27 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 118

EFEMÉRIDES – Dia 27 de Abril
Nicholas Blake (1904 – 1972)
Cecil Day Lewis nasce Ballintubbert, Queen’s County, Irlanda. É um escritor célebre com várias colecções de poesia, ensaios críticos e trabalhos de tradução que assina como C. Day-Lewis. Em 1835, sob o pseudónimo Nicholas Blake, inicia-se na literatura policiária com A Question of Proof, com o detective amador Nigel Strangeways, que é a figura principal de 16 livros do autor. Além desta série, Nicholas Blake escreve mais 4 romances policiários. O livro The Beast Must Die está incluído na lista dos 100 melhores romances policiários de sempre da Crime Writer’s Association. Em Portugal estão editados:
1 – O Homem da Neve (1956), Nº59 Colecção Xis, Minerva, Título Original: The Abominable Snowman (1941)
2 – A Fera Tem de Morrer (1960), Nº162 Colecção Vampiro, Livros do Brasil, Título Original: The Beast Must Die (1938). Reeditado em2005, Nº4 Colecção 9 mm, Público.
3 – Mundo de Paixões (1963), Nº198 Colecção Vampiro, Livros do Brasil, Título Original: End Of Chapter (1957)
4 – O Medalhão Perdido (1973), Nº311 Colecção Vampiro, Livros do Brasil, Título Original: The Smiler With The Knife (1939)

James Holding (1907 – 1997)
James Clark Carlisle nasce em Ben Avon, Pittsburgh, Pennsylvania, EUA. Escreve poesia, livros para jovens e contos policiários. Publica uma dúzia de livros e cerca de 160 contos sob Clark Carlisle, o seu nome verdadeiro, ou sob os pseudónimos James Holding, Ellery Queen Jr, Freeric Dannay e Manfred B. Lee. Destaque para o conto Miranda’s Lucky Punch publicado em Julho de 1964 no Alfred Hitchcock’s Magazine, que é um das primeiras histórias de crime informático.

Didier Daeninckx (1949)
Nasce em Saint-Denis, França. Escritor e argumentista é um dos autores do romance polar, policial negro francês. Publica o primeiro livro em 1982: Mort Au Premier Tour; e com o segundo, Meurtres Pour Mémoire (1984), recebe o Grand Prix de Littérature Policière; em 1988 recebe o Prix Polar Jeunes com Le Chat de Tigali. Actualmente com uma extensa obra publicada é um autor traduzido em várias línguas. Em Portugal estão editados:
1 – Crimes Para Arquivar (1986), Nº24 Caminho de Bolso – Policial, Editorial Caminho. Título Original: Meurtres Pour Mémoire (1984),
2 – O Carrasco e o Seu Duplo (1988), Nº64 Caminho de Bolso – Policial, Editorial Caminho. Título Original: Le Bourreau et Son Duble (1986). Nota: adaptado à rádio.
3 – Factor Fatal (1992), Nº148 Caminho de Bolso – Policial, Editorial Caminho. Título Original: Le Facteur Fatal (1990). Distinguido com o Prix Populiste 1990


TEMA — SHORT STORY — A BELA ASSASSINA
RESPIGADO DA COMUNICAÇAO SOCIAL:
… silhueta esbelta, perfume a sugerir frescura… e, sob o aroma agradável… agiganta-se a ameaça de uma assassina…
Ainda me custa a crer que em tão bela silhueta haja a verdade de tais notícias! Mas, muitas vezes, onde não parece, está o mal! E o que é certo é que quem já a enfrentou, pelo menos à primeira vista, jamais teve sequer um pequenino pressentimento de quanto a sua existência é uma ameaça fatal! Pelo contrário, não deixou de ficar certo duma agradável presença a que no falta o tal aroma a dar bem-estar e confiança e a fazer sentir um acolhedor ambiente.
Sabe-se que é descendente de emigrantes oriundos da Austrália, que há muitas gerações se fixaram por cá. Todos lhe queriam bem e, durante muito tempo, não se lhe atribuiu maldade ou perigo, até que, com o resfolegar de uma infinidade de crises sociais que tudo e todos envolve foi-nos transmitida a pouco e pouco a percepção de que, na verdade, algum mal lhe poderia estar inerente. E assim, como que quase todos adivinharam na sua silhueta esbelta, enganadoramente agradável, o quanto nela se escondia duma sobrecarga de malefício e agressão. E muitos eram levados a tomar como certo estarmos perante um potencial inimigo. Ora isso preocupava-me de sobremaneira. Não era desconhecida, gostava dela, e nunca me parecera diferente das outras. Mas perante opiniões fortes, preocupava-me e, como que me sentia obrigado a tentar enganar a verdade… É que eu nem sei bem, quantos comportamentos há dificuldade em entender e aceitar, porque nos esquecemos que, se muitas vezes se revelam é por existirem distorções de ordem genética de que ninguém tem culpa, por imperarem hábitos adquiridos em ambientes sórdidos onde nunca houve a réstia de um pequeno raio de felicidade, por hábitos e modas decorrentes, filhas de épocas atribula das por crises, por angústias e desesperos doentios! E aceitando, muito custava a entender e temia o mal que se poderia esconder sob tal silhueta elegante, agradável! Por isso quis entrar no jogo e investigar… saber…
Não era noite de negrumes, nem de intempéries em turbilhão. Era uma simples noite de firmamento cintilante, luarenta, bonita, daquelas que convidam mesmo a sair. Mostrava-me descontraído, sem preocupação principal de passar despercebido, mostrando-me natural, cuidadoso e sem alardes.
E lá fui dar uma espreitadela, espiando-a e tentando entender, de uma vez por todas, o porquê dessa ameaça assassina. Fui, e como resultado, continuei a não entender o exagero de algumas notícias e resolvi não deixar de gostar dela, esbelta, de perfume a sugerir frescura…

RESPIGADO DA COMUNICAÇAO SOCIAL:
Silhueta esbelta a sugerir frescura, o eucalipto invade serras e planos de Portugal. E sob o aroma agradável dessa árvore, agiganta-se a ameaça de uma assassina ambiental…


TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA — O MOMENTO DO DESTINO
De Susana Raposo
Num duvidável gesto de indolência, os orvalhados verdes olhos da distante adolescente fitavam, alternadamente, o convulsivo céu e o fndo da piscina vazio na sua solidão.
Nos artísticos azulejos que formatavam a piscina estavam impregna de os seus mais preciosos pensamentos, os quais denotavam uma aparente eternidade irrevelável.
A chama, sensivelmente fria, que escoava da cratera disforme adaptava-se perfeitamente à sua problemática existencial, da mesma forma como um longo rio que corre desvairado sem sequer se aperceber da sua inexplicável fuga.
Os dois humanos, esculpidos de deuses, acariciavam o imensurável fogo, este fulminante das suas insípidas vidas — ela de fino ouro trajada, ele acocorado.
Num outro tipo de azulejo, na perlada jarrinha, sentiam-se em cada maravilha de flor as suas tão desencontradas reflexões.
As infelizes nuvens iam e vinham condensadas de amargura.
Escassas gotinhas de chuva cintilavam através dos sedosos cabelos de Bianca, deslizando suavemente como se lhe murmurassem alguma resposta.
Permanecia inexorável na sua visão inumana daquele mundo vagaroso e indeciso, desatenta ao tempo que a ultrapassava discretamente.
— Bianca, vem para dentro. Não vês que está a chover?
Assim a doce voz de uma terna mãe se evacuou por entre as circulares copas das árvores que povoavam o jardim da mansão.
As irrequietas mãos do pai de Bianca contornavam docilmente, os ebúrneos ombros de sua mãe, partilhando a intrigante abstracção da jovem.
O tempo corrompeu a sua rotina.
O mórbido momento culminou o confronto daquele grupo de estranhos Bianca, seus pais, e dois outros seres oriundos de qualquer parte!
Os olhares entrançaram-se num inevitável cruzamento.
O silêncio arrasador abarcava o invólucro misterioso.
— Não, Bianca… não nos abandones… Não!
De olhos em lágrimas banhados estas foram as últimas palavras dirigidas à jovem Bianca pelos seus pais adoptivos.
Naquele desesperante instante pertencente a um passado recente tornou-se evidente a indiferença daquele belo dia de Primavera, no orfanato, onde a subtileza de Bianca sobressaiu de entre todas as outras crianças — o seu temível emaranhar através das pacíficas plantas, a sua constante distracção e o descontentamento perante cada brinquedo, a imparcialidade ante os seres que a rodeavam…
Decerto que algures no Universo, Bianca encontrará finalmente a realidade dos seus sonhos reflectidos nos azulejos da piscina, na natureza obscura e triste…

2 comentários:

  1. Estamos perante a prova cabal que existem crimes "perfeitos". Uma enorme surpresa na blogosfera. Eu leitor policiário me confesso, «Sou vosso cúmplice.» Parabéns.

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    1. Em meu nome e em nome de M. Constantino, muito obrigado.
      Detective Jeremias

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