Efemérides 28 de Dezembro
Andy McNab (1959)
Nasce em Southwark, Londres, Inglaterra. É um ex-militar britânico, envolvido em operações especiais e um dos oficiais mais medalhados pelo papel que desempenhou durante a guerra do Golfo. Desconhece-se a sua verdadeira identidade por questões de segurança e Andy McNab é o pseudónimo escolhido para assinar os thrillers bestsellers que escreve, alguns com base nas suas experiências. Cria Nick Stone, que surge pela primeira vez em 1997 em Remote Control e protagoniza 15 livros, o mais recente Silencer, publicado em 2012. Andy McNab é considerado o melhor escritor britânico de thriller da actualidade e a sua obra mais conhecida é Bravo Two Zero (1993), que vende 1.7 milhões de cópias, está traduzido em 16 línguas e está adaptado a filme. O autor escreve em parceria com Robert Rigby a série Boy Soldier e com Kym Jordan a série War Torn. Em Portugal estão editados:
1 - Controle Remoto (2002) 47º Volume Colecção Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: Remote Control (1997). É o 1º livro da série Nick Stone.
1 – O Rapaz Soldado (2008) Colecção Romance Jovem, Edições Asa. Título Original: Boy Soldier (2005), também editado com o título Traitor. Escrito em parceria com Robert Rigby, é o 1º livro da série Boy Soldier
2 – O Rapaz Soldado (2007) Colecção Romance Jovem, Edições Asa. Título Original: Boy Soldier (2005), também editado com o título Traitor. Escrito em parceria com Robert Rigby, é o 1º livro da série Boy Soldier.
3 – A Desforra (2008) Colecção Romance Jovem, Edições Asa. Título Original: Payback (2005). Escrito em parceria com Robert Rigby, é o 2º livro da série Boy Soldier.
5 – O Vingador (2009) Colecção Romance Jovem, Edições Asa. Título Original: Avenger (2006). Escrito em parceria com Robert Rigby, é o 3º livro da série Boy Soldier.
4 – O Desfecho (2008) Colecção Romance Jovem, Edições Asa. Título Original: Meltdown (2007). Escrito em parceria com Robert Rigby, é o 4º livro da série Boy Soldier.
TEMA — DIÁRIO DE UM ADVOGADO — LEMBRAR CHESSEMAN
Fala-se muito e muito mais ainda se deverá falar, sobre Caryl Chessman, o delinquente que se recuperou na dupla função de advogados de escritor. É ele, hoje, um valor espiritual que pertence ao mundo. Já o mestre Nelson Hungria com a autoridade da sua vibração cultural: Chessman não se pertence mais, nem mesmo é um escritor norte-americano. Chessman é um cidadão do mundo.
O pior da pena de morte é que antes dela se efetivar, na verdade e no campo espiritual, ela já está matando.
Antes da morte de Chessman, quanta coisa pura, simples, indispensável à Vida, já está sendo electrocutada, não é?
Se ao acordar amanhã os jornais me informarem terem as autoridades americanas atendido ao apelo do mundo, mesmo assim, confesso, no íntimo da minha sensibilidade e da minha convicção, continuará fermentado uma frustração e uma incontrolável vergonha…
Muita coisa já estará “legalmente assassinada”.
A morte é algo de tão absoluto, como a Vida, como a Vida, como o Espírito, como a Fratrenidade Humana, que não é impunemente que a gente se aproxima dela.
TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA — EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS NARRATIVAS: QUEM COMETEU O CRIME?
É a narrativa policiária literatura ou jogo? A forma romanceada como nasceu na segunda metade do século XIX não dá lugar a dúvidas. Manifestamente literatura — e literatura de alto nível, como o tempo e os autores consagrados se encarregaram de mostrar — lida e apreciada sob o ponto de vista lúdico e exercício de raciocínio e saber. Naturalmente que se verificaram temporalmente alterações à técnica narrativa, essencialmente três divisões capitais, que acompanham as sistemáticas perguntas ante o crime: Quem? Como? Porquê?
A primeira palavra que se aplica à identidade do criminoso, pergunta: Quem foi? Isto é, quem cometeu o crime? È a mais antiga , a mesma proposta pelo fundador inicial Edgar Allan Poe.
Eis um conto ilustrativo de Edward D. Hoch…
TEMA — CONTO DE EDWARD D. HOCH
— Não há outra saída — disse Garrison Smith, enunciando o problema em palavras, pela primeira vez — Um de nós vai ter de matá-lo.
Paul Drayer percorreu os olhos pelos outros a fim de registar-lhes a reacção. Como esperava Cliff Contrell já concordava com um gesto de cabeça; e o mais surpreendente é que Aster Martin não levantava objecções. Ocupava a cabeceira da mesa, numa espécie de imperiosa indiferença, como se a decisão não lhe dissesse respeito, como se não estivessem prestes a cometer um homicídio para defender o bom nome de todos.
— Que é que você acha, Aster? — perguntou Paul, fixando-a com os seus olhos profundamente encravados nas órbitas.
— Creio que não há mesmo mais nada a fazer — respondeu ela, com pose estudada.— Vocês todos estão naquele retrato comigo. Não discutimos apenas a minha reputação.
— Então está decidido! — disse Garrison Smith, sempre na liderança — A qual de nós tocará?
Cliff Contrell limpou a garganta:
— Quais são as horas dos encontros?
Smith consultou as notas feitas na mesa à sua frente.
— Contrell às duas horas, Drayer às duas e meia, e eu às três horas. Ele quer 12500 dólares pelos negativos de cada um de nós, em dinheiro sonante.
— Eu sou o primeiro — disse Contrell — de modo que com toda a certeza vai calhar-me a mim.
Mas Paul trouxe uma palavra de cautela.
— Como saberá se ele tem mesmo os negativos no escritório? Pode matá-lo sem proveito nenhum, e aí onde ficaremos? O que será de Aster?
— Estará na primeira página de todos os jornais do país! — respondeu a própria Aster — Não creio que algum de vocês tenha coragem bastante para o matar, porém nenhum dos três está em condições de pagar uma chantagem para o resto da vida.
— Está bem, está bem! — Garrison Smith voltara a assumir as rédeas mais uma vez. — Que acham disto? Contrell vai ao escritório dele às duas horas, esta tarde e paga os 12.500 dólares. Paul, depois, encontra-o lá fora para saber se os negativos estão mesmo no escritório. Em caso afirmativo, Paul sobe as duas e meia, mata o nosso amigo chantagista e retira os dois negativos e o dinheiro de Cliff.
Ao cabo de alguns minutos de discussão chegaram a um acordo.
— E eu? — perguntou Aster Martin.
— Você fica aqui, aguardando o resultado — respondeu Smith — Já nos causou problemas de sobra
Leonardo Flood era um ídolo das matinés, a caminho da velhice, o querido dos colunistas sociais e um chantagista. Era neste último papel que Paul Drayer e os outros melhor o conheciam. Quando a peça Morning Five estreou na Broadway projectando Aster Martin da noite para o dia, não sobrara tempo a nenhum deles para pensar nas fotos, uma inofensiva indiscrição rapidamente esquecida. Esquecida por todos, sim, excepto por Leonardo Flood.
Ele obtivera os negativos — roubara-os, para ser mais exacto, e telefonara aos três homens envolvidos. As suas exigências eram muito simples cada um deles pagaria 12500 dólares e os negativos seriam devolvidos. Do contrário, a mais nova namoradinha da Broadway seria apresentada aos colunistas — e ela sabia que todos possuíam uma profunda lealdade para com Aster.
Levando no bolso uma pequena automática calibre 22, Paul Drayer apanhou o elevador e entrou no Reservado sem bater. Encontrou o homem grisalho sentado numa cadeira giratória atrás da mesa simples de madeira. Havia um arquivo num canto da sala, ao lado da única janela fechada. Um ventilador elétrico girava lentamente junto ao tecto. Excetuando-se isto, a sala se achava tão nua e delapidada quanto o próprio prédio.
— Ah! — Saudou-o o actor. — O segundo componente do fã clube de Aster Martin! Ainda bem que é pontual. Gosto de receber os meus visitantes na devida ordem.
— Vim em busca dos outros negativos, Flood — disse-lhe Paul.
— Mas claro! O preço é 12500 dólares por unidade. O actor sorriu e ajustou a gravata enxovalhada.
Paul apontou-lhe a arma.
— Os negativos, Flood. Quero todos, senão é um homem morto. Como estou na massa, aproveito para levar o dinheiro de Contrell.
Leonardo Flood continuou a sorrir.
— Ah, quer dizer que o fã do clube seria capaz de me matar para proteger nossa caríssima Aster? Chegaria a tanto?
— Os negativos!
— E se eu lhe disser que não estão aqui?
— Falei com Contrell lá em baixo. Sei que fê-lo esperar no hall e que lhe entregou um dos negativos. Sei que estão nesta sala e quero-os todos.
— De nada adiantará matar-me. Jamais os encontrará.
— Veremos — replicou Paul e virou a pequena arma para a testa de Flood, dando um golpe seco que deixou o actor inconsciente no chão encardido.
Agora precisava de agir depressa. Os negativos eram partes de um de filme de 35 mm — fáceis de esconder e não muito difíceis de encontrar. Primeiro o corpo, pedacinho por pedacinho, e as roupas, que devolveram o dinheiro de Contrell, nada mais. Paul revistou a gravata de Flood, bem como as solas dos seus sapatos, não excluindo um só detalhe do vestuário. Repassou cada ponto da costura por duas vezes, sem o menor sucesso.
Atirou-se, então, à escrivaninha, revistando gavetas, tacteando nas pernas de madeira, nos lados e fundo da mesa, prevendo a possibilidade de algum esconderijo secreto.
Revistou o magro conteúdo do arquivo e até levantou com cuidado O rodopiante ventilador preto, para olhar para a parte de baixo. Abriu a janela para tactear ao longo do peitoril. Que mais faltava?
Ao cabo de vinte minutos, Paul desistiu. Flood começava a recuperar a consciência e nada havia a ganhar ali — nada, a menos que Paul se dispusesse a ir a extremos e matasse o homem.
Saiu e fechou a porta atrás de si.
Às três e dez, pelo seu relógio, resolveu telefonar para Smith e comunicar o seu fracasso. Mas ao entrar na cabina telefónica não ouviu o zumbido habitual antes de discar.
— O que aconteceu aqui? — perguntou ao empregado do balcão.
Houve uma avaria na luz e toda a área ficou afectada. Não funcionam nem mesmo os amaldiçoados aparelhos de ar condicionado!
Paul suspirou e sentou-se para esperar. As comunicações telefónicas foram restabelecidas e pode ligar pare o escritório de Simth. Ninguém respondeu. Evidentemente Simth fora ao encontro de Flood, marcado para às três e meia.
Paul atravessou a cidade de carro e estacionou ao lado do teatro. Aster e Cliff estavam no escritório do director, à sua espera, mas não havia sinal de Garrison Smith.
— Encontrou os negativos? — perguntou Aster.
— Não. Demoli o pequeno escritório e não encontrei nada.
— Mas eu sei que estavam com Flood — insistiu Contrell.
— Aqui tem o seu dinheiro. Pelo menos encontrei-o. — Atirou o grosso rolo de notas sobre a mesa, no instante em que Garrison Smith entrava.
Smith sorria de leve.
— Você fez um excelente trabalho, Paul. Não sabia que era capaz de tanto.
— Não entendo o que está a dizer — replicou Paul, sentindo o pânico a apertar-lhe o estômago.
— Flood está morto, é claro. Você atingiu-o bem no meio dos olhos.
Paul Drayer encarou Smith com os olhos cheios de incredulidade.
— Eu não o matei — disse — Derrubei-o, sim, e revistei a sala toda, mas nada encontrei. Estava vivo quando o deixei.
— Pois agora está morto,— replicou Smith, e ninguém duvidou da sua palavra.
— Então outra pessoa matou-o. Um de nós.
Garrison Smith encolheu os ombros.
— Isso importa? Estamos todos metidos nesta história, afinal de contas.
— Talvez importe, sim — insistiu Paul. — Talvez importe e muito. Um de nós matou Flood e isso significa que um de nós está com os negativos. Enquanto esta pessoa mantiver o seu segredo, pode continuar a chantagem fazendo-se passar por uma das vítimas.
— Se julga que o matei… — começou Smith.
E Cliff Contrell tossiu nervosamente.
— Eu é que não fui, Paul. Você sabe que ele estava vivo quando o deixei.
— Isso não faz sentido — disse Aster Martin, afastando os cabelos dos olhos. — Como teria o assassino encontrado os negativos quando você não conseguiu descobrir onde estavam, Paul?
— Não sei — -admitiu ele falando devagar. Havia algo na sua mente, algo que procurava manifestar-se… — Deixei FIood, ainda vivo, pouco antes das três. O encontro de Smith estava marcado para as três e meia. Isso deixa-nos com meia hora de intervalo pelo qual ninguém responde. Se…
Paul Drayer parou de falar. As peças ajustavam-se no lugar.
— Bem…? — insistiu Smith. Veja, um homem dotado de uma mente ordenada como Leonardo Flood iria fazer chantagem com três pessoas, exigindo 12500 dólares de cada uma, num total de 37500 dólares? Estranha soma para extorsão.
Não é muito mais provável que existisse uma quarta vítima a completar o total de 50000 dólares? -Uma bela soma redonda… Esta quarta pessoa só poderia ter sido você, Aster.
Ela teve um pequeno sobressalto.
— Eu!
Paul concordou com um gesto de cabeça. Estava seguro de si, agora.
— Você não queria que a gente soubesse, primeiro por causa do seu orgulho, e segundo por temer que nós exigíssemos que pagasse os cinquenta mil sozinha.
Mas teve também um encontro com Leonardo Flood esta tarde.
— Às três horas — sussurrou Contrell.
— Exactamente — respondeu Paul. — Comecei a pensar por que motivo. Flood teria saltado meia hora no plano geral. Havia quatro meias horas e nós os quatro envolvidos no caso. E o próprio Flood disse-me que gostava de receber os seus visitantes na devida ordem. Que ordem? Alfabética, á claro: Contrell às duas, Drayer às duas e meia, Aster Martin às três e Smith às três e meia. Você tinha ficado de esperar aqui, Aster, mas quando telefonei às três e vinte e cinco ninguém respondeu. Estava a caminho do escritório de Flood com o dinheiro da chantagem.
Ela sorriu-lhe por cima da mesa sem deixar e papel de leading-lady.
— Pois bem, suponhamos que eu tenha ido lá. Sabia que vocês não teriam coragem de matar Flood, e assim fui pagar a minha parte. Isso não prova que o tenha assassinado.
— Eu creio que prova, sim Aster — disse ele em tom calmo. — Flood sempre se referiu a nós como fãs do seu clube e eu devia ter compreendido a insinuação há muito tempo. Os negativos estavam presos às pás do ventilador, mesmo à vista, mas invisíveis por causa de velocidade com que giravam. Você esteve no escritório às três horas, quando houve um corte momentâneo na electricidade em toda aquela área. O ventilador deixou de girar e você viu os negativos. Disparou contra Flood e tirou-os. Naturalmente não nos disse nada, uma vez que já estávamos destinados a arcar com as culpas.
— Está bem — disse ela, humedecendo os lábios com a ponta da língua — Pretendem denunciar-me à Polícia?
Paul Drayer lançou um olhar aos dois homens e depois voltou-se para Aster. Sorria.
— Quanto vale para si o nosso silêncio?
Comentário: o conto transcrito é um magnífico teste de raciocínio.