EFEMÉRIDES – Dia 18 de MarçoRichard Condon (1915 – 1996)
Richard Thomas Condon nasce na cidade de Nova Iorque. Publicitário e produtor teatral é assessor de impressa dos maiores estúdios da época — Walt Disney, Hal Horne, 20th Century Fox. Num total de 27 obras, escreve 12 romances policiários protagonizados pelo Captain Colin Huntington, com enredos intricados onde a sátira tem uma forte marca. As obras mais conhecidas são: The Manchurian Candidate (1959), prenúncio dos assassinatos do Presidente John F. Kennedy e do irmão Robert; An Infinity of Mirrors (1964) tem como pano de fundo o terror nazi; a série bestseller Prizzi, 4 romances, entre 1982 e 1994. Richard Condon tem várias obras adaptadas ao cinema.
Richard Thomas Condon nasce na cidade de Nova Iorque. Publicitário e produtor teatral é assessor de impressa dos maiores estúdios da época — Walt Disney, Hal Horne, 20th Century Fox. Num total de 27 obras, escreve 12 romances policiários protagonizados pelo Captain Colin Huntington, com enredos intricados onde a sátira tem uma forte marca. As obras mais conhecidas são: The Manchurian Candidate (1959), prenúncio dos assassinatos do Presidente John F. Kennedy e do irmão Robert; An Infinity of Mirrors (1964) tem como pano de fundo o terror nazi; a série bestseller Prizzi, 4 romances, entre 1982 e 1994. Richard Condon tem várias obras adaptadas ao cinema.
TEMA — ACTUALIDADE — PLANETA EM PERIGOA terra tem 4,5 mil milhões de anos de existência. Neste período sofreu transformações estruturais, físicas, químicas e surgiu vida. Todas estas mudanças ocorreram lentamente, prolongando-se por centenas de milhões de anos. Não faltam vestígios de catástrofes mais ou menos profundas: a separação dos continentes, erupções vulcânicas, glaciações, dilúvios, desaparecimento dos dinossáurios etc.
Michael J. Drake, recém falecido em Outubro de 2011, director
M. Constantino
TEMA — CONTO POLICIÁRIO — O AVISO
De Victor DimasQuando acordou, já sabia o que tinha de passar-se na noite seguinte E desta vez deixaria a bestialidade à solta, não lhe travaria o ímpeto à custa de um esforço titânico de auto-domínio.
Só porque não podia mais. Nem queria repetir a mais um neurologista, depois a outro e outro, a mesma história.
Não, porque era absolutamente inútil.
O remédio era só um, inevitável: matar.
Nunca o tinha tomado mas sabia — no certo e necessário como o ar que respirava. E já o conhecia há muito, estava recomposto do choque que aquela revelação lhe provocara. Enquanto não destruísse uma vida de mulher, enquanto não sentisse fluir-lhe entre os dedos enclavinhados um sopro essencial, a sua angústia cresceria todos os dias, olhando os homens como inimigos até deixá-lo prostrado de ânsia, doente de esmagadora impotência. Porque a lei…
Ah! Mas agora estava resolvido e não poderia viver sem satisfazer esta necessidade imperiosa. Vital, Inalienável.
O projecto era bom. Tinha a oportunidade e o local. Mas não a vítima.
O rapaz era alto e de boa presença. Tinha mesmo um ar de distinção. E uma ruga de preocupação na testa elevada.
Mesmo assim, não devia ser grande problema. Os jovens não têm grandes problemas. E ela sorriu-lhe, aproximou-se coleando entre as mesas.
Ele tinha pedido uma bebida que lhe acalmasse a inquietação. E olhava-a, hesitando ainda. Sabia que, se saíssem juntos, ela não voltaria. Ela estava já sentada, sorrindo sempre, insinuando.
E talvez nem fosse crime libertar a sociedade de uma mulher. Uma mais, que diferença faz?
A mulher que sorria representava a solução. Ou a demência.
O local, o motivo, tinha-os. A vítima inconsciente sorria outra vez, cada vez mais perto os lábios sanguíneos.
Levantou-se.
O hotel numa rua tranquila era muito acanhado. Escuro e pouco frequentado. Mas tinha uma saída lateral para outra pequena rua. E o recepcionista, do seu nicho ao fundo do corredor, não podia vigiá-la sem torcer o pescoço. Nem estaria interessado. “Senhor e senhora qualquer coisa” — escreveu em letra de imprensa.
— Bagagem?
— Não. É só por esta noite. Pagou.
O homem estava habituado. Mirou-os. ~
— Bem. Não queremos fitas, hein? — Tirou a chave. “22”, dizia a pequena etiqueta adjunta.
Subiram calmamente.
Já não era possível retroceder. Ela iria prodigalizar-lhe carinhos, estandardizados mas que o são. E umas mãos, um corpo vibrante de mulher completa, excitante, dão sempre resultado.
Quase sempre, aliás. Porque com ele... bem, ela rir-se-ia quando descobrisse. Talvez lhe voltasse as costas, simplesmente. Ou lhe exigisse compensação. “Pelo tempo que perdemos”….
O costume.
Era a situação, a humilhação que faria dele o assassino
Inexorável, avizinhava-se o momento. Depois seria livre, humano e igual a todos os outros.
Um homem, enfim. Sem complexos.
Ela pareceu surpreendida com a sua lentidão. Tirou o fato, calmo, meticuloso. Depois, puxou a carteira do bolso interior e abriu-a.
Ela compreendeu e estendeu a mão aberta, com os dedos a falarem. Sem uma palavra, ele tirou duas notas e, suavemente, deixou-as cair sobre a cama.
Ela, com uma perna em ângulo agudo, apanhou-as maquinalmente e estendeu-se para a malinha. Sobre a mesinha oval, no centro do quarto, a carteira dele com o monograma, com os documentos, ficou à espera.
Ela abre muito os olhos. Ri histericamente. Esforça-se em vão.
No peito, ele sente uma torrente de fogo a desfazer-lhe os últimos resquícios de prudência. É a sua oportunidade de destruir o demónio que o inibe. Frustração psicopática, ou lá o que é. A morte como recurso, na guerra de que não tem culpa. A lei do mais forte.
Pronto.
A mulher parece dormir, de cara para baixo. Ele voltou-a. Sente-se despersonalizado. É um assassino agora, mas um homem, acima de tudo. E vai prová-lo, embora ela não possa sentir. Mas é a ele que interessa saber se não foi inútil.
É um animal, pois. Mas os homens são animais. Monstros, até.
E vencem.
Agora, é preciso ponderação. Não dar largas à euforia, à sensação de vitória que o percorre.
Tapa a mulher, mete no bolso os papéis que encontra na malinha. Deixa o dinheiro. Passeia a vista pelo círculo do quarto. A mesinha, ao centro é apenas uma oval perfeita com uma jarra de flores artificiais que fazem sombra no centro.
Encaminha-se para a porta, tranquilizado. Antes de apagar a luz, os olhos afloram um aviso rectangular. Mas não lêem, não percebem que as letras formam palavras.
Nem lhe interessa o que possa dizer um letreiro de hotel. Desce a escada com cuidado. Rápido, vê-se na rua. Em casa.
E dorme, tranquilo pela primeira vez em muitos anos. Até ao meio do dia seguinte. Quando abre os olhos, estúpida, inexplicavelmente, o aviso no quarto do hotel, na face interior da porta, salta-lhe na memória:
“Por Favor, Verifique Se Não Esqueceu Nada. Obrigado”.
E soube então que na mesinha oval tinha esquecida a sua sentença de morte.
De Victor DimasQuando acordou, já sabia o que tinha de passar-se na noite seguinte E desta vez deixaria a bestialidade à solta, não lhe travaria o ímpeto à custa de um esforço titânico de auto-domínio.
Só porque não podia mais. Nem queria repetir a mais um neurologista, depois a outro e outro, a mesma história.
Não, porque era absolutamente inútil.
O remédio era só um, inevitável: matar.
Nunca o tinha tomado mas sabia — no certo e necessário como o ar que respirava. E já o conhecia há muito, estava recomposto do choque que aquela revelação lhe provocara. Enquanto não destruísse uma vida de mulher, enquanto não sentisse fluir-lhe entre os dedos enclavinhados um sopro essencial, a sua angústia cresceria todos os dias, olhando os homens como inimigos até deixá-lo prostrado de ânsia, doente de esmagadora impotência. Porque a lei…
Ah! Mas agora estava resolvido e não poderia viver sem satisfazer esta necessidade imperiosa. Vital, Inalienável.
O projecto era bom. Tinha a oportunidade e o local. Mas não a vítima.
O rapaz era alto e de boa presença. Tinha mesmo um ar de distinção. E uma ruga de preocupação na testa elevada.
Mesmo assim, não devia ser grande problema. Os jovens não têm grandes problemas. E ela sorriu-lhe, aproximou-se coleando entre as mesas.
Ele tinha pedido uma bebida que lhe acalmasse a inquietação. E olhava-a, hesitando ainda. Sabia que, se saíssem juntos, ela não voltaria. Ela estava já sentada, sorrindo sempre, insinuando.
E talvez nem fosse crime libertar a sociedade de uma mulher. Uma mais, que diferença faz?
A mulher que sorria representava a solução. Ou a demência.
O local, o motivo, tinha-os. A vítima inconsciente sorria outra vez, cada vez mais perto os lábios sanguíneos.
Levantou-se.
O hotel numa rua tranquila era muito acanhado. Escuro e pouco frequentado. Mas tinha uma saída lateral para outra pequena rua. E o recepcionista, do seu nicho ao fundo do corredor, não podia vigiá-la sem torcer o pescoço. Nem estaria interessado. “Senhor e senhora qualquer coisa” — escreveu em letra de imprensa.
— Bagagem?
— Não. É só por esta noite. Pagou.
O homem estava habituado. Mirou-os. ~
— Bem. Não queremos fitas, hein? — Tirou a chave. “22”, dizia a pequena etiqueta adjunta.
Subiram calmamente.
Já não era possível retroceder. Ela iria prodigalizar-lhe carinhos, estandardizados mas que o são. E umas mãos, um corpo vibrante de mulher completa, excitante, dão sempre resultado.
Quase sempre, aliás. Porque com ele... bem, ela rir-se-ia quando descobrisse. Talvez lhe voltasse as costas, simplesmente. Ou lhe exigisse compensação. “Pelo tempo que perdemos”….
O costume.
Era a situação, a humilhação que faria dele o assassino
Inexorável, avizinhava-se o momento. Depois seria livre, humano e igual a todos os outros.
Um homem, enfim. Sem complexos.
Ela pareceu surpreendida com a sua lentidão. Tirou o fato, calmo, meticuloso. Depois, puxou a carteira do bolso interior e abriu-a.
Ela compreendeu e estendeu a mão aberta, com os dedos a falarem. Sem uma palavra, ele tirou duas notas e, suavemente, deixou-as cair sobre a cama.
Ela, com uma perna em ângulo agudo, apanhou-as maquinalmente e estendeu-se para a malinha. Sobre a mesinha oval, no centro do quarto, a carteira dele com o monograma, com os documentos, ficou à espera.
Ela abre muito os olhos. Ri histericamente. Esforça-se em vão.
No peito, ele sente uma torrente de fogo a desfazer-lhe os últimos resquícios de prudência. É a sua oportunidade de destruir o demónio que o inibe. Frustração psicopática, ou lá o que é. A morte como recurso, na guerra de que não tem culpa. A lei do mais forte.
Pronto.
A mulher parece dormir, de cara para baixo. Ele voltou-a. Sente-se despersonalizado. É um assassino agora, mas um homem, acima de tudo. E vai prová-lo, embora ela não possa sentir. Mas é a ele que interessa saber se não foi inútil.
É um animal, pois. Mas os homens são animais. Monstros, até.
E vencem.
Agora, é preciso ponderação. Não dar largas à euforia, à sensação de vitória que o percorre.
Tapa a mulher, mete no bolso os papéis que encontra na malinha. Deixa o dinheiro. Passeia a vista pelo círculo do quarto. A mesinha, ao centro é apenas uma oval perfeita com uma jarra de flores artificiais que fazem sombra no centro.
Encaminha-se para a porta, tranquilizado. Antes de apagar a luz, os olhos afloram um aviso rectangular. Mas não lêem, não percebem que as letras formam palavras.
Nem lhe interessa o que possa dizer um letreiro de hotel. Desce a escada com cuidado. Rápido, vê-se na rua. Em casa.
E dorme, tranquilo pela primeira vez em muitos anos. Até ao meio do dia seguinte. Quando abre os olhos, estúpida, inexplicavelmente, o aviso no quarto do hotel, na face interior da porta, salta-lhe na memória:
“Por Favor, Verifique Se Não Esqueceu Nada. Obrigado”.
E soube então que na mesinha oval tinha esquecida a sua sentença de morte.
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