Harold Q. Masur (1909-2005)
Nasce em Nova Iorque. Advogado de formação, serve na US Air Force, que abandona nos anos 40; começa a escrever muito cedo para os pupls policiários. Publica o primeiro romance em 1947: Bury Me Deep; escreve um total de 15 livros policiários e numerosos contos, recolhidos em várias colecções. O seu personagem principal é o advogado nova-iorquino Scott Jordan, que chegará a magistrado público em 1984 com o romance The Morning After. Harold Q. Masur é Presidente de The Mystery Writers of America em 1973/74.
1 - Bury Me Deep (1947)
2 - Suddenly a Corpse (1949)
3 - You Can’t Live Forever (1951)
4 – So Rich, So Lovely, and So Dead (1952)
5 – The Big Money (1954)
6 - Tall, Dark and Deadly (1956)
7 - The Last Gamble também publicado como The Last Breath e Murder on Broadway (1958)
8 - Send Another Hearse (1960)
9 - The Name Is Jordan (1962) short stories
10 – Make a Killing (1964)
11 – The Legacy Lenders (1967)
12 - The Mourning After (1981)
Outros livros:
13 – The Last Breath (1958)
14 - The Attorney (1973)
15 - The Broker (1981)
Em Portugal, o conto Papazinho fez parte da antologia 43 Autores Violentos do Conto Policial, o nº7 Colecção Antologia Policial, publicada pela Ibis em 1965 (2ª Edição)
Também foram editados vários livros, por diferentes editoras, por vezes com um título diferente para a mesma obra original.
A Mulher dos Olhos Cinzentos (1958), Minerva, Colecção Xis nº74, (Bury Me Deep)
Ninguém é Eterno (1959), Minerva, Colecção Xis nº87 (You Can’t Live Forever)
Alta, Morena e Fatal (1959), Minerva Colecção Xis nº92, (Tall, Dark and Deadly)
Tão Rica, Tão Bela e... Morta (1960), Minerva, Colecção Xis nº98, (So Rich, So Lovely, and So Dead)
A Última Cartada (1961), Minerva, Colecção Xis nº112, (The Last Gamble)
Uma Visita Macabra (1962), Século, Colecção: As Grandes Obras de Mistério e Acção (Suddenly a Corpse)
Dinheiro Fatal (1964), Minerva, Colecção Xis nº143, (The Big Money)
Sepultem-me Bem Fundo (1964), Ibis, nº7 Colecção Rififi, (Bury Me Deep)
Cadáver Inesperado (1965), Ibis, nº20 Colecção Rififi, (Suddenly a Corpse)
Choque de Ambições (1967), Minerva, nº168 Colecção Xis
Mercadores de Heranças (1970), Minerva, nº192 Colecção Xis, (The Legacy Lenders?)
UM TEMA — LITERATURA: NARRATIVA DE TERROR: BREVE REFLEXÃO
No princípio era o verbo… frase notável.
Nos remotos tempos só a palavra existia: para transmitir sensações. As histórias eram cantadas, narradas, representadas pela dança, pela pintura nas paredes das grutas, nos riscos da areia húmida… Eram transcrições utilizadas para exorcizar, basicamente o medo. Os traços das estrelas no céu, o medo da escuridão, da seca, da doença, do desastre, da fome, da morte… apontavam e evocavam demónios reais e imaginários. Os demónios inspiram o horror, sentimentos de medo interior entram no espírito e gelam o sangue…
Transporta-se de século para século de forma verbal, até que chega a palavra escrita, passados milénios: na pedra rija, no tijolo preparado, no papiro, no papel. É uma nova dimensão para a narrativa. Uma existência independente do narrador, sobrevive e espalha-se pelo mundo.
Mudam-se os métodos narrativos, mas as histórias de terror são imutáveis; o medo é do incognoscível é o artista que domina o palco, o público e a mente.
Em tempos idos, com as tétricas lendas medievais eram o lúgubre ambiente das noites tenebrosas dos castelos fantasmagóricos, o cheiro do enxofre do senhor dos infernos, os mortos-vivos vampiros atravessando a terra das tumbas sedentos de sangue, monstros atemorizadores sem conta, peso e medida. Hoje o narrador moderno modera a descrição e apresenta-o em múltiplas formas, como uma ciência material, onde se distinguem três correntes essenciais:
A alegoria moral, a metáfora psicológica e o fantástico.
No primeiro grupo destaca-se o sobrenatural, ou melhor o encaixe do mal sobrenatural no quotidiano geral, o segundo recai sobre a psicologia humana em forma de metáforas ou efeitos científicos e a terceira corrente citada explora o anormal. Nenhuma delas enjeita a aproximação às correntes congéneres, já que não se pode pôr limites ao fantástico, que a par do maravilhoso, continua nos modelos modernos.
O medo a que chamamos terror, estranho e inconcebível tem a sua própria estética e só aguarda uma tensão ideal para se manifestar,
Lembramos os góticos Lewis, Radcliffe, Walpole, os românticos Byron, Keats, Shelley, os imaginosos Poe, Le Fanu, Dickens e progressivamente, Doyle, Jacobs, M. R. James, Wills, Lovecraft… até aos modernos Clive Barker, Koontz e Stephen King.
CONTO — VÍCIO SOLITÁRIO
O autor do presente conto, Marcel Bealu, é um cultor da área fantástico – terror.
No hotel onde me hospedara, o meu maior prazer consistia em espiar o que sucedia nos quartos da frente. Oculto pela sombra, todas as noites experimentava inúmeras satisfações com tais vigílias: um rosto em oferenda, que duas persianas recobriam como pedra de um túmulo, um braço nu mergulhando pelas águas negras de um cortinado, uma cabeleira arrancada aos remoinhos da noite. Não me entregaria a um divertimento tão só visual se, em determinada noite, os reflexos fugidios do mistério de que me rodeava, não acabasse por despertar em mim a mais enlouquecida das paixões. Solitária como eu, vivia ali uma mulher. Por vezes cantava, e eu, do meu observatório, escutava, febril, os sons que me chegavam. Outras, vi-a sentada no toucador… acontecia trincar os lábios para não gritar o meu deseje de vê-la mais perto. Sucedeu, porém, que certa noite, esquecendo a minha cela de sombra, aproximei-me; interpretei como um apelo alguns gestos desacostumados. Ainda que tivesse fixado a localização exacta do quarto, com alguma hesitação bati à porta daquele onde tantas vezes sonhara entrar. Não houve eco de resposta. Movido pela audácia do desejo, receando atrair a atenção dos vizinhos, deixei cair a mão e empurrei a porta. Estava nua e parecia adormecida. A aberração do meu espírito fez-me acreditar num estratagema ingénuo do amor, ao qual liguei desde logo o meu consentimento. Foi preciso que tivesse perdido o domínio de mim mesmo para não reflectir na estranheza de um tal excesso. A face voltada, inundada de sombra parecia animar-se nas convulsões do prazer. Olhei com maior atenção e apercebi-me de que só eu imprimira movimento ao rosto inerte, como de resto a todo o corpo e sacabara de fazer amor com uma morta. Repentinamente morta também a minha paixão. Fiquei apavorado. Em que terrível aventura me afundara. Tinha de fugir depressa. Mas já soavam passos pelo corredor, a porta abria-se e eu gritava no auge da minha angústia: Não fui eu, não fui eu! Não fui eu!
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