EFEMÉRIDES – Dia 28 de Abril
Val Gielgud (1900 – 1981)
Val Henry Gielgud nasce em Londres numa família com uma ligação forte ao teatro. Actor, director teatral, pioneiro na transmissão de peças de teatro na rádio (BBC), dirige também a primeira peça transmitida pela televisão, é também editor e autor de romances policiários. Escreve 26 livros com os diferentes personagens que cria: Antony Havilland, Inspector Gregory Pellew & Viscount Clymping e Inspector Simon Spears; publica um livro de contos de mistério/detectives. Alem destas obras, entre o primeiro romance, Imperial Treasure, publicado em 1931 e o último A Fearful Thing (1975), Val Gielgud escreve ainda 19 peças de teatro e 40 peças para rádio de vários géneros.
Pierre Boileau (1906 – 1989)
Pierre Louis Boileau nasce em Paris. Jornalista, escreve várias narrativas policiárias — La Pierre Qui Tremble e La Promenade de Minuit — antes de surgir, em 1938, com Le Repos de Bacchus galardoado com o Grand Prix Du Roman D'Aventures do mesmo ano e em 1939 publica Six Crimes Sans Assassin, ambos com forte dose do chamado crime impossível e onde se destaca o desempenho do detective privado André Brunel. Escreve ainda mais três romances antes de se juntar a Thomas Narcejac para formar a dupla famosa Boileau-Narcejac, autores de perto de meia centena de romances policiário e da série Sans Atout, para jovens, com 8 títulos editados. Os autores têm várias obras adaptadas ao cinema e à televisão com grande êxito. Destaque para Vertigo ou A Mulher que Viveu Duas Vezes dirigido por Hitchcock, baseado no romance D'Entre Les Morts (1954), e Diabólica filme de 1955 e de novo em 1996 baseado no romance Celle Qui N'Était Plus (1952). Em Portugal estão editados :
1 – Seis Crimes Sem Assasso (19--) / Pierre Boileau, Colecção Policial, Empresa Nacional de Publicidade. Título Original; Six Crimes Sans Assassin (1939). Este livro é reeditado em 2002, Nº2 Colecção Os policiais do Correio da Manhã, com o título Crimes Sem Assassino
2 – O Quadro Roubado (1939) / Pierre Boileau, Clássica Editora. Título Original:
3 – A Mulher Que Viveu Duas Vezes (1959) / Boileau-Narcejac, Nº22 Colecção Os Livros das Três Abelhas, Publicações Europa-América. Título Original: D’Entre Les Morts (1954). Este livro é reeditado em 1996 pela Editorial Notícias, na colecção Literatura e Cinema, com o título Vertigo A Mulher Que Viveu Duas Vezes
Anna Clarke (1919 – 2004)
Anna Emilia Clarke nasce na cidade do Cabo, África do Sul, vive no Canadá e em Inglaterra. Estuda economia e literatura inglesa do séc. XIX e é uma das primeiras estudante a frequentar um curso de artes na Open University. Desde jovem sofre atormentada por um problema de agorafobia e ansiedade que a impede de viver um quotidiano normal. Decidida a ultrapassar estas limitações, acaba por utilizar a sua experiência para escrever romances de mistério e thrillers. Publica o primeiro livro em 1968 The Darkened Room e escreve mais 17 romances até 1983. Cria ainda a série Paula Glenning, com 9 títulos publicados.
Harper Lee (1926)
Nelle Harper E. Lee nasce em Monroeville, Alabama, EUA. Tem apenas um livro publicado To Kill a Mockingbird (1960) que recebe o Prémio Pulitzer e é considerado um clássico da literatura contemporânea e um bestseller com mais de 30 milhões de cópias vendidas. O livro é editado em Portugal por várias editoras, com o título Por Favor, Não Matem A Cotovia; faz parte do Plano Nacional de Leitura e apesar de envolver um caso judicial não se enquadra na narrativa policiária. A inclusão de Harper Lee nas efemérides está relacionada com a colaboração directa da autora na pesquisa efectuada por Truman Capote para a escrita do livro In Cold Blood, onde é relatado um caso real, o violento assassínio de uma família.
Lois Duncan (1934)
Lois Duncan Steinmetz nasce em Filadélfia, Pensilvânia, EUA. Escreve desde os 10 anos de idade e aos 13 anos vende o primeiro conto. Especializada em literatura policiária para jovens, a sua obra mais conhecida é I Know What You Did Last Summer por causa da adaptação ao cinema. Lois Duncan publica Who Kill My Daughter?, um relato verídico da procura da verdade do brutal assassínio de Kaitlyn Arquette de 18 anos, a filha mais nova da escritora; um crime de 1989 que ainda continua por resolver; um livro para adulto, mas que foi considerado por várias entidades como o melhor livro para jovens. Desde 1958 a autora, que também usa o pseudónimo Lois Kerry e escreve para crianças, tem perto de 30 livros publicados. Em Portugal a Editorial Presença tem editado 2 livros de aventura e mistério para os mais jovens: Jornal para Cães e Hotel para Cães. Está também editado:
1 – Onda de Violência (1968), Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: Point of Violence (1966)
Ian Rankin (1960)
Nasce em Cardenden, Fife, Escócia. O autor usa também o pseudónimo Jack Harvey. Publica o primeiro livro, Knots And Crosses em 1987. Com este romance inicia a série Inspector Rebus, que conta já com 17 títulos publicados. Cria a série Malcolm Fox com 2 títulos publicados. O autor escreve também várias short stories, que publica em revistas da especialidade — algumas estão reunidas no livro The Complete Short Stories. Ian Rankin recebe um Dagger Award em 1996 pelas short story Herbert in Motion e o Gold Dagger Award em 1997 pelo romance Black And Blue. Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas e são bestsellers. Em Portugal estão editados:
1 – Jardim Suspenso (2000), Nº25 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original The Hanging Garden (1998). Nota: 9º livro da série Inspector Rebus
2 – Uma Questão de Sangue (2006), Colecção Romance/Thriller, Asa Editores. Título Original A Question Of Blood (2003) Nota: 14º livro da série Inspector Rebus
3 – Uma Questão de Consciência (2010), Colecção Alta Tensão, Porto Editora. Título Original The Complaints (2009). Nota: 2º livro da série Malcolm Fox
TEMA — FICHA CRIMINAL — MÓNACO VIA MARSELHA
Viajar com um cadáver, parece um facto agradável ou, pelo menos estimulante, dada a frequência com que encontramos factos desta natureza. Vejamos.
Num dia quente de Agosto, em Marselha, quando no Departamento Policial se enxugavam as testas, sem vontade de olhar os relatórios pendentes, o telefone quebrou a rotina.
O chefe da estação de caminhos-de-ferro, excitado e aflito, pedia auxílio em relação a uma bagagem ali depositada, com destino a Inglaterra.
O sargento Beauregard e um colega dirigiram-se ao local indicado onde os esperava o autor do telefonema e o encarregado Jacques Hart. Este estava pálido e mais ficou enquanto contava a descoberta.
— Bem, senhores — disse. Hoje, uma senhora e um cavalheiro entregaram a bagagem (uma grande mala, um saco de viagem e uma caixa de chapéus de senhora) recomendando para ser embarcada no Ile d’ Yeu. Tratei do despacho e eles desapareceram. Então pareceu-me que estava a escorrer qualquer coisa da bagagem… cheiro verdadeiramente insuportável.
Foram ver. Considerando que não era o lugar para aquela bagagem foi levada para a morgue, onde o Dr. Aristides Bergaud a abriu. A mala continha o dorso e os braços, com as mãos bem tratadas, de uma mulher, o saco com as pernas e a caixa de chapéus a cabeça da vítima com as louras tranças puxadas para trás, ostentando vários golpes na nuca; fora apunhalada várias vezes comum instrumento, que não uma faca. Havia vestígios de pele sob as unhas. Não fora violada, concluíra o médico.
Jacques, depois do alento de um copo de vinho, esclareceu que o casal que lhe deixara a bagagem era formado por uma senhora muito elegante, francesa sem a menor dúvida e por um estrangeiro de roupas caras mas amachucada, com cerca de 50-60 anos, com cara de bebedor.
Os primeiros testemunhos vieram do taxista que conduziu o casal da estação ao Hotel du Louvre, depois o gerente deste, que recebeu a reserva do quarto por telegrama recebido de Cannes. Ela ostentava uma caixa de jóias com um brasão e as iniciais M. St. L. G. Os Jervis retiraram-se para a suite e pediram o almoço no quarto, Mr. Jervis estava bem bebido.
Entretanto o Dr. Bergaud, bom observador, reparou que o tronco fora embrulhado num lençol do Hotel de Montreal. Alertada a polícia de Cannes, soube-se que ali haviam embarcado, com bagagem, com destino a Marselha. Em Monte Carlo,
Com auxílio da polia local, descobriram que a vítima era uma viúva jovem e rica, Emma Levin, de nacionalidade sueca, desaparecida acerca de oito dias, depois de ter levantado uma elevada quantia e retirado algumas jóias do banco.
Descobriram a ligação da vítima a Lady Goold e ao seu marido, o barão inglês.
Procuraram a morada do casal e foram recebidos pela sobrinha, Isabelle que informou da viagem do casal Marie Girondin Wilkinson Leger Goold e Vere Goold. A jovem declarou que a tia várias vezes a afastou de casa para receber Madame Levin com que tinha negócios.
A polícia deixou de ter dúvidas quanto ao envolvimento dos Goold. O aspecto coincidia, as iniciais da mala das jóias era um comprovativo, os Goold eram os Jervis. Procuraram e encontraram os indiciados e levaram-nos a Tribunal.
O julgamento teve lugar no Mónaco, onde Marie Girondin acusou um misterioso homem moreno e robusto, que com um martelo irrompeu na sala onde estava com Emma para examinar umas jóias, e a matou. Ela e o marido apenas se teriam tratado de desfazer do corpo. Sir Vere, porém, contara a verdade. Admitira o convite a Madame Levin para obter um penhor de um empréstimo. Ele próprio, por sugestão da mulher batera com u martelo na vítima e apunhalara-a com um corta papéis.
O Tribunal condenou Vere Goold à prisão perpétua, talvez devido ao seu alcoolismo constante e por ter actuado a mando da mulher. Marie foi executada em 14 de Janeiro de 1908; foi a primeira mulher a ser executada no Mónaco, curiosamente por uma guilhotina emprestada pela França.
M. Constantino
Nota: Sobre este caso verídico, conhecido como o Crime do Baú de Monte Carlo, existem muitas informações contraditórias. O nome de cada pessoa envolvida nem sempre é o mesmo e aparece com diferentes grafias. Por exemplo os apelidos Goold e Girondi aparecem algumas vezes como Gould e Giraudin; o nome da vítima passa a Elsa, em vez do correcto – Emma.
O que foi possível apurar com rigor, atraves da consulta de notícias da época, é que a descoberta macabra ocorreu em Agosto de 1907, na estação de Marsellha e que o casal, que viajava no expresso de Monte Carlo, pediu o envio das malas para Londres. O nome do empregado da estação que está registado como “Pons” e o nome do casal no Hotel du Louvre como “Javasaah”. Se é a versão afrancesada do falso apelido Jervis, ou se o britânico Sir Goold estaria com dificuldades de expressão devido ao excesso de bebida, é um ponto que dificilmente ficara esclarecido. Outra dúvida que acrescenta ainda mais mistério à história narrada por M. Constantino é o verdadeiro destino de Marie Girondi Goold, que umas vezes surge como a primeira mulher executada no Mónaco, outra vezes como tendo morrido de febre tifóide na Colónia Penal francesa de Cayenne, em 1908 ou 1914, de acordo com disposição do autor do relato.