10 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 254

Efemérides 10 de Setembro
Henry Wade (1887 - 1969)
Henry Lancelot Aubrey-Fletcher nasce em Surrey, Inglaterra. Escreve 20 romances policiários e 2 colectâneas de contos entre 1926 e 1957 sob o pseudónimo literário Henry Wade. É um dos escritores que pertence ao período designado por Golden Age da ficção policiaria e um dos fundadores do Detection Club já referido no Policiário de Bolso. Em Portugal está editado:
1 – O Décimo Terceiro Barão (1940), Nº49 Colecção Os Melhores Romances Policiais, Clássica Editora.

Peter Lovesey (1936)
Peter Harmer Lovesey nasce em Whitton, Middlesex, Inglaterra. Escritor distinguido com uma extensa lista de prémios de literatura policiária é o criador das séries Sargeant Cribb — 8 livros, um polícia na Londres vitoriana, Supt Peter Diamond — 12 livros e Bertie, Prince Of Wales — 3 livros. Também escreve sob o pseudónimo Peter Lear e no total tem 35 livros publicados. Em Portugal estão editados alguns contos incluindos em antologias e os seguintes romances:
1 – Um Caso De Espíritos (1987), Nº58 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: A Case Of Spirits (1975). É o 6º livro da série Sargeant Cribb.
2 – Cidra Amaga (1990), Nº8 Colecção Crime S.A., Editora Ulisseia. Título Original: Rough Cider (1986).
3 – Bertie E Os Sete Corpos (1991), Nº128 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: Bertie And The Seven Bodies (1990). É o 2º livro da série Bertie, Prince Of Wales.
4 – Por Um Fio (1992), Nº26 Colecção Crime S.A., Editora Ulisseia. Título Original: On The Edge (1989).
5 – O Falso Inspector Dew (1992), Nº35 Colecção Não Incomode., Editora Gradiva. Título Original: The Falso Inspector Dew (1982).
6 – A Figura De Cera (1994), Nº567 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: Waxwork (1978). É o 8º livro da série Sargeant Cribb.
7 – Abracadáver (1995), Nº576 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: Abracadaver (1972). É o 3º livro da série Sargeant Cribb.
8 – Um Crime Passional (1996), Nº587 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: Bertie And The Crime Of Passion (1993). É o 3º livro da série da série Bertie, Prince Of Wales.
9 – O Suicídio Do Jóquei (1998), Nº616 Colecção Vampiro, Editora Livros do Brasil. Título Original: ??


TEMA — SERÁ QUE O MUNDO VAI ACABAR? COMO? — ANOS MIL
Maior de todos os terrores ocasionados pelo Fim do Mundo, ocorreu em plena Idade Média quando o conhecimento científico e saber filosófico estavam reduzidos a uma minoria que explorava, em regra em termos religiosos e com criminosa indiferença, multidões crédulas e ignorantes.
A data do cataclismo, como se de uma representação teatral se tratasse foi anunciada para 25 de Março do ano 1000 à meia-noite
Para a história da Humanidade fica, tão só e para sempre, o registo do terror, da angústia e desespero indescritíveis com que a raça humana aguardava o horrível momento do supremo pesadelo, o fim do Universo terreno.
… as estrelas cairiam o Sol e a Lua apagar-se-iam.
De onde nasceu a profecia? Ninguém o sabe, mas o abatimento invadiu os corações humanos, os povos deixaram de trabalhar, o inverno rigoroso trouxe a fome… houve quem morresse de simples terror, houve quem embrutecido matasse toda a família e quem perecesse por não querer ver o fim.
Viam-se “sinais” proféticos num Cristo de Mármore que chorou, num lobo que em pleno dia atravessa a cidade, num fétido a chamas de enxofre que nunca existiram. Não faltou quem garantisse ter visto a prodigiosa serpente do mar que, segundo o Apocalipse indica o fim, com as suas sete cabeças, com chifres, semelhantes ao leopardo com pés de urso e boca de leão.
O dia fatal, contudo, não chegou. Foi adiado.
Explorando as emoções exigiu-se a paga de tal graça divina…
Nunca foi explicado o modo como o mundo acabaria no ano 1000. O grande temor, ciosamente alimentado, era aquele que permanecia acorrentado — Satanás. Através dele “o inferno sobe das profundezas e invade toda a Terra para provocar o fim anunciado.
Os cometas eram outro medo latente. A imaginação criava imagens reais. A cor e a forma destes viajantes do espaço tinham significado próprio a bel-prazer dos astrólogos. Estes concorriam para apavorar as turbas em todas as ocasiões oportunas.
Demócrito afirma ter observado um destes raros fenómenos no ano de 146 antes de Cristo. Á mais antigo de que se tem conhecimento, Séneca avaliou-o tão grande como o Sol”.
Em 134 a.C. Justino dá conta de um cometa que ocupava a quarta parte do firmamento; 52 anos antes da nossa Era, Cassius regista “um facho ardente que ia do Sol para oriente”. Há registos em 43 a.C.,590 e 837 d.C.,e diz-se que o rei Luís — O Complacente — morreu de susto em 840 por efeitos de um cometa.
Não há sinal de qualquer cometa no ano 1000 O próprio Halley, o mais famoso e sempre actual viajante de cada 76 anos, cuja primeira observação confirmada remonta ao ano 240 a.C.,passou pelo mundo terreno apenas em 1066: se as crenças do fim do mundo provocadas por tal cometa tivessem fundamento, o mundo teria acabado, pelo que se conhece, cerca de uma trintena de vezes, considerando a sua conhecida pontualidade nos nossos céus.
Mas se 1001 deu margem a respirar-se de alívio, foi por pouco tempo; alguém sugeriu um erro na marcação da catástrofe, os mil anos deviam contar-se, não do nascimento de Cristo, mas da sua morte, logo, o fim foi apenas adiado para 1030. Impressionante período de trinta anos em que não faltam a guerra, a fome, a peste, factos propícios em cimentar as convicções quanto ao Juízo Final.
Entretanto, 1030 passa!
Em 1072, Pedro Damião anuncia a chegada do Anticristo e com ele a catástrofe final.
São Norberto proclama o nascimento do mesmo Anticristo em 1106.
Merlin, o feiticeiro de renome, vaticina as maiores calamidades para 1250, posteriormente retardadas para 1254.
Sucedem-se predições.
O alquimista Arnaud de Villeneuve, um ardente pesquisador da “pedra filosofal” marca 1326 para o novo-velho fim do mundo, que mais uma vez se recusou a ter fim.
As profecias dos anos seguintes foram absorvidas por guerras internacionais e civis, revoltas militares e religiosas. Tudo indicava “o fim de tudo”, mas ninguém se atrevia a falar no fim pensado.
Momentos de pânico verificaram-se em 1456 com o aparecimento, inesperado ao que parece, de um astro errante. A Europa tremia com a tomada de Constantinopla pelos turcos e o cometa, que o era, só poderia anunciar a chegada fatal do fim do mundo!
Para 1524 o astrólogo alemão Jean Storfler augura o desencadear de um dilúvio universal na sequência de uma conjunção de astros, circunstância esta que não era inédita ao tempo, se bem que pouco divulgada.
De facto, estas conjunções ou agrupamentos de planetas mantêm um ritmo constante ao longo dos séculos, com diversas exposições, porém. Três agrupamentos para os Séc. I, V, X e XX, dois para os Séc. II, XIV e XIX, em todos os outros séculos observam-se uma conjunção, com excepção dos Séc. III, IV e VIII em que não se verificaram. De qualquer modo, o impacto do vaticínio foi suficiente para levar o teólogo Àuriol, de Tolosa construir no quintal uma arca de Noé, na qual procurou reunir animais de todas as espécies disponíveis na região. Todavia o único “fim do mundo” foi para o próprio Auriol, que no mesmo ano morreu vítima da queda de uma estante carregada de livros sobre a cabeça.
Em 1528, a imaginação popular e não só voltou a manifestar-se ao ser prognosticado - o inevitável Juízo Final.
(Continua)


TEMA — CONTO — ANNA
De Victor Damas
O intolerável, o absurdo da situação é precisamente a inexistência de motivos. Deixar correr vida, como um recipiente que se coloca sob uma torneira esgotada à espera, à espera que se encha de nem sabemos quê — e contemplamos, estupidamente, o fenómeno do nada.
Sem causas. Só porque é ou não é. Ou devia ser mas não é, e porque não devia ser, é assim. Per omnia…
Irrisório. Absoluto e autêntico na sua incongruência de porquês sem resposta.
Claro que não deponde de nós a localização de factos — tão pouco a miopia congénita ou o obscurantismo da paisagem. E vá de encolher ombros, deitando na terra lavrada a semente desembrionada.
Se nascemos, tu e eu, em meridianos diferentes, sem analogia de condições, com uma incomensurável distância de tempo e de espaço, porque havemos de encontrar-nos, como é possível a concepção única que devia solidarizar a nossa implantação neste ou naquele lugar?
Depois, de que serviria comungar, por instantes facilmente corruptíveis pelo medo, ideologias e situações absurdas?
Não, Anna. Tens razão — é só assim porque os outros fazem, pensam, querem, vegetam assim.
Claro! É lamentável. Contemos com a clemência do mundo, com a boa vontade deles, com a tal tolerância tão desnecessária às nossas consciências abortadas.
Só o que me espanta, no meio dos olhares com que me apoias, é essa esplêndida vacuidade de razões e de espírito. Espanta e faz inveja. Daria tudo para ser assim indiferente por indiferença, apenas.
Ou será que o verbo infinito não é verbo? Nem sequer infinito? A lógica é necessária para a cópula, bem sei. No balaço da nossa aproximação, restou um lapso de tempo que não sentimos chegar. Introduziu-se e deixou-nos sem modificações. Iguais a n´s, só nós. Nem o tempo conseguiu modificar a minha ânsia de encontrar nem a tua sanidade mental; suprimimos, inconscientes, o pouco de aproveitável que havia em nós.
O riso é a única solução. Encontrar o ridículo da situação e arranjar coragem para gargalhar sinceramente. O senso de humor é um incentivo com que pincelamos os rostos atemporais que tentámos, com gestos excêntricos-quixotescos, colocar nas nossas frontes como guias. Só que nos esquecemos de olhar em frente, dispersámos a atenção e a vida com os caminhos que bifurcavam a estrada poeirenta.
Poeirenta, a estrada? Não. Poeirentos somos nós, jovens de vinte anos. Sós suportamos no dorso a poeira de séculos e o estupor do cimento convencional.
Alguém te fará compreender uma parcela da vida. Eu não, Anna. Sirvo, à minha maneira, para emitir sons e desenhar traços absurdos. Incoercível, o meu eu. Incoerente mas não profeta.
Desejo apenas um momento do sobriedade para olhar o escolher. Sozinho, mas tanto melhor — não responsabilizarei ninguém pelo advento do um passo errado.
No fundo, sinto esquírolas de incompreensão, como estilhaços de uma granada-sonho que explodiu de surpresa. Incompreensivelmente, pois que todos os pormenores estavam ajustados. Incongruente mas irremediavelmente, Anna. Não há boa vontade que possa recolocar tudo como no princípio porque não há deflagração sem destroços.
Os nossos caminhos separam-se aqu. São linhas divergindo-abstractas, cuja disparidade não é imputável à minha concepção de mundo nem à tua vontade, pobre o gigantesca tentativa de esconder a vida nas tuas pequenas mão de mulher.
É assim, Anna. Não lamentamos, não há nada para lamentar. Nem sequer para esquecer. É só assim, com a simplicidade dos factos consumados.

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