12 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 103

EFEMÉRIDES – Dia 12 de Abril
Scott Turow
(1949)
Nasce em Chicaco EUA. Advogado, escritor e editor é autor de nove bestsellers, traduzidos mais de 25 línguas e com vendas estimadas em 25 milhões de exemplares em todo o mundo. Tem romances adaptados ao cinema e a duas mini-séries para televisão. Os seus livros recebem vários prémios literários incluindo o Time Magazine's Best Work of Fiction em 1999 for Personal Injuries, o Heartland Prize em 2003 para Reversible Errors, e o Robert F. Kennedy Book Award em 2004 para Ultimate Punishment. Ordinary Heroes é o único livro que não faz parte da série Kindle County, local imaginário criado pelo autor.
Em Portugal estão editados todos os livros do escritor com excepção de The Laws Of Our Fathers (1996).
1 - Presumível Inocente, em 1988, Nº28 Colecção Novos Continentes, Editorial Presença na; em 2002, Nº59 Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Presumed Innocent (1987)
2 – O Peso da Prova (1991), Nº48 Colecção Novos Continentes, Editorial Presença. Título Original: The Burden of Proof (1990)
3 – Danos Pessoais (2001), Nº42 Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Personal Injuries (1999)
4 – Erros Reversíveis (2003), Nº83 Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Reversible Errors (2002)
5 – Declarado Culpado (2004) Nº105 Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Pleading Guilty (1993)
6 – O Medo dos Bravos (2006) Nº131 Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Ordinary Heroes (2005)
7 – Juiz Por Um Fio (2008) Nº151 Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Limitations (2006)
8 – Inocente (2011), Nº Colecção Contemporânea, Publicações Europa-América. Título Original: Innocent (2010). Nota: este livro é a continuação do primeiro livro do autor.



TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA — TRANSMUTAÇÃO = INFERNO
Conto de Hélia
Tinha medo. Um medo horrível!
Nunca mais fora senhora da minha vontade e o facto corroera lentamente o meu sistema nervoso.
Bom, mas talvez seja melhor contar-lhes…

Há muitos dias, já lhes perdera o conto, estava eu num pequeno bar tomando uma bebida, quando a “coisa” aconteceu.
A frequência era composta de jovens mais ou menos barulhentos que iam acompanhando a música com o estalar dos dedos. Eu insensivelmente também o fazia. De facto o ritmo batido por um conjunto de negros era subjugante.
Comecei a sentir-me entorpecer. Mantinha os olhos abertos, os dedos marcando o compasso mas o cérebro ia ficando vazio. Era uma sensação estranha mas não de todo desagradável.
De súbito senti chamarem-me. Voltei instintivamente a cabeça. Novo apelo. Um arrepio percorreu-me o corpo. Era isso! Eu senti chamarem-me! SENTIA… não OUVIA ! Senti-me mal e pegando no copo emborquei o liquido que restava. Devia ter adormecido e sonhado. Não havia outra explicação.
Subitamente uma gargalhada estoirou-me na cabeça. Pulei apavorada porém naquele ambiente por muito estranho que pudesse ser o comportamento de uma pessoa, nunca ninguém reparava.
Uma voz soou dentro de mim:
— Olá, não tenhas medo. Não precisas falar pois capto com facilidade todos os teus pensamentos.
— MAS QUEM ÉS TU?
— Muito e nada.
— ISSO NÃO É RESPOSTA.
— Vocês, os da Terra estão demasiado atrasados para compreenderem.
— MAS TU NÃO ÉS DA TERRA? SERÁ QUE…
— Não, não sou um marciano! Podes estar descansada.
E nova gargalhada ecoou no meu cérebro aturdido.
— Bem, vou tentar explicar-te. Procedo de um distante planeta situado na 10ª galáxia. Fui o primeiro do meu CLAN a tentar a TRANSMUTAÇÃO. Sai-me bem e eis-me instalado em ti.
— E POR QUANTO TEMPO?
— Ah! Ah! Isso é que tem graça! A TRANSMUTAÇÃO foi obtida unilateralmente, isto é, em linguagem corrente, uma viagem apenas com bilhete de ida.
Outra pergunta formulada por mim:
— DE QUE MATÉRIA SÃO FEITOS?
— Somos apenas espírito defendido por matéria impalpável e invisível mas cuja existência pode ser provada a vocês monstrozinhos materialistas.
— IDIOTA! E TU O QUE ÉS? UM FANTASMA RIDÍCULO E ESTÚPIDO!
A vibração cerebral chicoteou furiosa:
— Não voltes a insultar-me senão…
— SENÃO O QUÊ? ESTARÁS CONVENCIDO QUE ME VAIS DOMINAR?
— Pobre pateta! Queres ver como já não és dona da tua vontade? Queres?
E repentinamente vi-me a mim própria afastando os copos, a minha mão direita enroscar-se no gargalo da garrafa e num golpe saco parti-la contra os bordos da mesa. Depois… depois passei um a um os dedos pelas arestas aguçadas, picando-os até sangrarem. Doíam-me horrivelmente mas não consegui parar. Só Quando ELE ORDENOU é que suspendi com tão macabra tarefa.
As lágrimas corriam-me pelo rosto. Senti-me mal e atabalhoadamente envolvi os dedos num lenço e saí cambaleando.
Isto foi apenas o início do meu longo tormento. Aquela mente que se instalara junto à minha, dominando-a a seu belo prazer, punha-me louca.
Um dia decidi compilar numa agenda, as escassas descobertas acerca do meu incómodo “hóspede”. Durante duas horas diárias, o meu trabalho cerebral ficava livre de qualquer interferência e depreendi que se tratava de uma espécie de repouso. Era nesses períodos que eu podia pensar e agir livremente. Comecei então um treino diário e Intenso para a criação de uma barreira mental. Eu sabia que seria o único meio talvez, de me libertar de tão estranha escravidão.
E ao fim de alguns meses, senti-me apta a opor-me à terrível vontade. Deitei-me sobre a cama esperando que o seu período de letargo terminasse. Relaxei os músculos, fechei os olhos, e concentrei-me no vazio absoluto.
Senti de repente ELE chamar-me. Dominei totalmente qualquer reflexo cerebral. Continuei em relax absoluto reduzindo ao mínimo as funções vitais. ELE chamava cada vez mais longe. A barreira mental fortalece e expande-se vitoriosamente. Um prolongado suspiro ecoou-me no cérebro. Depois, mais nada.
O tiquetaque do relógio soou tranquilo. Esperei mais uns segundos e levantei-me. Respirei fundo. Estava livre! LIVRE!!!
E à noite, seguindo não sei que impulso, fui ao pequeno bar frequentado por jovens e desgrenhados artistas. E ao insensivelmente marcar o ritmo com os dedos, lembrei-me das minúsculas cicatrizes que os adornavam.
Sim, ELE era material impalpável mas provara-me a sua existência.
Eu é que não saberia nunca prová-la ao mundo !!!





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