26 de agosto de 2012

CALEIDOSCÓPIO 239

Efemérides 26 de Agosto
John Buchan (1875 – 1940)
Nasce em Perth, Escócia. Politico e diplomata com uma extensa obra literária, em especial no campo do ensaio, história, literatura, militar etc., mas também escreve 14 romances policiários, distribuídos por 3 séries protagonizadas por Richard Hannay, Sir Edward Leithen e Dickson Mc’Cunn. Em Portugal as Publicações Europa-América editaram na Colecção de Bolso - Clube do Crime os livros Os 39 Degraus e Os Três Reféns, (clicar).


Gerald Kersh (1911 – 1968)
Nasce em Teddington-on-Thames, Londres. Começa a escrever com apenas 8 anos de idade. Autor de terror, ficção científica, fantasia e detective, especialista em contos, publica ainda19 romances. Na sua obra literária destacam-se a colectânea de contos Prelude To A Certain Midnight (1947), os romances Fowlers End (1957), The Implacable Hunter (1961) e The Angel And The Cuckoo (1966). O conto The Secret Of The Bottle (1958) ganha o Edgar Award para Best Short Story. O autor escreve também sob o pseudónimo P. J. Gahagan.



TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA — DOIS INESQUECÍVEIS
Por M. Constantino
Dois nomes, dois escritores, qualquer deles de elevada craveira literária: Buchan e Kersh.
Em Buchan não se pode deixar de lembrar o esplendor da sua obra na temática da espionagem. “The Thirty-Nine Steps” levado ao grande ecrã em 1935 por Alfred Hitchcock, protagonizado por Richard Hannay, que será personagem de ficção de mais cinco aventuras, é uma figura inesquecível.
Richard, um jovem engenheiro escocês, tal como o seu criador, ao regressar à Escócia vê-se envolvido inopinadamente com problemas de espionagem, primeiro com dificuldades, depois extraordinariamente. Há quem afirme que a sua figura retrata o general do Serviço Secreto britânico, Edmund Ironside, alcunhado de Tiny — uma contraposição irónica à sua elevada estatura.
Kersh, autor menos conhecido entre nós, é mais interessante no domínio do conto — cerca de 3000! — que se desdobra em dois grupos. O primeiro aborda o “crime-story”, o outro explora as aventuras do seu herói preferido Karmesin. Mas não é de Karmesin “ o mais inteligente, colossal mentiroso” e “maior e mais honesto vigarista e ladrão do planeta” que vamos falar, o conto em memória de Kersh, terá sido o seu último escrito completo.


CONTO — VISÃO DE CARRASCO
De Gerard Kersh
Poindexter, o velho carrasco que me ensinou a profissão, mandou-me chamar antes de morrer.
Sentei-me na cama.
— Deseja alguma coisa? Que tal um pouquinho de conhaque?
Tirei uma garrafa de um dos bolsos. Mas o velho Poindexter balançou a cabeça, dizendo:
— Não, obrigado Balsam. Não quero nada. Beberei um ovo batido com leite quente e um pouco de açúcar. Se quiser, tome um pouco de conhaque… lembre-se, no entanto de minha advertência. Sempre lhe falei sobre os perigos do álcool, sobretudo antes de um trabalho, qualquer trabalho, principalmente um trabalho importante como o que você tem a fazer, Balsam.
— Eu sei, Sr. Poindexter. O senhor foi sempre um pai para mim — respondi.
— Realmente, como qualquer um podia notar, sempre me interessei por si como por um filho. Ensinei-lhe sua profissão, não foi? Podem, dizer o que quiserem, mas irei para a história como o Primeiro Carrasco Científico. Sabe muito bem. Os outros… bem, simplesmente matavam os homens. Eu, eu executava-os. Foi mais ou menos durante a época do assassinato de Barton Place, quando aperfeiçoei o que hoje eles chamam Forca de Poindexter. Lembra-se? Foi em 1897…
— Nesta ocasião eu ainda era aprendiz — disse-lhe — e a Forca Poindexter foi anterior a mim, Sr. Poindexter, mas mesmo assim, recordo-me. Foi o senhor quem me treinou, não poderia esquecer.
Ele falava comigo com o ar um pouco severo, fazendo lembrar um professor quando fala a um aluno nervoso no momento do exame, com medo de ser desapontado, encorajando-o e aconselhando-o.
— Você precisa atender este caso singular. Eu não chegarei a ver a operação terminada. É o que os jornais chamam Ironia do Destino. Você é um rapaz de sorte, caro Balsam, um rapaz de sorte! — disse Poinclexter.
— Para falar verdade, odeio este caso. Estive quase a ponto de dizer que estava doente e deixar que alguém ocupasse o meu lugar — disse.
Poindexter levantou-se e, com uma voz enérgica disse:
— Não! Isto seria negligência, e nunca se deve agir assim! Nunca finja que está doente para fugir ao serviço, Balsam, senão eu…
Depois, melancolicamente perguntou-me:
— Quem tomaria o seu lugar?
— Sr. Poindexter, prometo não desapontá-lo. Mas bem gostaria que o senhor estivesse atrás de mim!
— Ouça, meu rapaz. Senti-me como você quando executei a Sra. Nardwick por ter assassinado o marido, quinze anos antes. Naquela época eu ainda tinha nervos, juro! Como sabe, há uma certa diferença entre executar uma mulher e um homem. Espero que nunca tenha que executar uma mulher! — disse Poindexter.
Não vamos entrar em detalhes, filho, mas a Sra. Nardwick ficou na minha mente durante bastante tempo
— Da forma como eu trabalho, Sr. Poindexter, não pode doer — disse-lhe.
O velho carrasco abanou a cabeça e disse:
— Eu não posso estar a seu lado para, Ihe ensinar o caminho certo, portanto, preciso de me assegurar de que tomará as suas próprias iniciativas, sem me desapontar, caro Balsam. Vamos, meu filho, agora já tem os pesos e as medidas estabelecidas?
— Altura: um metro e oitenta. Peso: 87 quilos.
— Pescoço?
— Dezassete polegadas, Sr. Poindexter.
— Não muito forte. Que forca usaria? perguntou o velho.
— Não tenho muita certeza. Eu diria… uma de seis pés.
— Espere! O cliente é um pouco pesado e há a musculatura do pescoço. Use uma forca de cinco pés — gritou Poindexter.
— O senhor é quem manda.
Disse que precisava de me ir embora e acrescentei:
— O senhor não quer mesmo um pouco de conhaque?
— Não obrigada, meu rapaz. Estou muito velho para adquirir novos hábitos. Encontro-o às oito horas na Yard. Tenha sempre a mão firme e, lembre-se, sincronize, sincronize. Sempre… Aliás, somente por uma questão de segurança, é melhor usar uma forca de seis pés, em vez de cinco — disse o Sr. Poindexter. — Tenha cuidado para não esfolar a minha pele, Balsam. Não me vá decepcionar, agora.


TEMA — SERÁ QUE O MUNDO VAI ACABAR — AS LENDAS E…
Continuação CALEIDOSCÓPIO 238
A tradição da existência da Atlântida e o seu desaparecimento deste continente compreende-se num ponto intermédio entre a lenda e a realidade, pois que para além da citação de Platão, nada mais que pura especulação se pode adiantar quer quanto a sua existência quer quanto a sua localização algures.
O grande filósofo grego, que viveu em Atenas no Século IV a.C. falou de Atlântida no texto de “Timeu” e no “Cristias”:

A Atlântida era uma ilha maior do que a Líbia e a Ásia juntas e os viajantes da altura podiam transportar-se desta para outras ilhas e destas chegar a um continente na margem oposta do Oceano que merecia realmente o seu nome. Nesta ilha Atlântida, os seus soberanos tinham construído um império grande e maravilhoso, compreendendo toda a ilha, outras ilhas e a parte do próprio continente… numa só noite as chuvas extraordinárias… espantosos terramotos destruíram a distante terra dos atlantes que ficou coberta pelas ondas do mar…

O mistério deste fabuloso Império tem desafiado a imaginação humana. Contam-se por centenas os temas literários que abordam o assunto nos mais diversos aspectos, desde a ciência a filosofia, a arte, a exploração, à física.
Em “The Romance of Evolution”, de Frederick H. Martens - que s2. Pomos nao traduzido em portugUs recolhem-se as lendas, referências antigas, indicações geológicas, para revelar um fantasioso mas convincente e terrível “fim do mundo”, nas últimas horas da Atlântida:

… ouro dos céus empalidece e transforma-se num cinzento espectral. Minuto a minuto a palidez acentua-se; o negrume cresce, transforma-se em púrpura e, no mar, cresce um vento forte como um gemido estranho e alto.
Um silêncio súbito abate-se sobre milhares de pessoas; as canções interrompem-se, as gargalhadas, os gritos, as conversas cessam e morrem. O vento geme, cresce, cresce, cresce num grito histérico, agudo, arrepiante…
… sem avisar, os vulcões ardentes explodem
Colunas de lava ardente, chamas ofuscantes elevam-se quilómetros no céu…
…os homens, as mulheres, as crianças correm desesperadamente… chuva negra de fuligem… de lava incandescente e zumbidora cai doas céus, junta-se às torrentes negro e acinzentadas da lava fundida que escorrega das montanhas…
… um choque tremendo rasga a cidade ao meio!
… durante um momento, um abismo enorme, terrível, abre-se perante milhares de olhos que nunca mais verão o Sol!
Nas entranhas da terra aberta arde uma grande e maravilhosa rosa de fogo; dela sai um vento forte e quente onde milhares de pessoas que o respiram soçobram como moscas de asas queimadas. Mas a rosa incandescente no coração da terra é vista apenas um momento… no seguinte, outro choque absorve palácios e templos, as águas do Atlântido irrompem do abismo e inundam tudo… levantou a ilha, a grande ilha, movendo-a em estranhos círculos, e lentamente, como pedra lisa, perde-se sob as ondas… centenas de metros sob as águas.
… minutos antes,
os homens riam, cantavam,
as aves gorjeavam…
… minutos depois, não há rasto de um só ser vivente, nem uma alma sobreviveu…
e o ar e o céu ficaram tranquilos como a morte!

É o Apocalipse
Exterminarei da superfície da Terra o homem que criei, e com ele os animais, os répteis e as aves do céu, porque me arrependo de os ter criado.

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