Efemérides 17 de Setembro
John Creasey (1908 – 1973)
Nasce em Southfields, London, Inglaterra. Escritor de policiário e de ficção científica, é considerado — a par com Isaac Asimov — o escritor mais produtivo do séc. XX. Publica cerca de 600 novelas sob, pelo menos 28 pseudónimos, entre os quais Gordon Ashe, M E Cooke, Norman Deane, Robert Caine Frazer, Patrick Gill, Michael Halliday, Charles Hogarth, Brian Hope, Colin Hughes, Kyle Hunt, Abel Mann, Peter Manton, J J Marric, Richard Martin, Rodney Mattheson, Anthony Morton, Jeremy York … Cria vários personagens e várias séries: Gideon da Scotland Yard, é um dos mais conhecidos, devido à sua adaptação televisiva, Department Z, com 28 títulos publicados, Dr. Palfrey com 34 títulos, The Toff com 59 títulos, Inspector Roger West com 43 títulos, (ver TEMA), etc., etc. Em 1953 John Creasey funda no Reino Unido a Crime Write Association; em 1962 ganha o Edgar Award para Best Novel com Gideon’s Fire sob o pseudónimo J. J. Marric e em 1969 recebe o título Grand Master dos Mystery Writers of America que distingue o conjunto da sua obra.
Robert B. Parker (1932 – 2010)
Robert Brown Parker nasce em Springfield, Massachusetts, EUA. Começa a escrever em 1971, principalmente westerns e policiários. Cria as séries Spenser, Jesse Stone, Sunny Randall. O autor recebe o Edgar Award em 1977 com Promised Land. Em 2002 recebe o título Grand Master. Em Portugal estão editados:
1 – A Bela E Os Monstros (1987), Nº54 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Judas Goat (1978). É o 5º livro da série Spenser.
2 – Terra Prometida (1990), Nº104 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Promised Land (1976). É o 4º livro da série Spenser.
3 – À Procura De Rachel Wallace (1990), Nº106 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Looking For Rachel Wallace (1980). É o 8º livro da série Spenser.
4 – A Morte Veste Seda (1990), Nº21 Colecção Álibi, Clássicos do Livro Policial, Edições 70. Título Original: Poodle Springs (1989). Escrito em parceria com Raymond Chandler.
5 – Jogadas Ilegais (1991), Nº112 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Playmates (1989). É o 16º livro da série Spenser.
6 – Passatempo (1992), Nº135 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Pastime (1991). É o 18º livro da série Spenser.
7 – Sonhar Talvez (1992), Nº30 Colecção Crime Perfeito, Publicações Europa América. Título Original: Perchance To Dream (1991).
Andrea H. Japp (1957)
Lionelle Nugon-Baudon nasce em Paris. Toxicologista, tradutora para língua francesa dos romances da famosa Patricia Cornwell, sob o pseudónimo Hélène Narbonne. É também autora de vários romances policiários: série Gloria Parker-Simmons, série Helen Baron, série Diane Silver e ainda de um conjunto de uma dezena de romances policiários históricos. Em Portugal estão editados:
1 – O Sacrifício Da Borboleta (1998), Nº6 Colecção O Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: Le Sacrifice Du Papillon (1991).
2 – Os Caminhos Da Besta - Dama Sem Terra I (2008), Colecção Cavalo de Tróia, Editora Gótica. Título Original: Les (2006).
3 – O Sopro Da Rosa - Dama Sem Terra II (2008), Colecção Cavalo de Tróia, Editora Gótica. Título Original: Le Souffle De La Rose (2006).
4 – O Sangue Divino - Dama Sem Terra III (2008), Colecção Cavalo de Tróia, Editora Gótica. Título Original: Le Sang De Grâce (2006).
TEMA — PERSONAGEM DE ROBERT B. PARKER — SPENSER
Por M. Constantino
Robert B. Parker obteve o seu doutoramento com uma tese sobre os investigadores privados de Hammett, Chandler e Ross MacDonald, pelo que não admira que quando se dedicou à escrita policiária, tivesse criado um personagem com idêntico ofício daqueles, um homem chamado Spenser, simplesmente Spenser, que havia trabalhado no escritório do Procurador da Justiça sendo expulso por insubordinação. Igualmente por influência daqueles, Spenser é um homem violento. O autor é pois um escritor da “escola dos duros”.
TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — SUPERINTENDENT ROGER WEST
Por M. Constantino
Apontámos alguns dos muitos pseudónimos de John Creasey, dos quais resultaram outros tantos personagens assinaláveis da sua notável e ampla criação.
Creasey foi um inesgotável caudal de ideias e de habilidade para criar intrigas e acção. Em nome próprio, o personagem escolhido — também personagem do conto que se segue — foi Roger West, superintendente do Departamento de Investigação Criminal da Yard, um grandalhão de 1,90 m, cabelos loiros e crespos que fazem jus ao seu apelido de Bonitão. É casado com Janet e pai de Martin. Tem uma personalidade viva e invulgar, experiência de investigação, como vamos ver no conto seguinte.
CONTO — UM FIO DE CABELO
(Adaptação de M. Constantino)
A mulher dormia.
Um som fraco veio do corredor. A maçaneta da porca girou, silenciosamente. Um homem apareceu na soleira. Deu dois passos curtos e vagarosos para dentro do quarto e parou, passado a mão nos cabelos, num gesto nervoso.
A cama ficava contra uma parede e o rosto dela estava virado para a janela. O homem fitou os longos cabelos castanhos. Era uma mulher jovem.
Aproximou-se da cama. Na sua mão direita estava um martelo.
Olhou para o rosto da sua futura vítima. O único diamante no anel na mão dela cintilava.
Ficou parado diante dela, com os lábios comprimidos.
Levantou o martelo e vibrou um golpe a cabeça da mulher. Ela moveu o corpo, numa convulsão. Um som áspero escapou dos lábios do atacante. Vibrou novos golpes, com mais violência.
O assassino desviou os olhos do rosto da mulher que matara. Tirou o anel da mão imóvel. Então, foi até ao armário tirou a caixinha das jóias.
Tirou algumas pregadeiras, alguns pares de brincos e um pequeno colar, envolveu tudo num lenço e guardou o pequeno embrulho no bolso.
A seguir, abriu uma maleta, tirou todas as notas, deixando as moedas. Revistou a mesinha de cabeceira, outro armário, até encontrar uma pequena caixa metálica.
Usando uma chave de parafusos, forçou a fechadura. Havia um maço de notas. O homem meteu-o no bolso e foi-se embora.
O inspector-chefe Roger West, da Scotland Yard, estacionou o carro do lado de fora de Greywings, em Wimbledon e levantou os olhos para a casa.
West saiu do carro e aproximou-se da porta da frente.
— Bom dia, senhor.
— Bom dia. O Sargento Sloan está dentro?
— Sim, senhor.
— Obrigado.
West entrou na casa.
Tinha as feições de um astro de cinema e cabelos ondeados, da cor do milho. Subiu os largos degraus. Outro guarda estava parado diante de uma porta aberta. Dentro; cinco homens trabalhavam.
A mulher ainda estava na cama.
Dois outros homens examinavam os artigos na mesinha de cabeceira, com um pó cinzento, à cata de impressões digitais.
Um polícia levantou os olhos, de uma caixa metálica que estava aberta.
— Olá, BIII — saudou Roger West. — Alguma pista?
— Maldição! — exclamou o Sargento Sloan. — Não conseguimos encontrar nada. Ele usou luvas…
— Ele?
— Bem, o assassino. Isto não é trabalho de mulher — disse Sloan. — Usou luvas e não deixou uma pista. Há apenas dois tipos de impressões digitais no quarto e pertencem à mulher e à criada. A criada está em casa, doente, há alguns dias. A mulher assassinada…
— Qual é o nome dela?
— Lilian Randal. Ia casar-se daqui a um mês. O noivo está fora. Mandei uma mensagem para a Yard, para que isto fosse verificado. Há uma carta dele, enviada de Roma.
— Alguma ideia quanto à hora do crime?
—Renny, o velho cirurgião, diz que o crime ocorreu entre meia-noite e as três da manhã. O martelo está aqui. — Sloan apontou para um pesado martelo, poisado sobre um pedaço de papel. — É uma das ferramentas existentes na casa.
— Como entrou o assassino?
— Por uma janela do rés-do-chão, nas traseiras. Foi forçada. Trabalho de amador.
— Falta alguma coisa na casa?
— Jóias e dinheiro.
Sloan apontou para a mão da mulher morta.
— Vê aquele arranhão no dedo? O assassino tirou um anel ou uma aliança.
— Podemos conseguir uma descrição de algumas das jóias e talvez os números de série das notas — declarou West. — Não estamos tão sem pistas quanto pensa, BilI. Êh! Que é isto?
Estava a olhar para o martelo. Tirou um par de pinças do bolso.
— Isto foi fotografado?
— Sim. O fotógrafo já terminou seu trabalho.
— Óptimo!
West apanhou alguma coisa com pinças e levantou-as. Era um cabelo cinzento.
— Viu mais algum fio por aí?
— Não. Isto não é cabelo de mulher.
— Não, provavelmente não. Vamos dar outra olhadela por aí.
Encontraram mais quatro fios de cabelo cinzento, todos do mesmo comprimento. Não havia mais nada que pudesse ajudá-los. O corpo foi levado por uma ambulância da, policia. West levou Sloan para a Scotland Yard.
O noivo da mulher morta ainda estava em Roma. O depoimento da criada fora verificado e confirmado. O advogado da mulher assassinada estava ansioso para falar com West, que lhe telefonou imediatamente.
— Ah, inspector! — disse o advogado — esperava o seu telefonema. Que coisa terrível! E tão trágica! A Srª Randall estava a preparar o testamento. Era muito rica, sabe? Sempre a aconselhei para que o fizesse. Mas…
— Então não há testamento? — inquiriu West.
— Não, não há.
— Quem herda o dinheiro?
— Bem, penso que não há mal algum em revelar isto. Há quatro parentes — três primos e um tio. Sim, todos são homens. Os três primos são pelo lado da mãe. O tio, pelo do pai. O tio recebe metade da fortuna. Os primos dividem a outra metade entre si. Isto está estabelecido pelo testamento do pai da pobre criatura. Ele era muito cuidadoso, muito…
— Gostaria que me enviasse uma mensagem com os nomes e os endereços dos quatro parentes da Srª. Randall, por favor — pediu West.
West agradeceu e desligou.
— Vamos para o laboratório, Bill. — disse para o Sargento Sloan.
No laboratório West tirou do bolso um pequeno envelope contendo os fios de cabelo e sacudiu-os, para que caíssem sobre uma folha de papel branco.
Colocou um fio de cabelo numa lâmina de vidro. Pôs a lâmina na posição certa, na parte inferior do microscópio.
O cabelo parecia grosso. A raiz era dilatada. A outra extremidade era curta.
— O homem cortou os cabelos recentemente — reflectiu Roger.— Espere um minuto.
Pegou num dos outros fios de cabelo e, usando uma minúscula faca de lâmina afiada, cortou-o obliquamente. Colocou ambos pedaços na lâmina.
— Veja! — exclamou Sloan. — As células pigmentarias são pretas.
— Sim — concordou West. — Isto significa que os cabelos de nosso homem estão a atravessar uma fase de envelhecimento. Isto coloca-o na meia-idade. Poucos homens com menos de quarenta anos de idade têm os cabelos tão grisalhos. Sim, nosso homem está na meia-idade.
Colocou outro cabelo na lâmina.
— O cabelo não é liso. Penso que nosso homem é gordo.
— Gordo?
— Quando as raízes dos cabelos ficam duras, isto significa que o homem sua muito. Os homens gordos suam mais do que os magros.
— Por amor de Deus!
— E não se esqueça que o suor é absorvido pelos cabelos, facilmente, nos pontos onde eles crescem mais. Nos pontos em que os cabelos não são muitos, o suor tem um efeito mais pronunciado nas raízes, como neste caso.
— Roger, sei que é muito inteligente. Parabéns. Temos um retrato do homem. Gordo, quarenta anos aproximadamente, cabelos grisalhos.
— Cortados rente — concluiu West. — Agora se um dos primos ou o tio corresponder a isso, teremos o assassino.
A lista dos herdeiros chegou uma hora mais tarde. Sloan estava no escritório de West recebeu o envelope.
— Idade, descrição e dados gerais a respeito de cada herdeiro. E… — Sloan não conseguiu esconder sua excitação. — Os três primos da morta têm aproximadamente vinte anos de idade. O tio tem quarenta e um anos.
— Vamos procurá-lo — disse West.
Sr. Arthur Randall possuía cabelos grisalhos e cortados curtos. Era um homem alto e bastante gordo. Morava num apartamento, numa área comercial, perto do coração de Londres.
Tudo no seu apartamento era caro e do melhor.
Randall, que morava sozinho, era educado e estava aparentemente ansioso em ajudar a polícia.
— Sim, acabei de receber a notícia, inspector. Uma coisa terrível. Pobre Lilian! Soube pelo advogado dela que os seus bens foram roubados. Não se está seguro, hoje em dia, com crimes tão violentos como este…
— Precisamos de ajuda neste caso, Sr. Randall — disse West. — E da sua, particularmente.
Randall parecia surpreendido.
— Claro. Ajudarei em tudo… No que puder… — murmurou Randall.
— Obrigado.
West era sincero.
— É realmente uma coisa pequena, mas importa bastante. Precisamos de um fio do seu cabelo.
Randall perguntou:
— Quê?
— Simplesmente de um fio de seu cabelo -- repetiu West.
Inclinou-se para a frente, rapidamente, e agarrou um fio de cabelo na lapela do fato escuro de Randall.
A olho nu, parecia idêntico àqueles que West e Sloan examinaram ao microscópio.
— Isto servirá, penso. Talvez seja melhor acompanhar-nos até a Scotland Yard, onde examinaremos o fio de cabelo
— Acompanha-los? Está a sugerir…
West atalhou:
— Estamos a investigar Sr. Randall. Compreenda, um fio de cabelo cinzento e do mesmo tamanho foi encontrado no martelo com que sua sobrinha foi assassinada. Os cabelos são coisas singulares. Dizem-lhe tudo se souber o que procurar.
Randall gritou:
— É um abuso. Não os acompanharei a lugar algum!
— Pensei que quisesse ajudar — declarou West. — Mas fique aqui, Sr. Randall. Não me importo.
Na rua, Roger West disse:
— Não há dúvida a este respeito, Bill. Fique numa extremidade da rua, que eu ficarei na outra. Se ele não aparecer dentro de vinte minutos no máximo, com uma mala e à procura de um táxi, vou ficar bastante admirado.
Randall apareceu exactamente vinte minutos depois.
Levava duas maletas e dirigiu-se a um táxi parando no quarteirão seguinte.
Entrou no táxi. Sloan e West também entraram no carro, cada um por seu lado, cercando o assassino.
— Espero que os dê uma boleia — disse Sloan para Randall — Aonde ia? Partir de férias? Importa-se que eu dê uma olhadela nas suas malas?
Randall não disse uma palavra.
As jóias e o dinheiro estavam debaixo das roupas, no fundo de uma das malas.
Os cabelos da cabeça de Arthur Randall eram idênticos aos encontrados no quarto da sua sobrinha.
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