EFEMÉRIDES – Dia 2 de Maio
Charlotte Armstrong (1905 - 1969)
Charlotte Armstrong Lewi nasce em Vulcan, Michigan, EUA. Publica em 1942 o primeiro livro Lay On. Mac Duff!, com que inicia a série Mac Dougall Duff, um conjunto de 3 romances e escreve mais 26 livros como Charlotte Armstrong ou sob o pseudónimo Jo Valentine. A autora recebe o Edgar Award em 1957 com Dram of Poison: é nomeada em 1858, 1966 e 1967 para Best Short Story Award com And Already Lost, The Case For Miss Peacock, The Splintered Monday e em 1968, para Best Novel com 2 romances: The Gift Shop (1967) e Lemon In The Basket (1967). Em Portugal estão editados:
1 – O Insuspeito (195?), Nº66 Colecção Vampiro, livros do Brasil. Título Original: The Unsuspected (1946)
2 – A Sombra do Passado (1955), Nº43 Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: The Chocolate Cobwebb (1948)
3 – Veneno (1959), Nº86 Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: The Dram Of Poison (1956)
4 – A Ovelha Negra (1969), Nº106 Colecção Rififi, Editora Íbis. Título Original: Lemon In The Basket (1967)
5 – A Loja de Recordações (1969), Série Policial Best-Sellers, Galeria Panorama. Título Original: The Gift Shop (1967)
Martha Grimes (1931)
Nasce em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA. Começa por escrever poesia, mas cria em 1981 a série Richard Jury, um inspector da Scotland Yard que, em conjunto com o aristocrata Melrose Plant, resolve crimes à boa maneira britânica em 22 livros, publicados ao longo de quase 30 anos. Escreve ainda as séries Emma Graham e Andi Olivier; a autora tem 30 romances publicados com mais de 5 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Martha Grimes recebe em 1983 o Nero Wolfe Award para o melhor romance do ano com The Anodyne Necklace e acaba de receber este ano a maior distinção atribuída pelos Mystery Writers of America, o Grand Master Award entregue no passado dia 26, em Nova Iorque, no The Edgar Banquet. Por cá estão editados:
1 – Jogo de Alto Risco (2000), Nº22 Colecção Fio da Navalha, Editorial Presença. Título Original: The Case Has Altered (1977)
1 – Dust (2000), Nº5 Colecção Sombra de Dúvida, Editorial Estampa. Título Original: Dust (2007)
TEMA — ANATOMIA DO CRIME — O DESPERTADOR DESAPARECIDO
Bob Irwing, jovem e talentoso escultor de Nova Iorque, apaixonou-se dramaticamente pela filha mais velha da senhora Mary Gedeon. Repelido, afastou-se. Em Março de 1937 voltou disposto a tudo e ao saber, por aquela senhora, que a filha se casara e fora viver para outra cidade, Bob estrangulou-a, colocando-a debaixo da cama e começou a procurar por toda a casa.
Encontrando Frank Byrnes, um pensionista, num dos quartos, pensando que ele fingia dormir, golpeou-o repetidamente com um furador de gelo.
Esperou escondido.
Por voltas das três da madrugada, viu chegar Verónica, a irmã mais nova da sua apaixonada, um lindo modelo conhecidíssimo nos meios artísticos. Enquanto ela se preparava para dormir, estrangulou-a e estendeu o corpo desnudo sobre a cama.
Saiu levando um despertador. Nunca se soube a razão do gesto insólito.
Como pistas, a polícia tinha: a falta do despertador, uma luva cinzenta, duas barras de sabão, e a circunstância do cachorro da senhora Gedeon não ter ladrado, o que indiciava que o criminoso não era um estranho.
A pesquisa dos antigos pensionistas levou a polícia até Irwing — este usava sabão para modelar. Pouco depois encontrou-se uma mala abandonada, que lhe pertencia, e onde estavam o despertador e o outro exemplar da luva. No entanto o homem desaparecera.
A história era sensacional e todas as revistas e jornais a reproduziam, transformando cada leitor num detective…
E foi uma empregada curiosa de um hotel de Cleveland que encontrou Irwing transformado em Bob Murray, criado de mesa.
Sabendo–se observado Bob desapareceu… por pouco tempo.
Foi condenado a prisão perpétua e terminou os seus dias num hospital para criminosos.
M. Constantino
Robert Irwing |
TEMA — O CRIME NA LITERATURA NÃO POLICIÁRIA — FOME!
Extracto de Contos da Montanha de Miguel Torga, aconselhamos a ler na íntegra.
A mulher, sem migalha de pão na arca e sem pinga de azeite na almotolia, sabia bem que o remédio habitual daquelas penúrias era ir buscá-lo onde o houvesse. Mas quando o homem, a meia voz, começou a repisar a ideia, desaprovou mais uma vez o projecto sacrílego. À Senhora da Saúde, não.
O Faustino nem a ouviu, ocupado como estava no labor de semear a boa semente na terra podre dos últimos escrúpulos. Debruçado sobre as pernas, com os dedos dos pés a espreitar das meias rotas, continuou a aquecer-se aos tições apagados, a chupar a pirisca do cigarro e a enumerar uma por uma as mil vantagens do negócio.
Por volta da meia-noite as derradeiras amarras da consciência acabaram de ceder. Raios partissem as horas que gastara a pensar na morte da bezerra! Há certas alturas em que a gente, em vez de miolos, parece que tem aranhas no toutiço!
O temporal bramia pela aldeia fora. Ouvia--se a nortada a pregar nos braços dos castanheiros e as bátegas a cair nas estrumeiras encharcadas. Um taró de repassar fragas.
Faustino, vencidos cautelosamente os cem metros da quelha em que morava, meteu-se à serra. Apesar de o vento galego o empurrar para trás, para o frio enxuto da casa, caminhava depressa. Uma vez que encontrara forças para tomar a única resolução acertada, era preciso não demorar.
Num ímpeto, chegou-se à porta e meteu-lhe o ombro. Pois claro, como tinha previsto… Escancaradinha! Com a respiração suspensa e todo num formigueiro, entrou de rompante no poço da escuridão.
Deu alguns passos. Como o fósforo estava no fim e já lhe aquecia os dedos, riscou outro. Menos inseguro, subiu as escadas do altar de S. José, logo à entrada. E, quase serenamente, acendeu a vela dum castiçal.
Com passos de lã, chegou-se. Caramba, seria que não estivesse a abarrotar?! Pôs a luz no chão, e meteu mãos à obra. Se calhar tinha que escaqueirar a tampa à martelada… Mas não é que a fechadura parecia de papelão e cedia ao cinzel sem resistência nenhuma?! Tudo às mil maravilha… Um mês de tripa forra ninguém lho tirava.
Desgraçadamente, a caixa estava limpa. Ou fora roubada, ou a esvaziara o padre Bento na véspera, ou então já não havia fé neste amaldiçoado mundo. Ah! Mas ele, Faustino, não se deixava enganar assim. Não. Tivesse a Senhora da Saúde paciência. Lá pouco dele, isso vírgula! Vinha com boas intenções. Obrigavam-no, pronto: ia o que houvesse, e passava tudo a patacos.
Pegou de repelão no castiçal e avançou indignado para o altar mor. Não acreditava que no sacrário a miséria fosse também assim
Era.
Ladrões! Filhos duma grande… Nem ao menos o cálix! O que vale é que havia ainda a sacristia para revistar. E que não estivessem lá os apetrechos devidos! Ia a casa do abade, que lhe havia de pôr ali o que pertencia à santa… O cálix, a cruz, o turíbulo, tudo. E a bagalhoça, claro. Pouca vergonha!
Pôs o castiçal no chão, soprou à vela, puxou a porta e saiu.
O temporal redobrara de fúria. A atravessar o adro, com a desilusão a percorrer-lhe as veias, é que via bem como a escuridão era cerrada e como a chuva lhe trespassava o corpo. Porca de vida! Um homem a fazer por ela, a aguentar no lombo uma noitada daquelas, para ao cabo dar com o nariz no sedeiro!
Pela manhã ardia em febre. E daí a seis dias, depois de um cáustico lhe abrir no peito uma bica de matéria e de o barbeiro de Parada o ter desenganado, foi preciso chamar o confessor, a ver se ao menos se lhe podia salvar a alma.
Veio então o padre Bento, manso, vermelho, tranquilizador. Mas o Faustino delirava. E mal o santo homem, de sobrepeliz, lhe entrou pelo quarto dentro, arregalou os olhos, inteiriçou-se no catre, apontou-o à mulher e aos circunstantes, e com a voz toldada da broncopneumonia, rouquejou:
— Ladrão! Prendam-no, que é ladrão!
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