5 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 96

EFEMÉRIDES – Dia 5 de Abril
Lee Thayer (1874 - 1973)
Emma Redington Lee Thayer nasce em Troy, Pensilvânia EUA. Artista, pintora, ilustradora e escritora. Publica 60 (sessenta!) romances policiários: o primeiro The Mystery of the Thirteen Floor, em 1919, e escreve o último aos 92 anos de idade Dusty Death (1966). Com a excepção de um único livro, são todos protagonizados por Peter Clancy, um detective ruivo nova-iorquino. O estilo da autora tem sido comparado com o de Anna Katharine Green e S.Van Dine.



Robert Bloch (1917 – 1994)
Robert Albert Bloch nasce em Chicago, Illinois, EUA. Começa por publicar contos na revista Weird Tales. Durante uma carreira de 60 anos escreve 22 romances e mais de 200 contos sobretudo de fantasia, horror e ficção científica, mas também policiários de crime e mistério. Trabalha como argumentista em Hollywood para televisão e cinema. É um dos autores mais produtivos e mais premiados de literatura fantástica do séc. XX. Considerado um sucessor de Edgar Allan Poe e Lovecraft, tem no entanto uma escrita com características muito próprias. A sua obra mais conhecida é sem sombra de dúvida Psycho (1959), base do famoso filme de Alfred Hitchcock. Robert Bloch é presidente da Mystery Writers of America em 1970. Em Portugal estão editados:
1 – Psico (1961), Nº3 Colecção Grandes Êxitos do Cinema Mundial, Agência Portuguesa de Revistas. Título Original: Psycho (1959)
2 – O Vale da Corrupção (1969), Nº2 Colecção O Livro Oportuno, Palirex. Título Original: The Star Stalker (1968)
3 – A Sombra do Campanário (1975), Nº68 Colecção Série Antecipação, Editora Panorama. Título Original: The Shadow From the Steeple (1950)
4 – Dragões e Pesadelos (1979) Portugal Press. Título Original: Dragons and Nightmares (1968)
5 – No Limiar da Realidade (1984) Nº5 Colecção Livros de Bolso, Série Pêndulo, Publicações Europa-América. Título Original: Twilight Zone (1983)



Arthur Hailey (1920 – 2004)
Nasce em Luton, Bedfordshire, Inglaterra. Vive no Canadá, Estados Unidos e fixa-se definitivamente nas Bahamas no final da década de 70. Inicia a carreira de escritor em 1958 com Flight Into Danger. Escreve um total de 11 romances que estão traduzidos em 40 idiomas, com 160 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo e quase todos adaptados ao cinema ou séries de televisão. Alguns dos seus livros estão editados em Portugal:
1 – Voando Para o Perigo(1960), Nº1 Colecção 3C, Ulisseia. Título Original: Flight Into Danger (1958), também editado com o título Runway Zero Eight
2 – Aeroporto (1969), Colecção De Hoje, Livraria Civilização. Título Original: Airport (1968)
3 - Mundo Automóvel (1972), Colecção De Hoje, Livraria Civilização. Título Original: Wheels (1971)
4 - Hospital (1974), Círculo de Leitores. Título Original: The Final Diagnosis (1959)
5 - Os Traficantes de Dinheiro (1979), Circulo de Leitores. Título Original: The Moneychangers (1975)
6 – Catástrofe (1980), Nº172 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: Overload (1978)
7 – Remédio Amargo (1985), Circulo de Leitores. Título Original: Strong Medicine (1984)



TEMA — CIÊNCIA FORENSE — UM CASO NO EGIPTO
Depoimento de Sir Sidney Smith professor da Universidade de Edimburgo.

Pode acontecer que, quando o perito médico-legal e chamado não haja qualquer prova circunstancial. Achei-me perante um caso típico, no Egipto, em mil novecentos e vinte e tal, quando se encontrou o corpo de um oficial britânico, nas margens do Nilo, com uma bala na cabeça. Era um homem novo, solteiro e saudável; não conhecia inimigos e não tinha complicações com o outro sexo; não tinha também dificuldades financeiras e ocupava um bom lugar no Governo Egípcio. Aparentemente, saíra de casa depois do jantar, percorrera de bicicleta cerca de uma milha, fora da cidade, dirigira-se a pé até à margem do Nilo, sentara-se e, ou fizera saltar os miolos, ou alguém lhos fizera saltar. Não havia qualquer carta a anunciar o suicídio, nem qualquer motivo plausível para homicídio, mas, naquele tempo, no Egipto, o assassínio político era corrente, e mais da que um súbdito britânico fora encontrado morto em circunstâncias estranhas. Este caso levantou considerável celeuma nos círculos governamentais e, se se tratasse de assassínio, a sua repercussão devia ser séria. Na falta de qualquer outra prova, tudo dependia do exame médico-legal.
A bala entrara pelo lado direito da testa e saíra pelo lado esquerdo da nuca. Uma mancha negra e queimada à volta do ferimento mostrava que a bala fora disparada de perto. Não havia qualquer sinal de luta, quer no corpo do homem, quer no lugar em que fora encontrado. Tudo isto indicava fortemente o suicídio, mas a falta de outra prova tornava desejável uma corroboração. Depois de um exame cuidadoso a todo o corpo, dois pormenores ressaltaram: havia uma pequena equimose num dos dedos da mão direita e o colete e a camisa estavam desabotoados. Deduzi que a equimose fora feita ao entalar a pele do dedo, quando puxara o percutor da pistola e parecia lógico deduzir que desabotoara o colete e a camisa com a primeira intenção de alvejar o coração. Só por si, estas hipóteses eram fracas, mas importantes, como prova corroborativa. O veredicto foi suicídio.
O perito médico-legal pode ser chamado a fornecer provas quer à acusação quer à defesa. Se os seus serviços não estão agregados pela polícia pode utilizá-los para ajudar uma pessoa acusada do crime. E ainda que ajude a polícia nunca deve deixar-se influenciar por qualquer teoria desta. O que ele descobrir pode muito bem destruir o que a autoridade considerara um caso evidente contra uma pessoa particular. Pode também dirigir a atenção da polícia para uma nova linha de investigação.
O campo de acção da medicina legal não tem sido constante. Houve tempo em que incluía a saúde pública, mas está 'tornou-se há muito, uma especialidade separada. Similarmente, a psiquiatria tem absorvido grande parte do trabalho que costumava incluir-se no campo de acção do médico-forense. Depois, até dentro do seu próprio campo, verificou-se grande quantidade de especializações. O patologista, o serologista e o toxicologista legais são quase especialistas por direito próprio e, idealmente deveriam trabalhar em conjunto, como que formando uma equipa.
Nem toda a ciência forense é médica e muitas vezes torna-se necessária a cooperação do botânico, do zoólogo, do entomologista, do geólogo e de outros especialistas. As fronteiras entre as várias disciplinas científicas nem sempre estão nitidamente marcadas e, em certas circunstâncias, criaram-se algumas anomalias. Nada há de médico na identificação de armas de fogo através de um exame das balas e das cápsulas dos cartuchos; mas não existe qualquer especialidade separada de balística legal e este trabalho, no meu tempo, recaía sobre o perito médico-legal, por este estar acostumado a lidar com balas em relação a ferimentos e por não haver mais ninguém que o fizesse.


TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA — PAZ NA TERRA
De Hélia

Quando estava a morrer, pediu--me: “Vai ao cemitério, antes de eu ser enterrada, e põe na minha cova este saquinho. Dissimula-o bem. Quero ficar com ele bem perto… no Além”.
Ela foi sepultada sem grande acompanhamento.
Em vida fora demasiado perigosa para ter amigos. Por isso fora sozinha para a Morte.
Havia qualquer coisa de estranho naquela morte. Não sei dizer o que seria. Fora uma morte rápida mas não identificada.
Médico algum conseguira diagnosticar a natureza da doença. Inexplicavelmente, todo o seu organismo envelhecera e definhara, em vinte e quatro horas. Só.
Fui para casa depois do funeral. Sentia-me aterrorizado ao pensar numa longa e primeira noite sozinho. Sem a minha esposa.
Duramente olhei a cama vazia. Na sua almofada havia uma depressão. Um frio tocou-me, envolveu-me.
A porta atrás de mim fechou-se com suavidade macabra.
Uma dor aguda de terror rasgou-me o peito.
Alguém estava junto de mim. Voltei-me lentamente, fazendo um esforço brutal para não gritar.
O perfume dela asfixiou-me num pesadelo. Pendurado na porta o seu robe oscilava levemente… quase trocista.
Sacudi a cabeça. Não havia mais ninguém no quarto.
Sentei-me, completamente arrasado. As mãos tremiam-me violentamente. De súbito o telefone tocou. Foi como uma descarga eléctrica. Saltei, espavorido, e olhei maquinal para o relógio. Tinham passado três horas desde o funeral de Mirzah. Três horas passadas não sei como, a deambular com medo da solidão da nossa casa.
Abri a porta, entrei na sala e atendi o telefone.
— Sim?
— Querido… estou Livre… adeus.
O estrondo do auscultador a bater na mesinha fez-me saltar. Largara o aparelho como se fora fogo. Porque… a voz era dela!
Naquela noite apanhei uma bebedeira e dormi no sofá. Aquele quarto, o meu quarto, metia-me medo.
No dia seguinte encontrei um bilhete preso na almofada.
— Há algo que por enquanto não poderás entender visto seres terrestre. Talvez te consiga passar para o nosso lado. MIRZAH.
Era a letra dela.
Fui consultar um psiquiatra. Não lhe mostrei o bilhete, pois nada provava. Diagnóstico: desequilíbrio nervoso, saudade, enfim…
Algo se moveu quando entrei em casa. Entrei no quarto para mudar de roupa.
Finalmente ela estava ali.
Bela, como fora antes da estranha doença.
Senti-me entorpecido. Estava louco por certo, mas só de vê-la não me importava. Ela sorriu-me:
— Olá, querido.
— Olá!
— Não tens medo?
— Um pouco. Porém ao ver-te sosseguei. Sei que me queres bem… embora não saiba o que se está a passar.
— Vais sofrer qualquer coisa que é demasiado complexo para te explicar. Mas consegui autorização para que passes para o nosso lado.
— Mas…
— Eu sei que, te parece tudo irreal. Não sou um fantasma. Sou o que vocês chamam… de outro planeta. Fui espia na Terra e trabalhei sob essa capa pois era uma verdadeira espia inter-espacial. O vosso planeta foi considerado como não perigoso para nós. Quando te pedi para enterrares aquele saquinho, confiei-te a minha vida. Se não o tens feito teria morrido enterrada viva. O saco continha um transferidor de matéria, que actuou sobre mim e me transportou para aqui. Irás fazer uma longa viagem no tempo… e no espaço…
Eu olhava-a, fascinado. As suas palavras entravam-me no cérebro sem que qualquer som saísse da sua boca.
— Deita-te, amor.
Injectou-me algo e senti-me adormecer. Ainda vi Mirzah deitando o nosso gato junto a mim.
Depois…
O Dr. Fritz franziu fortemente o sobrolho. Era o segundo caso de envelhecimento súbito. Primeiro fora aquela mulher, Mirzah, e agora… Santo Deus! Mas aquele era o viúvo de Mirzah!
Poucos minutos tinha de vida. Algo de muito estranho se passava, pois haviam-lhe telefonado dizendo haver um moribundo naquela morada. Ele fora. Um homem envelhecido precocemente jazia num leito, agonizando. E uma carta junto a ele rezava:
“Quero ser enterrado no cemitério de…, com o meu gato e este saquinho. É este o meu último desejo.
Paz na Terra aos Homens de boa vontade”.

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