1 de dezembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 336

Efemérides 1 de Dezembro
Rex Stout (1886 - 1975)
Rex Todhunter Stout nasce em Noblesville, Indiana, EUA. É mundialmente conhecido por ter criado um dos mais famosos detectives da história da literatura policiária, Nero Wolfe (ver TEMA). Rex Stout começa a escrever a partir de 1910 para os pulpls magazines, publica o seu primeiro livro em 1929, mas só Nero Wolfe só surge em Outubro de 1934 no romance Fer-de-Lance, editado em Portugal com o título Picada Mortal. Rex Stout escreve 47 livros da série Nero Wolfe e mais cerca de duas dezenas de romances. Vê os seus romances adaptados à radio, televisão e cinema, numa carreira literária de sucesso que acumula distinções e prémios. Em Portugal, a quase totalidade dos seus livros está publicada, em particular, pela Livros do Brasil, quer na Colecção Obras Escolhidas de Rex Stout (Clicar) quer nos 43 títulos da Colecção Vampiro (Clicar).


Francis Clifford (1917 - 1975):
Arthur Leonard Bell Thompson nasce em Bristol, Inglaterra. Escreve 19 livros policiários, na sua maioria thrillers. Recebe por duas vezes o Silver Dagger Award atribuído pela Crime Writers Association: em 1969 com Another Way Of Dying e em 1974 com The Grosvenor Square Goodbye. Em Portugal está editado:
1 – O Fugitivo Nu (1969), Colecção Excelsior, Empresa Nacional de Publicidade. Título Original: The Naked Runner (1966).


Douglas Clark (1919 - 1993)
Douglas Malcolm Jackson Clark nasce em Lincolnshire, Inglaterra. Geólogo e escritor policiário, publica 30 livros, 26 deles protagonizados pelo atlético e distinto Chief Inspector George Masters e pelo seu subordinado, Inspector Green, que detesta e inveja o chefe; s personagens surgem em 1969, em Nobody's Perfect. O autor usa também os pseudónimos James Ditton e Peter Hosier.


TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — NERO WOLFE, DETECTIVE PARTICULAR
Autor desconhecido, os anos não perdoam e a memória falha. Agradeço ao autor a colaboração e se ler, assinale)
M. Constantino



Personagem de corpulência elefantina (cerca de 140 kg de peso), detesta qualquer tipo de actividade física e raramente se ausenta do seu escritório-residência na Rua 35-Oeste em Nova Iorque.
Egocêntrico, extravagante e vaidoso, considera-se um génio, detesta a vulgaridade e exprime-se fluentemente em francês, espanhol, italiano, húngaro, alemão, bari e servo-croata, além de inglês, culto e sofisticado.
Indolente por natureza, trabalha exclusivamente para suprir os elevados custos do luxo e conforto de que se rodeia, valendo-se quase abusivamente do dedicado Archie Goodwin, secretário, guarda-costas, motorista, contabilista e mensageiro, que nas horas vagas faz as investigações de rotina.
Floricultor de reconhecidos méritos, gourmet de paladar requintado, permite-se ter ao seu serviço Fritz Brenner, um categorizado chef suíço que, mediante principesco salário satisfaz a sua gula com as mais delicadas iguarias.
Reticente acerca do seu passado, aufere proventos fabulosos que dissipa prodigamente. O passado de Wolfe é investigado por William S. Barino-Gould em extenso estudo biográfico sobre Nero Wolfe — Nero Wolfe of West Thirty-fifth Street (1969).
Plena de imaginação, a história baseia-se em dados conjunturais que conferem ao detective ilustre paternidade. Assim, Nero bem como Marko, o seu irmão gémeo, teriam nascido em Trento Nova Iorque, no ano de 1892, da auspiciosa união de Sherlock Holmes e Irene Adler, célebre cantora de ópera, que ao enviuvar teria contraído segundas núpcias, com um tal Vukvik oriundo da região balcânica.
Desta forma se explicaria a presença do herói nas remotas regiões do Leste Europeu, onde teria colaborado com os Serviços Secretos do Império Austro-Húngaro, sendo posteriormente integrado no Exército montenegrino.
Em acção em combate no decorrer da 1ª guerra mundial o jovem Nero percorre mais de 600 milhas para se reunir às forças americanas, depois de eliminar cerca de 200 inimigos.
A etapa seguinte situa-o de regresso aos Estados Unidos onde se estabelece como investigador criminal.
Detective consultivo, arguto e inteligente, adquire desde logo fama e proveito, sem que para tanto pareça esforçar-se. Efectivamente Nero Wolfe desdenha o trabalho físico e dedica grande parte do seu tempo ao cultivo de orquídeas raras.
A sua rotina diária raramente se altera. Desperta pelas 8 horas, toma pequeno almoço na cama, lê um ou dois periódicos e logo após a toilete matinal dirige-se para a estufa no seu elevador particular.
No intervalo entre almoço (13H15) e o jantar (19H15) despende mais de duas horas junto das suas flores preciosas e, se estritamente necessário concede breves períodos às tarefas de investigação.
Surge então Archie Goodwin com os seus relatórios detalhados e o detective, instalado em confortável cadeirão, com um copo de cerveja espumosa ao alcance das mãos, mantem os olhos semicerrados e escuta com atenção. Normalmente lacónico e imperturbável, face aos casos mais intricados, o seu raciocínio encadeia-se velozmente e não tarda a obter solução.
Singularmente antagónico ao sexo feminino, Nero Wolfe admite candidamente que tal constitui mero mecanismo defensivo e recebe com prazer as mais belas clientes. Por sua vez atraente, apesar das avantajadas proporções físicas, o detective tem a pele lisa, os dentes brancos e regulares e traja normalmente fatos completos de esmerado corte e camisas amarelas com colarinho de goma que ao deitar substitui por luxuosos pijamas de seda pura, igualmente amarelos.
Nos seus casos, para além do eterno Archie Goodwin, colabora com vários investigadores, com destaque para: Saul Panzer, tão experiente quanto arguto: Fred Durkin, tão honesto quanto incipiente; Orrie Carter, tão fiel quanto detestado; e Dol Bonner, a única mulher na sua vida.
Permanentemente suplantado, o inspector Cramer, chefe do Departamento de Homícidios da Polícia de Nova Iorque



TEMA — CONTO DE LIMA RODRIGUES — QUEM?
Já nem sabia ao certo há quanto tempo aquela dúvida o atormentava. Estas coisas, aparecem quase sem a gente se aperceber delas. Surgem um dia, a propósito de qualquer coisa — a maior parte das vezes, qualquer coisa sem importância — tomam lugar no subconsciente, aí se desenvolvem, ampliam, ganham forma e, quando mal a gente se apercebe, estamos dominados, obcecados por essa ideia.
Precisamente com ele, a coisa tinha-se passado assim. E, agora, chegara a altura de pôr ponto final no assunto. Estava firmemente decidido a tirar a coisa a limpo, muito embora poucas dúvidas já lhe restassem. E, a maior dúvida que ainda tinha e para a qual não havia meio de atinar com a resposta, podia traduzir-se numa única palavra: Quem?
Quanto ao resto, ao longo de todo aquele tempo, desde que pela primeira vez se vira forçado a pensar no assunto, tinha bastantes e suficientes provas para que se desse ao trabalho de pensar no assunto duas vezes. Um homem casado, desde que esteja suficientemente prevenido, sempre consegue, pacientemente, verificar indícios da infelicidade conjugal. E os que ele acumulara, apenas lhe deixavam um caminho aberto: Quem?
Apesar das várias tentativas para a desmascarar, ela sempre tivera artes de se sair airosamente delas. Parecia até que nunca seria capaz de conseguir apanhá-la em flagrante.
Várias vezes desabafara o turbilhão dos seus pensamentos com Laura, uma amiga de infância da sua mulher que, na qualidade de amiga íntima e confidente de ambos, muitas vezes servira de intermediária e conselheira em pequenas questões familiares.
Laura ficara atónita com tão absurda ideia. Mas, que sabia ela destas coisas? Que poderia uma solteirona de quarenta anos saber disto? Desiludido com uma ajuda que imaginara eficiente, não lhe voltara a falar no assunto.
Uma boa gorjeta ao porteiro, também não obtivera qualquer resultado, muito embora a maneira delicada como o abordara.
Mas — tinha decidido — daquele dia não passaria. Preparara tudo de modo a que ela pensasse o que ele lhe conviria que ela pensasse: que ele nesse dia só regressaria lá para as tantas. E, com certeza, ela não iria desperdiçar semelhante oportunidade. E ele, também não…
Antes de meter a chave à porta, escutou pacientemente. Não queria agora, por precipitação, deitar tudo a perder. Como nada ouvisse, rodou a chave devagar e empurrou a porta mansamente, espreitando para o corredor. Ninguém à vista.
Caminhou então na ponta dos pés — mais por excesso de precaução, pois calçava sapatos de borracha — em direcção ao seu quarto.~
Foi então que ouviu umas risadas fracas, histéricas.
Sentiu uma aceleração no seu sistema circulatório, enquanto o rosto se ruborizava de vergonha. Finalmente! Conseguira por fim resolver aquela incógnita.~
Mas, não sabia se se devia sentir feliz com aquela descoberta, se infeliz pelo que ela representava de escabroso e infame.
Começou a sentir que no seu rosto se formavam gotas de suor, enquanto o coração batia desordenadamente.
Ao avançar alguns passos na direcção do quarto, deu-se conta de que as suas pernas tremiam como se não fossem capazes de suster o peso do corpo. Por fim, encontrou-se em frente da porta. De dentro, continuavam a ouvir-se risinhos nervosos. Susteve a respiração e, enquanto sentia o coração bater-lhe na garganta, apurou mais o ouvido. O ruído característico de alguém que se mexe na cama e palavras soltas como “meu amor”, “queridinha”, chegaram-lhe aos ouvidos.
Sentiu-se estoirar de indignação ao avaliar a profundidade daquela infâmia: sua mulher e o amante, na sua própria cama!
Acariciou a coronha do revólver e apertou-a com tanta força que teve a sensação de que se ia desfazer. Quis certificar-se de que não teriam a porta fechada. Com infinitas precauções — admirou-se da calma com que o estava fazendo — rodou levemente a maçaneta. A porta não estava fechada.
De súbito, teve uma ideia — e voltou a admirar-se como ainda tinha cabeça para pensar — e espreitou pelo buraco da fechadura.
O quarto estava mergulhado numa semi-obscuridade e, além disso, dada a disposição do mobiliário, pouco conseguia descortinar. Viu, no entanto, pendentes duma cadeira, as roupas íntimas de sua mulher e, essa visão, foi como que uma chamada à realidade. Abriu a porta de rompante, revólver na mão, pronto a disparar.
No auge dos seus amores, entre risinhos e palavras sem nexo, os dois amantes não tinham dado pela sua aparição. Uma raiva surda, incontida, angustiada, levou-o a disparar até sentir a arma descarregada. Os dois corpos ficaram finalmente quietos. Para eles, a morte tinha chegado.
No quarto, pairava agora um fumo acre de pólvora. E o homem que ao desfazer de uma dúvida se tornara um assassino, olhava como um sonâmbulo para a sua obra.
Tinha finalmente diante de si a resposta à sua interrogativa: Quem?
Foi então que reparou. O corpo ensanguentado que jazia junto do de sua mulher, era o da sua amiga Laura…


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