22 de agosto de 2012

CALEIDOSCÓPIO 235

Efemérides 22 de Agosto
Ray Bradbury (1920 – 2012))
Ray Douglas Bradbury nasce em Waukegan, Illinois, EUA. Ensaísta, argumentista, poeta, escritor de short stories e novelas é um dos autores de ficção científica, fantasia e mistério mais célebres do século XX. Bradbury dedica-se em exclusivo à escrita a partir de 1943 e na sua extensíssima e premiada obra literária são consideradas verdadeiras obras primas The Martian Chronicles (1950), Fahrenheit 451 (1953) e Something Wicked This Way Comes (1962). Em Portugal várias editoras têm publicado obras deste autor, no entanto o destaque vai para a Livros do Brasil que logo no Nº 6 da colecção Argonauta edita, em 1954, O Mundo Marciano (Martian Chronicles); os títulos de Ray Bradbury na Colecção Argonauta e Argonauta Gigante podem ser consultados clicando AQUI. Mais recentemente Colecção Caminho de Bolso - Ficção Científica inclui alguns títulos do autor, também As Crónicas Marcianas referidas na Biblioteca Essencial de Ficção Científica no CALEIDOSCÓPIO 121 .



TEMA — RAY BRADBURY VISTO POR ANCTUS DE ARION
Ray Bradbury desde muito novo começou a ler ficção científica, tendo-se tornado logo num activo fã acabando por editar o “Fanzine” (revista feita por entusiastas da ficção científica) “Imagination”.
Em 1934, Bradbury foi para a Califórnia, e em 1937 trabalhava na “Los Angeles Science Fantasy Society”, acabando os seus estudos em 1938. Nesse mesmo ano, Bradbury era um escritor de ficção frustrado, pois das 20 short stories que apresentou ao “Conselho do Ano” nem uma única foi aceite, tendo apenas sido aprovadas algumas poesias, o que, sem que alguém o suspeitasse, já era a manifestação de um Ray Bradbury poeta, agora considerado o “Poeta da Ficção Científica”.
Para sobreviver, Bradbury começou a vender jornais, sem contudo deixar de escrever e acabando por ver o seu enorme esforço recompensado em 1941 com a publicação do seu conto “Pendulum” (escrito em colaboração com Henry Hasse), na revista “Super Science Stories”. Entretanto Bradbury adquirira uma grande amizade com Leigh Brachett, devido entre outras coisas ao imenso gosto que ambos nutriam por Edgar Rice Burroughs, e também pela sua simpatia em relação às obras de Leigh, aparecendo-nos as suas primeiras obras extremamente influenciadas (como ele próprio admitiu numa entrevista a uma revista americana) pelo estilo de Leigh como em: “Lazarus Come Forth”, “The Monster Maker” e “Morgue Ship” nas quais ele tenta declaradamente imitar Leigh, a qual mais tarde o ajudou em “Tomorrow and Tomorrow” escrevendo-lhe as primeiras 1000 palavras, acabando o livro por ser publicado assim, acontecendo o mesmo com o conto “The Bandle” (o seu primeiro conto a ser publicado na “Weird Tales”) tendo-lhe Hank Kuttner escrito as duzentas palavras finais. Posteriormente em 1944, já com 24 anos e cheio de confiança depois de ter passado maus bocados, visto os seus contos terem sido rejeitados unanimemente pelos editores das revistas especializadas por estes os considerarem pouco “científicos” e por isso se ter visto obrigado a ter de os publicar em revistas de grande circulação e interesse geral como “Collier's” e “Mademoiselle” para se tornar conhecido do público, ele escreve a segunda parte de um conto a pedido de Leigh —“Lorelei da Névoa Vermelha” o qual alcançou um êxito inqualificável, escrevendo a seu respeito em 1965, Richard Lupof (num livro sobre Edgar Rice Burroughs): “Lorelei é uma estranha combinação do espadachim Burroughuiano e de uma fantasia enevoada e melancólica. onsidero-a realmente digna de ser lida."
 “Lorelei da Névoa Vermelha” apareceu finalmente ao público em “Planet” no Verão de 1946, dois anos depois de ter sido acabada, aparecendo Bradbury mencionado no índice duas vezes na mesma edição — uma no conto “Lorelei”, juntamente com Leight, e outra com o conto “Million Year Picnik”, a primeira da série de contos de Marte. Dois “Bradbury” ali estavam lado a lado: o jovem escritor de ficção científica e o artista criador do primeiro de uma série de contos que irão dar origem, nos quatro anos seguintes às majestosas Crónicas Marcianas.
Posteriormente escreveu o argumento do filme “Moby Dick” extraído da obra homónima de Herman Melville, e a sua história “Fahrenheit 451”, deu origem a um filme com o mesmo nome realizado por François Truffaut.
Em 1968, juntamente com outros autores publicou uma págia de publicidade paga nas revistas “Galaxy” e “If” opondo-se à guerra do Vietname. É um dos monstros sagrados da Ficção Científica, sendo o seu estilo marcado pelo sonho perpétuo, que o leva a um profundo horror à técnica brutalizante, transportando-nos para um mundo ou mundos onde o termo “viver” tem um significado totalmente oposto ao de hoje. Onde viver é vegetar.

Em www.cartonaday.com


TEMA — CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICA — LEMMINGS
De Richard Matheson
— De onde vieram? — perguntou Reordon.
— De todas partes... — respondeu Carmack.
Estavam de -pé, junto da estrada da costa. Tão longe quanto a vista alcançava, a única coisa que distinguiam eram automóveis. Milhares deles, apinhados de tal maneira que se tocavam nos lados e nos pára-choques. A estrada estava cheia.
— Ainda vêm mais — disse Carmack.
Os dois polícias observavam a multidão de gente que se dirigia para a praia. Muitos conversavam e riam, enquanto outros se mantinham sérios em silêncio; mas todos iam na mesma direcção.
Reordon abanou a cabeça.
— Não compreendo. — disse, talvez pela milésima vez durante a semana. — Simplesmente não compreendo.
Carmack encolheu os ombros.
— Não penses nisso. — disse —.É qualquer coisa que está a acontecer. Que mais queres saber?
— Parece-me insensato.
— Mas é real… — opinou Carmack.
Enquanto os dois polícias vigiavam, a imensa multidão de gente avançou, atravessando a areia acinzentada da praia e continuando a caminhar dentro de água. Uns quantos puseram-se a nadar, mas a maior parte não podia fazê-lo porque as roupas os impediam. Carmack viu uma rapariga agitar se na água e logo mergulhar, arrastada pelo pesado casaco de peles que tinha vestido.
Poucos minutos depois, todos haviam desaparecido. Os dois polícias ficaram a olhar a faixa de areia por onde toda a gente havia caminhado para o mar.
— Até quando durará isto? — perguntou Reordon.
— Imagino que até todos terem ido — respondeu Carmack.
— Mas… por que fazem isto.
— Leste alguma coisa sobre os “lemmings”? — perguntou, por sua vez, Carmack.
— Não.
— São roedores que vivem perto das regiões polares. Reproduzem-se enquanto têm alimento. Quando o alimento acaba, avançam através do país, assolando tudo o que encontram. Quando chegam ao mar começam a desaparecer. Metem-se pela água e nadam até não terem mais forças. Morrem aos milhões, assim.
— E pensas que é isso que está a acontecer agora? — perguntou Reordon.
— Talvez.
— Mas as criaturas humanas não são roedores— exclamou Reordon, irritado.
Carmack não respondeu.
Continuaram de guarda à beira da estrada, à espera, mas ninguém apareceu.
— Onde estão? — perguntou Reordon.
— Provavelmente já foram todos — volveu Carmack.
— Absolutamente todos?
— Começaram a partir há uma semana… — raciocinou Carmack. — Podiam ter vindo aqui, de toda a parte. E além disto há os lagos.
Reordon ficou pensativo.
— Todos… — pensou, em voz alta.
— Na realidade não sei. — rectificou Carmack — Mas o caso é que até hoje tem vindo com regularidade.
— Meu Deus? — suspirou Reordon.
Carmack tirou um cigarro, e acendeu-o.
— Bem… —disse Reordon. — Quem segue? Nós?
— Tu irás primeiro… — volveu Carmack — Eu demoro-me um momento para ver se fica alguém por aí.
— Está bem…— concordou Reordon. Levantou uma das mão e acrescentou: — Adeus!
Apertaram as mãos.
— Adeus Reordon…— respondeu Carmack.
Ficou a fumar o cigarro e a ver o seu amigo atravessar a areia e continuar a caminhar dentro de água, até que a cabeça mergulhou. Depois viu Reordon nadar umas dezenas de metros antes de desaparecer.
Ao cabo de um momento, atirou fora o cigarro e olhou em volta. Então dirigiu-se também para a água.
Mais de um milhão de automóveis ficaram, vazios, parados ao longo da estrada…

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