EFEMÉRIDES – Dia 27 de Maio
Dois grandes escritores de Policiário: TONY HILLERMAM e DASHIELL HAMMETT
Dois grandes escritores de Policiário: TONY HILLERMAM e DASHIELL HAMMETT
Tony Hillerman (1925 - 2008)
Anthony Grove Hillerman nasce em Sacred Heart, Oklahoma EUA. Jornalista e professor de jornalismo na universidade em Albuquerque e escritor de bestsellers. Os seus livros policiários são qualificados pela crítica como etnológicos, por causa dos locais que o autor escolhe como pano de fundo — o sudoeste americano em especial as reservas dos índios Navajo — e pelos detalhes geográficos e culturais introduzidas. O seu primeiro livro The Blessing Way, publicado em 1970, apresenta Joe Leaphorn, oficial da Polícia Tribal Navajo, que é também a figura central de Dance Hall Of The Dead (1973) e de Listening Woman (1978). O autor cria também Jim Chee, elemento da mesma força policial, mas ao contrário de Leaphorn, é um crente firme na cultura tradicional Navajo. Jim Chee protagoniza People Of The Darkness (1980), The Dark Wind (1982) e The Ghostway (1984). A partir de 1986 com The Skinwalkers o escritor junta os dois personagens numa série que publica 12 títulos até 2006. Tony Hillerman escreve ainda mais romances alguns em colaboração com outros autores de policiários. Em 1991 é distinguido com o galardão máximo atribuído pelos Mystery Writers of America — Grand Master Award e é extensa lista de nomeações e de prémios recebidos pelo escritor. Destacam-se as nomeações para o Edgar Award Best Novel em 1971 1972, 1979 e 1989 para, respectivamente, The Blessing Way, The Fly On the Wall, Listening Woman e A Thief Of Time (1988). E os prémios: Edgar Award 1974 e Grand Prix de la Litérature Policiére 1989 para Dance Hall Of The Dead; Anthony Award Best Novel 1988 para The Skinwalkers,
Macavity Award Best Novel 1989 para A Thief Of Time, Nero Award para Coyote Waits. Em Portugal estão editados:
1 – Onde Os Mortos Dançam (1989), Nº100 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: Dance Hall Of The Dead (1973)
2 - Skinwalkers (1990), Nº114 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: The Skinwalkers (1986)
3 – O Povo Das Trevas (1991), Nº124 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: People Of Darkness (1980)
4 – O Deus Que Fala (1991), Círculo de Leitores. Título Original: Talking God(1989)
5 – O Vento Negro (1993), Círculo de Leitores. Título Original: The Dark Wind (1982)
6 – O Coiote Espera (1993), Nº154 Colecção Caminho de Bolso Policial, Editorial Caminho. Título Original: Coyote Waits (1990)
7 – Caça Ao Texugo (2001), 40º Volume Livros Condensados, Selecções do Reader’s. Título Original: Hunting Badger (1999)
8 – Vento Uivante (2002), 45º Volume Livros Condensados, Selecções do Reader’s. Título Original: The Wailing Wind (2002)
9 – A Primeira Águia (2002), Editorial Tágide. Título Original: The First Eagle (1998)
Dashiell Hammett (1894 – 1961)
Samuel Dashiell Hammett nasce em Saint Mary’s County, Maryland, EUA. Cresce em Filadélfia e Baltimore, aos 13 anos deixa a escola e desempenha toda a espécie de trabalhos. Entre 1915 e 1922 trabalha como agente da famosa Pinkerton’s Nacional Detective Agency, onde adquire um conhecimento extraordinário sobre a podridão, corrupção e violência da sociedade da época. Ao começar a escrever para a Black Mask, transporta para a narrativa esse conhecimento, cruamente, em estilo directo observações e imagens.
… o primeiro guarda que vi necessitava de uma limpeza geral no corpo e na farda. O segundo faltava-lhe um par de botões no uniforme pouco limpo. O terceiro orientava o trânsito num importante cruzamento da cidade — Broadway e Union Street — com um charuto na ponta dos lábios.
Depois destes, deixei de os observar…
Hammett começa por publicar poemas e short stories sob o pseudónimo Peter Collinson. Depois da publicação de contos seguem-se os romances, Red Harvest (1929), The Maltese Falcon (1930), The Glass Key (1931), The Dain Curse (1931), The Thin Man (1934) e muitos outros…
A contribuição literária de Hammett, principalmente entre os anos 1925 e 1935 significa uma autêntica revolução do género policiário. Não inventou a narrativa negra seguramente, porém consolida-a como género: o realismo e o estilo directo aliados a um comportamento físico e verbal dos personagens, e a violência que é o reflexo da realidade existente. Não obstante, Hammett não faz a apologia de tal comportamento, quanto muito dir-se-ia que o autor ao escrever faz gala do inteligente cinismo.
As adaptações cinematográficas, à rádio e à televisão e até à Banda Desenhada, por Alex Raymond, reforçam o êxito da obra e o nome de Dashiell Hammett.
Fora do círculo literário é um homem muito doente, idealista, incompreendido e infeliz, bebedor, perseguido na famosa caça às bruxas do não menos famoso MacCarthy.
Em Portugal estão editados:
1 – O Falcão de Malta (1950), Nº34 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Maltese Falcon (1930). Editado também em 1979 pelas Edições Regra do Jogo, Nº2 Série Negra; e em 2008 na colecção Os Falcões, pela Editora O Quinto Selo
2 – A Chave de Vidro (1950), Nº47 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Glass Key (1931). Editado também em 1979 pelas Edições Regra do Jogo, Nº5 Série Negra
3 – O Homem Sombra (1952), Nº21 Colecção Escaravelho de Ouro, Editorial Édipo. Título Original: The Thin Man (1934). Editado também em 1960 pela Livros do Brasil, Nº152 Colecção Vampiro; em 1981 pelas Edições Regra do Jogo, Nº9 Série Negra com o título O Homem Transparente; e em 2008 na colecção Os Falcões, pela Editora O Quinto Selo
4 – Estranha Maldição (1953), Nº64 Colecção Vampiro, Livros do Brasil. Título Original: The Dain Curse (1931). Editado também em 1979 pelas Edições Regra do Jogo, Nº7 Série Negra com o título A Maldição Dain
5 – Colheita Sangrenta (1961), Nº11 Colecção 3C, Editora Ulisseia. Título Original: Red Harvest (1929). Editado também em 1979 pela Regra do Jogo, Nº4 Série Negra; e em 2009 na colecção Os Falcões, pela Editora O Quinto Selo
6 – Romances de Dashiell Hammett (2009), Editora O Quinto Selo. Volume Duplo com A Maldição Dos Dain e O Homem Da Sombra
TEMA — HAMMETT, UM CRIADOR DE PERSONAGENS
De M. Constantino
Com a excepção de Waldron Honeywell do primeiro conto, e que o próprio Hammett não gostou e abandonou de imediato, são quatro os personagens criados pelo autor que merecem citação própria.
Continental Op
Tal como Dashiell Hammett, detective privado da lendária Pinkerton, Continental Op — originariamente The Continental Detective Agency Operator — concentra-se na figura do Agente da Continental, inominado, cronista de si próprio, escreve na primeira pessoa e é descrito como um homem baixo, forte, por volta dos 40 anos, com uma incipiente calvície, problemas respiratórios talvez por excesso de peso, que não lhe tira a agilidade de acção. É um autêntico profissional, incorruptível, tenaz, experiente na luta contra os malfeitores, não poucas vezes usa a violência contra a violência…
Sam Spade

San Spade, detective privado, figura no romance The Maltese Falcon e na colectânea The Adventures of Sam Spade: And Other Stories (1944).
Nick Charles

O apelido original de Nick é Charalambides, de ascendência grega, que mudou o nome para Charles para lhe dar sonoridade americana. Também foi um duro na profissão, mudou após o casamento para se integrar na alta-roda da sociedade e círculos sociais a que Nora pertence e vivem perfeitamente em harmonia e despreocupação. Há menos violência nestes personagens e por vezes ressalta um pouco do humor de Hammett. O casal Nick e Nora Charles são os protagonistas de The Thin Man (1934).

Ned Beaumont surge em The Glass Key, mais delinquente do que detective, mas com sentido de amizade e justiça.
TEMA — CONTO
De Dashiell Hammett
Dashiell Hammett não se limita ao tipo policial. Por vezes revela um humor negro terrível e especialista da short-story. Vejamos:
Com um suspiro de satisfação, Walter Dowe tirou a ultima folha da máquina de escrever e recostou-se na cadeira mirando o tecto para relaxar os músculos entorpecidos do pescoço. Olhou as horas: três e um quarto da madrugada. Espreguiçou-se e pôs-se de pé, apagou as luzes e saiu do escritório, dirigindo-se ao quarto de dormir.
Deteve-se bruscamente no umbral. Pelas amplas janelas entrava luz iluminando a cama vazia. Acendeu as luzes e olhou para o quarto; não viu nenhuma das coisas que a mulher vestira naquela noite. Logo, não se havia despido; talvez tivesse ouvido o matraquear da máquina de escrever e decidisse ficar no salão esperando que terminasse. Nunca lhe interrompia o trabalho normalmente ele absorvia-se demasiado nas suas tarefas para a ouvir passar diante da porta do escritório.
Assomou a cabeça pela escada e chamou:
— Altheia!
Não obteve resposta.
Desceu a escada, entrou em todas as divisões da casa, acendendo as luzes. Voltou a subir ao segundo piso e fez o mesmo. A esposa não estava em casa. Estava perplexo e um tanto receoso. Então recordou-se que havia ido ao teatro com os SchuyIer. Tremiam-lhe as mãos ao levantar o auscultador.
Respondeu a criada dos SchuyIer… que houvera um incêndio no Teatro Majestic, que nem o senhor nem a senhora tinham voltado para casa e que o pai do senhor havia saído para procurá-los, porém, não havia voltado ainda. Parecia-lhe que o incêndio tinha sido muito grande…
Quando chegou o táxi que pedira por telefone, Dowe já estava à espera à porta da casa.
Quinze minutos depois metia-se por entre as cordas protectoras que rodeavam o teatro. Um polícia suado e de rosto encarniçado fê-lo retroceder.
— Aqui não está ninguém. O edifício foi evacuado. Levaram-nos todos para o hospital.
Dowe voltou a encontrar um táxi, que o levou ao Hospital Municipal. Subiu as escadas cinzentas entre grupos e choros que as enchiam. Um polícia bloqueava a porta. Um homem de cara pálida, todo de branco, falou por cima do ombro do polícia.
— Não faz sentido que esperem. Estamos demasiado ocupados para atender-vos… tentaremos dar-vos uma lista para a última edição da manhã, todavia não podemos deixar entrar quem quer que seja, por enquanto.
Dowe parou a pensar. Logo lhe ocorreu: “Pois claro, Murray Bornis!”
Regressou ao táxi e deu a direcção de Bornis.
Bornis, em pijama, abriu-lhe a porta. Dowe entrou.
— Altheia foi esta noite ao teatro e não voltou. Não me deixaram entrar no hospital. Disseram-me que esperasse, mas não posso!Tu és comissário da polícia, podes conseguir que me deixem entrar. Enquanto Bornis se vestia, Dowe dava voltas de um lado para o outro. Então fixou a imagem no espelho e ficou imóvel. A visão da sua cara e dos seus olhos de louco devolveram-lhe a calma. Estava à beira de uma histeria. Tinha que serenar. Não podia ir-se abaixo antes de encontrar Altheia.
Deliberadamente obrigou-se a sentar e não imaginar o corpo suave e branco de Altheia chamuscado e pisado. Tinha que pensar noutra coisa, em Bornis, por exemplo… No entanto acabou por pensar na esposa. Ela nunca tinha simpatizado com Bornis; a sua sensualidade e a duvidosa fama como conquistador ofendiam o seu conceito de moral. É verdade que sempre o havia tratado com cortesia devida a um amigo do esposo, mas, em geral, dava-lhe um tratamento gélido. E Bornis, compreendendo a sua atitude — e até possível que um tanto despeitado — era igual e educadamente frio. Agora ela estava estendida em qualquer parte, gemendo agonizante, provavelmente já fria.
Bornis terminou de se vestir e foram a toda a pressa ao Hospital, onde admitiram o comissário da polícia e o seu acompanhante. Percorreram salas cheias de corpos gementes e atormentados, vendo rostos feridos e queimados sem encontrar alguém conhecido. Foram ao Hospital de Misericórdia, no qual foram dar com Sylvia SchuyIer. Ela contou-lhes, antes de desmaiar, que na confusão do teatro se separara de Altheia e do marido e não voltara a vê-los.
Quando regressaram de táxi, Bornis deu instruções em voz baixa ao taxista, mas Dowe não teve necessidade de ouvir para saber onde se dirigiam: à morgue. Não havia outro local.
Começaram a olhar entre os corpos alinhados, terrivelmente deformados. Dowe já não sentia nada; nem compaixão, nem! repugnância. Olhou um rosto; não era Altheia, logo não era nada; passou ao seguinte.
Os dedos de Bornis apertaram-se convulsivamente no braço de Dowe.
— Ali!… Altheia!…
Dowe voltou-se. Um rosto que os tacões das botas haviam desprovido de feições, um corpo enegrecido e cortado com as roupas esfarrapadas. O único que de humano restava era as pernas; sem se saber como, haviam escapado à mutilação.
— Não, não! — chorou Dowe.
Não acreditava que aquela coisa deformada e queimada, fosse a extraordinária brancura de Altheia.
E no meio daquele horror em que Dowe por um instante ficou desnorteado e louco, a voz de Bornis, vibrante, angustiada… quase num grito:
— Digo-te que é ela! — estendeu o braço para apontar o lugar onde as pernas se juntam.
— Olha, olha! O sinalzinho secreto!…
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