Efemérides 7 de Dezembro
Clifford Knight (1886 - 1963
Nasce em Fulton, Kansas, EUA. Escritor e contista de narrativa policiária, publica entre 1920 e 1929 short stories em vários magazines da especialidade. O seu personagem principal é Huntoon Rogers, professor de Inglês e detective, que surge pela primeira vez em The Affair of the Scarlet Crab (1937), um romance que tem como pano de fundo uma expedição às ilhas Galápagos. Clifford Knight, que também usa o pseudónimo Reynolds Knight, escreve 24 romances e um número indeterminado de contos. Em Portugal está editado:
1 - O Caranguejo Vermelho, Nº42 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Affair of the Scarlet Crab (1937).
Leigh Brackett (1915 – 1978))
Leigh Douglass Brackett nasce em Los Angeles, California, EUA. Escritora guionista e argumentista é uma autora famosa e galardoada pelo seu trabalho de western e ficção científica. No entanto o seu primeiro romance No Good From A Corpse, publicado em 1944, insere-se no policiário negro, abre-lhe as portas para a indústria cinematográfica, em particular na escrita de guiões de romances clássicos de mistério / detective. Além de colaborar em séries televisivas de suspense de Alfred Hitchcock, Leigh Brackett é responsável pelos guiões para cinema de The Big Sleep,
e The Long Goodbye de Chandler. Na vasta obra da escritora distinguem-se apenas 5 romances policiários. Em Portugal está editado
1 – Olho Por Olho (1966), Nº91 Colecção Enigma, Editora Dêagá. Título Original: An Eye For An Eye (1958).
TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — APÓS POE: O DECLÍNIO (25)
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 326 (Clicar)
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 326 (Clicar)
Enquanto se publicava o assinalado “The Mystery of Marie Rogêt”, os folhetins, sempre oportunos, continuavam a sua obra divulgadora.
“Les Mystéres de Paris”, de Eugène Sue (Joseph Marie Eugène Sue, 1804 - 1857), embora repleto de mistérios de toda a ordem, é um escrito para agradar à plebe. Precisamente por este último facto, sabendo-se que Sue procurava evitar atritos entre classes, denotando certa ambiguidade e os choques frontais, “Mystéres” foi alcunhada de “a bíblia do populismo”, ou não fossem estes folhetins publicados, muito a propósito, no “Journal des Debats”
No plano geral, é de destacar o personagem, o príncipe Rudolf de Gerolstein que, embora agindo segundo as reacções públicas, justamente porque o autor não fizera um plano prévio da longa obra, coloca-se na posição policiária da moderna spy-story, onde a regra é a subordinação a uma determinada realização que o herói deve concluir inexoravelmente ou, pelo contrário, impedir a todo o custo que a mesma se realize.
Personagem aristocrático e inverosímil que vive nos bairros mais baixos de Paris, vê-se misturado frequentemente com bandos de assassinos e ladrões um tanto absurdamente, pese embora a quantidade de informações sobre os costumes criminais, ao jeito das “Mémoires” de Vidocq”, que se lhe parece como imagem no espelho.
As prometedoras tintas iniciais tipicamente policiais, transformam-se em profundo apontamento do Paris subterrâneo e o retrato físico-moral da época, todo “populismo”, ante a pobreza, o crime e as reformas dos cárceres, até às declarações em favor do divórcio, tornando-se um novela-folhetim do ramo sensacionalista.
Ainda para o mesmo ano de 1842, há uma referência para 'Die Judenbuche', de Annette von Droste-Hülshoff, uma novela de características policiais onde Friederich
Mergel é acusado de ter assassinado o juiz Aaron, pelo que andou fugido vários anos. Um dia volta como Johannes Niemand e procura recuperar o bom nome de Friederich.
Embora de características populares, o livro está escrito em tom austero e hoje só releva como facto histórico.
Igualmente, apenas para memorizar, é o romance de Frédéric Soulié intitulado “Eulalie Pontois” (1842), título que corresponde ao nome da protagonista que se crê filha de um fugitivo à justiça e que por amor filial confessa o crime que não cometeu. A descoberta da verdade — que é um enigma em si — não se deve a um detective, nem sequer a averiguações, é obra do acaso.
“Mystères de Londres” (1844), de Paul Féval (1817-1887), pseudónimo de Francis Trolopp, apresenta Robin Gross, um polícia privado, alto e magro, de suíças brancas, e que segue a moral duvidosa de personagens anteriormente mencionadas (Jackal, de Dumas) e um todo poderoso chefe da franco-maçonaria do crime que dá pelo nome de Rio Santo.
Para terminar o ano de 1844, citamos um livro de psicologia criminal “Quelques mots sur une question à l’ordre du jour, réflexions sur les moyens propres à diminuer les crimes et les récidives”, de Vidocq.
Parecerá estranho a reflexão para um indivíduo da mais baixa classe da sociedade parisiense, mas Vidocq nada tinha de néscio e, de crimes e criminosos sabia, com certeza, muito mais que qualquer letrado especialista na matéria.
A influência exercida por Poe, quer nos contos analíticos, como lhe chama, quer nos escritos policiais ou de crime, dá os seus frutos. Naturalmente começam a aparecer narradores “classificáveis'” sob o ponto de vista policiário.
W.S. Gilbert, que de dados pessoais pouco deixou, que se conheça, apresenta-nos um pequeno-grande conto, com certa dose de humor, que faz parte obrigatória do património das revistas policiais de todos os tempos. Intitula-se “A Minha Primeira Causa” data de 1845.
A edição original de “Le Comte de Monte-Cristo” (1846), de Alexandre Dumas, um primeiro texto de suspense, faz do Abbé Faria, encerrado num cárcere de um castelo, um dos primeiros detectives de poltrona — designação aplicada aos detectives que resolvem os casos sem saírem de casa e por simples dedução, como sabemos. Na verdade, o Abbé Faria consegue reconstituir através do raciocínio toda a maquinação que leva Edmond Dantès à prisão.
Não será o único Presidente americano a escrever uma narrativa policiaria mas, decerto, Abraham Lincoln (1809-1865) foi o primeiro.
Como se sabe, Lincoln foi advogado e “Trailor Murder Mystery” (1846), acredita-se, será a ficção de um caso em que foi parte e de que teve profundo conhecimento
Ainda que se passe por alto e apenas como alerta para o leitor, refere-se “Um Esboço Misterioso” (1848), fácil de encontrar nas antologias policiais ou de mistério, da autoria de Erckmann-Chatrian, pseudónimo de dois autores, Émile Eckermann (1822- 1899) e Alexandre Chatrian (1826-1890).
A colaboração mútua destes dois homens foi surpreendente e duradoura.
E fecha-se o decénio com chave de ouro.
Oculto entre centena e meia de escritos, alguns volumosos, vamos encontrar nova referência de Alexandre Dumas a um novo detective. Trata-se de um dos capítulos de “Le Visconte di Bragelonne” (1848/1859), que tem sido publicado como se de um conto autónomo se tratasse, e do qual o saudoso Ross Pynn escreveu:
“Dumas apresenta-nos D'Artagnan e Luís XIV, na vida real e no romance, dois grandes amigos. Mas este conto oferece para os amantes da Literatura Policial esta particularidade: D'Artagnan é incumbido de um trabalho de polícia que leva a cabo com êxito, através de simples dedução e raciocínio — isto é, utilizando aquilo que Hercule Poirot diria ser “as células cinzentas”. Mais: o leitor, se fechar os olhos, ao ouvir D'Artagnan, acreditará, por momentos, estar a ouvir o nosso velho e querido Sherlock Holmes.”
TEMA — CONTO POLICIÁRIO NACIONAL — O RETRATO DO MAIS FAMOSO ENIGMA DE QUARTO FECHADO
De Fernando Saldanha
Quando chefe Sequeira regressava a casa com a cara fechada e no proferia palavra durante a refeição, Berta não precisava perguntar para saber que havia qualquer problema grave de permeio entre ela e o marido. Também não necessitava que ele lhe pedisse para levar o café à pequena sala que servia de escritório e biblioteca.
Naquela noite assim sucedeu. Quando o relógio da sala bateu 21 horas, Sequeira levou o filho para junto do aparelho de televisão e foi refugiar-se na cadeira giratória da secretária de trabalho onde fitou absorto nos seus pensamentos.
Quando Berta foi lá depois de arrumar a cozinha ainda a encontrou na mesma posição. Serviu-lhe outra chávena de café a escaldar, como ele gostava.
— Suponho que te demoras…
— Um pouco. Vai deitar o pequeno que eu já vou…
Berta sabia por experiência própria que era completamente inútil insistir. Deu-lhe um beijo que ele aceitou distraidamente e retirou-se. Quando desligou a televisão e levou a criança, o escritório — santuário de meditação de Sequeira — ficou mergulhado no silêncio que ele secretamente desejava.
Chefe de brigada do Departamento de Homicídios, uma das secções mais trabalhosas da Judiciária, Sequeira tivera um dia fatigante. O relatório que tinha na frente levara seis horas a elaborar e já o relera mais de meia dúzia de vezes sem conseguir chegar a uma conclusão. E o pior é que não obtivera uma ideia nem pudera dar importância a qualquer pormenor. Parecia que tudo se harmonizava logicamente e não era possível encontrar nenhuma pista. Contudo, algo lhe martelava no cérebro a suspeita de que não se tratava de um simples suicídio. Algo muito indefinido e impreciso, como estranho fluído que não conseguia concretizar e persistia em resistir aos melhores esforços das suas associações de ideias.
Embrenhou-se novamente na leitura do relatório. De súbito, olhou casualmente o retrato de Sherlock Holmes colocado na parede fronteira e pareceu-lhe que os grandes olhos profundos e perspicazes do célebre personagem se moviam na gravura primorosamente desenhada e o fixavam ironicamente.
Sentia-se realmente cansado. “ E se deixasse o caso para o dia seguinte? Porém os olhos impiedosos do retrato eram uma obsessão. “Que raio! Não suportava aquele olhar finamente trocista! Fizera quanto lhe fora possível!”
“Oiça, meu caro — parecia dizer o olhar penetrante de Holmes —não existem casos insolúveis. Deve escapar-lhe algum pequeno pormenor. Sempre preconizei que é capital a importância das pequenos pormenores…”
Sequeira tinha as pálpebras singularmente pesadas. Soltou uma exclamação indignada e aplicou o punho sobre a papelada;
— Já sei! Para a maior criação detectivesca desta planetas, isso seria um “caso
Elementar”! Estou mesmo a ouvi-lo confidenciar a melhor solução, toda a “massa cinzenta”, ao seu fiel Watson. Sinceramente gostava de ouvir isso!
Se fosse um caso elementar não teria mostrado qualquer interesse por ele. Aliás, não me recordo de jamais haver utilizado essa expressão a não ser em casos em que os raciocínios eram indubitavelmente simples e evidentes. Nesta… nesta conjuntura… Bem, mas já se vê, meu caro, não poderia encarregar-me do caso, estarei muito ocupado nestas semanas mais próximas A Liga das Cabeças Vermelhas…”
— Desculpas! Porque não reconhece antes que um enigma desta natureza não é para ser resolvido recostado na sua velha poltrona, de roupão, chinelas e cachimbo, em punho, olhando Watson a ler comodamente o Times
— Meu rapaz, você está a lançar-me um desafio? Poderia desfazê-lo em cinco minutos! Quanto a Watson, creio que tem razão; ajuda-me a concentrar. A respeito do roupão e das chinelas, sempre discuti com Conan Doyle a sua utilização; eu preferia ser um detective de acção mas ele teimava em apresentar-me assim ao público. Dizia que isso me conferia um aspecto mais humano. Nunca pude concordar com ele em absoluto.”
— Está a afastar-se da nossa discussão. Há pouco parecia troçar dos meus esforços…
“Tolice. O trabalho dos profissionais sempre mereceu a minha consideração. Apenas pretendi chamar-lhe a atenção para a importância dos pequenos pormenores. Neste caso por exemplo, há pelo menos três particularmente significativos. Li o relatório enquanto tomava o seu café. Tudo se me afigura batente claro: esta manhã apareceu morta uma mulher jovem, num quarto independente, fechado com duas voltas de chave encontrando-se esta na fechadura, pele parte de dentro, não é assim?
— Precisamente. Acrescente-se que o quarto está situado num terceiro andar, tem uma única janela de sacada, sem qualquer acesso, que dá para uma pequena rua de pouco movimento, encontrando-se aquela também fechada no pincho de baixo, de formato habitual em “L” maiúsculo. O cadáver tinha na mão direita uma pistola de calibre 38, apenas com as suas próprias impressões digitais e apresentava um ferimento de bala na fonte direita, chamuscado ao redor. Sobre toucador encontrava-se um rectângulo de papel escrito à máquina, sem assinatura, declarando que o acto de suicídio fora praticado de livre vontade sem coacção de pessoa alguma.
“Óptima descrição, mau caro! Continue sem omitir o mínimo pormenor.”
— Aparentemente tudo estava na mais perfeita ordem. O quarto tem cerca de cinco metros de comprido por três de largo, está modestamente mobilado com uma cama de casal, um toucador, um pesado guarda-fatos de pés altos e duas mesinhas de cabeceira. O chão estava limpo e à excepção dos riscos recentes que apresentava desde a parede fronteira até ao vão da janela onde em encontrava o guarda-fatos, de dois pequenas orifícios no madeirame da janela, um de cada lado do picho, ligeiramente acima deste, e do sangue da morta, tudo estava impecável.
“E é tudo, não é assim, meu caro? Ora posso garantir-lhe que estamos em presença de um assassínio friamente premeditado e levado a cabo com singular sagacidade. Vou dizer-lhe como o caso se passou. O criminoso praticou o crime com rara habilidade, tendo o cuidado de atingir a vítima à queima-roupa, para lhe dar maior aparência de suicídio, fechou a porta por dentro, passou uma corda por baixo de uma das pernas do pesado guarda fatos de forma a lançar duas pontas pobre o peitoril da janela até à rua pouco movimentada e teve só o trabalho de esperar uma ocasião em que não passasse ninguém — provavelmente de noite. Com a janela, procedeu quase do mesmo modo. Untou bem o picho de maneira a que corresse, à mais pequena pressão, passou um fio fino e resistente pelos dois pequenos orifícios do madeirame, fechou a outra meia janela e quando chegou ao chão facilmente retirou a corda por onde descera, puxou cuidadosamente pelas duas pontas, encostando as duas partes da janela e fazendo pressão ou dando pequenos puxões até aliviar o pincho que acabou por correr, traçando a janela. Retirou o fio e …
— Sequeira —chamou a esposa, abanando-o suavemente, — Acorda!
— Quê? Sim…. Está bem. Vou já…
Levantou a cabeça do tampo da secretária, mirou vagamente incrédulo o retrato de Sherlock Holmes, que continuava a sorrir-lhe, e seguiu atrás da esposa.
O conto do Fernando Saldanha data de quando e surgiu pela primeira vez onde? E o Fernando Saldanha existe ou é algum pseudónimo?
ResponderEliminarFernando Saldanha foi um escritor português de ficção científica e ficção policiária. Escreveu contos e ensaios publicados nas Selecções Mistério, revista do início da década de 80, e na Célula Cinzenta, publicação da Associação Policiária Portuguesa. A antologia "Terrestres e Estranhos", editada pela Galeria Panorama em 1966, inclui o conto "A Nova Idade da Terra" da sua autoria. Fernando Saldanha, sob o pseudónimo Jack Swann, é o autor do livro "O Planeta Prometido", de 1975, também da Galeria Panorama, aparecendo o seu nome como tradutor. Creio que o presente conto não foi publicado anteriormente; o original está dactilografado sem qualquer data de referência.
Eliminar