24 romances adaptados pela BBC à televisão. Escreve sob o seu nome, ou com os pseudónimos literários Dick Morland e Charles Underhilla a série Joesixsmith — com 5 títulos, 15 romances policiários e 3 livros de short stories. Entre 1971 e 1991, sob o pseudónimo Patrick Ruell, publica 6 thillers. Este autor é nomeado para o Edgar Award, Best Novel com Bones and Silence em 1991 e para o prestigiado Anthony Award Best Novel com On Beulah Height, em 1999; os dois livros pertencem à série Dalziel e Pascoe, que lhe dá também, em 1990, o Gold Dagger. Reginald Hill recebe ainda em 1995 o prémio mais ambicionado pelos escritores policiários, o Cartier Diamond Dagger Award, atribuído pela Crime Writers Association aos autores que ao longo da vida, contribuíram de forma notável para este género literário.
TEMA — SOCIEDADE — POLÍCIA DE FICÇÃO, BOM; POLÍCIA REAL, MAU…
O título supra, encerra um conceito vulgarizado, se bem que sem unanimidade ou nem sequer maioria. A verdade é que desde o aparecimento do primeiro investigador privado — polícia amador — criado por Edgar Poe em 1941 seguido mais tarde por outros autores criadores de vários tipos de polícias amadores e oficiais. Estes têm fascinado os leitores do mundo inteiro, milhões de pessoas de todas as classes e credos, deliciam-se, compartilhando as dificuldades, fracassos e êxitos dos personagens investigadores, procurando por conta própria ajudar ou tentar desvendar os mistérios, em plena cumplicidade, admirando a habilidade e inteligência ficcionada.
Em contrapartida, muito pouco se tem escrito sobre os polícias e investigadores da vida real. De ordinário — a surpresa das surpresas — os nomes dos grandes criminosos são a notícia e o livro para o grande público, enquanto os homens que os investigaram e detiveram, arriscando por vezes a própria vida e a dos seus familiares, quedam obscuros nas páginas da história. São notícia quando protestam, mesmo quando cumprem um dever.
O papel do polícia, desde a simples vigilância, à protecção da sociedade, ajuda humanitária, etc., revela-se um importante factor social. E não é fácil, nem digno de estima, por vezes estar ao lado da lei.
Por vezes, quando o polícia se sente desamparado reage negativamente “a quente”. É natural, como no caso que apresentamos em seguida.
Por volta do final dos anos oitenta, exercia funções em Santarém. Uma vez por semana, ou de quinze em quinze dias, ia almoçar a um restaurante chinês — uma amizade que havia estabelecido — existente por detrás do mercado municipal.
Junto ao portão principal um cego, com uma caixa de cartão, pedia esmola. Num rápido movimento, um jovem de cerca de 25/30 anos, acerca-se, limpa a caixa das moedas e põe-se em fuga em direcção ao tribunal. Tão rápido, surgiu um agente policial que numa corrida apanha o ladrão. Este debate-se para se soltar. Junta-se uma pequena multidão que ajuda o raptor, mesmo sem ter conhecimento do acontecido. A autoridade, rodeada, acaba por deixar escapar o detido, perante a zombaria do pequeno ajuntamento.
Meses mais tarde, passava de carro no mesmo local. Aí dois veículos haviam chocado: nada de grave, apenas chapa batida. Desviei-me e segui caminho mas, quase a chegar à rua do Jardim da República, vi um polícia olhar para o acidente, virar-se e escapulir do acontecido. Acelerei e ultrapassei-o disposto a interpelá-lo em relação à sua atitude, porém, para meu espanto, reconheci o polícia do outro dia e compreendi (mal!) a sua atitude de “gato escaldado”. Abanei a cabeça e comentei em voz alta: “Isso é feio, sr. Guarda!”. Continuei, mas não estava satisfeito pela sua atitude e até pela minha, pelo que logo que consegui voltei para trás, mas não vi o polícia. Prossegui, passei pelo local do “acidente” e lá estava ele de apito a ordenar o trânsito. Certo! Certo!
Não mais voltei a ver o polícia, com o tempo duvido que o reconhecesse, guardei para mim o que lhe queria dizer: “ Meu caro, uma andorinha, não faz a Primavera. Espero que compreenda, uma pequena multidão pode ser desagradável, mas nunca representa a Sociedade em si.
M. Constantino
TEMA — CASOS E ACASOS DO CRIME — CRIME MISTERIOSO
Uma manhã, a senhora Payne dirigiu-se à garagem da sua residência, pôs o automóvel a funcionar e partiu para o seu passeio matutino que realizava todos os dias. Madame Payne, pois este era o apelido de seu marido, um advogado muito conhecido em Amarillo, encontrava-se adoentada desde há dias e o seu médico aconselhou-a a dar todas as manhãs um passeio de automóvel até ao campo. Naquela manhã, o automóvel, depois de ter percorrido dois quilómetros, foi pelos ares, autenticamente feito em estilhas. A automobilista, como é de supor ficou horrorosamente esfacelada
A polícia, que logo foi chamada a intervir verificou, sem dificuldade, que tinha havido uma explosão de dinamite no automóvel. Pelo mistério que envolvia o acontecimento e pela categoria da vítima, hábeis agentes empregaram o melhor da sua argúcia para a descoberta do caso. Passaram-se semanas sem que alguma coisa de concreto fosse revelada. E, por isso, perante o fracasso das investigações, fora praticado um crime perfeito.
Diz o repórter A. Mac Donald, que desvendou o mistério
Adquiri todos os jornais que falavam do caso e fiz constar que novo detective tinha chegado para proceder a investigações. Nessa qualidade dirigi-me à vivenda do advogado Payne, porque entendi que devia falar com ele antes de proceder a qualquer trabalho. Recebeu-me amavelmente e relatou-me a tragédia num tom de frieza que me surpreendeu. A sua voz não tinha emoção. A certa altura, disse-me: “Fomos uns esposos modelos, nunca tivemos um incidente, como o podem testemunhar os nossos vizinhos”. E era verdade. Perguntei-lhe qual era a importância em que sua esposa estava segura e respondeu-me que não era coisa extraordinária.
O velho refrain da polícia francesa, “Cherchez la femme”, girava na minha imaginação. Por isso ouvi a empregada Verona Thompson que, perante a minha insistência, declarou para minha surpresa que o patrão preparara o assassínio da mulher.
O Sr. Payne na sede da polícia não se fez rogado.
— Como preparou a morte se sua esposa?
— Antes disso retorquiu o sr. Payne — pergunto: serão capazes de o adivinhar?
O seu sangue frio surpreendeu-me. Cada um dos presentes formulou uma hipotese e ele ria, ria ao verificar que ninguém acertava. E contou com toda a calma.
— Principiei por lhe aplicar, nos alimentos, uma porção de veneno, mas isso não deu resultado. Depois, tentei asfixiá-la com o gás e, durante seis horas, deixei o fluído livre no seu quarto. Também não deu resultado. Abandonei essa ideia e tentei outro processo. Um dia coloquei, com um dispositivo especial um revolver na porta do quarto, para que, ao abri-la, a arma se disparasse e a bala atingisse. Nem assim. Farto de tanta tentativa, comprei três petardos de dinamite, que uni a um detonador. Na noite antes da morte, coloquei-os debaixo do assento dianteiro do automóvel, com uma mecha embebida em álcool cuja combustão calculei duraria dez horas antes que a chama chegasse à dinamite. Na manhã seguinte minha mulher levantou-se e foi dar o seu passeio habitual. A minha suposição falhou um pouco. Supus que a explosão se desse a maior distância da minha casa. Porque resolveu matar sua mulher?
— Ainda o pergunta? Por causa da outra mulher.
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