14 de agosto de 2012

CALEIDOSCÓPIO 227

Efemérides 14 de Agosto
Roland Daniel (1880 – 1969)
William Roland Daniel nasce em Londres, mas cresce na Florida, EUA. Actor itinerante e director teatral regressa à Inglaterra nos anos 20, onde integra diferentes companhias de teatro. Escritor prolífico, entre 1928 e 1966, publica 137 romances integrados em várias series: Michael Grant, John Hopkins, Buddy Mustard, Brian O'Malle, Jack Pearson, The Remover, Brian Saville, Michael Wallace e Wu Fang, uma espécie de Fu Manchu, um vilão ao estilo oriental. Apesar de não ser considerado um autor com uma alta qualidade literária, Roland Daniel é extremamente popular no Reino Unido, e nos EUA devido ao clima de suspense criado e ao enredo emocionante da narrativa. O autor escreve ainda 28 novelas policiárias sob o pseudónimo Sonia Anderson.


Stieg Trenter (1914 – 1967)
Stig Johansson nasce em Brännkyrka, Suécia. Em meados dos anos 30, inicia a sua carreira como jornalista do Stockholm-Tidningen — mais tarde correspondente na Abissínia — e escritor policiário adopta o pseudónimo Stieg Trenter, uma homenagem ao escritor E.C. Bentley e ao seu famoso romance Trent’s Last Case (1913). Publica 25 livros entre 1945 e 1967. O seu primeiro romance é Ingen Kan Hejda Döden) —Ninguém pode deter a morte em tradução literal —  protagonizado por um jovem jornalista, no entanto o seu herói principal. E protagonista de quase todos os romances do autor, é o fotógrafo e detective amador Harry Friberg que é apresentado em Farlig Fåfänga (1944) — Vaidades Perigosas em tradução literal — Este livro marca o nascimento de um novo modelo de romance policiário sueco e torna Stieg Trenter no escritor de mistério mais popular da Suécia nos anos 40, 50 e 60. O autor tem várias obras adaptadas ao cinema e à televisão e depois da sua morte a sua mulher continua a escrever a série Harry Friberg com base nos rascunhos do autor.


TEMA — BREVE HISTÓRIA DA NARRATIVA POLICIÁRIA — 19
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 212 (clicar)
(Conclusão de “On Murder Considered as One of the Fine Arts” (1827), de Thomas de Quincey)
Mas é tempo já de dizer algumas palavras acerca dos princípios do assassínio, não para vos iniciar na prática, mas, isso sim, para vos orientar na capacidade de julgamento. Aos leitores de jornais agrada que seja o que for, desde que bem tinto de sangue. Mas a gente de gosto requintado exige algo mais. Falarei, primeiro, do género de pessoas aptas a cometer um homicídio; referir-me-ei, a seguir, ao local, terminando com considerações sobre a hora e outros pequenos pormenores.
Quanto ao perpetrador, suponho ser evidente que deve ser boa pessoa, pois se for amante de rixas é muito capaz de ser ele a ir desta para melhor, pelo que não merece que um crítico o considere um autêntico assassino. Sei de indivíduos (não cito nomes) assassinados em vielas escuras, e, quando tudo parecia correr correcto, aprofundando-se o caso, veio a saber-se que o morto tencionara roubar o assassino, e mandá-lo para os anjinhos, se tivesse forças para isso. Sempre que for este o caso, ou assim o parecer, adeus genuínos efeitos artísticos. Porque o fim único do assassino, considerado como arte; é precisamente o mesmo da “Tragédia”, como Aristóteles a concebia, isto e, “purificar o coração por meio da piedade e do terror”. Claro que pode haver terror em tais casos, mas que piedade haverá num tigre a dar cabo de outro tigre?

(…) a vítima escolhida deve gozar de boa saúde: porque é uma barbaridade matar gente achacada, pessoas que, em geral, mal se têm de pé. Seguindo-se este princípio ficam de fora todos os londrinos com mais de vinte e cinco anos, porque, acima desta idade, pode ter-se a certeza de que sofrem de dispepsia.
Um filósofo meu amigo, bastante conhecido pela sua filantropia e bondade, sugere que a vítima escolhida deve ter filhos ainda de tenra idade, que deixará ao desamparo, tudo isto para carregar os tons da tragédia. O que, sem a menor dúvida, me parece judiciosa precaução.

O bom senso do praticante leva-o, na maior parte dos casos a preferir a noite e a solidão. Quanto a hora escolhida, a morte de Mrs. Ruscombe, a que já me referi, constitui, no entanto, uma belíssima excepção; uma outra, em que se incluem tempo e lugar, vem relatada nos “Anais de Edimburgo” (1805), e é bem conhecida de todas as crianças daquela cidade, embora não tenha merecido o devido apreço por parte dos apreciadores. Refiro-me ao caso de um porteiro de um Banco, assassinado, em pleno dia, ao virar para a High Street, uma das ruas mais concorridas da Europa, quando transportava um saco de dinheiro. E nunca se soube quem foi o assassino.
“Sed fugit interea, fugit irreparabile tempus. Singula dum capti circumvectamur amore”. (mas entretanto ele foge, o tempo foge irremediavelmente, enquanto nós vagueamos, prisioneiros de o nosso amor pelos detalhes)

Referenciamos no CALEIDOSCÓPIO 124 (clicar) e no CALEIDOSCÓPIO 125 (clicar), a criação dos “Bow Street Runners” em 1750. Em 1827 é publicado em Inglaterra, de autor anónimo, “Richmond, or Scenes in the Life of a Bow Street Runner, draw up from his private memorandum”, livro puramente de valor histórico mas com interesse, pois mostra os, factos do lado do investigador de Bow Street, ao contrário das obras do género ate então publicadas — folhetins de New Calendar, Causas Célebres, etc. Há quem considere os três volumes que compõem a obra, como se disse sob anonimato, como autobiografias de Richmond, que seria um polícia dos Bow Street Runner. Aliás, não custa aceitar a sugestão, que faz desfilar o autor, como actor ambulante. (frisou-se na apresentação dos “Runners” que costumavam juntar-se a quem queriam investigar) que ganha a amizade dos ciganos e salteadores dos caminhos. Revela o inicio da carreira desde o alistamento os amigos e os clientes ocasionais. Ouve, raciona como um autêntico Sherlock Holmes, segue pistas de ladrões e vigaristas, investiga junto de cadáveres etc. Um bom elemento de estudo.

Ainda em 1827, cita-se “The Riffle” de William Leggett (1801-1839) contido no Tales and Sketches of a Country School Master, está escrito na primeira pessoa — Jim Buckhorn — um detective froxo numa história romântica do Oeste Americano, cujo interesse se resume na apresentação ainda que rudimentar, numa decisão apoiada no factos “balística”, ciência esta, na altura incipiente, e na atribuição do assassínio à pessoa menos suspeita — o ajudante de xerife; elemento da trama que Poe usa em “Thou Art the Man”.
Em Inglaterra, Edward Bulwer Lytton (1803-1873), futuro Lord Lytton, escreveu em 1828 a novela Pelham: or The Adventures of a Gentleman que constitui, com toda a propriedade, um típico problema detectivesco ante o qual Lord Pelham se encontra quando um seu amigo, Sir Reginald Glanville, está na eminência de ser acusado de assassínio. Pelham averigua os factos que aclaram o misterioso e orienta a justiça no bom sentido.


Pelham: or The Adventures of a Gentleman
em: victorianweb.org


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