23 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 267

Efemérides 23 de Setembro
Emma Orczy (1865 - 1947)
Emma Magdalena Rosalia Maria Josefa Barbara Orczy nasce em Tarna-Örs, Heves, Hungria. Muda-se com os pais para Bruxelas, Paris e Londres onde estuda Arte. Emma Orczy, ou a Baronesa Orczy é pintora, ilustradora e novelista torna-se célebre por ter criado um personagem, Pimpinela Escarlate, que surge inicialmente numa peça teatral escrita em parceria com o seu marido. Os seus primeiros contos policiários foram publicados em The Royal Magazine e posteriormente reunidos em livro.


TEMA — UM PERSONAGEM NOTÁVEL DA BARONESA DE ORCZY — O VELHO DO CANTO
É o primeiro detective que, podendo ser identificado pelo aspecto, não se lhe conhece o nome. É simplesmente o Velho do Canto. Um homem de idade que todas as tardes se coloca num canto do salão de chá ABC (Aerated Bread Company) em Norfolk Street, em plena Strand londrina, e aí, sem sair do mesmo lugar, resolve com apurada lógica os casos mistério-policiais que ocorrem, lê nos jornais ou lhe são apresentados pela jornalista Mary (Polly) J. Burton.
É um tipo estranho, grotesco, alto, que veste um extravagante traje aos quadrados, é extremamente sagaz. Entretém-se constantemente a produzir nós numa corda que sempre traz consigo
 “Eu sou apenas um amador — diz. O crime não me interessa mais do que uma partida de xadrez bem disputada, com muitos e intrincados movimentos de peças”
De facto, o crime não lhe interessa mais do que um problema, os seus exercícios de inteligência nem sequer são do conhecimento da polícia, muito menos do eventual criminoso, que pode continuar em liberdade com o regozijo do “velho” e o desespero da polícia.
Foram recompilados três grupos de contos deste personagem “The Case of Miss Elliott” (1905) com doze contos, “The Old Man in the Corner” (1909), igualmente com doze histórias e “Unrevealed Knots” (1925), com treze casos do mesmo detective
Sem a fama de o Velho do Canto, a notável autora de Pimpinela Escarlate, criou ainda dois outros detectives: Lady Molly (Molly Robertson-Kirk, (directora da secção feminina da Scotland Yard), em “Lady Molly of Scotland Yard” (1910) e o advogado Mr. Patrick Mulligan, contido em doze histórias de “Skin O’ My Tooth” (1928).




TEMA — UM CASO VERÍDICO — O HOMEM SEM IMPRESSÕES DIGITAIS
Robert James Pitts gozava de uma curiosa má fama entre os “diplomados” do sistema penitenciário da Carolina do Sul, onde Pitts cumpriu a maior parte das penas acumuladas durante sua carreira criminosa de mais de 40 anos.
O retorno mais recente à prisão ocorreu em 1970, condenado por coroar a diversificada carreira criminal com um assassinato cometido no decorrer de um assalto.
Pelos comentários feitos por observadores qualificados, Pitts não considerava a vida de presidiário um sofrimento; muito pelo contrário, alguns sugeriam até que ele era mais feliz lá dentro.
Bob Pitts era ímpar, era o único homem do mundo que poderia dizer sem mentir:
— Eu não tenho impressões digitais!
Condenados recém-chegados logo ficavam a saber da estranha peculiaridade de Pitts, mas lhes era impossível acreditar. Isso dava origem a apostas, das quais Pitts ficava com a parte do leão. E, como se isso não bastasse, ele ainda cobrava dos incrédulos uma taxa, pelo privilégio de ver aquelas mãos inteiramente desprovidas de impressões digitais.
Do ponto de vista dos agentes da lei, um escroque sem impressões digitais é um fenómeno dos mais perigosos por, pelo menos, duas razões: pode cometer uma grande variedade de crimes sem deixar vestígios e, o que é muito pior, pode espalhar pelo submundo do crime o segredo de como remover as impressões.
Pitts deliciava-se em contar sua história que começava a 30 de Outubro de 1941, uma tarde de quinta-feira, quando um carro da polícia parou ao lado de um homem de seus vinte e poucos anos
Dois polícias saltaram do carro e começaram a fazer algumas perguntas de rotina. O andarilho, sem se mostrar nem um pouco perturbado, respondeu polida e convincentemente aos polícias, os patrulheiros H. R. Owens e R. C. Levelace.
— Qual o seu nome? — perguntou Owens.
— Paul Klein — respondeu imediatamente o andarilho.
— Para onde vai? — indagou Lovelace.
— Nenhum lugar em particular — a resposta veio junto com um encolher de ombros que parecia indicar uma consciência limpa Não estou a pedir boleia. Se algum motorista me oferecer aceito, mas eu não peço favores
— Documentos — pediu Owens O jovem pareceu não se importar com o pedido e começou a tirar dos bolsos seus poucos pertences: dinheiro, lenço, um aparelho de barbear, pedaços de papel, algumas chaves, um canivete inofensivo e um isqueiro barato.
Quando os patrulheiros disseram que aquela colecção de objectos não servia para comprovar sua identidade, ele retrucou:
— Vocês terão que aceitar minha palavra. Eu não estou metido em nenhuma encrenca, não estou sem dinheiro, posso pagar o que preciso e não estou a incomodar ninguém. Só estou a viajar.
Parecia ser sincero, mas mesmo assim os dois polícias insistiram:
— E a carteira de motorista? E o certificado de reservista?
A compostura de Paul Klein não foi abalada. Com simplicidade, ele disse tê-las perdido.
Os dois polícias resolveram levar Klein à esquadra de polícia de El Paso.
Como rotina, o primeiro passo foi tirar as impressões digitais. O encarregado segurou uma das mãos de Klein, pressionou a ponta de um dedo na almofada de tinta e tentou fazer a impressão. O resultado o deixou perplexo: era uma simples mancha de tinta.
Todas as pontas eram absolutamente lisas.
O choque desta descoberta pôs o Quartel General da Patrulha Rodoviária num alvoroço total. Eles tinham sob custódia um homem cuja identificação era virtualmente impossível. E porque teria um homem removido suas impressões?
O facto foi imediatamente levado ao conhecimento de Homer Garrison, chefe do Quartel General da Patrulha em Austin, capital do Texas. Ele sabia que John Dillinger e muitos outros gangs tentaram livrar-se de suas impressões digitais queimando, raspando, descascando, lixando e submetendo-se a cirurgia, mas tais métodos só serviram para acentuar mais ainda as características individuais de suas impressões.
Mas, eis que aparece um homem que acertou onde todos os outros falharam. O chefe Garrison notificou o FBI em Washington, cujo director, J. Edgar Hoover, mal pode acreditar no que ouviu.
Era urgente descobrir--a verdadeira identidade de Klein, para em seguida descobrir quem fora o cirurgião sem escrúpulos que realizara o sinistro milagre, para evitar que ele repetisse a infâmia. E ainda havia uma incógnita de extrema importância: em quantas outras mãos ele teria realizado sua mágica?
Enquanto isso, Paul Klein contemplava a confusão com um sorriso de prazer. Os melhores interrogadores do estado nada conseguiram arrancar dele.
Tendo Garrison notado um leve sotaque sulista na voz de Klein/Pierce, resolveu telefonar para seu velho conhecido, Frank N. Littlejohn, detective chefe da polícia de Charlotte, Carolina do Norte.
Littlejohn, que desvendara ou ajudara a elucidar alguns dos casos mais importantes do Sul, só acreditou no que lhe era contado porque era Garrison quem o dizia. Mas não havia nenhum homem chamado Pierce ou Klein que fosse procurado pelo seu departamento, assim como em todos os outros em que Garrison procurara informações. Mesmo assim, Littlejohn pediu uma descrição mais detalhada de Plerce/Klein. Estava interessado no caso.
Desde Maio daquele ano ele tentava localizar um certo Robert James Pitts, um criminoso veterano, que estava a ser procurado por um trabalho feito em North Wilkesboro. A descrição correspondia à de Pitts.
O FBI segurou Pitts por três meses antes de entregá-lo a Littlejohn, mas nada obteve dele.
Littlejohn acompanhara toda a carre-ra de Pitts, desde que este era um garoto e já o tinha prendido várias vezes, conhecendo-o, portanto, muito bem. Por isto não se surpreendeu quando no dia seguinte soube que Pierce tinha confessado que o seu verdadeiro nome era Pitts. Pitts tinha contado também toda a sua carreira criminal às autoridades texanas, mas recusar-se a fornecer qualquer detalhe sobre a operação. Entretanto descobriram, não o médico, mas o sistema utilizado.
Primeiro, o doutor cortou a carne das pontas dos dedos da mão esquerda quase até os ossos. Depois as pontas dos dedos foram colocadas dentro de cortes feitos no lado direito do peito durante três semanas onde a carne, em contacto cresceu Os dedos foram então separados do peito. Assim, novas pontas foram formadas sem impressões digitais, sem afectar as unhas, nem o movimento dos dedos. O procedimento foi então repetido na mão direita.
A pena reservada a Pitts pelos seus últimos crimes foi de 26 anos.
Quando Littlejohn voltou à penitenciária um mês depois, foi com uma proposta à queima-roupa: o nome do doutor em troca de uma redução na pena. Ainda não seria desta vez que Pitts cederia, assim como não seria em nenhuma das próximas vezes que o chefe conseguiria saber alguma coisa.
Littlejohn resolveu então tentar outras pistas. Depois de muito pressionar um parente chegado de Pitts, este cedeu e disse ao polícia para efectuar uma busca cuidadosa ao quarto de Pitts.
Foi o que Littlejohn fez e depois de muito procurar encontrou entre o espelho e a maderia do armário, um cartão com o nome e o endereço de um médico em City, New Jersey.
Sem demora, Littlejohn foi à penitenciária e perguntou a Pitts:
— Como foi que conheceu o doutor Ernest Matz?
— Nunca ouvi falar de nenhum doutor Matz — veio a resposta fraca e assustada.
Uma semana depois as autoridades do presídio interceptaram uma mensagem de Pitts para o doutor Matz. Littlejohn esperou até o detido estar ansioso por uma resposta para voltar à prisão. Revelou a Pitts que a mensagem tinha sido interceptada e que a única maneira de se ajudar era ajudando à polícia. E um mês depois, Pitts finalmente “cantou”.
Quando ele estava em Alcatraz, fizera amizade com o companheiro de cela, Fritz Gumpert, famoso gangster que cumpria pena por um fabuloso roubo de um caminhão do correio americano. Ele dera-lhe o cartão do doutor Matz, acrescentando: “Se um dia precisar de algo grande use este cartão”.
Ao começar a ser procurado pelo assalto de North Wilkesboro, resolveu ir a New Jersey procurar Matz.
Lá, foi bem recebido e após três semanas, Ernest Matz ofereceu-se para remover a cicatriz da face de Pitts.
Dois meses depois, o doutor perguntando-lhe se queria ficar livre das impressões digitais, avisando-o que a dor seria infernal, o que não demoveu Pitts.
Ernest Matz foi preso e acusado de abrigar um fugitivo da justiça e de adulterar a aparência de um homem com intuito criminoso. Porém, para desgosto de Littlejohn, que tanto se esforçara, ele foi absolvido da primeira acusação, alegando que não sabia que o homem era um fugitivo, e da segunda porque o tribunal decidiu que retirar as impressões digitais não era um acto criminoso.
Pitts teve sua pena reajustada de maneira a poder sair em quatro anos e foi transferido para um campo de trabalho onde pôde receber as visitas da família. Mas, pouco tempo depois, pressionado por Littlejohn, que lhe prometia outra redução na pena, Pitts acabou por confessar o que conhecia sobre a clínica do Dr. Matz; estas pistas levaram o FBI a desvendar dois casos misteriosos, um de sabotagem e outro de assassinato.
Como fora prometido, Pitts foi libertado, e como era de se esperar, voltou ao mundo do crime. Em 1949 apanhou 21 anos por roubo e em 1969, Pitts usou uma arma contra um homem e a sentença foi prisão perpétua a ser cumprida na Carolina do, Sul.
Parece que Pitts estava feliz com a vida de prisioneiro, fazendo uso de seu status de “único no mundo sem impressões digitais” e ainda por cima facturando uns cigarros por causa disso
A 26 de Junho de 1976 terminou a vida de Robert James Pitts.
Dedos sem impressões digitais

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