6 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 250

Efemérides 6 de Setembro
Arthur Train (1875 - 1945)
Arthur Cheney Train nasce em Boston, EUA. Advogado e escritor policiário é conhecido pelos seus 8 romances e 14 livros de contos protagonizados pelo advogado Mr. Ephraim Tutt, que surge em Tutt and Mr. Tutt (1920).

Richard Hull (1896 – 1973)
Richard Henry Sampson nasce em Londres. Oficial britânico de infantaria dedica-se à escrita em exclusivo a partir de 1934, depois do sucesso de The Murder Of My Aunt. Escreve no total 15 romances de mistério/detective protagonizados pelo Inspector Fenby. Em Portugal está editado:
1 – O Assassinato Da Minha Tia (1961), Nº168 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: The Murder Of My Aunt (1934).


Elizabeth Ferrars (1907 – 1995)
Morna Doris MacTaggart Brown nasce em Rangoon, Myanmar (Birmânia). Escritora britânica publica 54 romances protagonizados por diferentes personagens: Toby Dyke, um repórter britânico de Devon, Virginia Freer, fisioterapeuta e Andrew Basnett, um professor de botânica reformado. A escritora é membro fundador da Crime Writers Association. Alguns dos livros de Elizabeth Ferrars estão publicados nos EUA com o pseudónimo E. X. Ferrars.

Andrea Camilleri (1925)
Andrea Calogero Camilleri nasce em Porto Empedocle, Sicília, Itália. È director e encenador teatral e também escritor. Os seus romances policiários mais divulgados têm como protagonista o Comissário Salvo Montalbano. Em Portugal os seus livros têm sido vindo a ser editados desde 1999, pela Difel e Bertrand (clicar) e pela Editorial Presença (clicar)


TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA — UM PERSONAGEM DE TRAIN
Por M. Constantino
O homem do Serviço Secreto, uma espécie de lenda, identificado por A124 é igualmente o mais temido de todos os detectives de França. Consta do livro Murder For Pleasure de Howard Haycroft, capítulo “Quem é quem na ficção dedutiva”, no entanto é um ilustre desconhecido para a maioria dos atentos leitores dos personagens policiários. É que Train escolheu outro personagem o Sr. Tutt, para a maioria dos seus escritos, todavia podemos registar que Donaque — o personagem de que falámos — de nome próprio René, é um homem delgado e baixo, de mão e pés pequenos, rosto para passar despercebido entre os parisienses, o que para ele vale ouro, porquanto lhe dá a liberdade para actuar em “situações particularmente incómodas”.

TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA — HULL E A NARRATIVA INVERTIDA
Por M. Constantino
Richard Hull não sendo um escritor muito prolífero, seguiu a tradição da novela (de detective) invertida ao publicar o seu primeiro romance The Murder of my Aunt (1935), na sequência de Francis Illes — ps. Anthony Berkeley — (clicar) em Malice Aforethought (1932) e Before the Fact (1933). A narrativa policiária invertida é um método revolucionado por R. Austin Freeman (clicar)
Aquele primeiro livro de Richard Hull foi seleccionado por Christopher Morley para uma trilogia Murder Whit a Difference, e, de um modo geral segue a novidade do género.



TEMA — CONTO POLICIÁRIO DEDUTIVO — MISTERIOSO SUICÍDIO
De Elizabeth Ferrars
Jimmie Marston, de sete anos de idade, avistou os dói olhos luminosos através dos arbustos existentes à entrada da pedreira. Jimmie considerava a pedreira como sua propriedade particular e avançou para investigar.
O carro fora deixado na extremidade de um velho trilho de carroças e estava com os faróis acessos, embora o crepúsculo mal tivesse começado.
Jimmie não tinha medo. Chegou-se ao lado do carro e olhou para a figura que estava imóvel atrás do volante. Então um terror cego explodiu na sua cabeça.
Correndo e gritando, voltou para casa. Não falou com muita coerência, mas o pouco que o seu pai percebeu foi o suficiente para o fazer correr até à pedreira.
Depois de olhar o carro de perto, o pai correu até a polícia, quase tão abalado quanto o filho. Uma mulher, explicou ao Sargento Buller, levara o carro pelo velho trilho da pedreira, existente nas traseiras de sua casa e degolara-se de tal forma, que a cabeça estava quase separada do corpo.
Uma hora antes, na cidade mais próxima, Bertram Wilde, advogado, procurara a polícia, a fim de apresentar queixa do desaparecimento de sua esposa.
Começara, timidamente por incomodar a polícia, pois, de uma hora para outra, a mulher poderia voltar para casa. Mas explicou que ela estivera muito engripada e sofria terrivelmente a depressão que esse tipo de doença costuma causar.
— Exactamente por isso é que estou tão preocupado. — declarou — Ela ainda estava com febre, quando saiu de casa, hoje de manhã. Tenho a certeza de que não pretendia sair. Apesar disso, quando cheguei a casa, ao meio-dia, a fim de preparar o almoço, porque estamos sem empregada, desaparecera.
— Deve ter saído pouco depois de mim, pois o Dr. James disse que telefonou lá para casa às dez horas e ninguém atendeu. O que faz a situação parecer ainda mais estranha e alarmante é que ela parece não se ter vestido. Levou um casaco de peles. Exceptuando isso, creio que usa apenas a camisa de dormir e um par de chinelos…
… as roupas que usava a mulher encontrada morta dentro do carro, na pedreira. Deixara no carro um bilhete para o marido. Dizia:
“Sinto muito, Bertie, mas não posso evitar.”

E aquilo era tudo, disse o Sargento Buller, apresentando seu relatório ao Inspector Wylie. Um caso evidente de suicídio. Pobre mulher. Matara-se quando o equilíbrio de sua mente estava abalado.
Mas, aos olhos do Inspector Wylie, o caso não parecia tão simples. Não podia compreender por que motivo Jennifer Wilde levara o carro até a pedreira e cortara o próprio pescoço, quando na própria casa possuía um confortável fogão a gás. Além disso, o inspector não confiava em bilhetes de suicídios escritos em pedacinhos de papel.
— Gosto mais quando se pode reconhecer o início, o meio e o fim desses bilhetes — declarou ele. — Esse pedaço do papei poderia ser rasgado de uma carta sobre um assunto completamente diferente. Por outro lado, há o caso dos faróis do carro. Porque estavam acesos? Ainda era de dia quando ela chegou à pedreira, não é verdade?
Depois de reflectir um pouco, o inspector acrescentou:
— Creio que vou conversar com aquele médico.
Não conseguiu muito do Dr. James, excepto uma confirmação de que a Srª. Wilde sofria de uma infecção provocada por vírus e que lhe causara uma profunda depressão nervosa.
Entretanto o Dr. James fora visto em companhia de Jennifer Wilde com uma frequência suficiente para causar um certo escândalo. Visitava-a um número desusado de vezes quando ela adoecia… ou supostamente adoecia.
Os amigos de Jennifer sugeriram ao Inspector Wylie que ela provavelmente se suicidara devido à tensão nervosa provocada por aquela situação. Um outro amigo julgava que ela se decidira a abandonar o marido e, só então, descobrira que o Dr. James não tencionava arruinar a sua carreira de médico por causa dela.
Wylie, desconfiando do médico, que lhe causara a impressão de ser um sujeito de modos suaves mas de carácter impiedoso, — do tipo que não hesitaria em tirar a vida de uma mulher, caso esta se tornasse demasiadamente impertinente — foi interrogar Bertram Wilde.
O desolado viúvo, um homem curvado e nervoso, com cerca de cinquenta anos, parecia completamente atordoado, como era de se esperar. Torcendo nervosamente as mãos, disse a Wylie:
— Nunca me devia ter casado com ela. Desejava fazê-la feliz, pensava que podia. Eu era velho demais para ela. Deveria ter percebido isso desde o início…
Wylie julgava que o advogado sabia tudo a respeito do Dr. James, mas o choque que sofrera com a perda da esposa tornara-o incapaz de, naquele momento, sentir desejo de vingança ou até mesmo raiva do médico. Não mostrava o menor sinal de suspeitar de que o médico tivesse cometido o crime. Mas, por outro lado, o médico também não tentara despertar suspeitas contra o marido da vítima. Sem saber bem o que pensar, Wylie procurou concentrar-se no problema dos faróis do carro.
— Porque deixou os faróis acesos? — perguntou ele, mais uma vez, ao Sargento Buller. — Porque chegou a acendê-los? Não houve nevoeiro naquela manhã, houve?
— Ora, porque é que um assassino havia de deixar o carro com os faróis acesos? — perguntou Buller ao Inspector Wylie. — É de se pensar que seria a última coisa que um criminoso iria fazer.
— Exactamente — concordou Wylie. — Suponhamos, por exemplo, que foi o médico quem matou aquela mulher. Suponhamos, também, que desejasse que o cadáver consumisse até que não pudéssemos determinar com precisão de horas, ou mesmo dias, há quanto tempo ela morrera. Seria muito fácil guardar o cadáver no carro durante todo o dia e, ao cair da tarde, levá-lo para a pedreira.
— A essa altura, seria preferível acender á s luzes do carro, em vez de se arriscar a ser detido por conduzir com as luzes apagadas. Mas como seria possível que se esquecesse dos faróis acesos? Se olhasse para trás, pelo menos uma vez, quando se afastasse do local, teria visto os dois faróis a brilhar como chamarizes. O mesmo aconteceria com o marido, se tivesse cometido o crime na noite anterior…
Wylie interrompeu-se de repente. Acabava de descobrir a resposta para sua pergunta. É fácil alguém esquecer-se de apagar os faróis de um carro quando eles se tornam praticamente invisíveis.
No dia seguinte, o marido da vítima foi preso por ter assassinado a esposa. Parecia quase satisfeito por poder contar à polícia como a encontrara a escrever uma carta de despedida. Fora justamente daquela carta que rasgara o pedaço que deixou no carro, em jeito de bilhete de suicídio. Mas o problema dos faróis do carro o intrigava tanto quanto intrigara Wylie.
Bertram Wilde partira a caminho da pedreira quando a madrugada ainda estava escura. No caminho, á medida que o sol raiava, não percebeu que a luz dos faróis já não se fazia notar. Esquecera-se de que estavam acesos e assim os deixara … e com o escurecer, chamaram a atenção de Jimmie Marston.


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