EFEMÉRIDES – Dia 24 de Maio
Mary Willis Walker (1942)
Nasce em Foxpoint Wisconsin EUA. Trabalha como professora entre 1967 e 1978, altura em que abandona a profissão para se dedicar à escrita. Publica o primeiro livro em 1991, Zero At The Bone que ganha vários prémios para Best First Novel: Agatha Award (1991) e Macavity Award (1992) — prémio atribuído anualmente para os romances de mistério pela Mystery Readers International. O livro é ainda nomeado em 1992 para o Edgar Award, Best First Novel. O segundo livro da autora The Red Scream (1994) apresenta Mollie Cates, uma detective privada que protagoniza os romances seguintes da escritora; este livro ganha o Edgar Award 1995 para Best Novel. O livro seguinte, Under The Beetle’s Cellar (1995), recebe o Hammett Prize (1995), atribuído pela Internacional Association Of Crime Writers, o Anthony Award (1996), o Macavity Award (1996) e ainda o Martin Beck Award (1998) atribuído pela Swedish Crime Writer’s Academy. O 4º livro de Mary Willis Walker, 3º da série Mollie Cates, é All The Dead Lie Down (1998).
Ruth Dudley Edwards (1944)
Nasce em Dublin, Irlanda. Historiadora, jornalista, escritora e colunista do Sunday Independent. Autora de vários livros de não-ficção inicia-se na escrita policiária por acidente, de acordo com as suas palavras. Cria a série Robert Amiss, em 1981, com Corridors Of Death, que conta já com 11 tíulos publicados e tem o próximo livro agendado para Outubro de 2012, Killing The Emperors.
TEMA — DIÁRIO DE UM ADVOGADO — GANHA BEM
De Araújo
O constituinte que está na minha frente é um negro, muito negro mesmo, com dentes quebrados. Sorri à toa. Sorri sem motivo algum. Parece até que está feliz, contente com tudo.
Ladrão. Reincidente nos crimes contra a propriedade. Desta vez a coisa ganhou rumos novos. Latrocínio. Matou para roubar. Sorrindo muito, foi contando. Com uma naturalidade, um à vontade dentro das circunstâncias enumeradas, que foi aumentando o meu mal-estar.
Na hora dos honorários ele mesmo tomou a iniciativa. Diga, doutor, vá dizendo quanto quer.
Disse.
Continuou sorrindo. Fale com ela — informou.
— Ela quem? — perguntei.
— Minha irmã. Chame a. Está aqui mesmo. Entrou ontem. É meretriz, sim senhor. Ganha bem…
O “ganha bem” saiu com entonação de orgulho. O homem continuava a sorrir. Um sorriso insuportável porque sincero. Quase puro.
TEMA — CONTO POLICIÁRIO — AS SETE LETRAS
De Fátima Abril
A caneta era antiga, de tinta permanente, ainda pesada.
Lentamente retirou-lhe a tampa e colocou-a sobre a mesa de vidro. A tinta fluiu, azul como veias, e misturou-se com o vermelho vivo do sangue que lhe escorria até á mão direita. A custo delineou a primeira de sete letras.
Lá fora, na noite, ele caminhava para um outro lugar, para uma outra mulher, o homem que ela ainda amava.
E ela sentia na sua ferida o peso que cada passo dele tinha no asfalto.
Aquele homem que um dia a vestira de noiva despia-a agora de sonhos.
Rabiscou a segunda letra, um N trémulo como a sua mão.
Olhou pela janela larga e branca a noite. A noite embrulhava-se num manto de lágrimas prestes a serem choradas e o clarão súbito e rápido do relâmpago iluminou-lhe a alma, em gritos, dando-lhe ainda mais força para terminar o que fazia.
Traçou a terceira letra, sem contornos definidos. Dolorosamente.
“Tão pouco tempo estivemos casados” — pensou.
Gemeu ao escrever a quarta letra, ainda menos definida.
“Todos tinham razão, ele não prestava… E eu que lutei ao lado dele. Contra todos. Contra tudo… Até a minha filha! Abandonei-a por amor a ele…”
Dobrou os joelhos. Tombou sobre eles, e uma dor cortante quase a fez esquecer a outra. A outra dor que a levaria á morte. A cabeça quase tocou o chão, a mão direita tacteou a borda da mesa, e num esforço atroz conseguiu sair da posição em que caíra. Daquele esforço nasceu um outro esforço, e do pensamento emergiram figuras desconformes e esmaecidas que se projectaram, de imediato, na parede pálida. São duas bocas que se juntam. E um beijo longo e quente.
“Como eu sentia saudade, ciúme do trabalho até tão tarde, e afinal não era o trabalho que o retinha longe de mim”.
Apercebeu-se de que na queda, ao tentar segurar-se, a sua mão havia deixado cair a caneta no chão. Tentou apanhá-la, mas ao toque dos seus dedos trémulos e desconexos a caneta rolou. Sabia que não conseguiria apanhá-la.
Um clarão abraçou-lhe a casa, iluminou-lhe o quarto, mas a luz pareceu não incomodar. Os olhos grandes, abertos, estacados, enfrentando a dor e a realidade. Como ia ela escrever as três últimas letras? Não percebia se a falta de ar que sentia provinha do seu corpo se do tempo abafado. Nem uma gota de água. Nem uma lágrima. E a mesma pergunta sem resposta a secar-lhe a cabeça. Não, não sabia como escrever as três últimas letras. Sem elas nada teria significado, tudo teria sido em vão.
A primeira gota de água vinda do céu negro e em motim, embateu na janela. Uma gota de sangue embateu no papel. Ela fixou-o, e então com o dedo mínimo arrastou-o de forma a traçar as três últimas letras de um nome. O nome do homem que há largos minutos a deixara, num desespero de morte. Não suportaria a vida sem ele. E por isso, ela matava-se. Mas estava certa do que fazia. Alguém leria o papel caído ao lado dela, onde, nos últimos momentos de vida, deixara impresso o nome do seu assassino.
E as gotas de água que lá fora começaram a cair foram as lágrimas que ela não chorou…
DICIONÁRIO DE AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA NARRATIVA DE ESPIONAGEM (4)
5 – AMILA (JEAN)
1910 – 1995
Jean Amila |
Jean Merckert inicia a sua carreira literária em 1942 com Les Coups. Em 1950 aceita uma proposta do director da Serie Noire, Marcel Duhamel, e sob o pseudónimo John Amila começa a escrever para esta colecção, reservada até então ao romance negro americano. Escreve 21 romances até 1985, muitos dos quais abarcando o mundo da espionagem e dos serviços secretos. A perspectiva pouco habitual que o autor tem deste mundo confere à sua obra literária uma originalidade na narrativa neo-polar.
Anti-militarista convicto, de tendência libertária, ao contrário da maioria dos autores que tendem a desculpabilizar os agentes secretos, Jean Amila tem uma posição bem clara: nada pode legitimar a existência de poderes obscuros e critica as instituições que esquecem com demasiada rapidez que o seu dever é servir a humanidade.
É por isso que coloca quase sempre no terreno personagens solitários, expostos a uma sociedade com a que não se identificam, ao mesmo tempo que, com um estilo narrativo de grande clareza, privilegia frequentemente as emoções. Neste sentido, no livro Le Grillon Enragé (1970), cria Eric um jovem detido nas barricadas de Maio de 68, que se vê obrigado a aceitar uma missão dos serviços secretos. Cria também Edouard Magne, de alcunha Géronimo por causa do aspecto hippie, e que “é um chui ao serviço das vítimas e não ao serviço do Poder”.
Em 1971, depois de uma viagem à Oceânia, Jean Amila/Meckert denuncia os ensaios nucleares franceses e publica um romance carregado de realismo, La Vierge Et Le Taureau, que denuncia claramente as manobras do Estado que, para salvaguardar o secretismo das experiências atómicas na Mururoa, não hesita em fazer calar os que sabem demais. Na sequência deste livro, o autor é perseguido e vítima de uma agressão que lhe provoca uma amnésia profunda e o impede de escrever durante sete anos.
O autor tem uma vasta obra publicada — policial, ficção científica, teatro — e vários romances adaptados ao cinema.
Respeitado no mundo do romance negro, apreciado pelos leitores de língua francesa é um escritor citado como modelo por outros escritores deste género, como por exemplo Daeninckx.
Destacam-se na sua bibliografia:
Y A Pas De Bon Dieu (1950)
Motus (1953)
La Bonne Tisane (1955)
Sans Attendre Godot (1956)
Les Loups Dans La Bergerie (1958)
Le Drakkar (1958)
Jusqu’à Plus Soif (1962)
Langes Radieux (1963)
Pitié Poor Les Rats (1964)
La Lune d’Omaha 1964)
Noces De Soufre (1964)
Les Fous De Hong-Kong (1969)
Le Grillon Enragé (1970)
La Nef Des Dingues (1972)
Le Grillon Enragé (1970),
Contest-Flic (1972)
Terminus Iéna (1973)
A Qui Ai-Je L’honneur (1974)
Le Pigeon Du Faubourg (1981)
Le Boucher Des Hurlus (1983)
Le Chien De Montargis (1984)
Au Balcon d’Hiroshima (1985)
Sem comentários:
Enviar um comentário