Efemérides 12 de Outubro
Lester Dent (1904 - 1959)
Nasce em La Plata, Missouri, EUA. É autor de cerca de 200 romances de mistério/detective sob o pseudónimo Kenneth Robeson com o personagem Doc Savage, 7 romances policiários protagonizados por Chance Malloy e várias peças para rádio. Ver TEMA.
James Crumley (1939 – 2008)
James Arthur Crumley nasce em Three Rivers, Texas, EUA. Argumentista e escritor de romances e contos classificados como “hardboiled violentos” é um autor aclamado pelos pares e pelos críticos literários. Entre 1969 e 2005 publica 3 títulos na série Milton Chester Milodragovitch, 4 títulos na série C W Sughrue e ainda mais 2 romances e 2 livros de contos. Destaca-se The Last Good Kiss (1978) descrito como o romance policiário mais influente dos últimos 50 anos e também The Mexican Tree Duck (1993), vencedor do Dashiell Hammett Award, atribuído pela International Association of Crime Writers.
Paula Gosling (1939)
Nasce em Detroit, Michigan, EUA. Vive em Inglaterra desde a década de 60, onde trabalha como editora. Em 1974 publica o primeiro livro, A Running Duck— também editado com o título Fair Game — e ganha o John Creasy Award, prémio atribuído anualmente, pela britânica Crime Writers Association, ao melhor primeiro romance de um autor policiário; este romance é adaptado ao cinema, em 1986, por Stallone que é também o protagonista e em 1995 com o título Fair Game. Depois do sucesso inicial, Paula Gosling cria as séries Jack Stryker (3 títulos), Luke Abbott (2 títulos), Blackwater Bay (3 títulos) e escreve mais 7 romances policiários, um deles sob o pseudónimo Ainslie Skinner. A escritora recebe ainda o Gold Gagger pelo livro Monkey Puzzle, em 1985. Em Portugal estão editados:
1 – Cobra – Jogo Da Morte (1989), Nº90 Colecção Livros de Bolso, Clube do Crime, Publicações Europa América. Título original: A Running Duck (1974), também editado com o título Fair Game. É o 1º livro da série Jack Strike. (Clicar)
2 – Castigos Quase Fatais (1993), Nº33 Colecção Crime Perfeito, Publicações Europa América. Título original: Death Penalties (1991). É o 2º livro da série Luck Abbott. (Clicar)
3 – Crime Na Baía De Blackwater (1996), Nº46 Colecção Crime Perfeito, Publicações Europa América. Título original: The Body In Blackwater Bay (1992). É o 1º livro da série Blackwaterbay. (Clicar)
TEMA — o CRIADOR DE O HOMEM DE BRONZE
Por M. Constantino
Entre os escritores de ficção popular, Lester Dent, que também usou o pseudónimo Kennetk Robeson, foi um prolífero e engenhoso criador de sagas apreciadas pelos pulps. Viajante do mundo, tudo porque se dedicou a escrever histórias de aventureiros e de aventuras, ele próprio praticante, entre as quais a procura de um tesouro submerso havia de lhe trazer a morte prematura. Começou por trabalhar como telegrafista nocturno, nos finais da época de 1920.
Enviava, periodicamente, histórias aos editores, sempre por estes recusadas, até que encontrou o mercado. Seguiu-se o êxito crescente e recebeu um telegrama de Nova Iorque com uma oferta, naquela altura para ele surpreendente, e aceitou. Durante vinte anos saiu da sua mente imaginativa um autêntico rio de ficção. Foi nesta altura da sua carreira que começou o seu caminho pelo mundo em busca de ambiente próprio para os seus escritos.
Doc Savage — O Homem de Bronze é um dos seus êxitos, com edições sucessivas e espalhou-se por toda a parte e por tudo o que é comunicação, desde o cinema à banda desenhada. Copiado e imitado, segundo se afirmar, a mulher nunca recebeu qualquer verba por direitos de autor.
Deixou algumas obras de tema policiário, cujo personagem principal era Chance Mallory.
De George S. Albee
— Quer uma cerveja, querida? — perguntou Henry Decker ao chegar do escritório às cinco e meia, já confortavelmente enfiado numas calças e numa camisa leves, azul claro. — Ou um martini…
— Um martini — respondeu Deborah — Henry, não sei como lhe dizer, mas apareceu um fantasma na nossa casa esta tarde!
Henry sacudiu o shaker e os dois passaram pelo alpendre que dava para o pequeno mas bem cuidado quintal.
— Aquela maldita relva já cresceu quatro polegadas — observou Henry — Seria capaz de jurar que a cortei há dois dias. Mas fale-me do seu fantasma.
— Não é nem um pouquinho engraçado. Fiquei cheia de medo disse Deborah.
Alisou o vestido às riscas, de verão.
— Julguei ouvir passos na sala de estar, entrei, e esbarrei com ele.
— Em plena luz do dia?
— Em plena luz do dia. Um homenzinho gordo, de uns quarenta anos, de uns quarenta anos, fato cor de chocolate, de listas fininhas, camisa escura e gravata cor de vinho. Os sapatos pareciam ter sido engraxados recentemente. Trazia um chapéu de aba estreita, bem enterrado na cabeça e vi gotas de suor no lábio superior.
— Nunca ouvi dizer que os fantasmas suassem — retorquiu Henry com uma risada.
— Não estou a brincar!
— Ora, vamos, querida. Mas como terá entrado? Já lhe disse para ter a porta da rua sempre trancada.
— Não sei como entrou. Trazia uma chave em volta de um dedo, presa numa daquelas correntes feita de bolinhas minúsculas de prata, com certeza entrou com aquilo. Tirou do bolso um caderno de notas e começou a escrever. Eu disse “ Com licença… onde pensa que vai?”
E aqui a voz de Deborah tremeu:
— Estendi a mão para o agarrar pelo braço e… a minha mão atravessou-o…
— Você parece que fala mesmo a sério. — Surpreendido, Henry largou o copo de cocktail na mesa de tampo plástico e pernas de alumínio, colocada no alpendre.
— Percebe-se que ficou muito abalada, o que não é de admirar disse Henry. — Bem, devemos encarar o facto cientificamente. Primeiro, vamos supor que se trata de um homem real. Pode ter sido uma série de coisas: avaliador, inspector do Corpo de Bombeiros que entrou numa porta errada, armado de uma gazua. Esses camaradas andam sempre munidos de gazuas, você sabe. Não ouviu o que você disse por estar muito absorto no que fazia…
— Mas isso não explica como é que a minha mão passou através dele. Você não compreende. Estendi o braço na frente dele, como se fosse uma cerca ou portão, e o homem passou como se não houvesse nada ali. A minha mão entrou-lhe pelo peito e saiu-lhe nas costas, como se ele fosse num bola de sabão.
— Estava nervosa e perturbada, querida, de modo que teve esta impressão — tranquilizou-a o marido. — Foi uma alucinação, Deb.
— A minha alucinação cheirava a pó de talco e rum disse Deborah, sem se dar por convencida. — Coisas de barbearia. E mastigava pastilha elástica. Algo assim -tão evidente, eu antes alcunharia de fantasma e acabaria com o assunto!
Henry deu uma gargalhada de satisfação.
— Muito bem, então agora temos um fantasma em casa — disse ele. — Não fez nada contra si, fez? Nem mesmo disse “buuu”? Vamos beber à saúde dele.
Deborah ergueu o indicador.
— Shhhh…
— Que foi?
— Há alguém agora na sala de estar. Ouço vozes.
— Eu não.
Ela estava pálida.
— Ele voltou! Meu Deus, Henry, ele voltou!
— Tolices. Fique aí sentada que eu vou ver.
— Eu vou consigo.
Com Henry ã, frente, os dois entraram silenciosamente pelo hall e foram até à sala. Bem junto da porta da rua, agora aberta, avistaram três pessoas: o homem de fato cor de chocolate, tal como Deborah o descrevera, um rapaz mais -jovem, de sobrancelhas grossas e extraordinariamente negras, e uma jovem de uns vinte anos, mais ou menos, de vestido de seda verde bem solto, como usam as mulheres grávidas, e sandálias brancas.
— É este que eu acho que deveriam comprar — dizia o homenzinho gordo. — Dois quartos. Cozinha com fogão eléctrico. O preço é vinte e três e meio, mas o banco encarregou-se da venda. Dêem-me uma boa entrada. e talvez possa baixar para vinte e dois.
— Escutem, amigos — falou Henry — acho que deve haver algum engano… Os três não lhe deram a menor atenção.
— E a mobília? — perguntou a jovem esposa. — — É adorável. Com um tapete de parede a parede.
— Essa é a vantagem especial de que lhes falei — disse o corretor de imóveis. Está tudo pago, mas os móveis usados pouco rendem em leilão, e o banco teria de vendê-los assim.
— Por favor — disse -Henry levantando a voz à proporção que se enraivecia — não sei em que casa julgam estar, mas a nossa não está a venda.
Com uma exclamação, Deborah deu meia volta, e saiu a correr. A porta das traseiras bateu. Henry hesitou e depois concluiu que podia lidar com os intrusos mais tarde. O susto de Deborah era mais importante, de momento. Saiu atrás dela, chamando-a. pelo nome.
— Estou aqui, querido — -respondeu ela… Parara no relvado, junto de uma tela de plástico onde uma parreira a escondia a vista da casa. — Oh, estou tão assustada. — Ora — retrucou Henry, procurando tranquilizá-la — Não há por quê. Acabou de me ocorrer. Quer saber uma coisa? Eles são surdos. Sim, é isso mesmo, todos os três são surdos.
— Mas conversam entre si.
— Os surdos também conversam entre si. Sabem ler os movimentos dos lábios uns dos outros.
— Mas eles viram-nos! Estávamos na mesma sala.
— Não, não estávamos. Ficámos na ponta do hall e ali é um pouco escuro.
— São fantasmas. Estou a dizer-lhe que são
Ele beijou-a.
— Os fantasmas não vendem imóveis, querida. Não usam roupas de gravidez tampouco. Pelo menos aqueles de quem ouvi falar. Você fica aqui enquanto vou lá dentro desembaraçar-me deles.
— Não me deixe sozinha! — exclamou Deborah aterrorizada. — Eu… eu não lhe disse, mas tenho-me sentido estranha há vários dias. Oh, querido, temo estar perdendo a razão!
— Então eu também estou perder a minha — retroquiu Henry confortando-a. — Pois vi os seus fantasmas e não me assustaram nem um pouquinho. Deb, sabe muito bem que os fantasmas não existem.
— Eu vou lá dentro consigo. Achava melhor que não fosse.
— Por favor…
Encontraram os três estranhos, evidentemente, após uma volta pelos dois quartos e na cozinha. O marido concordava que a casa mobilada era uma pechincha e dizia que poderia pagar cinco mil dólares de entrada em dinheiro.
— Esta casa é minha— protestava Henry. Falava aos gritos. — E não está para vender.
— Claro que será satisfatório — disse o corretor ao marido— e uma vez que o negócio será feito com o banco, que é que, tratará da hipoteca, faremos uma simples transferência de papéis.
A jovem esposa estava tão feliz por saber que a casa seria sua que saiu a dançar da cozinha para a sala e dali para a porta de entrada. Sorrindo, os dois homens seguiram-na.
De maxilar cerrado, Hery acompanhou-os. Alcançou o corretor no instante em que, de chave na mão, o homem gordo parava para fechar a porta.
— Já aguentei demais. Agora o senhor vai-me ouvir. — disse Henry, colocando firmemente a mão no ombro do homem.
Porém a sua mão atravessou o homem de alto a baixo.
— O jovem casal, proprietário desta casa, muito se alegraria, sabendo que os senhores gostaram tanto dela — disse o corretor — Tinham mais ou menos a vossa idade. Foi uma coisa horrível. Um camião de carga derrapou na estrada sobre o carro deles, a toda a velocidade. Eles nem ficaram a saber o que os atingiu.
Comentário: Um conto, quanto a nós, simplesmente colossal, pois que ao contrário de serem os fantasmas a aparecerem aos humanos, como é regra, o autor põe os humanos a aparecerem a um par de fantasmas — que não sabem que o são.
M. Constantino
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