Robert Ludlum (1927 - 2001)
Nasce em Nova Iorque. Actor e produtor teatral, publica o seu primeiro romance / thriller em 1971. Sob o seu nome, ou sob os pseudónimos Jonathan Ryder ou Michael Shepherd, escreve no total 22 livros, todos bestsellers. Estima-se que o autor tenha vendido perto de 500 milhões de cópias dos seus livros em todo o mundo; está traduzido em 32 línguas e é vendido em 40 países. O escritor cria as séries Road To (2 títulos), Matarese Dynasty (2 títulos), Jason Burne (3 títulos). Muitos dos seus livros estão adaptados ao cinema e à televisão, e depois da sua morte outros escritores têm dado continuidade aos seus heróis. Em Portugal estão editados:
1 – O Mosaico Parsifal (1984), Nº37 Colecção Vida e Aventura, Livros do Brasil. Título Original: The Parsifal Mosaic (1982). Também editado em 1985 pelo Círculo de Leitores
2 – O Papel Prateado (1986), Nº267 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: The Matlock Paper (1973). Reditado em 1994, Nº4 Colecção Obras de Robert Ludlum, Publicações Europa-América
3 – A Conspiração Dos Generais (1986), Nº40 e 40 A Colecção Vida e Aventura, Livros do Brasil. Título Original: The Aquitaine Progression (1984)
4 – O Círculo Matarese (1987), Nº281 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: The Matarese Circle (1979). 1º livro da série Matarese Dynasty
5 – Gémeos Rivais (1987), Nº12 Colecção Ficções & Ca, Editora Dom Quixote. Título Original: The Gemini Contenders (1976). Também editado no mesmo ano pelo Círculo de Leitores
6 – A Identidade de Bourne (1988), Nº293 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: The Bourne Identity (1980). 1º Livro da série Jason Burne
7 – A Agenda Ícaro (1989), Nº309 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: The Icarus Agenda (1988).
8 – O Ultimato de Bourne (1991), Nº327 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: The Bourne Ultimatun (1990). 3º Livro da série Jason Burne
9 – Nos Bastidores Do Poder (1991), Nº330 Colecção Século XX, Publicações Europa-América. Título Original: Trevayne (1973). Reeditado em 1995 pela Editora Rocco com o título Trevayne. Escrito sob o pseudónimo Jonathan Ryder
10 – A Herança (1991), Círculo de Leitores. Título Original: The Scarlatti Inheritance (1970).
11 – A Estrada Para Gandolfo (1992), Círculo de Leitores. Título Original: The Road To Gandolf (1975). Reditado em 1993, Nº2 Colecção Obras de Robert Ludlum, Publicações Europa-América e em 1996 pela Editora Rocco com o título O Caminho Para Gandolfo. 1º Livro da série Road To é escrito sob o pseudónimo Michael Shepherd
12 – Operação Mega (1992), Círculo de Leitores. Título Original: ???
13 – O Manuscrito Chancellor (1992), Círculo de Leitores. Título Original: The Chacellor Manuscript (1977)
14 – A Permuta Rhinemann (1992), Círculo de Leitores. Título Original: The Rhinemann Exchange (1974)
15 – O Convénio Holcroft (1992), Círculo de Leitores. Título Original: The Holcroft Convenant (1978). Reditado em 1993, Nº3 Colecção Obras de Robert Ludlum, Publicações Europa-América, com o título O Pacto Holcroft
16 – O Falcão Emplumado (1992), Nº1 Colecção Obras de Robert Ludlum, Publicações Europa-América. Título Original: The Road To Omaha (1992). Reeditado em 1996 pela Editora Rocco com o título O Caminho Para Omaha
17 – A Sentinela do Apocalipse (1999), Nº2 Colecção Top Ten, Editora Rocco. Título Original: The Apocalypse Watch (1995).
18 – Sem Apelo Nem Agravo (2004), 3º volume Livros Condensados, Selecções do Reader’s Digest. Título Original: ??
TEMA — SOBRENATURAL — VAMPIRO: VIDA SEXUAL E REPRODUÇÃO
De M. Constantino
Já tivemos ocasião de falar de vampiros, bem como de fantasmas e lobisomens, figuras de uma vasta galeria de sinistros personagens que fazem parte do nosso imaginário fazedores de calafrios. Voltaremos proximamente com outros mutantes, zombies bruxas, diabos etc. Hoje Falaremos da vida sexual do vampiro e da sua reprodução.
O cinema, particularmente, tem apresentado o vampiro como uma espécie de D. Juan, nocturno, amante de grande classe e características desviantes, que o tornam aos olhos femininos, sedutor, elegante, atractivo, excitante, cúmulo do erotismo. Rodeiam-no suspiros paixões e desvarios. Contudo, os apontados predicados não passam e indignas mentiras, atestando inconfessáveis interesses comerciais, porquanto, segundo os estudiosos na matéria, do ponto de vista sexual, para o vampiro, uma bela jovem não é mais do que uma fonte de sangue e os característicos sinais de sexualidade fazem parte da atracção escolhendo as mais robustas, evidentemente. É que o vampiro é impotente. Sendo assim como é lógico, põe-se o problema de conhecer o seu modo de reprodução. A alimentação é simultaneamente a reprodução, constituindo um sistema único. O instinto de conservação impõe que, ao mesmo tempo que se alimenta sugando o sangue da sua vítima, esta morre e converte-se, por sua vez, num vampiro. Como se vê os sinais especificamente sexuais carecem de relevância na reprodução do vampiro. A reproduzida está pronta a reproduzir outros vampiros. É verdade que em alguns casos muito excepcionais o vampiro se apaixona pela sua vítima. É, todavia, um amor frio, lunar, nocturno, melancólico, incompreensível para os humanos, porque o amor do vampiro é um grito inaudível na noite, a imensa tristeza dos mortos que se sabem mortos.
Vampire Teeth - Camilla Lindberg
|
TEMA — NARRATIVA SOBRENATURAL — O PINTOR GREGO
De Jan Neruda (1834-1891)
O vaporzinho de excursões trouxera-nos de Constantinopla até a ilha de Prinkipo, onde desembarcamos. Não éramos muitos: uma família, polaca — pai, mãe, a filha, o noivo desta — e nós dois — meu amigo e eu. E — quase me ia esquecendo — já em Constantinopla, na ponte de madeira que atravessava o Corno de Ouro, juntara-se ao nosso grupo um grego, ainda moço, pintor, decerto, a julgar pela pasta de papelão que sobraçava. Longos cabelos pretos em cachos caíam-lhe até os ombros, a face era pálida, os olhos negros cravados no fundo das órbitas. No primeiro momento interessou-me, sobretudo pela sua obsequiosidade em dar-nos informações acerca dos lugares. Porém falava demais, e deixei-o de lado.
A família polaca, entretanto, era muito agradável, os pais, gente simples e boa; o noivo, um rapaz elegante, de modos polidos e francos. Vinham a Prinkipo passar os meses de verão, por causa da filha meio adoentada. A linda moça, muito pálida, ou estava em convalescença, ou sofria de doença grave. Apoiava-se ao noivo, sentava-se amiúde, e uma tossezinha seca entrecortava, frequentemente, os cochichos com ele. Sempre que tossia o seu companheiro parava gentilmente e olhava para ela, compassivo. Ela respondia ao olhar, como se quisesse dizer:
— Isto não é nada, estou bem!
Acreditava na saúde e na felicidade.
A conselho do grego, que se separou de nós logo no cais, a família alugou um apartamento no hotelzinho do alto. Era francês o hoteleiro, e a casa toda arranjada à moda francesa, confortável e bonita.
Almoçamos juntos, e, quando o calor do meio-dia arrefeceu, fomos até o cume, ao bosque dos pinheiros, tomar o fresco e admirar a vista. Logo que achamos lugar conveniente para descanso, reapareceu o grego. Cumprimentou de leve, olhou em redor e sentou-se a poucos passos de nós. Abriu a pasta e pôs-se a desenhar.
— Creio que se sentou assim, encostado nas rochas, de propósito, para não podermos ver o que desenha — observei.
— Não precisamos ver — disse o jovem polaco. Temos muito para olhar à nossa frente.
E pouco depois acrescentou:
— Parece que nos está incluindo no cenário. Mas isso não tem importância.
Tínhamos, de facto, muito que ver. Não há no mundo lugar mais belo e mais feliz que Prinkipo. Irene, a mártir política no tempo de Carlos Magno, viveu ali um mês em exílio. Se me fosse dado passar aqui um só mês de minha vida, essa lembrança far-me-ia feliz para o resto de meus dias. O único dia que ali passei já me é inesquecível.
O ar era transparente como um brilhante, tão doce, tão delicioso, que a alma inteira se deixava embalar por ele. À direita, do outro lado do mar, erguiam-se as pardas montanhas da Ásia; à esquerda, ao longe, azulejava a escarpada costa da Europa. Pertinho, destacava-se Chalki, uma das nove ilhas do arquipélago, com os seus bosques de ciprestes, que se levantam como um sonho triste para o azul do céu, coroada por um grande edifício — o asilo de alienados.
A água do mar de Mármara, levemente encrespada pelo vento, resplandecia em todas as cores, como uma opala preciosa. Lá longe, era alvo como leite; para cá, róseo, entre as duas ilhas cor de laranja dourada; e a nossos pés, de um verde azulado de safira, diáfano. A sua beleza não era perturbada por nenhum navio grande: apenas dois pequenos barcos de bandeira inglesa deslizavam junto à costa —um deles, uma lanchinha a vapor, não maior que uma guarita; o outro, com uns doze remadores. Dir-se-ia gotejar prata líquida dos remos, cada vez que os erguiam em cadência. Delfins, mui pouco ariscos, brincavam entre os barcos, saltando livremente em semicírculos acima da água. A espaços, enormes águias elevavam-se pelo céu azul, num voo sereno entre os dois continentes.
Toda a encosta, abaixo de nós, vestia-se de rosas em flor, cujo perfume embalsamava os ares. Abafada pela distância, vinha até nós a música do pequeno café à beira-mar.
Estávamos empolgados. Ficamos em silêncio, mergulhados inteiramente na contemplação desse quadro paradisíaco. Deitada no gramado, a jovem polaca tinha a cabeça reclinada no peito do noivo. O seu rostinho oval, pálido e delicado, chegara a corar um pouco, e de repente os olhos azuis encheram-se de lágrimas. O noivo compreendeu, sobre ela e com seus beijos lhe foi secando as lágrimas uma a uma. A mãe também se pôs a chorar — e até eu, senti-me presa de sentimentos estranhos.
— Aqui o corpo e a alma devem sarar — disse baixinho, a moça — Que lugar maravilhoso!
— Deus sabe que não tenho inimigos, mas, se os tivesse, aqui lhes perdoaria! — disse o pai com a voz trémula de emoção.
Fez-se de novo silêncio. Tudo era lindo e de inefável doçura. Cada qual sentia em si -um infinito de felicidade, que desejaria repartir com o mundo inteiro. Tínhamos todos a mesma sensação, e por isso nenhum de nós perturbou os outros. Quase nem reparamos que o grego, após cerca de uma hora de trabalho, se levantara, fechara a pasta de desenho e, saudando-nos ligeiramente, partira. Nós ficamos.
Horas depois, quando ao longe tudo já principiava a adquirir esse tom de lilás escuro e encantador que só se vê nas regiões meridionais, a mãe lembrou que era o momento de voltarmos. Levantamo-nos e descemos devagarinho até ao hotel, a passo despreocupado e flexível, como crianças contentes.
Sentamo-nos na bonita varanda à frente do hotel. Mal nos sentáramos, ouvimos, vinda lá de baixo, uma discussão com injúrias. Era o nosso grego a brigar com o hoteleiro, o que nos divertia.
Mas o divertimento foi curto
— Se eu não tivesse outros hóspedes… — resmungava o hoteleiro, subindo a escada da varanda.
— Por favor — perguntou o jovem polaco, quando ele chegou perto da nossa mesa — quem é este senhor, como se chama?
— Oh! Só Deus sabe o nome desse sujeito — rosnou o hoteleiro, lançando para baixo um olhar de raiva. — Nós só o chamamos de Vampiro.
— É pintor, não?
— Bela arte a sua: só pinta cadáveres! Assim que alguém morre em Constantinopla, ou aqui pelos arredores, já ele está com o retrato do defunto pronto, no mesmo dia. O malandro já desenha de antemão. E nunca se engana, esse abutre!
A senhora polaca deu um grito de susto; a filha caíra-lhe nos braços, desmaiada e branca de cera.
Já o noivo se despenhara pela escada abaixo e com uma das mãos apanhara o grego pelo peito, enquanto com a outra tentara arrebatar-lhe a pasta de desenho.
Corremos, depressa, atrás dele. Os dois homens já rolavam na areia.
A pasta caíra aberta e as folhas se espalharam. Via-se... numa delas, desenhada a lápis, a cabeça da jovem polaca — de olhos fechados e, na fronte, uma grinalda de mirto.
Sem comentários:
Enviar um comentário