14 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 105

EFEMÉRIDES – Dia 14 de AbrilJoan Kahn (1914 - 1994)
Nasce na cidade de Nova Iorque, EUA. Em 1946 é contratada como editora pela Harper Brothers para liderar a colecção Harper Novels of Suspense que acabara de ser lançada. Kahn edita centenas de autores e é responsável por dar a conhecer aos leitores americanos vários autores ingleses de literatura policiária, como por exemplo, Dick Francis, Dorothy L. Sayers, John Creasey, Julian Symons, Michael Gilbert, Nicholas Blake e Nicolas Freeling; ou ainda os americanos John Dickson Carr, Patricia Highsmith e Tony Hillerman. Depois de vários livros seleccionados por Kahn vencerem o Edgar Award a editora passou a incluir na capa das edições “A Joan Kahn Book”. Em 1985, recebe o Ellery Queen Award de Mystery Writers of America pelos serviços prestados à indústria policiária, e quando se reforma recebe Edgar Allan Poe Award especial, pela sua carreira notável na vertente editorial da literatura policiária. Joan Kahn escreve dois romances de suspense: To Meet Miss Long (1943) and Open House (1946) e edita ainda 11 antologias de mistério.


William R. Cox (1901 - 1988)
William Robert Cox nasce em Peapack, New Jersey, EUA. Começa por escrever para jornais e aos 21 anos torna-se editor de um jornal semanal italo-americano. Publica o primeiro conto em 1934, e continua a escrever contos para revistas durante 15 anos. No final dos anos 40 escreve argumentos para televisão e cinema e em 1954 começa a publicar romances: western, aventura, mistério e crime. De acordo com um artigo de Los Angeles Times, Cox escreve 80 romances, 1000 short stories e 100 argumentos para televisão e cinema sob o seu nome ou sob o seguinte pseudónimos: Joel Reeve, John Parkhill, Jonas Ward, Mike Frederic, Roger G. Spellman, Wayne Robbin e Willard d'Arcy. Em Portugal estão editados:
1 – Maior que o Texas (1968), Colecção Série W, Galeria Panorama. Título Original: Bigger Than Texas
2 – Sangue de Navajo (1974), Panorama. Título Original:
Navajo Blood

TEMA — PEQUENAS GRANDES JÓIAS DO CONTO — O GOLEM
Conto/Lenda de I. L. Peretz (1851-1915) Polónia
Tempos houve em que grandes homens eram capazes de grandes milagres. Quando o gueto de Praga foi atacado, e estavam a ponto de estuprar as mulheres, queimar as crianças e cortar em pedaços quem encontrassem pela frente; quando parecia que o fim tinha chegado, o grande Rabi Loeb colocou o seu Gemarsh de lado, foi para a rua, parou diante de um monte de lama na frente da casa do professor e moldou com ela uma imagem de barro. Soprou no nariz do golem — e pôs-se a massajá-lo; em seguida sussurrou o Nome aos seus ouvidos, e assim o nosso golem saiu do gueto. O rabino voltou à Casa de Oração e o golem atirou-se sobre os nossos inimigos, batendo como que a chicotadas. Homens caíam por todos os lados.
Praga estava coalhada de cadáveres. Isto durou, dizem, toda quarta e quinta-feira. Agora já estamos na sexta-feira, o relógio marca 12 horas, e o golem continua ocupado com o seu trabalho.
“Rabi”, gritou o líder do gueto, “O golem está transformando Praga numa grande carnificina! Não haverá um gentio vivo para acender as velas do Sabá ou para cuidar das lâmpadas do Sabá”.
O rabino deixou seus estudos de lado, foi até ao altar e começou a cantar o salmo “Uma canção do Sabá”.
O golem cessou a carnificina, retornou ao gueto, entrou na Casa de Oração e pôs-se diante do rabino. E novamente o rabino soprou nos seus ouvidos. Os olhos do golem fecharam-se e a alma que o habitara esvaiu-se e ele voltou a ser um golem de barro.
Deste dia em diante o golem permanece escondido no sótão da sinagoga, coberto por uma teia que vai de uma parede à outra. Nenhuma criatura viva pode olhar para ele, principalmente mulheres grávidas. Ninguém pode tocar na teia, pois quem quer que seja que a toque, morre. Nem mesmo os mais velhos se lembram sequer do golem, embora o sábio Zvi, neto do grande Rabi Loeb, tenha levantado o seguinte problema: pode tal golem ser considerada parte da congregação de fiéis, ou não?
O golem não foi esquecido. Ainda continua lá! Mas o Nome através do qual ele pode ser chamado à vida no dia em que for necessário, o Nome, este desapareceu. E a teia só faz crescer, e ninguém pode tocá-la.
O que podemos nós fazer?


TEMA — BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA POLICIÁRIA – 8
(continuação de
CALEIDOSCÓPIO 102)
William Shakespeare, inglês (1564-1616), deixou à posteridade alguns traços facilmente reconhecidos como da área das narrações policiárias. Primeiro, em Henrique IV (1599), depois em Hamlet (1600).
Em Henrique IV, acto III, 2ª cena, um dos personagens, Warwick, descreve com minúcia as diferenças entre as pessoas falecidas de morte natural e o aspecto do cadáver de Gloucester que está diante de si.

Vede como o sangue subiu ao seu rosto! Tenho visto muitas vezes seres humanos falecidos de morte natural: o seu corpo tem um aspecto acinzentado, lívido, incolor, que resulta do sangue se esvair do coração agonizante… Porém, olhai, o rosto está negro, inchado de sangue, as suas pupilas muito mais salientes do que quando vivia, tem um olhar fixo e sinistro de um homem estrangulado… cabelo eriçado, o nariz dilatado pelas convulsões… É impossível que não tenha sido assassinado; o mais pequeno desses sinais é disso prova.
Em Hamlet notam-se os alicerces da narrativa gótica, argúcia de personagem e, finalmente, puro e violento drama.
O protagonista, Hamlet, é um intelectual meditativo e analista, a quem o espectro do pai aparece e revela que foi envenenado por seu irmão Cláudio, de combinação com a esposa, a mãe de Hamlet. O criminoso arrebata-lhe ao mesmo tempo a coroa, a mulher e a vida. Pede vingança! O jovem Hamlet finge-se doido e, à força de simular, acaba por perturbar realmente o espírito. Entretanto chegou à corte uma companhia de actores ambulantes e Hamlet concebe o projecto de fazer representar, perante a corte, todas as circunstâncias do assassínio do pai, tal como o espectro a contou
Ouvi dizer que certos culpados, ao assistirem a uma peça, foram de tal modo tocados pela força das cenas, que daí a pouco tempo confessaram livremente as suas culpas. Pois que o crime embora não tenha língua, falará com uma voz milagrosa. Vou fazer com que estes actores representem qualquer coisa como o assassinato do meu pai por meu tio. Observá-lo-ei até ao fundo da sua alma. Por pouco que se perturbe, sei o que tenho de fazer!A peça denuncia, efectivamente, os assassinos, pela perturbação manifestada. Hamlet corre aos aposentos da mãe, dá por um movimento atrás de uma tapeçaria e com o grito de que está a matar um rato, atravessa Polónio com a espada.
É enviado pelo rei a Inglaterra acompanhado de dois esbirros com uma carta na qual pede a sua morte. Ardilosamente Hamlet troca a carta e são os outros que são mortos.
Volta ao reino para ter um duelo com Laertes, enquanto o rei prepara uma bebida para envenenar Hamlet. No calor da luta as espadas tocam-se, e os dois feridos pela mesma espada, que estava envenenada, caem mortos, não antes de Hamlet matar o padrasto e a rainha, mãe de Hamlet, beber a bebida que a este destinara.

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