8 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 252

Efemérides 8 de Setembro
Martha Albrand (1914 - 1981)
Heidi Huberta Freybe nasce em Rostock, Alemanha. Ainda na adolescência começa a escrever contos para crianças e romances, sob o pseudónimo Katrin Holland, com grande sucesso. Em 1937 deixa o seu país natal e emigra para os EUA e opta pela narrativa policiária, em especial contos e novelas de mistério, suspense e intriga internacional. Escreve cerca de 30 livros policiários, uma peça para televisão, Nightmare in Copenhagen. Os críticos destacam na sua obra literária: Endure No Longer (1944), passado na Alemanha, Whispering Hill (1947), After Midnight (1950), premiado com Grand Prix de Littérature Policière, A Door Fell Shut (1961) e Manhattan North (1971), sobre um crime num Supremo Tribunal de Justiça. O romance Desesperate Moment (1951) é argumento de um filme de 1953 com o mesmo nome.




TEMA — SENTIR O RITMO DO CORAÇÃO: ANOS DE SAUDADE, NUNCA TE DIGO ADEUS
De M. Constantino
Homem e terra. O melhor dos homens, é como a água, beneficia todos… a melhor terra é aquela que nos atende, como mãe, amiga e mulher…
Cheguei há cinco anos, terra amiga. Cinco anos que são cinco séculos para a juventude, poucas horas para a maturidade, escassos minutos para quem ama. E eu amo-te. Amo-te terra ribatejana. Cheguei, vi-te e amei-te no teu vestido de nuvens verdes de esperança dos vinhais, no rosto da flor campestre donde exala subtil perfume que alegra os sentidos como suspiro de brisa primaveril.
Vejo-te em três faces distintas MÃE, AMIGA e MULHER.
MÃE — Acolheste-me no teu regaço como mãe carinhosa. Nunca me chamaste forasteiro, afagaste-me. Senti-me como teu filho, tão filho como os que nasceram do teu seio.
Sim trataste-me como mãe extremosa… nem sequer faltaram as palmadas! Mas nunca nos zangamos, isso não, os nossos pequenos desentendimentos nem chegaram a magoar, eram de mãe para filho, de filho para mãe… e se alguma vez me julgaste injusto, nunca o fui em consciência, lembra-te, era por ti que o fazia, e tu, como boa mãe, sabes compreender.
Deste-me as primeiras rugas, os primeiros cabelos brancos… não o lamento; se foi de ti por ti!
AMIGA — Querida Amiga. Não ostentas brasões de fidalguia mas és fidalga no receber, na tua cabeça não se vê coroa real; mas para quê?
Sim, para quê se, para mim, és sempre rainha?
Não tens grandes monumentos, luzes deslumbrantes, as tuas ruas são modestas, algumas talvez estreitas… largas, porém, para nelas caberem os meus sonhos.
Terra de promissão, Amiga! Aos amigos nunca se diz adeus. Não nunca te direi adeus… dir-te-ei apenas, não como o francês “até à vista”, mas como o bem português “até já”.
MULHER — Mulher ideal que se procura a vida inteira e que nunca se tem porque é sempre de outro. Mulher que perto ou longe nos deixa sempre no coração o longo suspiro abafado da saudade…
Que me importa se nunca foste minha, que me importa se és doutro e te amei? Pequei porventura? Se é pecado amar-te, se é pecado ter na alma, o calor, o brilho das estrelas que pressinto vibrar no teu ardor, se é pecado seguir o instinto que se revela em meu peito e nos teus olhos, se é pecado… perdão, Meu Deus, perdão… mas, trocaria, sim trocaria, o céu brilhante e prometido pelos fumos do negro inferno, por um instante de ventura… um instante apenas… entre os teus meigos braços!


TEMA — CONTO POLICIÁRIO — O ASSASSINATO DA DUQUESA
Em 1847, a Duquesa de Praslin foi encontrada morta. Pouco mais de uma semana se passou, e o duque morreu também. Era inegável que a duquesa tinha sido assassinada pelo marido. A polícia francesa e a população tinham certeza disso.
Este acontecimento trágico ocorrera num ambiente em que a felicidade perfeita tinha durado pouco tempo. A tranquilidade doméstica desse casal da nobreza, que havia começado em 1824, continuava inalterável até 1841, quando entrou em cena, vinda da Inglaterra, Mlle Deluzy-Desportes. Esta tinha sido contratada como governanta para as crianças dos Praslin. Tanto nos seus modos quanto na sua aparência, era encantadora e eficiente. As crianças imediatamente afeiçoaram-se a ela e o pai deu-lhe logo todo apoio. A duquesa, porém, não gostou dela.
Madame Praslin começou a ter ciúmes doentios da pequena governanta de voz suave que dirigia tão competentemente os serviços da casa. Ela acreditava que Mlle Henriette a tinha suplantado no amor do marido e no amor das crianças, além de roubar-lhe o lugar de dona de casa. A corte francesa começou a comentar o facto e o escândalo tornou-se o assunto predilecto de toda a nobreza de França.
Afinal, o assunto parecia chegar a uma solução pacífica. A duquesa pediu o auxílio do seu pai, que persuadiu a governanta a deixar seu posto.
Não se passou muito tempo até que a duquesa arranjou outro facto para renovar a grave suspeita. Para grande surpresa e aborrecimento seu, chegou-lhe aos ouvidos que Mlle Desportes ainda estava em Paris. Tinha conseguido um lugar num colégio interno.
Certo dia o duque levou algumas das crianças em visita a Mlle Desportes.
As crianças gostaram muito do encontro. Porém a governanta pedia com desespero que a antiga patroa lhe desse um certificado de carácter para apresentar no seu novo emprego. O duque prometeu-lhe que iria tentar convencer a espora a fazê-lo e combinou com a governanta que o fosse buscar no dia seguinte. Então o duque e as crianças despediram-se. As 11 horas da noite, a família do duque dormia perfeitamente tranquila.
Entretanto, às 4,30 da manhã do dia seguinte, o horrível crime foi cometido. Ouviam-se gritos terríveis vindos do quarto de dormir da duquesa e o violento repetir de toques de sua campainha. Os criados precipitaram-se para a porta do aposento, mas encontraram-na fechada a chave. Desesperados e horrorizados, só podiam ouvir o barulho de gritos estridentes que vinham de dentro. Havia também o barulho de móveis virados. Quando, finalmente, se restabeleceu o silêncio, os empregados passaram a chamar através da porta, sem obterem resposta.
Afinal, arrombando a porta, conseguiram entrar no quarto, sentindo logo o cheiro de sangue fresco espalhado por toda a parte. O quarto parecia um matadouro. No chão, perto da grande lareira, jazia o corpo maltratado da duquesa assassinada. Pelo quarto podiam-se encontrar provas evidentes de que tinha havido uma luta terrível. A única pista deixada pelo criminoso, no quarto era uma pistola ensanguentada, com cabelos e pedaços de pele colados. Enquanto os criados se conservavam boquiabertos diante daquele quadro chocante, abriu-se a porta do quarto e o duque apareceu, vestindo um roupão.
— Que houve? Que aconteceu? — perguntou.
Um dos criados abriu um postigo da janela e a claridade do dia revelou a horrenda cena.
— Meu Deus! — disse o duque. — Que infelicidade! Que crime! Quem fez isto? Chamem os médicos!
Quando o primeiro médico que apareceu lhe participou que não havia remédio para a esposa, o duque recomeçou os seus gritos de lamento. Veio a polícia, que passou uma busca, examinando e questionando todo o pessoal da casa. Antes mesmo de uma hora de trabalho, todos os olhares se voltaram para o duque. Um rasto suspeito de sangue do quarto da morta até a soleira da porta do quarto do duque. Na lareira do seu quarto, misturado com papel queimado, havia um lenço de seda. Um jarro de água ensanguentada tinha sido atirado pela janela. E, num canto do armário, havia um roupão que apontava ainda m o duque como culpado. Estava ensopado de sangue e alguns pontos deixavam ver que tinham sido lavados, numa tentativa vã de remover as manchas. No quarto de vestir foram encontradas várias armas manchadas de sangue: uma faca de caça, um punhal e uma pequena espada. A polícia parecia desconcertada diante do que encontrara. Os criados tremiam de pavor.
As declarações do duque quanto às suas actividades no momento do crime não contribuíram para o inocentar. Sem muita convicção, explicava que, pela madrugada, tinha sido acordado com gritos confusos, que pensara virem do jardim, em baixo. Armou-se com uma pistola e prestou atenção ao quarto da esposa. Não recebendo resposta aos seus chamados, voltou aos seus aposentos e acendeu uma luz, com a qual voltou para descobrir, horrorizado, que a esposa tinha sido brutalmente agredida. Antes que pudesse fazer qualquer coisa por ela, ouviu-se uma forte pancada na porta. Abriu-a e viu que o copeiro, o porteiro e os outros criados também se tinham levantado com o barulho.
— Quando procurava auxiliar minha mulher, manchei-me de sangue. Tentei fazer desaparecer com água as manchas do meu roupão. Fiz isso porque não queria assustar as crianças, a quem pretendia comunicar o que tinha sucedido à sua mãe, porém não tive coragem de fazê-lo. Pouco depois o tio da duquesa chegou e ainda se encontrava comigo quando chegou o comissário de polícia.
Não foi muito difícil a polícia reduzir esta história a pedaços e a estabelecer a culpa do duque. Ainda tinham muitas provas à mão e ele não conseguia explicar inúmeros factos inquietantes. Quando lhe perguntaram sobre a existência de cinco pedaços de corda, um dos quais manchado de sangue, que tinham sido encontrados, no bolso do seu roupão, respondera que não sabia como tinham ido ali parar. Não sabia explicar também a existência de um cordão verde da campainha encontrado, debaixo de seus suspensórios. O cordão da campainha da cama da duquesa tinha sido cortado. Também descobriram que a pistola, a mesma arma que o duque tinha utilizado para se “armar”, estava manchada de sangue no cano, e tinha cabelos e um pedaço de pele na coronha. Ainda mais comprometedoras eram as recentes contusões encontradas numa perna e num braço do duque. As suas mãos tinham arranhões e marcas de unhas e a mão direita apresentava marcas de dentes.
Pouco tempo depois, as investigações prosseguiam nos tribunais e, apesar de conduzir os processos em sigilo por causa da condição nobre da família Praslin, o escândalo logo se propagou por todos os cantos da França. O povo esperava com grande excitação as revelações do tribunal, mas em vão. Enquanto comentavam a execução, que tinham certeza que em breve iria ter lugar, o duque tomou uma dose de arsénico. Os médicos não conseguiram salvá-lo para que pudesse ser julgado oficialmente diante do Estado.
A duquesa foi enterrada com todas as pompas do Estado, porém o corpo de seu marido e assassino foi sorrateiramente retirado da prisão durante a noite e enterrado em cova rasa em terra não consagrada. Levantaram-se inúmeras questões. Muitos dos cidadãos de França tinham a impressão de que houvera um grande engano e que o duque não morrera realmente mas que a fim de abafar o escândalo de um julgamento público, tinha sido escorraçado do país, talvez para a Inglaterra.
A jovem governanta continuava ainda sob a protecção das autoridades francesas, mais para a sua protecção pessoal do que pela suspeita da sua culpabilidade. Oficialmente, ela tinha esclarecido completamente a sua situação e fora declarada inocente de qualquer participação no crime.


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