17 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 108

EFEMÉRIDES – Dia 17 de AbrilJulius Fast (1919 – 2008)
Nasce em Manhattan, New York, EUA. É um autor muito versátil, com livros publicados sobre vários temas. No campo da literatura de ficção e policiária edita em 1944 Out Of This World, uma colectânea de contos de ficção científica e o primeiro romance que escreve, Watchful At Night (1945), recebe em 1946 o primeiro Edgar Award Best Novel atribuído a um autor pelo Mystery Writers of America. O 3º livro, Walk In Shadow (1947) também editado com o título Down Through The Night é também muito elogiado pelos críticos. Julius Fast escreve ainda os seguintes livros policiários: The Bright Face Of Danger (1946), A Model For Murder (1956) And Then Murder (1959) — também editado com o título Street of Fear e The League Of Grey-Eyed Women (1969).

 



TEMA — CONTO — SÓ OS CRIADORES SOUBERAM
De Joaquim Paulo
De tal infortúnio e sofrimento ninguém soube! Não foram conseguidas testemunhas, nem ninguém ficou para contar, senão eu e Deus! Eu, porque fui o criador, e Deus, porque é o Criador…
Nestas andanças pelo mundo, muitos nascem com sorte sem que para isso tenham mexido a mais pequena palha. A outros, de vidas e sentimentos amparados pelas mais perfeitas normas da honestidade, quase tudo de mal se lhes chega, preenchendo-lhes a vida de sofrimentos e azares imerecidos! E foi o que aconteceu naquela pobre família!
Há tempos, o pai, foi encontrado num silvedo, trespassado por tiro mortal disparado nunca se soube por quem, nem porquê! A mãe ficou com três filhos menores, o que a obrigava a dobrados trabalhos e canseiras. Por isso estava magra e doente, quase no limite das suas forças. Praticamente desamparada, sujeita a tantas privações, resolveu ganhar coragem para se decidir. E, desesperada, sem atentar na pequenina luz de aviso que ainda bruxuleava na sua abalada consciência, decidiu-se mesmo.
Era uma manhã fria que provocava dores não só ao seu corpo debilitado, mas pior ainda, na sua pobre alma onde imperava angústia e medo.
Olhou os filhos ainda adormecidos. Aconchegou-os com ternura. Creio que chorou. Depois, foi ao encontro da má sorte que, não sei porquê, a esperava…
Passados dois a três dias, apareceu morta, hirta pelo ar gelado da época. Perto do si, aconchegada ao peito, tinha uma côdea ressequida que a desesperante necessidade transformara numa ilusória boa refeição, para que os seus filhos escapassem à morte. E por isso, a estrangulá-la estavam agora os arames cruéis duma ratoeira assassina.
No ninho da vela oliveira do meu quintal, os três passaritos enegrecidos não eram mais que simples cadáveres enegrecidos por milhares de formigas devoradoras. E, de tudo isto, ninguém até hoje veio a saber, além de mim e de Deus! De mim porque fui o criador deste pequeno conto, e de Deus porque Ele é o Criador…

TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA — DETECTIVES DO OCULTO (3)Harry Dickson é um dos mais conhecidos protagonistas da literatura policiária. Mais detective no visível do que no oculto, não desdenha a participação nesta última modalidade. Criação de Raymundus Joannes de Kremer (1887-1964), mais conhecido por Jean Ray ou John Flanders — autor e iniciador de uma escola franco-belga do fantástico, verdadeiro génio do absurdo capaz de misturar no mesmo texto humor e horror — personagem protagonista de, pelo menos e nada menos, noventa e nove novelas e quarenta contos, misto de Sherlock Holmes e Nick Carter, é herói, sempre acompanhado do fiel e intrépido ajudante Tom Wills, mais querido dos belgas franceses e holandeses, que o levarem para a tela, televisão e banda desenhada.

Jules de Grandin, criação de Seabury Quinn (também conhecido por Jerome Burke (1839-1969), ostenta o troféu, entre todos os investigadores do oculto, para o número de casos resolvidos, noventa e tês. Noventa e três casos fantasmagóricos, um tanto folhetinescos e reunidos em The Adventures of Jules de Grandin, The Casebook of Jules Grandin, The Hellfire Files of Jules de Grandin, The Skeleton Closet of Jules Grandin e The Devil’s Bride, todos constantes de contos e The Horror Chambers of Jules Grandin, um romance.
Jules é um médico francês, rude, de linguagem malcriada o jeito gesticulante, grande conhecedor e apreciador de um bom copo, que saboreia com o requinte e um dito de Rebelais:
“O bom vinho é a alma viva da uva, e o bom champanhe o espírito vivo do vinho.”
Faz-se acompanhar do fiel Dr. Trowbridge, por vezes (poucas) o protagonista . É versado em egiptologia, forte em medicina legal, mistura o latim com o francês e adora exibir-se à volta de um mistério do sobrenatural.
Não se esgotam nos referenciados, aqueles cuja profissão ou simples gosto pelo oculto, se insere na investigação do insólito, forçoso é porém reconhecer os limites deste trabalho.
Citam-se para pista dos mais interessados, o petulante e mesmo odioso Moris Klaw, que em diversas ocasiões descobre fantasmas em causas naturais, como atribui a estas um carácter fantasmagórico, personagem de Sax Rohmer, famoso criador do identicamente célebre Fu-Machu.
Neils Orsen, o escandinavo científico e imparcial, uma criação de Dennis Wheatley;
O Juiz Pursuivant, de um pouco conhecido Gana T. Field; Solar Pon, o imperturbável o educadíssimo comedor de amendoins, um Sherlock Holmes do real e do sobrenatural, da autoria de August Derleth; Teddy Verano, de Maurice Limat, mais James Bond do que Sherlock Holmes, mas que não desdenha meter-se na área do fantasmagórico; e o mais recente recruta da espécie, criação de Brian Lumley, Titus Crow, que foi conselheiro em matéria de ocultismo, do Ministério da Guerra Britânico e aceitou posteriormente emprego como bibliotecário do mago Julian Cartairs, onde encontra uma verdadeira mina de conhecimento do tema a juntar a um talento insuperável na investigação do oculto, e constitui uma figura nobre a encerrar esta resenha.
M. Constantino

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