Forest Fickling (1925 – 1998)
Forest E. “Skip” Flicking nasce em Long Beach, Califórnia, EUA. Forest Fickling e a mulher Gloria adoptam o pseudónimo G.G. Fickling e criam uma das primeiras mulheres detective particular da ficção policiária popular. Honey West, sedutora e terrível, é a protagonista de 11 romances policiários, mais tarde adaptados ao cinema e televisão. Em Portugal estão publicados:
1 - Honey na Teia Negra (1964), Nº2 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original (?)
2 - Honey em Carne Viva (1965), Nº15 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: Honey In The Flesh (1959)
TEMA — CRIME E HISTÓRIA — MATTOS LOBO, O ÚLTIMO ENFORCADO
Em 14 de Abril de 1842, Francisco de Mattos Lobo, o último condenado à morte em Portugal, pagou com a vida o assassínio de sua tia Adelaide Pereira da Costa, dos filhos desta e seus primos Emídio e Júlia, bem como da criada Narcisa de Jesus, perpetuados na noite de 25/26 de Junho do ano anterior. Francisco não tinha cadastro, nunca cobiçara bens alheios e era tido como pessoa bem educada em saudável ambiente familiar, com bons valores financeiros, não havendo quem quer que fosse suspeitar que pudesse cometer tais actos de violência. Na noite em questão visitara a tia, a quem pediu autorização para dormir ali durante alguns dias pois estava só devido ao falecimento da sua criada. Segundo parece apaixonara-se pela prima Júlia e ia questionar a tia pelo seu consentimento no namoro e casamento. Daí que pedisse à tia para o acompanhar à sala para terem uma pequena conversa mas, pouco depois ouviram-se gritos desesperados de Adelaide aos quais acudiu a criada e depois o primo Emídio. A última a chegar foi Júlia e o primo aguardava-a com três cadáveres, as duas mulheres esfaqueadas e o rapaz estrangulado com roupa de cama. Júlia ainda tentou fugir, mas foi atingida com uma facada no pescoço e outras no ventre. Nem uma pequena cadela escapou à acção do criminoso que, face aos seus latidos, foi atirada pela janela.
Alertada a guarda municipal que entrou na habitação para encontrar a babara carnificina. Miraculosamente Júlia ainda vivia e indicou o nome do criminoso, contudo não resistiu aos ferimentos, apesar de prontamente assistida.
Mattos Lobo procurado, começou por negar. Porém confrontado com a denúncia de Júlia acabou por confessar ser o autor da tragédia. Foi julgado e condenado ao enforcamento.
No dia referido, 14 de Abril de 1842, da execução da sentença, redigiu uma carta a pedir perdão aos pais, confirmando que fora a paixão pela prima Júlia que o perdera.
Cumprido o trajecto, ordenado pelo juiz, de rodear por todas as frentes a casa da tragédia, foi levado em cortejo até ao cais do Tejo, local habitual das execuções em Lisboa. Aí o padre que o assistia, depois de algumas palavras de conforto, teve uma apoplexia e morreu junto ao cadafalso onde minutos depois o assassino ficou dependurado no laço da corda da justiça.
Foi a última pena de morte em Portugal; não voltou a ser aplicada.
M. Constantino
TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA — DETECTIVES DO OCULTO (2)
Ele próprio um estudioso do ocultismo, Sir Arthur Conan Doyle (1859 -1930), criador da figura do grande detective de Baker Street, é igualmente o pai do Professor George Edward Challenger, cientista e investigador de muitos mundos, incluindo os perdidos e o dos ectoplasmas.
Uma enorme barba negra eriçada, olhos cinzentos, grandes mãos de gorila, num corpo musculado, considera-se a si próprio “modestamente”, como o “maior homem de ciência entre os vivos” e o “último homem no mundo a quem se pode enganar”. Conhece a magia oriental como o ocultismo ocidental e os seus procedimentos fazem dele um incrível decifrador de fenómenos igualmente incríveis, secundado por um “Watson” — não podia faltar! — que dá pelo nome de Edward Malone, jornalista e seu cronista. Obra de referencial The Prof. Challenger Stories — recolha póstuma de 1952.
Do outro lado desta personalidade e prática existia o homem com especial atracção, pelos casos inusuais de natureza intangível, esquiva e complicada que se poderia denominar, com propriedade, de natureza psíquica — daí toda a gente o conhecer por Doutor Psíquico.
Nunca necessitava de recorrer aos elementares mistérios da adivinhação. Não era clarividente, bem entendido — o verdadeiro poder é raro — mas possuía uma forte capacidade de previsão, resultado de um treino mental e espiritual. A chave do seu método seguro e extraordinário assentava no conhecimento. As coisas sem importância, nas suas mãos, tornavam-se significativas. Aprende a pensar — dizia — e terás aprendido a utilizar — poder, desde as suas fontes.
Com cerca de quarenta anos, delgado, alto, olhos brilhantes e expressivos, brilhantes de saber e auto-confiança, rosto onde se reflectia o selo da paz, este é o homem que para a solução e explicação do invisível aplica os mais modernos métodos e técnicas pseudo-científicas.
Da imaginação fantástica e enigmática de William Hope Hodgson (1877-1918), nasceu um dos mais notáveis detectives do oculto: Carnacki, cujos casos foram reunidos no volume Carnacki, The Ghost Finder.
Na sua morada Çheyne Walk, Chesea, bem instalado, com o cachimbo entre os dentes, gostava de contar os seus casos aos amigos, Arkright, Jessop, Taylor e Hodgson, (o autor).
Na sua especialidade, segundo a própria classificação, eram os casos que tinham relação directa com o sobrenatural, que lhe interessavam. Muitos fenómenos desta natureza foram por ele resolvidos: a história da habitação cinzenta em que três, pessoas haviam sido estranguladas há cento e cinquenta anos e onde eram constantes durante a noite as batidas violentas numa porta por um punho invisível; a porta, que mesmo fechada à chave, era atravessada tranquilamente por fantasma; ou a extraordinária experiência de, em épocas díspares, cinco moças casadoiras terem sido eliminadas da grupo dos vivos, sempre com fartes dúvidas quanto à causa — apesar de aparentemente naturais, antecedendo estes factos um forte relincho de um cavalo invisível e o ruído de um coche fantasma.
Carnacki é de facto um exemplo puro do detective do género, profundo conhecedor da prática e teoria científica da magia, e ao mesmo tempo um homem satisfeito e que se deleita com as suas aventuras.
(Continua)
M. Constantino
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