30 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 121

EFEMÉRIDES – Dia 30 de Abril
Jacqueline Winspear (1955)
Jacqueline Winspear nasce em Weald of Kent, Inglaterra. Emigra para os EUA em 1990 e em 2003 publica o primeiro livro, Maisie Dobbs, pondo em prática um sonho, de sempre — ser escritora e dando inicio à serie Maisie Dobbs. A série tem lugar em Inglaterra no final da década dos anos 20, inicio dos anos 30, é protagonizada por uma enfermeira que no rescaldo do pós-guerra, dirige uma agência de detectives em Londres. O 9º livro da série, Elegy For Eddie é editado em Março de 2012. Jacqueline Winspear recebe em 2003 o Agatha Award for Best First Novel com Maisie Dobbs, em 2004 recebe o Agatha Award com Birds of a Feather e em 2005 e 2006 é novamente nomeada para este prémio, respectivamente com Pardonable Lies e com Messenger of Truth.


TEMA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (10)


Volume 24 — The Martian Chronicles (1946) de Ray Bradbury

Ray Douglas Bradbury, EUA (1920), começou a escrever na década de 40 para o Weird Tales, pricipalmente contos. Dark Carnival é o seu primeiro livro, publicado em 1947.
The Martian Chronicles é uma colectânea de contos com um tema comum, iniciada em 1946 e só publicada em 1950, e que marca um ponto definitivo da carreira literária do autor. Citam-se: The Illustrated Man (1950), Dandelion Wine (1953) e Something Wicked This Way Comes (1983).


The Martian Chronicles narra o final da civilização marciana, após a chegada dos terrestres ao planeta vermelho.
As ideias de fundo são as de uma utopia anti-científica que o autor desenvolve com a arte de mestre que é.

Ficha Técnica
Crónicas Marcianas
Autor: Ray Bradbury
Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues
Ano da Edição: 1985
Editora: Caminho
Colecção: Caminho de Bolso-Ficção Científica Nº15
Páginas: 189





Volume 25 — What Mad Universe (1948) de Fredric Brown
Fredric William Brown (1906-1972) foi um dos mais populares e consagrados autores de Ficção Científica e do policial. Irónico, contundente, exímio no uso da palavra, evidenciou-se nas short stories.
Citam-se: The Lights In The Sky Are Stars ou Project Jupiter (1953), Rogue In Space (1957), The Ming Thing (1961), e as esplêndidas antologias: The Best of Fredric Brown e Short Storles of Fredric Brown.

What Mad Universe é o exemplo magnífico do agudo sentido de ironia e sátira num exercício do tema dos universos paralelos.
A história tem por base a projecção a mundo paralelo, em virtude de uma explosão acidental, de Keith Winton. Ali Keith encontra um ambiente ligeiramente conhecido com o seu próprio, mas a cidade está cheia de extraterrestres, seu dinheiro não serve para nada, e a própria noiva não o reconhece.

Ficha Técnica
Loucura No Universo
Autor: Fredric Brown
Tradução: Mário Henrique Leiria
Ano da Edição: 1956
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº29
Páginas: 184


29 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 120

EFEMÉRIDES – Dia 29 de Abril
Ron Roy (1940)
Wallace Ronald “Ron” Roy nasce em Hartford, Connecticut, EUA. Autor de livros para crianças e jovens. A primeira série, A to Z Mysteries, tem 26 títulos, começa com The Absent Author (1997) e termina com The Zombie Zone; a série segue as aventuras de 3 detectives de 9 anos, que vivem na cidade imaginária de Green Lawn. A segunda série de mistério para crianças é Capital Mysteries, com 14 títulos publicados entre 2001 e 2011, onde os detectives amadores, e melhores amigos, KC Corcoran e Marshall Li resolvem mistérios que se passam em monumentos de Washington. Uma outra série A to Z Mysteries Super Edition tem 5 livros editados. O autor tem vindo a publicar, para crianças mais pequenas, a série Calender Mysteries, que começou em 2009 com January Joker e com dois livros agendados para este ano: July Jitters e August Acrobat. Na mesma linha de mistério juvenil o Ron Roy tem 6 livros editados na década de 80.
 
TEMA — ENTREVISTA — CRIMINOSO… PORQUÊ?
Uma entrevista ingénua feita em 1948 e publicada na revista Flama.
Não conhecem o Gouxa, certamente, mas dizemos-lhes que, na nossa região, para lá do Tejo, este escasso palmo e meio de homem enrugado, moreno, de olhar vivo e inquieto, que é o nosso entrevistado de hoje, e temos na nossa frente, deu que falar… e de que maneira!
Ladrão emérito. Um metro e cinquenta e poucos centímetros de nervos voluntariosos, tem passado quase toda a sua vida, transitando do calabouço para o Sol, no Inverno, para uma sombra acolhedora no Verão. À noite dorme sobre um monte de palha abandonada nalguma eira, visitando nos intervalos o pomar mais próximo, ou o galinheiro vizinho, para levar a passeio, o galináceo preferido… mas não mais do que um.
Delinquente por natureza (?), este homem é uma espécie de dignidade. É amigo do seu amigo. Cultiva dentro de si o sentimento de gratidão.
Recordamos que a nossa casa tem um pátio largo, grande, onde os animais e as aves domésticas andam à solta. Duas oliveiras de ramadas enormes, ao centro, prestam-se a que os serviçais pendurem nelas os sacos dos almoços. Objectos agrícolas andam por aqui e por ali, abandonados. O Gouxa aparece, quando não está hospedado na cadeia da vila, para comer o que os trabalhadores e os meus pais lhe oferecem. Acreditem, nunca demos porque levasse a mais pequena coisa, apesar de os portões se encontrarem abertos dia e noite.
Trata todos por tu e por primo. É interessante e anedótico, o episódio dos baldes. Contemos:
Um dia desapareceram na vila diversos baldes dos usados para tirar a água dos poços. Suspeitou-se do Gouxa. Uma visita de surpresa a uma eira, e eis o nosso entrevistado e os baldes diante do chefe da polícia local.
— Ouve lá, para que querias tu os baldes, Gouxa?
— Bem, eu…
— Está bem. Diz-me lá de quem é este?
— Olhe, esse é do primo Bernardino.
— E este, também tem dono?
— Esse é do primo Geifão.
— E este?
— Esse?! Parece mentira, primo chefe, então já não conhece a prata da casa?
O balde fora levado do poço do posto policial.

Conhecem superficialmente o Gouxa. Saibam que o encontrámos e daí a ideia desta conversa, ligada pelos intervenientes e pelas letras, ao meio policiário.
— Gouxa, queres responder a uma entrevista para o jornal?
— Tem fotografia? Não? bem… Mas não faças perguntas com’o juiz.
— Não. Diz-nos, tu nunca trabalhaste?
— Trabalhei, mas deixei-me disso. Sabes, andavam sempre a puxar por mim, por ser pequeno os grandalhões queriam sempre deixar-me para trás, e eu tinha genica…
— Mas como deste nesta vida, homem?
— Não ‘tejas a chamar-me rapinante… são coisas… Tens aí um cigarro?
— Tenho, toma. E agora escuta. Dizem os técnicos, os grandes cabeças como tu lhes chamas, que os filmes de violência e os livros policiais contribuem muito para a formação criminosa. Que dizes tu?
— Bem. Eu não percebo lá muito bem, mas eu… bem, nunca fui ao cinema e não sei ler.
— Então a que atribuis a delinquência?
— Delin… quê?
— Delinquência. O crime, o roubo…
— Ah! Sim. Isso é obra da necessidade, das companhias, disto… (e fez um gesto vago).
— Queres tu dizer do meio ambiente? Sim, é uma ideia. Obrigado Gouxa, queres mais um cigarro?
Procurámos pelos bolsos o maço de cigarros, admirados e atrapalhados. O Gouxa sorriu apenas com os dois únicos dentes da frente, e retorquiu-me.
— Obrigada, primo Mário. Já aqui tenho.
Eram os nossos cigarros e fósforos que ele tirava sorridente da blusa incolor e esfarrapada.
M. Constantino


TEMA — DESAFIO — A MÃE DESCOBRE
Um adolescente estava autorizado pelos pais a ir ao cinema com os amigos, contudo deveria regressar a casa logo após sair do cinema, isto é, próximo da meia-noite. Os pais confiavam no filho e deitaram-se descansados.
Ao sair do espectáculo verificou que era cedo para ir para casa e entrou num bar com os amigos. Apenas bebeu uma garrafa de água com gás mas divertiu-se bastante.
Quando regresso já de madrugada não fez o menor barulho: entrou «, descalçou os sapatos colocando-os sobre o jornal matutino e sem abrir a luz, à simples claridade do isqueiro, esgueirou-se para o quarto no andar de cima. Ninguém o viu ou ouviu chegar.
De manhã, ao pequeno almoço, o pai ainda estava na casa de banho, a mãe perguntou-lhe a que horas chegara a casa.
— Meia-noite. — respondeu prontamente.
Todavia a mãe sabia que tinha chegado muito mais tarde. Porquê?

Basta um pouco de atenção, para responder ao “porquê”.

28 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 119

EFEMÉRIDES – Dia 28 de Abril
Val Gielgud (1900 – 1981)
Val Henry Gielgud nasce em Londres numa família com uma ligação forte ao teatro. Actor, director teatral, pioneiro na transmissão de peças de teatro na rádio (BBC), dirige também a primeira peça transmitida pela televisão, é também editor e autor de romances policiários. Escreve 26 livros com os diferentes personagens que cria: Antony Havilland, Inspector Gregory Pellew & Viscount Clymping e Inspector Simon Spears; publica um livro de contos de mistério/detectives. Alem destas obras, entre o primeiro romance, Imperial Treasure, publicado em 1931 e o último A Fearful Thing (1975), Val Gielgud escreve ainda 19 peças de teatro e 40 peças para rádio de vários géneros.

Pierre Boileau (1906 – 1989)
Pierre Louis Boileau nasce em Paris. Jornalista, escreve várias narrativas policiárias — La Pierre Qui Tremble e La Promenade de Minuit — antes de surgir, em 1938, com Le Repos de Bacchus galardoado com o Grand Prix Du Roman D'Aventures do mesmo ano e em 1939 publica Six Crimes Sans Assassin, ambos com forte dose do chamado crime impossível e onde se destaca o desempenho do detective privado André Brunel. Escreve ainda mais três romances antes de se juntar a Thomas Narcejac para formar a dupla famosa Boileau-Narcejac, autores de perto de meia centena de romances policiário e da série Sans Atout, para jovens, com 8 títulos editados. Os autores têm várias obras adaptadas ao cinema e à televisão com grande êxito. Destaque para Vertigo ou A Mulher que Viveu Duas Vezes dirigido por Hitchcock, baseado no romance D'Entre Les Morts (1954), e Diabólica filme de 1955 e de novo em 1996 baseado no romance Celle Qui N'Était Plus (1952). Em Portugal estão editados :
1 – Seis Crimes Sem Assasso (19--) / Pierre Boileau, Colecção Policial, Empresa Nacional de Publicidade. Título Original; Six Crimes Sans Assassin (1939). Este livro é reeditado em 2002, Nº2 Colecção Os policiais do Correio da Manhã, com o título Crimes Sem Assassino
2 – O Quadro Roubado (1939) / Pierre Boileau, Clássica Editora. Título Original:
3 – A Mulher Que Viveu Duas Vezes (1959) / Boileau-Narcejac, Nº22 Colecção Os Livros das Três Abelhas, Publicações Europa-América. Título Original: D’Entre Les Morts (1954). Este livro é reeditado em 1996 pela Editorial Notícias, na colecção Literatura e Cinema, com o título Vertigo A Mulher Que Viveu Duas Vezes

Anna Clarke (1919 – 2004)
Anna Emilia Clarke nasce na cidade do Cabo, África do Sul, vive no Canadá e em Inglaterra. Estuda economia e literatura inglesa do séc. XIX e é uma das primeiras estudante a frequentar um curso de artes na Open University. Desde jovem sofre atormentada por um problema de agorafobia e ansiedade que a impede de viver um quotidiano normal. Decidida a ultrapassar estas limitações, acaba por utilizar a sua experiência para escrever romances de mistério e thrillers. Publica o primeiro livro em 1968 The Darkened Room e escreve mais 17 romances até 1983. Cria ainda a série Paula Glenning, com 9 títulos publicados.

Harper Lee (1926)
Nelle Harper E. Lee nasce em Monroeville, Alabama, EUA. Tem apenas um livro publicado To Kill a Mockingbird (1960) que recebe o Prémio Pulitzer e é considerado um clássico da literatura contemporânea e um bestseller com mais de 30 milhões de cópias vendidas. O livro é editado em Portugal por várias editoras, com o título Por Favor, Não Matem A Cotovia; faz parte do Plano Nacional de Leitura e apesar de envolver um caso judicial não se enquadra na narrativa policiária. A inclusão de Harper Lee nas efemérides está relacionada com a colaboração directa da autora na pesquisa efectuada por Truman Capote para a escrita do livro In Cold Blood, onde é relatado um caso real, o violento assassínio de uma família.

Lois Duncan (1934)
Lois Duncan Steinmetz nasce em Filadélfia, Pensilvânia, EUA. Escreve desde os 10 anos de idade e aos 13 anos vende o primeiro conto. Especializada em literatura policiária para jovens, a sua obra mais conhecida é I Know What You Did Last Summer por causa da adaptação ao cinema. Lois Duncan publica Who Kill My Daughter?, um relato verídico da procura da verdade do brutal assassínio de Kaitlyn Arquette de 18 anos, a filha mais nova da escritora; um crime de 1989 que ainda continua por resolver; um livro para adulto, mas que foi considerado por várias entidades como o melhor livro para jovens. Desde 1958 a autora, que também usa o pseudónimo Lois Kerry e escreve para crianças, tem perto de 30 livros publicados. Em Portugal a Editorial Presença tem editado 2 livros de aventura e mistério para os mais jovens: Jornal para Cães e Hotel para Cães. Está também editado:
1 – Onda de Violência (1968), Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: Point of Violence (1966)

Ian Rankin (1960)
Nasce em Cardenden, Fife, Escócia. O autor usa também o pseudónimo Jack Harvey. Publica o primeiro livro, Knots And Crosses em 1987. Com este romance inicia a série Inspector Rebus, que conta já com 17 títulos publicados. Cria a série Malcolm Fox com 2 títulos publicados. O autor escreve também várias short stories, que publica em revistas da especialidade — algumas estão reunidas no livro The Complete Short Stories. Ian Rankin recebe um Dagger Award em 1996 pelas short story Herbert in Motion e o Gold Dagger Award em 1997 pelo romance Black And Blue. Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas e são bestsellers. Em Portugal estão editados:
1 – Jardim Suspenso (2000), Nº25 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original The Hanging Garden (1998). Nota: 9º livro da série Inspector Rebus
2 – Uma Questão de Sangue (2006), Colecção Romance/Thriller, Asa Editores. Título Original A Question Of Blood (2003) Nota: 14º livro da série Inspector Rebus
3 – Uma Questão de Consciência (2010), Colecção Alta Tensão, Porto Editora. Título Original The Complaints (2009). Nota: 2º livro da série Malcolm Fox


TEMA — FICHA CRIMINAL — MÓNACO VIA MARSELHA
Viajar com um cadáver, parece um facto agradável ou, pelo menos estimulante, dada a frequência com que encontramos factos desta natureza. Vejamos.
Num dia quente de Agosto, em Marselha, quando no Departamento Policial se enxugavam as testas, sem vontade de olhar os relatórios pendentes, o telefone quebrou a rotina.
O chefe da estação de caminhos-de-ferro, excitado e aflito, pedia auxílio em relação a uma bagagem ali depositada, com destino a Inglaterra.
O sargento Beauregard e um colega dirigiram-se ao local indicado onde os esperava o autor do telefonema e o encarregado Jacques Hart. Este estava pálido e mais ficou enquanto contava a descoberta.
— Bem, senhores — disse. Hoje, uma senhora e um cavalheiro entregaram a bagagem (uma grande mala, um saco de viagem e uma caixa de chapéus de senhora) recomendando para ser embarcada no Ile d’ Yeu. Tratei do despacho e eles desapareceram. Então pareceu-me que estava a escorrer qualquer coisa da bagagem… cheiro verdadeiramente insuportável.
Foram ver. Considerando que não era o lugar para aquela bagagem foi levada para a morgue, onde o Dr. Aristides Bergaud a abriu. A mala continha o dorso e os braços, com as mãos bem tratadas, de uma mulher, o saco com as pernas e a caixa de chapéus a cabeça da vítima com as louras tranças puxadas para trás, ostentando vários golpes na nuca; fora apunhalada várias vezes comum instrumento, que não uma faca. Havia vestígios de pele sob as unhas. Não fora violada, concluíra o médico.
Jacques, depois do alento de um copo de vinho, esclareceu que o casal que lhe deixara a bagagem era formado por uma senhora muito elegante, francesa sem a menor dúvida e por um estrangeiro de roupas caras mas amachucada, com cerca de 50-60 anos, com cara de bebedor.
Os primeiros testemunhos vieram do taxista que conduziu o casal da estação ao Hotel du Louvre, depois o gerente deste, que recebeu a reserva do quarto por telegrama recebido de Cannes. Ela ostentava uma caixa de jóias com um brasão e as iniciais M. St. L. G. Os Jervis retiraram-se para a suite e pediram o almoço no quarto, Mr. Jervis estava bem bebido.
Entretanto o Dr. Bergaud, bom observador, reparou que o tronco fora embrulhado num lençol do Hotel de Montreal. Alertada a polícia de Cannes, soube-se que ali haviam embarcado, com bagagem, com destino a Marselha. Em Monte Carlo,
Com auxílio da polia local, descobriram que a vítima era uma viúva jovem e rica, Emma Levin, de nacionalidade sueca, desaparecida acerca de oito dias, depois de ter levantado uma elevada quantia e retirado algumas jóias do banco.
Descobriram a ligação da vítima a Lady Goold e ao seu marido, o barão inglês.
Procuraram a morada do casal e foram recebidos pela sobrinha, Isabelle que informou da viagem do casal Marie Girondin Wilkinson Leger Goold e Vere Goold. A jovem declarou que a tia várias vezes a afastou de casa para receber Madame Levin com que tinha negócios.
A polícia deixou de ter dúvidas quanto ao envolvimento dos Goold. O aspecto coincidia, as iniciais da mala das jóias era um comprovativo, os Goold eram os Jervis. Procuraram e encontraram os indiciados e levaram-nos a Tribunal.
O julgamento teve lugar no Mónaco, onde Marie Girondin acusou um misterioso homem moreno e robusto, que com um martelo irrompeu na sala onde estava com Emma para examinar umas jóias, e a matou. Ela e o marido apenas se teriam tratado de desfazer do corpo. Sir Vere, porém, contara a verdade. Admitira o convite a Madame Levin para obter um penhor de um empréstimo. Ele próprio, por sugestão da mulher batera com u martelo na vítima e apunhalara-a com um corta papéis.
O Tribunal condenou Vere Goold à prisão perpétua, talvez devido ao seu alcoolismo constante e por ter actuado a mando da mulher. Marie foi executada em 14 de Janeiro de 1908; foi a primeira mulher a ser executada no Mónaco, curiosamente por uma guilhotina emprestada pela França.
M. Constantino

Nota: Sobre este caso verídico, conhecido como o Crime do Baú de Monte Carlo, existem muitas informações contraditórias. O nome de cada pessoa envolvida nem sempre é o mesmo e aparece com diferentes grafias. Por exemplo os apelidos Goold e Girondi aparecem algumas vezes como Gould e Giraudin; o nome da vítima passa a Elsa, em vez do correcto – Emma.
O que foi possível apurar com rigor, atraves da consulta de notícias da época, é que a descoberta macabra ocorreu em Agosto de 1907, na estação de Marsellha e que o casal, que viajava no expresso de Monte Carlo, pediu o envio das malas para Londres. O nome do empregado da estação que está registado como “Pons” e o nome do casal no Hotel du Louvre como “Javasaah”. Se é a versão afrancesada do falso apelido Jervis, ou se o britânico Sir Goold estaria com dificuldades de expressão devido ao excesso de bebida, é um ponto que dificilmente ficara esclarecido. Outra dúvida que acrescenta ainda mais mistério à história narrada por M. Constantino é o verdadeiro destino de Marie Girondi Goold, que umas vezes surge como a primeira mulher executada no Mónaco, outra vezes como tendo morrido de febre tifóide na Colónia Penal francesa de Cayenne, em 1908 ou 1914, de acordo com disposição do autor do relato.

27 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 118

EFEMÉRIDES – Dia 27 de Abril
Nicholas Blake (1904 – 1972)
Cecil Day Lewis nasce Ballintubbert, Queen’s County, Irlanda. É um escritor célebre com várias colecções de poesia, ensaios críticos e trabalhos de tradução que assina como C. Day-Lewis. Em 1835, sob o pseudónimo Nicholas Blake, inicia-se na literatura policiária com A Question of Proof, com o detective amador Nigel Strangeways, que é a figura principal de 16 livros do autor. Além desta série, Nicholas Blake escreve mais 4 romances policiários. O livro The Beast Must Die está incluído na lista dos 100 melhores romances policiários de sempre da Crime Writer’s Association. Em Portugal estão editados:
1 – O Homem da Neve (1956), Nº59 Colecção Xis, Minerva, Título Original: The Abominable Snowman (1941)
2 – A Fera Tem de Morrer (1960), Nº162 Colecção Vampiro, Livros do Brasil, Título Original: The Beast Must Die (1938). Reeditado em2005, Nº4 Colecção 9 mm, Público.
3 – Mundo de Paixões (1963), Nº198 Colecção Vampiro, Livros do Brasil, Título Original: End Of Chapter (1957)
4 – O Medalhão Perdido (1973), Nº311 Colecção Vampiro, Livros do Brasil, Título Original: The Smiler With The Knife (1939)

James Holding (1907 – 1997)
James Clark Carlisle nasce em Ben Avon, Pittsburgh, Pennsylvania, EUA. Escreve poesia, livros para jovens e contos policiários. Publica uma dúzia de livros e cerca de 160 contos sob Clark Carlisle, o seu nome verdadeiro, ou sob os pseudónimos James Holding, Ellery Queen Jr, Freeric Dannay e Manfred B. Lee. Destaque para o conto Miranda’s Lucky Punch publicado em Julho de 1964 no Alfred Hitchcock’s Magazine, que é um das primeiras histórias de crime informático.

Didier Daeninckx (1949)
Nasce em Saint-Denis, França. Escritor e argumentista é um dos autores do romance polar, policial negro francês. Publica o primeiro livro em 1982: Mort Au Premier Tour; e com o segundo, Meurtres Pour Mémoire (1984), recebe o Grand Prix de Littérature Policière; em 1988 recebe o Prix Polar Jeunes com Le Chat de Tigali. Actualmente com uma extensa obra publicada é um autor traduzido em várias línguas. Em Portugal estão editados:
1 – Crimes Para Arquivar (1986), Nº24 Caminho de Bolso – Policial, Editorial Caminho. Título Original: Meurtres Pour Mémoire (1984),
2 – O Carrasco e o Seu Duplo (1988), Nº64 Caminho de Bolso – Policial, Editorial Caminho. Título Original: Le Bourreau et Son Duble (1986). Nota: adaptado à rádio.
3 – Factor Fatal (1992), Nº148 Caminho de Bolso – Policial, Editorial Caminho. Título Original: Le Facteur Fatal (1990). Distinguido com o Prix Populiste 1990


TEMA — SHORT STORY — A BELA ASSASSINA
RESPIGADO DA COMUNICAÇAO SOCIAL:
… silhueta esbelta, perfume a sugerir frescura… e, sob o aroma agradável… agiganta-se a ameaça de uma assassina…
Ainda me custa a crer que em tão bela silhueta haja a verdade de tais notícias! Mas, muitas vezes, onde não parece, está o mal! E o que é certo é que quem já a enfrentou, pelo menos à primeira vista, jamais teve sequer um pequenino pressentimento de quanto a sua existência é uma ameaça fatal! Pelo contrário, não deixou de ficar certo duma agradável presença a que no falta o tal aroma a dar bem-estar e confiança e a fazer sentir um acolhedor ambiente.
Sabe-se que é descendente de emigrantes oriundos da Austrália, que há muitas gerações se fixaram por cá. Todos lhe queriam bem e, durante muito tempo, não se lhe atribuiu maldade ou perigo, até que, com o resfolegar de uma infinidade de crises sociais que tudo e todos envolve foi-nos transmitida a pouco e pouco a percepção de que, na verdade, algum mal lhe poderia estar inerente. E assim, como que quase todos adivinharam na sua silhueta esbelta, enganadoramente agradável, o quanto nela se escondia duma sobrecarga de malefício e agressão. E muitos eram levados a tomar como certo estarmos perante um potencial inimigo. Ora isso preocupava-me de sobremaneira. Não era desconhecida, gostava dela, e nunca me parecera diferente das outras. Mas perante opiniões fortes, preocupava-me e, como que me sentia obrigado a tentar enganar a verdade… É que eu nem sei bem, quantos comportamentos há dificuldade em entender e aceitar, porque nos esquecemos que, se muitas vezes se revelam é por existirem distorções de ordem genética de que ninguém tem culpa, por imperarem hábitos adquiridos em ambientes sórdidos onde nunca houve a réstia de um pequeno raio de felicidade, por hábitos e modas decorrentes, filhas de épocas atribula das por crises, por angústias e desesperos doentios! E aceitando, muito custava a entender e temia o mal que se poderia esconder sob tal silhueta elegante, agradável! Por isso quis entrar no jogo e investigar… saber…
Não era noite de negrumes, nem de intempéries em turbilhão. Era uma simples noite de firmamento cintilante, luarenta, bonita, daquelas que convidam mesmo a sair. Mostrava-me descontraído, sem preocupação principal de passar despercebido, mostrando-me natural, cuidadoso e sem alardes.
E lá fui dar uma espreitadela, espiando-a e tentando entender, de uma vez por todas, o porquê dessa ameaça assassina. Fui, e como resultado, continuei a não entender o exagero de algumas notícias e resolvi não deixar de gostar dela, esbelta, de perfume a sugerir frescura…

RESPIGADO DA COMUNICAÇAO SOCIAL:
Silhueta esbelta a sugerir frescura, o eucalipto invade serras e planos de Portugal. E sob o aroma agradável dessa árvore, agiganta-se a ameaça de uma assassina ambiental…


TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA — O MOMENTO DO DESTINO
De Susana Raposo
Num duvidável gesto de indolência, os orvalhados verdes olhos da distante adolescente fitavam, alternadamente, o convulsivo céu e o fndo da piscina vazio na sua solidão.
Nos artísticos azulejos que formatavam a piscina estavam impregna de os seus mais preciosos pensamentos, os quais denotavam uma aparente eternidade irrevelável.
A chama, sensivelmente fria, que escoava da cratera disforme adaptava-se perfeitamente à sua problemática existencial, da mesma forma como um longo rio que corre desvairado sem sequer se aperceber da sua inexplicável fuga.
Os dois humanos, esculpidos de deuses, acariciavam o imensurável fogo, este fulminante das suas insípidas vidas — ela de fino ouro trajada, ele acocorado.
Num outro tipo de azulejo, na perlada jarrinha, sentiam-se em cada maravilha de flor as suas tão desencontradas reflexões.
As infelizes nuvens iam e vinham condensadas de amargura.
Escassas gotinhas de chuva cintilavam através dos sedosos cabelos de Bianca, deslizando suavemente como se lhe murmurassem alguma resposta.
Permanecia inexorável na sua visão inumana daquele mundo vagaroso e indeciso, desatenta ao tempo que a ultrapassava discretamente.
— Bianca, vem para dentro. Não vês que está a chover?
Assim a doce voz de uma terna mãe se evacuou por entre as circulares copas das árvores que povoavam o jardim da mansão.
As irrequietas mãos do pai de Bianca contornavam docilmente, os ebúrneos ombros de sua mãe, partilhando a intrigante abstracção da jovem.
O tempo corrompeu a sua rotina.
O mórbido momento culminou o confronto daquele grupo de estranhos Bianca, seus pais, e dois outros seres oriundos de qualquer parte!
Os olhares entrançaram-se num inevitável cruzamento.
O silêncio arrasador abarcava o invólucro misterioso.
— Não, Bianca… não nos abandones… Não!
De olhos em lágrimas banhados estas foram as últimas palavras dirigidas à jovem Bianca pelos seus pais adoptivos.
Naquele desesperante instante pertencente a um passado recente tornou-se evidente a indiferença daquele belo dia de Primavera, no orfanato, onde a subtileza de Bianca sobressaiu de entre todas as outras crianças — o seu temível emaranhar através das pacíficas plantas, a sua constante distracção e o descontentamento perante cada brinquedo, a imparcialidade ante os seres que a rodeavam…
Decerto que algures no Universo, Bianca encontrará finalmente a realidade dos seus sonhos reflectidos nos azulejos da piscina, na natureza obscura e triste…